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Assisti a entrevista de Ciro Gomes à CNN. Primeiro, as análises corretas de Ciro: O núcleo duro da “bozóloucura” está entre 12% e 15% do eleitorado. O restante é formado por simpatizantes com uma ou outra pauta. Não há chance, de fato, de um golpe militar bem-sucedido no Brasil. O perigo da aventura bozólouca vem de paramilitares. O Reino dos mentecaptos é só uma das possibilidades do neoliberalismo entreguista continuar grassando no país: o PSDB é outra delas, Huck uma outra, Moro mais uma etc. As chances de Jair terminar o mandato são ínfimas, e o Centrão vai traí-lo assim que se formar um consenso majoritário por sua queda no eleitorado. Sim, Serginho do Mal é um prevaricador ambicioso e ao serviço de interesses inconfessos.
Tirando essas e outras análises precisas, vamos aos erros crassos cometidos pelo candidato do PDT:
-> Ele não entende o que o fenômeno do nacional populismo, confundindo-o com o tradicionalismo de Bannon e, pior ainda, com o rentismo globalista. São coisas diferentes, que em alguns casos se tangenciam [nacional populismo e tradicionalismo na Europa, por exemplo; Bannon e rentismo no Brasil], mas que se opõem em outras instâncias. Os nacionais populismos europeus e ianques, por exemplo, são anti-globalismo rentista, por mais que Ciro fique com os poucos cabelos que lhe restam em pé com Trump. Esses reducionismos toscos embotam a visão do pedetista e revelam que ele ainda não entendeu muito bem o que se passa no mundo, quais as reais forças que se confrontam, e quais seus possíveis aliados por um projeto soberanista. Será que Ciro Gomes tem mais chances de reindustrializar o Brasil com uma Hillary Clinton no poder? Coitado…
-> Ficar xingando o lulismo de fascista, ao mesmo tempo que diz que fascista é o Bozó, chega a ser ridículo. Até quando vamos aturar esse uso indevido do linguajar político para encobrir o fato de que ambos os movimentos são neoliberais? Tem alguma coisa contra apontar o real inimigo? Há qualquer ilusão que autoritarismo não é incompatível com o liberalismo ou com a tradição militarista latino-americana? Só pode ser burrice entrar nessa batalha retórica, em que uns xingam os outros de comunistas ou fascistas. Depois não adianta reclamar do Brasil 247 dizendo que todo mundo que é anti-petista é fascista. Estão fazendo o mesmo uso indevido que o candidato do PDT. Pior: sem nenhum efeito eleitoral concreto, já que o povo dá de ombros pra esse tipo de erística;
-> Os elementos morais que fizeram parte das últimas eleições não são parte de ”onda de direita” nenhuma, mas uma democratização do debate política e uma rachadura no encouraçado da ditadura de classe média em que muitos queriam e ainda pretendem enclausurar o país. O povo brasileiro não se tornou conservador e religioso de uma hora para outra. Ele sempre foi, e continuará sendo. E está reagindo às investidas da pequeno-burguesia cosmopolita, que tem uma tábua de valores completamente distinta da nossa, que somos brasileiros. Não adianta ficar apontando o entreguismo do Augusto Heleno e da plutocracia ao mesmo tempo que se coloca ao lado da classe média cosmopolita contra os valores profundos que orientam a visão de mundo do nosso povo. Daí que não pode existir nenhuma ambiguidade: não é que os identitários juntos não formam o interesse nacional; é que eles são ANTI-NACIONAIS. Ou Ciro Gomes é favorável à ideologia de gênero? É favorável à descriminalização do aborto? Sim, esse papo é TÃO IMPORTANTE quanto a discussão econômica. E nós vamos cobrar esses temas nas eleições.
-> Eu não confio em nenhum movimento político que não seja PERSONALISTA, CAUDILHESCO, MESSIÂNICO. Criticar o lulismo por ter estes elementos é criticar o cerne da mentalidade e cultura política brasileira. Não há nenhum problema em colocar essas lealdades pessoas acima de abstrações institucionais liberais como ”partidos”. Getúlio era um Caudilho. Brizola era personalista. Se Ciro Gomes não gosta desse elemento fundamental para o trabalhismo, então que vá posar de social-democrata em outro lugar, sem enganar a patuleia.
O brasileiro quer um César, não um engomadinho que fica citando números para posar de intelectual iluminado.