Continuação da série sobre os maiores da história do Flamengo, que estão sendo apresentados por posição e em ordem cronológica. Abaixo, dos dois maiores ídolos da história do clube. Para ler os demais textos, clique nos links no fim desta postagem.
3) DEQUINHA [1950/1960]
O imortal José Mendonça dos Santos talvez tenha sido o maior volante da história d'O Mais Querido. E seguramente é um dos atletas mais técnicos e clássicos dessa posição em toda a longa epopéia do futebol brasileiro. Seu nome também está vinculado a uma nova revolução tática capitaneada pela Gávea.
Se os dois primeiros volantes rubro-negros eram estrangeiros, o nome que os sucederia viria do Nordeste. [lembrando que a posição se consolidou com as novas funções dadas ao ''centro-médio'' no WM/Diagonal, introduzido no país por Kurschner e Flávio Costa em 1937 e 1938]
Nascido em Mossoró, Dequinha começou a jogar bola em times semi-amadores da cidade, ganhando fama como ponta esquerda. Logo foi contratado para o ABC de Natal, se firmando no meio campo e se profissionalizando definitivamente. Foi vendido para o então forte América de Recife e convocado para o Campeonato Brasileiro.* Foi assim que chamou a atenção do Flamengo.
A torcida do América o idolatrava, mas o clube decidiu vendê-lo ainda assim. Consta que Rubem Moreira, presidente do América, era fanático pelo Flamengo. E assim, em 1950, com apenas 21 nos de idade, o tímido e reservado potiguar desembarcou no Rio de Janeiro.
O Mais Querido vivia um período conturbado, de jejum de títulos, em crise pela saída de Zizinho, e sem constar entre os principais favoritos ao título carioca. A auto-estima do time foi resgatada com uma famosa e vitoriosa excursão à Europa, com 10 vitórias em 10 jogos. Dequinha já era titular incontestável, ainda que atuasse algumas vezes de meia-armador e outras de meia-esquerda.
A grande transformação aconteceu com a contratação do técnico da seleção paraguaia de futebol. Fleitas Solich, conhecido como ''El Brujo" [''o bruxo''] conduziu o Paraguai a uma inesperada e inédita vitória no Campeonato Sul-Americano [atual Copa América] de 1953, com vitórias, inclusive, sobre o Brasil.
O Flamengo se tornou o "Rolo Compressor", time dominante do Rio de Janeiro. E o volante era uma de suas principais estrelas, flutuando pelo gramado com exibições magistrais de domínio da bola, capacidade de desarme, dribles nos adversários [os famosos 'lençóis' ou 'chapéus' que aplicava no Maracanã] e passes precisos. O próprio Modesto Bría dizia que Dequinha foi o melhor volante que viu jogar. Carlinhos, que o sucederia na década seguinte, o tinha como ídolo e inspiração.
Dequinha se tornou capitão da equipe que esmagou as rivais naqueles anos e levantou o primeiro tricampeonato da Era Maracanã, em decisão de melhor de três contra o América-RJ em abril de 1956. De modo incrível, atuou em todos e cada um dos jogos da campanha do tricampeonato.
Mesmo que o Flamengo perdesse fôlego nos próximos dois anos, com perdas de jogadores importantes como Evaristo e Zagallo [e por contusões do próprio Dequinha], continuou um dos mais poderosos times do Brasil e um dos mais temidos e conhecidos fora, como o demonstram os amistosos [repletos de peso político e importância esportiva] contra o Honved, da Hungria, e a conquista do então prestigiado Hexagonal de Lima em cima do River Plate.
Dequinha chegou também à seleção, participando do elenco da Copa de 1954, na Hungria, embora tenha sido preterido no time principal titular em prol de Brandãozinho, jogador apenas esforçado na marcação. Atuou no time canarinho até 1956, mas as contusões o tiraram definitivamente da briga pelo 'ciclo' que levou ao Mundial seguinte.
Sua carreira foi encurtada por uma fratura ocorrida em treino, já em 1959. Ficou nove meses fora dos campos e já não conseguia render como antes. Ainda jogou no Campo Grande, da Zona Oeste do Rio, antes de se aposentar em 1962.
Levantou quase uma quinzena de taças pelo Flamengo, as principais os cariocas de 1953/54/55. Defendeu o Manto Sagrado em mais de 360 partidas e foi imortalizado no famoso samba de Wilson Baptista:
''Flamengo joga amanhã
Eu vou pra lá
Vai haver mais um baile no Maracanã
O mais querido
Tem Rubens, Dequinha e Pavão
Eu já rezei pra São Jorge
Pro mengo ser campeão''
* Chamava-se de 'Campeonato Brasileiro' os torneios que aconteciam entre as Seleções Estaduais, e que tiveram enorme importância e público entre meados dos anos 1920 e meados dos anos 1950, quando passaram a ser substituídos, gradativamente, pelos confrontos inter-estaduais entre clubes, e não mais seleções. [crescimento da importância do Rio-SP na segunda metade da década de 1950; criação da Taça Brasil entre os campeões estaduais; e mais tarde ampliação do Rio-SP para servir de protótipo para a criação do campeonato brasileiro de clubes.]
Nestes dias em que o futebol promove quantidades infindáveis de ídolos de papel, dispostos a cuspir na camisa que juraram amar sempre que pequenas pendengas ou incômodos triviais aparecem. Lembrar de figuras como Luís Carlos Nunes da Silva é um antídoto certeiro.
Carioca e rubro-negro fanático, Carlinhos se formou nas categorias de base do clube tendo Dequinha como grande inspiração. Já entre os juniores ganhou o apelido de ''Violino'' pela classe e elegância de seu futebol. Grande promessa, recebeu as chuteiras de Biguá quando o imortal lateral-direito se aposentou, em 1953. As chuteiras deram sorte. Carlinhos assumiu o posto de seu ídolo Dequinha em 1959, aos 22 anos de idade, e construiu uma das carreiras mais marcantes da história d'O Mais Querido.
Não é exagero dizer que o ''Violino'' foi o melhor volante brasileiro dos anos 1960. Ficou de fora da Copa de 1962 por politicagem. O titular era o intocável Zito, campeão em 1958. Mas Carlinhos perdeu a viagem para o Chile porque a diretoria da CBD [atual CBF] queria manter no elenco um número igual de jogadores paulistas e cariocas. O reserva da posição foi Zequinha, do Palmeiras.
A partir de meados daquela década, já próximo dos 30 anos, o ''Violino" atuou mais de armador do que de volante, já que surgia outra 'instituição' rubro-negra na posição, de quem falaremos adiante. Ainda assim, permaneceu como principal referência técnica na segunda metade dos anos 1960, época difícil para rubro-negro.
Carlinhos era circundado de tanta mágica na carreira que, quando se aposentou, em 1969, entregou suas chuteiras para outro jovem talento que surgia nas divisões de base da equipe: um molecote de nome Arthur Antunes Coimbra.
Aquilo que parecia uma despedida, aliás, virou só o começo. Carlinhos se tornou funcionário do clube, e trabalhou como auxiliar técnico e depois como treinador. Era o ''bombeiro'', chamado sempre que o Flamengo precisava tapar algum buraco na comissão técnica. Foi enchendo o papo aos poucos e se tornou um dos mais bem reputado e vitoriosos treinadores da Gávea. Venceu dois campeonatos brasileiros, em 1987 e em 1992. E levantou três campeonatos cariocas, em 1991, 1999 e 2000. Ainda liderou uma equipe jovem e frágil na conquista de um título continental, a Mercosul de 1999 diante do Palmeiras.
Eis aí um ídolo total, sempre à disposição d'O Mais Querido. Uma das lendas cuja vida explicam de imediato o que é ser Flamengo.
Suas principais conquistas como jogador foram os Cariocas de 1963 e 1965, e o Torneio Rio São Paulo de 1961. Ele é o oitavo atleta com mais partidas defendendo o Manto Sagrado, em um total de 515 jogos. Começou atuando com Dida, Jordan, Moacir, Henrique Frade, e também foi companheiro de Murilo, Paulo Henrique, Gérson ''Canhotinha de Ouro'', Reyes, Liminha, Evaristo de Macedo e outros.
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