''Todo o universo de idéias do professor Dugin é um reflexo do drama estrutural, interior da Igreja Ortodoxa.''
Olavo de Carvalho
Dugin lendo ofício em uma Igreja Russa |
Alguns discípulos de Olavo de Carvalho decidiram
espalhar uma mentira infame entre cristãos ortodoxos, a de que existiria uma
condenação formal do Patriarcado de Moscou às ideias de Alexandr Dugin. [1]
Pra manter a invencionice, se utilizam de um texto retirado do
livro "Новые религиозные организации России деструктивного, оккультного и
неоязыческого характера'' [''Novas organizações religiosas na Rússia e de
natureza destrutiva, ocultista e neopagã''], que é um dos oito volumes de uma verdadeira ''enciclopédia'' chamada ''Новые религиозные организации России деструктивного
и оккультного характера'' ["Novas organizações religiosas russas de
natureza destrutiva e oculta"].
As duas primeiras edições foram publicadas em 1997 como um guia pelo Departamento Missionário do Patriarcado
de Moscou, sem no entanto implicar qualquer pronunciamento oficial sobre os diferentes tópicos e movimentos citados por seu autor, de
quem falaremos mais adiante. A terceira edição, muito mais ampliada, foi publicada, por sua vez, pela
Editora Peregrino entre 1999 e 2002.
O compilador da obra é Igor Vladislavovich Ponkin,
que tem certa presença acadêmica e política, e
pesquisa movimentos não-cristãos surgidos a partir dos anos 1990.
Ponkin não é nem nunca foi funcionário
ou voz oficial do Patriarcado. Em evento acadêmico realizado no fim de 2002, o
Padre Andrey Igorevich Khvylya-Olinte, que é também teólogo e doutor em
Direito, e exercia chefia no próprio Departamento Missionário, declarou que
''[H]á várias pessoas que se declaram funcionários do Departamento Missionário
Sinodal, entre elas Igor Vladislavovich Ponkin, que possui muitos pseudônimos -
entre eles "Karelin" e "I. Kulikov ". Ele também não é
funcionário do Departamento Missionário Sinodal. Peço a todos que estejam
atentos às reivindicações arbitrárias dessas pessoas de serem membros do
Departamento Missionário Sinodal" [2].
Além do texto não fornecer a posição da Igreja, seu compilador foi DESAUTORIZADO por figuras com posição formal no Departamento, e que possuem benção do Patriarcado para levar a efeito seus estudos sobre movimentos religiosos.
A própria ''enciclopédia'' em
questão foi analisada ao longo dos anos 2000 por acadêmicos e por figuras
vinculadas ao Departamento Missionário, recebendo diversas e sólidas críticas, incluindo aí o teólogo e prestigiado acadêmico Alexander Leonidovich Dvorkin,
esse sim premiado pelo Patriarcado e um dos maiores militantes contra
o surgimento e crescimento de cultos perigosos [de uma perspectiva ortodoxa] na
Rússia. Dentre outras coisas, Dvorkin disse que o livro' de Ponkin "contém muitos erros, dados não verificados e não confiáveis e
estatísticas absolutamente fantásticas''. Além disso, continua ele, haveria uma
simpatia preocupante com seitas neopentecostais, que, misteriosamente, parecem
não ser consideradas perigosas. O que talvez explique uma das abordagens de Ponkin que vamos analisar mais abaixo.
A conclusão é inescapável: Qualquer um que diga que tal texto e o
livro do qual ele saiu significa uma posição oficial do Patriarcado de Moscou
está mentindo na cara dura. Infelizmente, uma tradução permanece publicada em um
ou outro blog de cristãos ortodoxos, certamente por influência de Fábio L. Leite e amigos
olavetes.
O objetivo da manutenção dessa mentira é,
evidentemente, político. Olavo de Carvalho, ele mesmo um OCULTISTA que se diz católico-romano mas frequenta igrejolas pentecostais buscando curas pra hérnia, que defende uma união entre o Vaticano e a Maçonaria estaduninense, e que
possui uma visão de mundo moldada por Fritjof Schuon, sob
influência de quem converteu [''reverteu''] toda a família ao Islamismo. Desse sim Fábio Leite gosta.
Olavo, como qualquer pessoa sensata sabe, é agente de desinformação do Estado norte-americano. Mora na Virgínia, milita em prol do neoconservadorismo ianque e do liberalismo econômico, e defende a destruição do Brasil e a administração de nosso território pelos EUA.
O ''guru da Virgínia'' considera a Igreja Ortodoxa,
e particularmente o Patriarcado de Moscou, como uma extensão ''da KGB"
[sic]. E já declarouy que todas as paróquias cristãs ortodoxas no Brasil estão sob
controle de tariqas muçulmanas.
Os delírios não param por aí. O homem que dizem ter escapado de um manicômio sem alta médica depois de tentar viajar por dimensões
espaço-temporais com uma barca egípcia, tem não só Alexandr Dugin como inimigo,
como o considera uma mera consequência do verdadeiro mal que se esconde no
Oriente: para Olavo, o imperialismo russo [sic] e o globalismo são consequência
direta da teologia ortodoxa. Por trás do ''eurasianismo'' e de todos os males
possíveis e imagináveis que a Rússia espalharia pelo mundo, estaria o erro
teológico fundamental: os ensinamentos da Igreja Ortodoxa.
Ou seja, Fábio Leite e companhia, incluindo todos
aqueles que divulgam a versão mentirosa da suposta condenação de Dugin pelo
Patriarcado de Moscou, tem um problemão: para seu guru e mestre, o verdadeiro
problema das ideias de Dugin é que elas são moldadas demais pela mentalidade da
Igreja.
1. Logo no início do texto é dito que "GUÉNON constitui uma autoridade incontestável para A. DUGIN.'' É uma tentativa de construir um espantalho: Se Guénon é autoridade incontestável para Dugin, e sendo Guénon um muçulmano sufi, logo as ideias de Dugin se desviam da Igreja. Só que Dugin tem críticas a idéias de Guénon, como a da existência de um núcleo esotérico comum a todas as religiões. Além disso, se possuir influência de Guénon é um "demérito’’ pra alguém, então todas as obras e textos de Olavo de Carvalho deveriam ser jogados fora. Olavo chega a PLAGIAR argumentos de Guénon em livros seus, como n’O Jardim das Aflições, confiando no desconhecimento das obras do metafísico francês.
2. O texto aponta que “As primeiras pesquisas religiosas de A. DUGIN datam do início dos anos 90 do século passado’’, e logo depois considera essas pesquisas iniciais como parâmetro de análise. Por quê? Qual o sentido disso? Se analisasse os escritos do Bem Aventurado Santo Agostinho por esse mesmo critério, o autor o chamaria de maniqueísta. Se analisasse os escritos de Olavo por esse mesmo critério, concluiria que ele era um astrólogo perenialista vinculado a cultos obscuros dos irmãos Shah.
3. O autor também "acusa" Dugin de reconhecer “a primazia do não ser”. Ele não nos dá nenhuma justificativa para o escândalo. Provavelmente porque confunde esse conceito com a ideia de "Nada’’. Mas o próprio Guénon esclarece que se trata de algo completamente distinto. O "não-ser’’ é aquilo que está para além do que a teologia escolástica chamou de "Ser". É a Realidade Absoluta e Inominável, absolutamente transcendente e que não pode ser contida por qualquer manifestação. O conceito não traz nenhum problema para os cristão ortodoxos, apenas para a teologia ocidental derivada do tomismo.
4. O autor admite que a obra “O Fim do Mundo. Escatologia e Tradição’’, de 1998, é proposta por Dugin como um “manual de história”. Mas por algum motivo maluco, acrescenta que, por possuir posições pessoais do sociólogo, tem de ser lida como obra de "caráter dogmático". A absurdidade e desonestidade é gritante. E ressalto: o manual de história data de 1998, vinte e três anos atrás. O que fazia Olavo de Carvalho em 1998? Já tinha saído da tariqa? Já tinha parado de se definir religiosamente como um "cristão-muçulmano-hindu-judeu’’? Aliás, o que escrevia Olavo de Carvalho sobre os EUA em 1998? Muitos de seus discípulos mais fanáticos ficariam surpresos.
5. Outro escândalo é com a declaração de que “O Cristianismo não substituiu, mas elevou e consolidou a fé antiga pré-cristã.’’ Se fica ofendido com frases como essa, o que o autor pensaria de São Justino Mártir e de São Clemente de Alexandria? Tudo que é verdade na história espiritual da homem é também cristão. As sementes do Verbo foram jogadas para todos os lados. Não há problema algum na consideração feita por Dugin.
6. O autor implica com os diálogos empreendidos por Dugin com muçulmanos. Imagino que ficaria também doente com algumas posições de São Gregório Palamas quando capturado por muçulmanos, e que vão muito além de tudo o que Dugin tenha dito sobre o tema. Mas o verdadeiro flagrante do que está por trás do autor se dá quando analisa frases a respeito de Crowley. Segundo ele, "DUGIN culpa o próprio cristianismo pelo aparecimento das concepções anti-cristãs de A. Crowley’’. É verdade, Dugin responsabiliza mesmo o esvaziamento espiritual do "cristianismo ocidental'' como cenário perfeito para a proliferação de pessoas como Crowley. O autor quer tomar as dores de católico-romanos e anglicanos, estas sim heresias de acordo com a perspectiva cristã-ortodoxa. Parece que Dvorkin não estava tão errado ao apontar as simpatias de Ponkin pelo protestantismo.
Enfim, muito mais coisa poderia ser citada, mas
a essa altura já deve estar evidente que o texto é uma piada de mau gosto do
qual nada, absolutamente nada se aproveita. Além disso, a Quarta Teoria
Política foi desenvolvida mais de uma década depois.
A grande questão que resta é a seguinte: Por que alguns cristãos ortodoxos colocam sua fé em segundo lugar quando se trata de defender os projetos de Olavo de Carvalho? Para agradar ao líder da seita, eles trabalham até mesmo com o Pai da Mentira pra desinformar membros da Igreja.
Nunca é
demais lembrar: Dugin é nosso irmão de fé. Já Olavo de Carvalho, o liberalismo
ianque, Bozó, Sara Winter e gente semelhante defendem publicamente posições
verdadeiramente incompatíveis com a Ortodoxia.
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[1] https://vidaortodoxa.blogspot.com/2014/06/patriarcado-de-moscou-condena-dugin.html
[2] https://iriney.ru/main/dokumentyi/rukovodstvo-missionerskogo-otdela-razoblachaet-samozvanczev.html
[3] ''Olavo tem declarações publicadas em livro dizendo que a Igreja Ortodoxa possui erros em seus ensinamentos, esses erros estando na origem do ''imperialismo russo''.