domingo, 26 de maio de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Meia-armadores: Definição da posição e Sidney Pullen



Hora de falar sobre os principais meia-armadores da gloriosa história rubro-negra. Como nos demais casos, serão apresentados em ordem cronológica. Para ler os textos anteriores, clique nos links no fim dessa postagem.

Antes de começar, alguns esclarecimentos sobre a posição. No futebol profissional, os sistemas táticos empregaram entre 3 e 5 meio-campistas. Mas eles não exerciam posição e função iguais. Já vimos isso no caso do Volante, um centro-médio recuado para a frente dos zagueiros, na proteção à área, atuando por trás dos demais jogadores do meio, e com responsabilidades principalmente defensivas.


É extremamente incomum um time sem volante. Na verdade, com as transformações que o jogo sofreu na segunda metade dos anos 1960, os volantes se multiplicaram. O processo foi tão radical no Brasil que gerou formações bem estranhas, como a da seleção de 1994, que na reta final da Copa atuava com quatro jogadores que, em algum momento, eram descritos como volantes: Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho.

Evidente que as funções e os posicionamentos desses jogadores não eram todos adequados ao termo ''volante''. Estavam posicionados, na verdade, como meia-armadores. Só que ganharam enormes tarefas de marcação que acabaram prejudicando a função de articulação e municiamento ao ataque, típica da posição.

Esse é um problema importante, porque nem tudo aquilo que é descrito como ''volante'' a partir de meados dos anos 1970 é, efetivamente, um 'cabeça de área'. O segundo ou terceiro volante ocupa a posição, e algumas das funções, do meia armador: distribuir o jogo, cadenciar, articular as jogadas e municiar os atacantes. Mesmo quando sobrecarregados com tarefas de marcação, é assim que atuavam Carpegiani ou Renato Abreu no Flamengo.

A multiplicação de jogadores pouco técnicos voltados prioritariamente pra destruição de jogadas na posição anteriormente ocupada por típicos meias fez um grande mal ao futebol brasileiro. Tivemos grandes gênios nesse espaço do campo: Zizinho, Didi, Gérson, Ademir da Guia, Rivelino e Sócrates são alguns dos mais famosos. Esse processo começou a se reverter nos últimos anos. Na medida em que o preparo físico dos atacantes permitiu a melhor distribuição das tarefas defensivas, os esquemas táticos trouxeram de volta jogadores mais capazes de armar desde o próprio campo.




Um processo parecido aconteceu na linha de ataque. Na medida em que os meias ganhavam cada vez mais funções de defesa, os antigos pontas foram sumindo também, se tornando cada vez mais meias pela direita e pela esquerda. Zinho começou como ponta esquerda no Flamengo. Mas já em 1987 atuava, antes de tudo, como meia pela esquerda. Um meia-armador, portanto. O Flamengo já atuava com meias no lugar dos pontas desde o timaço da Era de Ouro. Na famosa escalação de 1981, Lico e Tita não eram pontas, mas meias que atuavam pela direita ou pela esquerda do ataque.

Essas mudanças aconteciam com imensas dores. Telê Santana foi muito criticado por jogar sem ponta direita na Copa de 1982. O bordão ''Bota ponta, Telê!" era típico daqueles tempos. O problema não era, no entanto, jogar sem o ponta, e sim a falta de simetria do time, já que os meias escalados não tinham por hábito ocupar aquele espaço na direita. A jogada de Sócrates se infiltrando pela direita e recebendo lançamento preciso de Zico pra empatar a partida contra a Itália na Copa era mais esporádica do que os vídeos de ''melhores momentos'' fazem parecer. Em geral, o setor ficava vazio, um verdadeiro buraco, prejudicando inclusive o jogo do genial Leandro, que não podia se lançar ao ataque.

Parte da ''culpa'' pode ser dividida com Tita. Telê queria escalá-lo daquele lado, como ele jogava no Flamengo. Mas Tita não queria exercer essa posição nem no Flamengo, muito menos da seleção brasileira. Deixou de disputar uma Copa por pura teimosia. Tita se via como ponta de lança, não como meia, seja pela direita ou pela esquerda. O que nos leva ao próximo esclarecimento.

Assim como estou deixando o volante [ou, mais exatamente, o ''primeiro'' volante] de fora da definição de meia-armador, também vou deixar de fora o Ponta-de-lança, também conhecido como ''meia-atacante''.

O ponta de lança volta ao meio de vez em quando, mas sua posição é próxima à área e ao centroavante. É um atacante que se infiltra na área em diagonais ou vindo de trás, visando o gol. Ele é arco também, mas sua característica principal é ser flecha, um goleador que acompanha o centroavante. Ponta de lança é a posição consagrada por Pelé, Zico e Tostão, e que não se confunde com a dos meio-campistas que ditam ritmo, articulam e distribuem jogadas mais atrás, como Gérson, Didi e Ademir da Guia.

Com essas definições, vamos aos principais meia-armadores da história d'O Mais Querido do Brasil.


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1) SIDNEY PULLEN [1915/25]




Tem um inglês na seleção brasileira! Será a bagarre?

Pullen chegou com a família ao Rio em 1902. Eram de Southampton, Inglaterra, e seu pai foi transferido para um fábrica no Brasil. Ganhou dupla nacionalidade, e logo se destacou no Paissandu, clube de ingleses que ainda hoje existe na Zona Sul do Rio de Janeiro, na Rua Paysandu, no Leblon, bem na esquina da atual sede d'O Mais Querido. [Lembrando que naqueles tempos o Flamengo ainda não se localizava na Gávea.]




Ele era, na verdade, o principal jogador do time e um dos melhores do Rio de Janeiro. Conduziu o Paissandu ao título de 1912, e só saiu da equipe porque ela colocou fim ao departamento de futebol dois anos depois. Pullen foi então para o Flamengo e se consagrou como o maior jogador rubro-negro antes de Leônidas da Silva.





Grande técnica, raça e liderança. Sidney criava, marcava gols com seus potentes chutes de canhota, consagrava artilheiros [como Riemer], era capitão da equipe e ainda exercia a função que hoje chamamos de ''técnico''. Com tamanha qualidade, foi convocado para a seleção brasileira para o Sul-Americano de 1916, a antiga 'Copa América'. Pullen foi o primeiro 'estrangeiro', a primeira pessoa nascida fora do país, a vestir a camisa da equipe nacional.



Nos dez anos que se seguiram, só deixou o Flamengo entre 1916 e 1917, período em que serviu o Exército inglês na Primeira Guerra Mundial. Viveu seu auge na virada dos anos 1910 para os 1920, mas seguiu no clube até 1925, aos 30 anos de idade. Depois que se aposentou dos gramados, se tornou campeão estadual de tênis.



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