domingo, 28 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta XI: Billie Jean King, em 1972


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Quando os românticos anos 1960 chegaram ao fim, Billie Jean King já era detentora de um extenso conjunto de títulos em simples e duplas e reconhecidamente uma das maiores tenistas da História de seu país. Mas foram as performances do início da década de 1970 que a tornaram definitivamente imortal.

A maturidade como atleta elevou seu jogo agressivo e de rede a outro patamar, e em 1971 ela faturou 17 torneios -- o quarto maior número de títulos em uma só temporada, atrás apenas do desempenho de Margaret Court em 1970 [21 taças], 1969 e 1973 [18 taças em cada um desses anos] --, e alcançou 89,6% de aproveitamento com 112 vitórias e 13 derrotas.

No ano subsequente, a norte-americana de 28 anos de idade atingiu seu apogeu e se consolidou de vez como a melhor tenista do mundo. Billie Jean venceu três majors em 1972, feito ainda mais memorável quando se sabe que ela pulou o Australian Open por considerá-lo um “torneio menor”. Ou seja, ela venceu todas as 17 partidas de Grand Slam que disputou naquele ano. O maior destaque veio em sua campanha em Roland Garros, quando levantou a taça sem deixar um único set em quadra.


Depois de sua vitória no US Open, a campeã declarou que não defenderia o título em Nova York no ano seguinte caso a premiação do vencedor da chave masculina permanecesse maior do que o da chave feminina, fato que levou o major americano a se tornar o primeiro a igualar os prêmios entre homens e mulheres. King dava início a uma série de atos que a alçariam ao patamar de símbolo político dentro do esporte.

Billie Jean fechou 1972 com 88 vitórias e 13 derrotas, um aproveitamento de 87,1%, e conquistou um total de 11 títulos. Seu caminho foi pavimentado com vitórias sobre tenistas do calibre de Chris Evert, Margaret Court, Evonne Goolagong Cawley, Helga Niessen, Nancy Richey, Kerry Melville Reid e Rosie Casals.

sábado, 27 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta X: Margaret Court, em 1970


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Uma das mais dominantes atletas da história atingiu a plenitude de sua forma física e técnica em 1970. Aos vinte e oito anos, Margaret Court se tornou a primeira mulher a completar o Calendar Slam -- um feito que só seria repetido uma vez desde então, por Graf em 1988.

Era o ápice de uma série de conquistas de seis majors consecutivos, do US Open 1969 ao Australian Open 1971. Dos nove Grand Slams disputados entre o Aussie de 1969 e o de 1971, Court saiu campeã de oito, tendo chegado à semifinal do único restante [Wimbledon 1969] e alcançando a inacreditável marca de 51 vitórias em 52 partidas.

Nessa temporada dourada, a australiana estabeleceu também o recorde de taças em um mesmo ano: nada menos do que vinte e um torneios de simples. Seu aproveitamento chegou a 95,73%, o nono maior da história [1], com 112 vitórias em 117 jogos, o que a ajuda a manter até hoje o melhor percentual de vitórias da Era Aberta, com índice de 91, 17%.

A hegemonia de Margaret Court em 1970 foi acompanhada por vitórias sobre Billie Jean King, Nancy Richey, Evonne Goolagong Cawley, Kerry Melville Reid, Rosie Casals dentre outras.


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[1] As temporadas de maior aproveitamento de vitórias no tennis feminino são: 1) Navratilova 1983; 2) Graff 89; 3) Navratilova 84; 4) Graf 87; 5) Navratilova 82; 6) Navratilova 86; 7) Graf 88; 8) Graf 95; 9) Court 70; 10) Court 69. Como se vê, apenas três tenistas dominam as dez primeiras posições desse ranking.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta IX: Novak Djokovic, em 2015


 

Djokovic já era reconhecidamente o tenista mais vitorioso da década. Mas foi a temporada de 2015 que consolidou seu lugar como um dos mais dominantes jogadores já surgidos.

Tão espetacular foi seu ano que a performance do sérvio despertou imediatamente comparações com a de Federer em 2006. Vozes surgiram prevendo que Nole bateria os principais recordes do esporte e acrescentando seu nome aos debates sobre o maior tenista da história.

Djokovic alcançou 93,2% de aproveitamento -- atualmente a sexta maior de todas -- e levantou 11 títulos em 15 finais. Assim como Laver e Federer, fez a decisão de todos os majors do ano. E venceu três deles: O Australian Open, Wimbledon e US Open. Para completar, se tornou mais uma vez campeão da Master Cup/Finals.

Entre seus maiores feitos se encontra o recorde de seis títulos de Masters 1000 em um mesmo ano.

O domínio de Novak se evidencia por suas 5 vitórias em 8 jogos contra Federer, seis em sete contra Murray e em todos os quatro jogos disputados contra Rafa. Não contente com isso, conseguiu a proeza de vencer Roger em Wimbledon e no US Open e Nadal em Rolanga em um mesmo ano.

Foi também em 2015 que Nole iniciou sua sequência de quatro títulos seguidos de GS, que, embora não tenha se dado em uma mesma temporada, é inédita na era pós-Laver.

Além da hegemonia no Big Four, Djokovic também predominou sobre Milos Raonic, Stanilas Wawrinka, Marin Cilic, David Ferrer, dentre outros.

domingo, 14 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta VIII: Rafael Nadal, em 2010


O MONSTRO DA PHILIPPE CHATRIER




Nunca um jogador dominou tanto numa superfície do tennis quanto Rafael Nadal no saibro! A frase é hoje um jargão comum que ninguém mais ousa contestar. Ela soa quase que natural, e por isso mesmo é necessário se distanciar um pouco dessa sensação de ''normalidade'' pra compreender corretamente a dimensão alcançada pelo canhoto de Mallorca na superfície.


Próximo de completar 33 anos de idade, Nadal venceu 92% de seus jogos na terra batida. Borg, que se aposentou no auge da carreira, tem 86% de aproveitamento. Para fins de comparação, Federer, considerado por muitos o mais eficiente jogador sobre a grama em toda a Era Aberta, tem 87% de aproveitamento na relva. 

Rafael Nadal detém o recorde de vitórias consecutivas sobre uma superfície, com 81 triunfos sobre o saibro entre abril de 2005 e maio de 2007. É também o maior detentor de troféus na terra batida, 57 e contando.

Se não bastasse, em toda sua carreira, Rafa Nadal só perdeu dois jogos de melhor de cinco sets no saibro [em 91 partidas disputadas, o que lhe confere um média de 98%]. 

Entre 2005 e 2018, venceu 11 dos 14 Roland Garros que disputou. É o tenista que mais venceu partidas em Paris, um total de 86 [contra duas derrotas, um aproveitamento de 97,6%] .

Para completar, tragamos à mente os grandes nomes que se tornaram mestres em dada superfície do esporte branco: de Bill Tilden a John McEnroe, Sampras e Federer na grama; de Jimmy Connors a Ivan Lendl, Agassi e Djokovic na dura; de Ken Rosewall e Vilas a Borg, Muster e Kuerten no saibro.

Agora podemos repetir com o devido assombro diante do caráter absolutamente extraordinário do feito: Nunca um jogador dominou tanto numa superfície do tennis quanto Rafael Nadal no saibro!


REI DE TODOS OS PISOS


Não foi em 2010 que Rafa obteve o melhor aproveitamento de sua carreira. Com 71 vitórias e 10 derrotas, o maior atleta espanhol da história chegava à excelente marca de 87,7%, inferior aos 91,5% que construiria três anos depois.

Tampouco foi em 2010 que ele amealhou o maior número de títulos. Foram sete taças em nove finais, enquanto em 2013 o tenista de Mallorca levantou 10 canecos em incríveis 14 decisões.

E eu, pessoalmente, também considero ter sido em 2013 que Rafa alcançou seu maior nível técnico.

Então porque a escolha específica por 2010 nessa série sobre ''As Grandes Temporadas''?

Porque foi nesse ano que Nadal realizou algo que ninguém nunca conseguiu na Era Aberta, nem antes nem depois. E não estou falando do feito espetacular de ter vencido pelo menos 3 majors, que o colocou em um restrito grupo ao lado de Laver, Connors, Wilander, Sampras e Federer.

E sim que Rafael Nadal, que muitos diziam ser apenas um 'saibrista', é o único tenista nos últimos cinquenta anos a conquistar Grand Slams em três pisos diferente em um mesmo ano, proeza cuja singularidade dá a dimensão de sua dificuldade.

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O Touro Miúra reafirmou sua hegemonia no saibro de Paris, abocanhou seu segundo troféu dourado na grama sagrada do All England Club, e se tornou o tenista mais jovem a completar o Career Grand Slam com sua vitória nas quadras duras de Nova York. Como celebrou um jornal espanhol: Rei da terra, de fato, mas em todas as superfícies.

Para completar o momento espetacular, Nadal chegou à final da Master Cup/Finals em hard indoor.

Rafa provou sua hegemonia com vitórias sobre Federer, Djokovic, Murray, Juan Carlo Ferrero, Fernando Verdasco, David Ferrer, Robin Soderling, Andy Roddick, Lleyton Hewitt dentre outros.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta VII: Roger Federer, em 2006




REI DOS RECORDES



Roger Federer dispensa apresentações. Dono da maior parte dos grandes recordes do tennis da Era Aberta, o suíço é um daqueles atletas que superam de tal modo seu terreno de atuação que se tornam conhecidos até por quem não acompanha o esporte. 

Seria cansativo dissecar seus tantos e espantosos números, alguns dos quais se tornaram tão familiares que chegam a perder o impacto que merecem. Cito apenas um: Entre 2003 e 2009, Federer terminou todas as temporadas de grama invicto a não ser por um jogo, a final de Wimbledon em 2008. Até a semifinal de Halle, em 2010, foram 76 jogos na relva com apenas um derrota, um aproveitamento de vitórias que chega a 98,6%, talvez o maior período de hegemonia de um tenista sobre uma mesma superfície. Não bastasse isso, em 2005 e 2006, o suíço realizou 110 partidas em quadra dura, saindo derrotado apenas 3 vezes de quadra, com um aproveitamento absurdo de 97,2%. 

Eis aí algumas marcas que levam a crer que nunca houve hegemonia maior já ocorrida sobre o circuito. 




PERFEITO



Na temporada de 2005, o tenista suíço já havia deixado a todos de queixo caído quando quase repetiu o aproveitamento majestoso que McEnroe havia alcançado em 1984. Faltou um set, já que ele tomou a virada na decisão da Master Cup, perdendo a final para um David Nalbandian 'on fire' [1].

Em 2006, ainda que com aproveitamento inferior [mas ainda incríveis 94,8%, o quarto melhor da Era Aberta], Federer se superou em quase todos os quesitos [2].


O suíço conquistou 12 títulos e chegou a 16 finais em 17 torneios disputados! E se tornou o primeiro tenista depois de Rod Laver a chegar a todas as finais de majors em um mesmo ano, feito que só foi repetido depois por Novak Djokovic.

As quatro decisões nessa temporada foram o núcleo duro de um recorde aparentemente imbatível de dez finais consecutivas de GS entre Wimbledon 2005 e US Open 2007 [3], e do praticamente inatingível número de 237 semanas consecutivas na liderança do ranking -- batendo uma marca de Connors que durou cerca de trinta anos.

Roger foi número um da ATP de ponta a ponta [feito até então realizado apenas por Jimbo, Lendl, Sampras e Hewitt], e suas principais conquistas foram as taças do Aussie Open, Wimbledon e US Open, além da Master Cup [atual Finals].



Naquela temporada, se consolidou a história de que o suíço era o tenista perfeito, imbatível a não ser por Rafael Nadal no saibro. O mais impressionante é que, em 2006, a afirmação não parecia nada exagerada, tamanha a comunhão de técnica perfeita, beleza de golpes, criatividade e resultados que os apreciadores do esporte dos Reis puderam acompanhar.

A montanha de glórias de Roger foi escalada em partidas contra Rafael Nadal, Novak Djokovic, Andy Roddick, Stanilas Wawrinka, Tim Henman, Nikolai Davydenko, David Nalbandian, Tommy Haas, Ivan Ljiubicic, Fernando Gonzalez, Robin Soderling, James Blake, David Ferrer, dentre outros.



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[1] Nenhuma justificativa é necessária em uma derrota para David Nalbandian; mas há de se observar que Federer disputou o torneio com uma contusão nos quadris, e que a final era ainda em cinco sets. 

[2] As melhores temporadas por índice de aproveitamento são: I) McEnroe, em 1984 [96,5%]; II) Jimmy Connors, em 1974 [95,8%]; III) Roger Federer, em 2005 [95,3%]; IV) Roger Federer, em 2006 [94,8%]; V) Bjorn Borg, 1979 [93,3%].

[3] A sequência foi interrompida pela derrota frente a Novak Djokovic, nas semifinais do Aussie Open 2008. Logo depois, Federer emendou nova série de oito finais consecutivas de Grand Slam, a segunda maior da história, só atrás da sua própria marca de 10 finais consecutivas.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Séries Grandes Temporadas da Era Aberta VI: Pete Sampras, em 1994

Quem você diria que é o melhor jogador que já enfrentou?
FEDERER: "Pete Sampras. Sempre o considerei um incrível campeão e um grande herói. E a coisa com Pete era que, quando ele estava no jogo dele, você não tinha como ganhar. Quando você joga com alguém que é assim tão forte e tão bom, é impressionante.''

Federer em entrevista a Lucas Bessel, publicada na Isto é 2016.




O MESTRE DOS ANOS 1990


Jogador clássico e que possuía todos os golpes, Pistol foi um fenômeno tanto nas quadras duras, quanto na relva e no carpete. Era dono de um saque monstruoso, até seu segundo serviço intimidava os adversários. Gênio do voleio, seu forehand batido na corrida foi uma das armas mais poderosas já vistas.

No fim de sua carreira, o americano possuía indiscutivelmente a maioria dos grandes recordes:

-> Maior finalista de Wimbledon [7 finais, empatado com Becker] e maior campeão no All England Club [sete títulos em oito anos]; 

-> maior finalista do US Open [8 finais, empatado com Ivan Lendl] e maior campeão do major americano [5 títulos, empatado com Connors]; 
-> maior vencedor de majors [14 títulos]; maior vencedor de majors em hard courts [7 títulos] e na grama [7 títulos];
-> recordista de semanas como número um do mundo [286 semanas];
-> recordista de temporadas completadas como número um [6 temporadas CONSECUTIVAS entre 1993/1998, um recorde que permanece]; 
-> maior vencedor da Master Cup/Finals [5 títulos, empatado com Ivan Lendl].



Além disso, Pete obteve domínio sobre seus principais rivais, algo que ele destaca com orgulho em sua autobiografia e que afirma ser um diferencial dos melhores tenistas de todos os tempos.

Sampras tinha Rod Laver e Ivan Lendl como grandes ídolos e espelhos pra sua carreira, e é grande admirador do tennis de Roger Federer. O suíço, por sua vez, também já apontou Sampras como o melhor jogador que viu atuar, dizendo que ''quando ele estava em seu jogo, era imbatível''. Boris Becker, um dos maiores ícones de Wimbledon, chegou a dizer que foi depois de enfrentar Sampras na grama sagrada que concluiu que jamais voltaria a vencer no All England Club.



A austera figura de Pete, descendente de família grega e cristã ortodoxa, paira ainda sobre o mundo do tennis, um atleta de temperamento e comportamento discreto, quase monástico, e cujo smash se tornou emblema de hegemonia e realeza no esporte


IMPECÁVEL E DEMOLIDOR


O aproveitamento de Sampras em 1994 foi de 86,5%; proporção de vitórias que, apesar de excelente, não dá a correta dimensão de seu domínio nessa temporada. Pete conquistou 10 torneios e chegou a doze finais, números assombrosos e que poderiam ser ainda maiores caso não estivesse contundido por toda a US Open Series e a temporada de carpete.

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O jogo de Sampras havia florescido de vez no ano anterior, mas foi em 1994 que ele se tornou o principal nome da geração mais dourada e vitoriosa do tennis americano, superando seus compatriotas Michael Chang, MaliVai Washington, Todd Martin, Andre Agassi e Jim Courier.

Tinha início ali uma das maiores hegemonias já vistas no esporte mundial, que culminaria com seis temporadas seguidas terminadas como número um do mundo, um recorde aparentemente imbatível.

Suas principais conquistas foram o Australian Open, Wimbledon e a Master Cup [atual 'Finals']. A performance no major inglês desencadeou debates sobre como evitar o poder demolidor de seu saque e do saque de seu rival, Goran Ivanisevic. [Por incrível que pareça, Sampras só conquistaria o amor dos ingleses em 1997.]

Tamanho era o esplendor de sua forma técnica, que abocanhou aquele que seria seu principal resultado no saibro: o título de Roma. E assim como Connors e Lendl, também conseguiu liderar o ranking de ponta a ponta.


Nessa temporada, além dos rivais já citados, Pistol superou também jogadores da estatura de Ivan Lendl, Boris Becker, Kafelnikov, Tin Henman, Patrick Rafter, Stefan Edberg, Thomas Muster, Petr Korda, Wayne Ferreira, Marcelo Ríos, Alex Corretja, dentre outros.




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terça-feira, 9 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta V: Ivan Lendl, 1986

OITO VEZES IVAN

Existia uma certeza em Nova York durante os anos 1980: Ivan Lendl estaria na decisão do USO. O maior dos tenistas tchecos chegou à final do major americano nada menos do que oito vezes consecutivas entre 1982 e 1989.

Para perceber quão impressionante é essa marca, basta lembra que Roger Federer chegou a sete finais consecutivas de Wimbledon e a seis consecutivas do US Open. Borg tem seis consecutivas em Wimbledon. Rafael Nadal chegou cinco vezes seguidas na final de Roland Garros.

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Resumindo: o feito de Lendl é praticamente irreplicável mesmo para os maiores gênios do esporte em seus Grand Slams preferidos.

Conhecido pela extrema frieza em quadra, pelos poucos sorrisos em público, Ivan foi um dos mais fantásticos e dominantes jogadores em hard court e no carpete, e um dos maiores baseliners da história. Suas marcas são impressionantes: 94 títulos de nível ATP, quantidade inferior apenas aos incríveis 109 de Jimmy Connors. Recordista de finais de majors, chegando a 19 decisões, uma marca que permaneceu intacta por 17 anos até que Federer a superou em 2009. Bateu o número de semanas como número um, que pertencia a Jimmy Connors, chegando a 270 edições como líder do ranking. Tornou-se o maior campeão da Master Cup [atual ATP Finals], levantando cinco troféus do torneio, recorde que durou 24 anos, até Federer chegar à sexta conquista em 2011.

Seus números poderiam ter sido ainda maiores: Durante a maior parte de sua carreira, o Grand Slam australiano era disputado na grama, superfície em que era menos eficiente. Outro empecilho foi a quantidade de derrotas nas finais dos majors -- Lendl foi vice campeão por onze vezes. A maior frustração de sua carreira foi nunca ter vencido Wimbledon. Perdeu duas decisões em Londres, uma para Boris Becker e a outra para Pat Cash.


A OITAVA TEMPORADA MAIS DOMINANTE




Um dos mais subestimados campeões da História, Ivan Lendl realizou em 1986 uma temporada que expressa de modo indiscutível sua grandeza.

O tcheco conquistou 9 títulos, incluindo aí Roland Garros e US Open. Venceu também a Master Cup, igualando o recorde de quatro títulos que pertencia a Ilie Nastase -- uma marca que Ivan bateria no ano seguinte.

Naquele ano foram realizados apenas 3 majors, já que o Australia Open mudou de data e foi adiado de dezembro para janeiro. Pois Lendl chegou à final de todos os GS, sendo derrotado em apenas um jogo, a final de Wimbledon contra Boris Becker.

Lendl chegou a 92,5% de percentagem de vitórias, o que faz dele o sexto tenista com melhor aproveitamento em uma temporada na Era Aberta e seu ano de 1986 o oitavo mais dominante da série.

1986 foi o núcleo duro de uma hegemonia no ranking que se estendeu por 157 semanas seguidas, apenas três a menos do recorde estabelecido por Jimbo entre 1974/77. Mas talvez o mais impressionante é que Lendl liderou o ranking de ponta a ponta naquela temporada, um feito que até então só havia sido realizado por Connors, e que só voltaria a ser repetido por Sampras , Hewitt, Federer e Djokovic [1].

Os feitos de Lendl em 1986 foram acompanhados por vitórias contra gigantes do porte de Boris Becker, Mats Wilander, Stefan Edberg, Jimmy Connors, Miroslav Mecir, Andrés Gomez, Henri Leconte, dentre outros.



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[1] Lendl repetiu a liderança de ''ponta a ponta'' em 1987. Connors conseguiu o feito por três vezes, nos anos de 1975, 1976 e 1978. Federer igualou o número de vezes do americano, mas em três temporadas seguidas: 2005, 2006 e 2007. Pete Sampras liderou de ponta a ponta em dois anos, 1994 e 1997. Hewitt realizou a façanha em 2002 e Novak Djokovic em 2015.

domingo, 7 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta IV: John McEnroe, 1984


AMOR E IRA


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Em certo sentido, John McEnroe não é polêmico. É consenso de que foi um dos maiores gênios a empunhar uma raquete. E é consenso que se trata de um dos jogadores mais temperamentais e deseducados a atingirem o estrelato. 



As duas características sequer são contraditórias já que os descalabros e acessos de fúria serviam de impulso para o tenista, que aumentava seu nível de tennis após a demonstração dum comportamento vexaminoso.



Seu incomensurável talento se revelou já na primeira vez em que disputou Wimbledon, em 1977. Ainda um garoto de 18 anos, que segundo ele próprio nunca havia jogado no saque e voleio até aquela data, John veio do qualifying para fazer a semifinal do torneio, perdendo por quatro sets para o número um do mundo de então, seu compatriota Jimmy Connors. A rivalidade que se instauraria entre os dois é um capítulo à parte da história, transbordando para um ódio pessoal que algumas vezes quase chegou às vias de fato nas quadras.

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No ano seguinte, entraria no 'Championships' como um dos grandes favoritos, e sua queda na estreia, em uma zebra histórica contra Tim Gullikson, ajudou a construir a fama da Quadra 1 como ''Cemitério dos Campeões''. Naquela mesma temporada, o jovem gênio conquistaria a Master Cup [atual ATP Finals] pela primeira vez em sua carreira, passando a dominar o US Open nos primeiros anos em que o major de New York passou a ser disputado em hard courts.

Poucas rivalidades foram tão marcantes quanto a de McEnroe e Bjorn Borg. Logo se percebeu que o norte-americano estava destinado a colocar fim à hegemonia do sueco em Wimbledon, e talvez no circuito. Os dois eram a exata contraposição um do outro. 

O ás do saque e voleio, canhoto de tennis clássico e serviço imprevisível, dono das quadras duras rápidas e perito no jogo de grama; contra o incansável jogador de fundo, Rei do saibro e do top spin. O explosivo garoto, movido a paixão e fúria, a desacato e histeria; contra o fleugmático, impassível e frio nórdico, que jogava todos os pontos de todas as partidas com a mesma expressão sem emoção. Fogo contra Gelo.

[É notável que o norte-americano nunca tenha explodido de raiva em um confronto contra Borg. Ele explicou anos mais tarde que seu respeito ao adversário o impedia de qualquer atitude desse tipo.]

O embate foi o que mais atraiu mídia na Open Era, só podendo ser comparado à repercussão atingida vinte e cinco anos depois pelos confrontos entre Federer e Nadal. McEnroe e Borg disputaram duas finais de US Open e duas finais de Wimbledon. 

A decisão de 1980 no All England Club é considerada por muitos como a maior final da história do torneio, vencida por Borg em um 8 a 6 no set decisivo. O tie break do quarto set, definido a favor de ''Big Mac'' por 18-16, é considerado por muitos como o mais emocionante e técnico enfrentamento já visto em decisões de majors. Foi também a maior audiência em jogo de tennis já registrada pela BBC, uma marca ainda não batida.

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Em 1981, John McEnroe cumpriria seu destino e destronaria Borg ao vencer a final em quatro sets. Entre 1980 e 1984 foram cinco finais consecutivas, com a conquista de três troféus. 

Verdade seja dita, até as erupções do ''Big Mac'' eram acompanhadas por aquela criatividade que flagrava o gênio. Por mais constrangedoras que tenham sido, se tornaram tiradas hoje usadas pela organização de Wimbledon como propaganda de seus 'maiores momentos'. A mais conhecida, provavelmente, é o jargão ''You cannot be serious'' que McEnroe urrava contra os juízes de cadeira durante sua vitoriosa campanha em 1981, e que mais tarde se tornou o título de sua autobiografia. 

Por essas explosões, o norte-americano passou pelo constrangimento de não ganhar naquele ano o título de sócio que o All England Club concede a todos os campeões. [ele teve de esperar o bicampeonato, em 1983]. Mas hoje há os que consideram que a pressão de McEnroe contribuiu para a profissionalização dos juízes de linha. Do mal do artista nascia um bem.

1984 é considerado por muitos especialistas como o ano em que os amantes do esporte dos Reis acompanharam o maior domínio de um tenista sobre o circuito. John McEnroe venceu 82 jogos e saiu derrotado apenas 3 vezes de quadra naquele ano -- o menor número no tennis masculino desde Bill Tilden, em 1925. O americano alcançou o incrível aproveitamento de 96,5%, nunca superado na Era Aberta.

Na construção desses números, o temperamental e genial tenista abocanhou nada menos que 13 títulos, incluindo aí 2 Grand Slams, Wimbledon e US Open, e a 'Master Cup' [Atual Finals]. A estatística fica ainda mais impressionante quando consideramos que ele pulou o Aussie Open e que chegou a ter dois sets acima contra Ivan Lendl na decisão de Roland Garros.

1984 também viu McEnroe enfileirar a maior sequência de vitórias no início de uma temporada: foram 42 jogos invictos até a derrota na final de Rolanga. Para se ter uma ideia, Djokovic, em 2011, possuía 41 vitórias antes de cair para Federer na semifinal em Paris.

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O nível de jogo alcançado por 'Big Mac' proporcionou algumas das melhores exibições já vistas em qualquer tempo, como a demolição de Connors na final de Wimbledon [6-1, 6-1, 6-2] e a destruição de Edberg [6-1, 6-0, 6-2] no US Open. O circuito se encontrava diante da plenitude de um gênio total.

Seu domínio sobre os rivais não deixa dúvida sobre a hegemonia de McEnroe. Foram seis vitórias em sete jogos contra Ivan Lendl, e seis vitórias em seis jogos contra Jimmy Connors. O americano bateu também Edberg, já citado, e Geirulatis, Miroslav Mecir, Mats Wilander, dentre outros.

Até hoje, quando se pretende defender que o ano de um tenista é um dos melhores da história, a comparação mais imediata é com esse espetacular ano de um dos mais habilidosos atletas a empunhar uma raquete.

sábado, 6 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta III: Bjorn Borg, em 1979


O nome de Bjorn Borg é um capítulo à parte na história do tennis. No saibro, somente Rafael Nadal pode ser comparado ao jovem sueco que assombrou o mundo a partir de 1974, ano em que conquistou seu primeiro título em Paris ao derrotar outra lenda da terra batida, Manuel Orantes.


Ele só perdeu uma vez no Aberto da França, para o italiano Adriano Panatta, que levantou a taça em 1976. Em todas as demais edições entre 1974 e 1981, saiu com o troféu, com exceção de 1977, em que não jogou o torneio.

Seu domínio absurdo sobre Roland Garros pode ser medido pelo peso dos adversários que superou nas grandes finais: além de Manuel Orantes, o sueco derrotou Guillermo Vilas [duas vezes] e Ivan Lendl.

Uma performance histórica se deu na final de 1978, quando venceu Vilas por três sets a zero, sem que o argentino -- um dos maiores saibristas de todos os tempos e em pleno ápice de sua carreira -- conseguisse fazer mais do que cinco games em todo o jogo [6-1, 6-1, 6-3].

Mas a epopeia desse ídolo do esporte não se limitou de forma nenhum ao saibro. Borg reinou em Wimbledon de um modo que ninguém achava que fosse possível. Foram seis finais e cinco títulos consecutivos na grama sagrada do All England Club. Ainda é dele o recorde de vitórias seguidas no torneio mais antigo, tradicional e prestigioso do tennis: um série de 41 jogos.

Eu poderia ter escolhido 1980 como sua melhor temporada. Mas preferi ficar com a performance de 1979. Nesse ano, o sueco alcançou mais de 93% de aproveitamento de vitórias. Conquistou nada menos que 13 títulos, incluindo aí 2 Grand Slams e a Masters Cup [atual Finals].




Os feitos se tornam ainda mais impressionantes se considerarmos que Borg dominava Roland Garros no fundo de quadra pra menos de um mês depois vencer Wimbledon no saque e voleio. E que ele conseguia todo esse domínio sem se preocupar em jogar o Aussie Open [só atuou lá em 1974].

Foi nessa temporada também que se consolidou a ideia, exagerada mas significativa, de que Borg "havia se tornado maior que o tennis".

Em 1979, a hegemonia de Borg foi sedimentada com vitórias tanto contra Vilas sobre o saibro, quanto sobre Lendl na hard e McEnroe no carpete. Também superou Geirulatis, Tanner, Connors e outros.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta II: Jimmy Connors, 1974


Rod Laver foi o primeiro tenista rememorado nesta série de postagens sobre as grandes temporadas da Era Aberta. O texto sobre sua magnífica temporada de 1969 pode ser lido aqui: Rod Laver.

Agora é hora de recordar um dos mais carismáticos e polêmicos tenistas da história, o americano Jimmy Connors. 



O DONO DAS BOLINHAS, DAS RAQUETES E DAS QUADRAS


Poucos tenistas incendiaram tanto o público quanto ele. Em uma época em que o tenista típico devia possuir temperamento monástico, reservado, dando exemplo inequívoco de controle emocional e de cavalheirismo, Jimmy se tornou dominante no esporte seguindo direção contrária. Sua arma era a paixão arrebatadora, a explosão de ira, a manipulação dos sentimentos da plateia e a intimidação ostensiva de juízes e adversários. 

Ele se fazia odiar pelos seus pares, se orgulhava disso e usava a seu favor o ódio de que se tornara alvo. Ao mesmo tempo, transformava o público em torcida apaixonada: as quadras em que atuava não se reduziam a templos em que reinava o silêncio, mas podiam ser similares a arquibancadas parciais e engajadas.

Da mesma maneira que John McEnroe, um de seus grandes rivais, Jimbo se orgulhava de suas raízes irlandesas. Grande parte de seu temperamento, e principalmente de seu comportamento, expressa o desprezo das classes mais pobres pelos ritos e costumes da ''nobreza'' anglo saxã, tão presentes no estilo do tennis contemporâneo. Jimmy era popular, não um aristocrata com uma raquete. Brigou com tudo e com todos, não só com a imprensa mas contra colegas; não só contra adversários mas também contra amigos; não só contra tenistas mas também contra a ATP [processada em meados dos anos 1970 por ''reduzir a liberdade profissional dos tenistas''].

Além de popular, Jimmy possuía aquele inesgotável brilho flamejante que forja a alma dos grandes campeões. Se a quadra não era somente uma igreja e se de vez em quando podia se tornar arquibancada arrebatada, ela era sempre um ringue, uma disputa direta entre dois contendores. Ele não perdia partidas. Era necessário vencê-lo. Sua vontade de conquista talvez tenha sido a maior já presenciada pelo mundo do esporte dos reis. Em nome dessa competitividade, abandonou amizades, criou uma imagem de calhorda, atuou no limite da ética desportiva. No fim do dia, o importante era fazer o último ponto.

Seu estilo de jogo se fundamentava em um misto de disposição para correr em todas as bolas com a agressividade de golpear sempre na subida, de dentro da quadra, reduzindo a distância. Não era um grande sacador, mas possuía uma devolução mortal. Seu revés duplo, fugindo do padrão de elegância do tennis até então, foi um dos golpes mais eficientes da história, batido reto, buscando o winner.

Esses elementos o tornaram autor de recordes incontestáveis. Foi número um do ranking por 160 semanas consecutivas, marca que durou 30 anos -- e que poderia ter sido maior se não houvesse perdido a liderança para Borg por apenas uma semana em 1977 antes de enfileirar mais 80 semanas na frente do circuito. Foi o primeiro tenista a ultrapassar 260 semanas no topo.  Alcançou inacreditáveis 109 títulos na ATP.

Dono de 8 Grand Slams -- mesmo tendo desprezado o Australian Open e Roland Garros durante a maior parte da carreira --, Connors reservava suas mais aguerridas apresentações para Nova York. Possui o imbatível número de 98 vitórias no major americano. São catorze semifinais, sete finais e cinco títulos. É o único tenista a vencer o US Open em três superfícies: na grama, atropelando Ken Rosewall; na hard-thru em cima de Borg, um dos maiores saibristas da história; e na dura, contra Borg e Ivan Lendl, este último um dos maiores especialistas do piso. Sua jornada no torneio de 1991 se tornou mítica: aos 39 anos, o veterano chegou às semifinais da competição, atraindo a atenção de todo o país, vidrado na arrancada final de um de seus maiores ídolos.






Voltemos para sua época de maior dominância. Connors saía de uma temporada de tirar o chapéu em 1973. Mas 1974 foi um ano inacreditável. O jovem americano, de apenas 22 anos de idade, venceu 3 majors: o Aussie Open, Wimbledon e US Open. Detalhe, ele não disputou Roland Garros. Ou seja, Jimbo venceu todos os Grand Slams que disputou, saiu invicto no ano em jogos de majors.

No total foram nada mais, nada menos, do que 15 títulos, com 93 jogos e apenas 4 derrotas, um aproveitamento de 95,8%: só inferior, entre as grandes temporadas, àquela de John McEnroe em 1984.

Em suas campanhas, Jimmy superou grandes nomes como Jan Kodes, Adriano Panatta, Roscoe Tanner e Ken Rosewall. Esse último, uma lenda do esporte, foi massacrado pelo jovem nas finais de Wimbledon e Us Open.

Connors iniciava uma hegemonia que lhe levaria a terminar cinco temporadas seguidas como número um da ATP, um recorde que só foi batido por Sampras uma geração mais tarde.