sábado, 18 de dezembro de 2021

O RANKING DE CONQUISTAS NO FUTEBOL -- parte final

 



O resultado do sistema exposto nas duas postagens anteriores segue abaixo. Vou tecer algumas considerações sobre o Ranking logo depois.


RANKING GERAL DE FUTEBOL


1

FLAMENGO

 RJ

3175

2

SÃO PAULO

SP

3047

3

PALMEIRAS

SP

2948

4

SANTOS

SP

2784

5

CORINTHIANS

SP

2713

6

CRUZEIRO

MG

2159

7

GRÊMIO

RS

2091

8

INTERNACIONAL

RS

1883

9

VASCO DA GAMA

RJ

1827

10

FLUMINENSE

RJ

1753

11

ATLÉTICO MINEIRO

MG

1549

12

BOTAFOGO

RJ

1231

13

ATHLETICO PARANAENSE

PR

  647

14

BAHIA

BA

  610

15

SPORT

PE

  565

16

CORITIBA

PR

  448

17

CEARÁ

CE

  400

18

PAYSANDU

PA

  394

19

GOIÁS

GO

  332

20

VITÓRIA

BA

  301




Uma pergunta óbvia a ser feita quanto ao ranking acima seria quais modificações sofreria caso fossem outras as decisões tomadas em assuntos polêmicos da História do nosso futebol. Se a Taça Brasil e o "Robertão" fossem pontuados da mesma maneira que o Campeonato Brasileiro [100 p] -- uma escolha que, assim como no meu ranking, NÃO é feita pelo Ranking da Folha e só é feita pelo Ranking da Placar no caso do 'Roberto Gomes Pedrosa' --, o Palmeiras receberia mais 160 pontos, o suficiente para ficar com 3108, à frente do São Paulo. Mas o maior beneficiado seria sem dúvida o Santos, que iria a 3104. A hierarquia seria, então: 1) Flamengo; 2) Santos e Palmeiras naquilo que poderíamos considerar um empate técnico; 4) São Paulo. [Caso desconsiderássemos também a perda de pontos por rebaixamento, o Palmeiras estaria em empate técnico com o Flamengo, em primeiro lugar.]

Para retirar o Flamengo da primeira posição do ranking seria necessário não apenas fazer as modificações do parágrafo anterior, mas também despontuar a Copa União de 1987. Ela não poderia valer mais do que 35 pontos, criando assim situação de ''empate técnico'' entre Santos e Palmeiras. Caso não recebesse qualquer pontuação -- a decisão mais polêmica de todas, penso --, o Flamengo cairia para 3º lugar. Outra maneira, seria dar à Copa Rio de 1951, vencida pelo alviverde paulista, a pontuação de um Campeonato Mundial. Junto com as modificações já citadas, seria o suficiente para fazê-lo superar a pontuação do Flamengo. 




A ponta do ranking é afetada por modificações nos critérios e uma tomada diferente de posicionamentos nas polêmicas existentes no desenvolvimento dos torneios brasileiros. No fundo, o equilíbrio entre os quatro primeiros clubes da lista ainda é muito forte. Na ponta mais abaixo do ranking, a disputa depende muito do número de rebaixamentos e de participações na divisão principal do Campeonato Brasileiro. O Fortaleza e o Santa Cruz, para dar dois exemplos, não aparecem na lista por terem sido afetados pelos dois critérios. Notem também que Paysandu e Ceará estão em condição de ''empate técnico'' na prática.

Uma forma de vislumbrar tendências futuras é analisar o peso de cada clube nos torneios nacionais e internacionais, que se consolidarão cada vez mais como parâmetro dado o ocaso dos estaduais e a nova etapa de profissionalização do futebol sul-americano em geral e brasileiro em particular. Nesse caso, o São Paulo está em primeiro lugar dado seu currículo de títulos internacionais [e que não é acompanhado pelo mesmo desempenho em nacionais, quesito em que está apenas em 5º]. 

Logo depois, viriam Flamengo e Palmeiras em situação de "empate técnico" [a diferença entre ambos seria inferior a 20 pontos para o alviverde paulista, menor que a pontuação de qualquer título continental do calendário]. As posições entre o 4º e 9º lugar continuariam as mesmas, mas o Atlético Mineiro tiraria o Fluminense do top 10. O Athletico PR também estaria já à frente do Botafogo. [A saída de Botafogo e Fluminense do top 10 aponta a dependência de ambos em relação a uma era anterior em que os estaduais do Rio tinham extrema importância.] O Sport estaria em situação de ''empate técnico'' com o Bahia. Mas o Ceará cairia duas posições, ultrapassado por Paysandu e Goiás.




Esse Ranking será atualizado sempre que possível, levando em conta os mesmos critérios básicos, com a ressalva de que novos torneios ou melhoras podem ser incluídos. Ressalto mais uma vez que ele não se pretende uma hierarquia entre os clubes brasileiros, que seria impossível de realizar com uma lista de títulos no futebol. 

O autor é flamenguista, mas o clube da Gávea também se encontra em primeiro lugar no Ranking da Folha de SP e no Ranking da Placar, o que indica que os critérios escolhidos não foram tão malucos assim. [Há, no entanto, mudanças em outras posições em comparação aos dois rankings citados.] Que a rivalidade e as boas histórias de confrontos, além das boas polêmicas, estejam apenas no começo.

 


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

RANKING -- Parte II: O problema dos torneios regionais, nacionais e internacionais

 








DO PROBLEMA DOS REGIONAIS

 


O Regional modelo foi sem dúvida o Torneio Rio-São Paulo. Quando da profissionalização do esporte, os grandes clubes de Rio e de Sampa buscaram atrair o público criando o máximo de competições atrativas. Mas o Rio-SP demorou a pegar. Das três primeiras edições, só uma chegou ao fim a contento. A de 1940 até hoje gera celeuma quanto ao vencedor – os participantes concordaram em conferir o título a Flamengo e Fluminense, mas a CBF nunca referendou.

Somente com a Era Maracanã o Regional ganhou consistência e atraiu atenções. A ascensão técnica do futebol paulista contribuiu para isso, e a partir da segunda metade dos anos 1950 os cariocas se empenharam na competição. Mas ela nunca foi capaz de fazer frente realmente aos estaduais, que continuaram como a principal estrela da temporada.

Por falta de datas e de interesses dos principais clubes, o Rio-SP chegou a um fim inglório em 1966, substituído por uma ampliação que tinha a intenção de servir de semente para a criação do primeiro nacional de clubes.

Nos anos 1990, os clubes cariocas e paulistas buscaram reeditar a competição. Ela teve algum sucesso, mas não perdeu o ar de “preparatório para a temporada”. Durou algumas edições e foi abandonada, aparentemente de forma definitiva.

Os Rio-SP anteriores a 1950 [início da Era Maracanã] receberam 20 pontos. Os dos anos 1950 e 1960 receberam 40. Os posteriores voltaram a receber 20 pontos. Não é pontuação pequena e confere a devida dimensão histórica ao torneio, que foi o primeiro a colocar, de forma bem sucedida, as principais equipes dos grandes centros na disputa por um mesmo troféu, além de servir de base para a criação do campeonato brasileiro através da fase intermediária do “Robertão”.

Todos os demais torneios regionais, sejam do norte, nordeste, centro-Oeste, Copas Sul-Minas etc. receberam 15 pontos, independente de seu sucesso. Alguns naufragaram, outros foram coroados de sucesso – caso da atual Copa do Nordeste.

 


TORNEIOS REGIONAIS


1. Torneio Rio-São Paulo

1.1 Antes de 1950:   20 p

1.2 De 1950 a 1966: 40 p

1.3 Depois de 1966: 20 p


2. Demais regionais: 15 p





DO PROBLEMA DOS NACIONAIS

 


Eis uma das questões mais espinhosas dos últimos dez anos, dada a decisão da CBF de unificar os títulos da Taça Brasil e do “Robertão” com o Campeonato Brasileiro criado em 1971. Dada a centralidade do Brasileiro nesse ranking, é justo que nos detenhamos em alguns detalhes do tema.

Até a década de 1950, Campeonato Brasileiro significava o enfrentamento tradicional e muito popular entre as seleções dos diversos estados, e que costumava ser decidido entre a seleção carioca e a paulista. No universo dos clubes, os campeonatos paulista e carioca eram praticamente tudo que importava, e mesmo o Rio-SP só engrenou com a necessidade de manter o Maracanã cheio.

Com a industrialização e a modernização da infra-estrutura brasileira, o sucesso da seleção, e o desenvolvimento e profissionalização do futebol em outros centros urbanos que se tornavam metrópoles [principalmente Belo Horizonte e Porto Alegre], o esporte bretão entrou em nova fase no nosso país. Um grande motivador foi a criação de campeonatos continentais e mundiais de clubes pela Conmebol e pela UEFA. Era necessário definir um representante brasileiro a partir de algum torneio nacional.

A primeira tentativa bem sucedida foi a Taça Brasil, uma Copa que ainda estava vinculada à classificação das equipes nos campeonatos estaduais – modelo próximo à Copa do Brasil, criada em 1989, e à extinta Copa dos Campeões, disputada entre 2000 e 2002. A Taça Brasil contava com representantes de dezenas de federações estaduais e seu campeão representava o país na Taça Libertadores da América.

Mas havia a consciência de que a Taça Brasil não era um campeonato nacional de clubes. Sua lógica, como explicado, funcionava a partir da classificação em campeonatos estaduais. Ela tampouco foi capaz de suplantar o prestígio dos estaduais do Rio e de São Paulo.

O grande objetivo da CBD era, assim, o de criar um Nacional de Clubes que demonstrasse a maior integração que o país tinha entre seus territórios e fizesse frente à realidade já existente há décadas nas principais potências do futebol mundial. O fracasso da seleção brasileira em 1966 amplificou a necessidade de modernizar o futebol do país.

O protótipo de criação de um Nacional de Clubes não foi, porém, a Taça Brasil, e sim o Torneio Rio São Paulo [cujo nome oficial era Torneio Roberto Gomes Pedrosa]. Os grandes do Rio e de Sampa decidiram ampliar a competição em 1967, incluindo equipes de ponta do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Para tornar viável a viagem dos cariocas e paulistas para o Sul, foram incluídos também times do Paraná. 

Nos anos subsequentes, o “Robertão” admitiu equipes de outras UFs, até que em 1971, depois de ter sua rentabilidade testada e aprovada, seu modelo foi reconhecido oficialmente pela CBD – e pelo regime civil-militar que comandava o país então – como o primeiro campeonato nacional de cubes disputado no país. Nascia o Campeonato Brasileiro, cujo status aumentaria rapidamente e, pela primeira vez na história, suplantaria o prestígio do carioca e do paulista, se afirmando como a principal competição do calendário.

O processo histórico descrito é fartamente documentado. Por isso, no ranking atual, o “Robertão” é considerado como o que efetivamente foi à época: uma ampliação do Rio SP com vistas à criação do primeiro nacional de clubes. Se atribuí 100 pontos ao Campeonato Brasileiro, o “Robertão” levou 80, duas vezes o peso de um carioca ou paulista da mesma época.

A Taça Brasil é considerada como a primeira Copa Nacional criada, e assim uma precursora da atual Copa do Brasil, torneio nacional criado em 1989, inicialmente considerado caça-níqueis, mas logo vista como caminho mais fácil para a Libertadores da América em uma época em que os clubes brasileiros ainda tinham poucas vagas na principal competição do continente. 

A Copa do Brasil, segundo torneio nacional de maior sucesso em nossa história, recebe 50 pontos – metade da pontuação do Brasileiro. A Taça Brasil, como sua precursora legítima, recebe 40 pontos – o mesmo valor de um carioca ou paulista, ou ainda de um Rio-SP [protótipo do protótipo do Brasileiro] nos anos 1960.

A Copa dos Campeões, torneio nacional entre 2000-2002, também reproduzia modelo semelhante ao da Taça Brasil, incluindo aí a vaga para a Libertadores. Mas dava maior ênfase aos campeões regionais. A competição recebeu 30 pontos. A atual Supercopa do Brasil, jogo único oficial mas também festivo que coloca frente a frente o Campeão do Campeonato Brasileiro e o Campeão da Copa do Brasil, recebe apenas 10 pontos por ser partida única que não dá vaga para nenhuma competição ulterior.

Na história do nosso futebol existiram outras competições de âmbito inter-regional ou nacional, mas com poucas edições, ou ainda de caráter amistoso. Foram bem sucedidas em sua época, representaram enfrentamentos de gigantes do nosso esporte, mas recebem aqui apenas uma pontuação simbólica a fim de registrar sua ocorrência. O Torneio dos Campeões da CBD, a Copa dos Campeões Estaduais e outras competições do gênero recebem apenas 5 pontos.

Para valorizar o Brasileiro, a participação anual na primeira divisão recebe 5 pontos. A participação na segunda divisão recebe 1 ponto. O rebaixamento da primeira para a segunda divisão representa a perda de 20 pontos. O rebaixamento da segunda para a terceira divisão representa a perda de 30 pontos.  Também são atribuídos 10 pontos ao título da segunda divisão.

A grande polêmica nesse terreno se dá quanto à Copa União de 1987. Esse ranking considerou tanto Sport quanto Flamengo campeões brasileiros, decidindo não punir nenhuma das duas torcidas pelas confusões causadas pelas brigas políticas fora das quatro linhas, cujos meandros e detalhes jamais serão temas de consenso. No caso do Sport, o reconhecimento do título se consolidou com a decisão judicial em instâncias superiores. No caso do Flamengo, o reconhecimento veio das principais instâncias esportivas que promoveram o campeonato e que existiam no país: O Clube dos 13, o Conselho Nacional de Desporto, e a própria CBF [que já manifestou diversas vezes que só não considera o Flamengo como campeão brasileiro de 1987 porque impedida pela Justiça]. As decisões judiciais não foram suficientes para reverter esse quadro de reconhecimento, e algumas delas inclusive caíram em desuso com o tempo -- como a esdrúxula proibição de que os veículos de mídia considerassem ou divulgassem o título do Flamengo em 1987. Para quem vivenciou e testemunhou as disputas em campo naquele ano, não pode existir dúvida razoável de que o Flamengo conquistou, levantou e celebrou o título de Campeão Brasileiro. A decisão de pontuar a Copa União de 1987 como um Brasileiro está em consonância também com o Ranking da Folha de SP e o Ranking da Placar, dois dos mais tradicionais do país.





TORNEIOS NACIONAIS


1. Campeonato Brasileiro [desde 1971]:    100 p

2. Copa do Brasil:                                         50 p

3. "Robertão" [1967/1970]                        80 p

4. Taça Brasil [1959/1968]                            40 p

5. Copa dos Campeões [2000/2002]:            30 p

6. Supercopa do Brasil                                    10 p

7. Casos Especiais.

7.1 Torneio dos Campeões Estaduais; Copa dos Campeões da CBD; Copa dos Campeões da Copa do Brasil; Torneio dos Campões [1982]; Torneio do Povo:  5p

7.2 Título da Série B:                                        10 p

7.3 Participação anual na Série A:                      5 p

7.4 Participação anual na Série B:                      1 p

8. Rebaixamento

8.1 para a Série B:                                               -20 p

8.2 para a Série C:                                               -40 p






DO PROBLEMA DOS INTERNACIONAIS

 

A competição internacional mais representativa e tradicional do nosso continente é a Libertadores da América. Ela nasceu como passo indispensável à disputa do título de campeão mundial, organizada pela Conmebol e pela UEFA. Mas no período posterior a 1965, o Mundial perdeu apelo entre os europeus, que continuaram valorizando, no entanto, o título de Campeão do Velho Mundo como o mais importante do calendário.

Entre os sul-americanos não foi assim. O título de campeão mundial interclubes continuou com elevado prestígio, embora o torneio internacional mais difícil fosse, sem qualquer sombra de dúvida, a Libertadores.

A partir dos anos 1990, a decisão de um campeão mundial por meio do confronto entre os campeões da Conmebol e da UEFA perdeu o sentido. Outros centros se desenvolveram e se profissionalizaram. A realidade vigente nos anos 1960 e 1970, e parcialmente na década de 1980, em que o universo dos clubes profissionais se restringia à América do Sul e à Europa Ocidental, se alterou radicalmente. O futebol árabe se semi-profissionalizou nos anos 1980. O México ascendeu gradualmente a um status de ponta dentro da CONCACAF. Zico foi o grande símbolo do desenvolvimento do futebol japonês, no início dos anos 1990, que logo atingiu também as Coréias. 

No fim dos anos 1990, o futebol de clubes já era uma realidade também no Norte da África. Na década seguinte, a China entrou no jogo. Por fim, os EUA fazem uma nova tentativa de criar uma liga masculina sustentável, dessa vez com chances bem maiores dado o imenso público latino-americano que se formou no interior do país com a migração dos últimos 40 anos.

Enfim, o futebol de clubes chegou a outros continentes, o que justifica inteiramente que a FIFA tenha tomado as rédeas do Mundial Interclubes, abrindo-o para representantes de outras confederações. Desnecessário dizer que essas condições eram inexistentes entre o fim dos anos 1950 e o início dos anos 1990, e a antiga competição da Conmebol e da UEFA era de fato o Mundial possível até então, não menos legítimo só porque o mundo da bola era menor e mais restrito do que hoje em dia. Para diferenciar o Mundial da FIFA, criado em 2000 e disputado anualmente a partir de 2005, foi conferida pontuação ao vice-campeão, diferente da competição vigente até 2004.

A Conmebol teve também uma série de competições continentais secundárias, e cada um delas recebeu 50 pontos por sua abrangência e peso técnico. As exceções são a Copa Sul-Americana, a Taça Suruga e a Recopa Sul-Americana. A primeira recebe 30 pontos, por ter adquirido uma feição de “torneio de segunda divisão continental”, disputado por clubes que não estão na Libertadores. As outras são decididas em torneios de tiro muito curto e que guardam também ares festivos.

Há muitos casos especiais importantes na forma de torneios oficiais ou amistosos que foram pioneiros na proposta de confronto entre potências de países distintos. Os casos mais notórios são os da Copa Rio – para a qual o Palmeiras, e em menor medida o Fluminense, reivindica o status de campeonato mundial – e o Sul-Americano de 1948, vencido pelo Vasco, a primeira grande conquista continental de uma equipe brasileira. Mas há outros, como a Recopa Intercontinental vencida pelo Santos em 1968, e o Torneio Hexagonal do Peru, conquistado pelo Flamengo em 1959. Estes torneios receberam pontuações conforme seu status, prestígio, peso técnico e importância histórica. 





TORNEIOS INTERNACIONAIS


1. Mundial Interclubes:                150 p

2. Libertadores da América:         150 p

3. Torneios Continentais [Supercopa da Libertadores; Copa Mercosul; Copa Oro; Copa Conmebol; Copa Masters etc.]      50 p

4. Copa Sul-Americana                   30 p

5. Recopa Sul-Americana                20 p

6. Casos especiais

6.1 Copa Rio [1951 e 1952]              50 p

6.2 Sul-Americano de 1948               50 p

6.3 Recopa Intercontinental 1968      50 p

6.4 Taça Suruga                                  15 p

6.5 Torneio Hexagonal do Peru          10 p

6.6 Participação na Libertadores        10 p




quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

UM RANKING DE CONQUISTAS NO FUTEBOL PELO GRANDES CLUBES BRASILEIROS -- Parte I: critérios gerais e o problema dos Estaduais

 




DO RANKING

 

O atual ranking nasceu de uma brincadeira e é um entretenimento de um apaixonado por futebol. Mas o lado lúdico não impede a objetividade dos critérios que adotei e que vou expor rapidamente. Antes, porém, é necessário esclarecer aquilo que a lista abaixo não pretende nem foi planejada para ser.

Em primeiro lugar, ela não é uma hierarquia entre os clubes brasileiros. Não visa demonstrar que um clubes é maior do que o outro. As instituições listadas são multi-esportivas. Clubes como São Paulo, Vasco da Gama e Flamengo se orgulham de sua história no Remo, no Basquete, na Natação, no Atletismo, na Ginástica Olímpica, no Judô, no Futebol de Salão, no Voleibol etc. O futebol é o esporte mais importante, mas ainda assim só um recorte do que essas instituições representam no esporte brasileiro.

Além disso, é impossível reduzir esse mundo particular que é o futebol a um conjunto de taças empilhadas em salas de memória. Cada um dos clubes listados teve esquadrões e ídolos cuja magnitude e relevância histórica e desportiva transcendem em muito os resultados. Como “medir” o orgulho botafoguense ou palmeirense por contemplarem, anos a fio, as estripulias de Garrincha na ponta direita ou os passes milimétricos de Ademir da Guia? Qual o peso dos elásticos de um Rivelino no auge em Fla-Flus disputados em um Maracanã, ainda maior estádio do mundo, com públicos que excediam os números de habitantes da maioria esmagadora dos municípios brasileiros? Ou ainda o orgulho de ter sido base para seleções brasileiras vitoriosas em um tempo em que o vínculo entre o torcedor brasileiro e a equipe canarinho era profundo e visceral?

Há mágicas sem as quais o futebol não teria a vitalidade que conhecemos, e que não podem ser captadas no placar de um jogo ou na classificação final de uma tabela.

Poucas coisas são tão difíceis de mensurar quanto a grandeza de um clube que é objeto de paixão e de senso de identidade de milhões de fãs. Não se trata de retórica vã ou de uma postura politicamente correta, mas do humilde reconhecimento de que a palavra final sobre uma agremiação está em sua capacidade de causar emoções nas massas.

A lista abaixo, portanto, é apenas um comparativo possível entre salas de troféus do futebol. Não uma abordagem do significado e do tamanho das instituições que estão em posse dessas conquistas.





DOS CRITÉRIOS GERAIS

 

O desenvolvimento do futebol foi complexo em nosso país, que tem dimensões continentais e cuja infraestrutura só permitiu conexões e comunicações rápidas entre seus principais centros após o processo de industrialização entre os anos 1940 e 1970. 

Houve um tempo em que os campeonatos carioca e paulista eram tudo ou quase tudo. Nos últimos quarenta anos, no entanto, esses dois colossos históricos foram gradualmente desconstruídos em prol da afirmação de campeonatos nacionais em um vínculo cada vez mais estreito com a televisão, que finalmente chegava à maioria dos lares brasileiros no fim da década de 1980.

Não faltam polêmicas nessa trajetória, dificultando sobremaneira a comparação de torneios de épocas tão distintas. Um Carioca nos anos 1950 tinha um peso completamente diferente do atual. Que dirá comparar ao longo do tempo torneios de natureza e abrangência diversa, alguns deles já extintos. 

O Brasil tem quatro grandes centros de ponta do futebol – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre –e outros cuja força intermediária foram se afirmando aos poucos. Qualquer mudança mínima de posicionamento nas polêmicas e quanto ao peso devido a cada torneio pode ser suficiente para alterar substancialmente um ranking como o proposto.

E, no entanto, é necessário se posicionar para que a brincadeira siga adiante. A primeira decisão que tomei é fazer do campeonato brasileiro criado em 1971 a principal referência para o sistema de classificação. Ele será pontuado com 100 pontos.

Dizer que o campeonato brasileiro foi criado em 1971, e não em 1967 ou 1959,  já se trata de outra tomada de posição de enorme relevância para uma lista deste tipo. Os demais torneios nacionais serão pontuados tendo por referência sua relação com o Brasileiro: se são Copas ou campeonatos nacionais de clubes, se fizeram ou não parte do processo de elaboração do Brasileirão, ou se são meros torneios nacionais complementares e de dimensão bem menor.

A pontuação de um torneio está associada a: 1) seu peso técnico; 2) prestígio; 3) abrangência geográfica; 4) importância histórica; 5) repercussão nacional. Todos estes cinco fatores foram pesados na hora de conferir número de pontos a uma competição. Por exemplo: alguns deles tinham acentuada dificuldade técnica quanto prestamos atenção aos clubes participantes, mas prestígio menor, o que levava as equipes a disputá-los de modo secundário, ou como formas de preparação para outros torneios mais desejados.

Contexto histórico é tudo, portanto.

Os vice-campeonatos recebem pontuação para valorizar as equipes que sempre estão presentes nas decisões, sinal de que realizam grandes campanhas com consistência. Mas o vice vale um décimo do valor do troféu. Se a conquista do Brasileiro representa 100 pontos, o vice recebe 10. Quando for necessário para escapar de decimais, a pontuação do vice será arredondada para cima [mas há exceções a essa regra]. Nem todo torneio recebe pontuação para o vice campeonato, caso dos títulos decididos em uma única partida.

O rebaixamento para divisões inferiores do campeonato nacional de clubes é despontuado. Trata-se de uma forma de retratar o desapontamento e o desprestígio que um clube acaba por sofrer ao passar pelo descenso. Para ressaltar ainda mais a importância do Brasileiro, pontuei a participação do clube em cada edição da divisão principal. Para a maior parte dos clubes, fazer parte da elite do Brasileiro é um privilégio, uma oportunidade rara e um imenso motivo de orgulho. 





DO PROBLEMA DOS ESTADUAIS

 

Os estaduais foram divididos em quatro grupos. 

O primeiro deles é o de maior peso, e inclui os campeonatos carioca e paulista. Foram nesses dois centros que o futebol se desenvolveu primeiro no Brasil. Foram neles também que as massas foram conquistadas e que se deu o processo de profissionalização do esporte. Os campeonatos carioca e paulista só perderam prestígio e relevância técnica a partir dos anos 1990, quando a nacionalização das principais competições, processo associado à exploração do mercado aberto pelo televisionamento e pelo consumo das faixas de renda B e C, se tornou irrefreável.

Para dar conta da ascensão, auge e queda desses estaduais, alterei a pontuação de acordo com o período histórico. 

Até 1936, foi atribuído ao campeão paulista 20 pontos e ao carioca 15. A data se justifica como marco da profissionalização e da superação dos cismas dos grandes clubes, que até então se dividiam constantemente em Ligas diferentes. Assumir a profissionalização foi também assumir que era necessário dinheiro e proximidade com o público nos estádios. E assim as principais equipes tinham de jogar umas contra as outras, criando uma dependência mútua.

Nesse primeiro período, o Paulista recebe mais pontos que o Carioca, o que pode surpreender a muitos. Mas nos anos 1910 e durante boa parte dos anos 1920 era consenso que o nível dos times paulistas era superior ao do Distrito Federal, e a diferença de pontos tenta dar conta dessa realidade histórica.

Mas a profissionalização fez com que o futebol do Rio de Janeiro assumisse a dianteira. O então Distrito Federal era a maior cidade do país, a rigor a única metrópole brasileira, e tinha mais condições de explorar o público urbano que lotava São Januário e depois o Maracanã. Além disso, a centralidade da grande mídia no Rio tornou o Carioca o primeiro torneio de repercussão nacional. As rádios veiculavam as notícias e os jogos das equipes do Rio para todo o país, inclusive para São Paulo, criando torcidas nacionalizadas. Sampa só sofreria processo parecido a partir dos anos 1990, em outro contexto e com outra mídia, a TV.

O nível técnico do Carioca também se tornou superior ao do Paulista. Nos anos 1940, o campeonato de São Paulo se tornou cenário de jogadores “aposentados” no Rio, caso de Leônidas, Domingos da Guia e Zizinho. Assim, entre 1936 e 1960, o campeão carioca passa a receber 40 pontos, enquanto o paulista recebe 30.

A industrialização e o crescimento demográfico de São Paulo logo fez com que a cidade desbancasse o Rio de Janeiro como metrópole mais populosa. No censo de 1960, o Rio perdia o posto de maior cidade brasileira, que ostentava há um século. Logo depois, também perderia a posição de Distrito Federal. No cenário do futebol, o nível técnico das equipes paulistas voltou a se equiparar às cariocas na segunda metade dos anos 1950. Essa paridade técnica duraria até o fim dos anos 1980, embora a visibilidade e a repercussão nacional do Carioca continuasse maior que a do Paulista durante todo o período. Entre 1961 e 1970, tanto o Paulista quanto o Carioca recebem 40 pontos.

Em 1971 se inaugura o Campeonato Brasileiro, o primeiro nacional de clubes independente das classificações dos estaduais. Foi também a primeira competição na história a desbancar o Carioca e o Paulista da posição de torneios mais desejados pelos próprios grandes das respectivas metrópoles. Foi a primeira minoração vivida pelos dois torneios estaduais modelo, que agora dividiam o ano com o Brasileiro, cujo status suplantou até mesmo o do Carioca no imaginário do torcedor. Mas ainda estava distante o tempo em que esses dois torneios entrariam em declínio. Entre 1971 e 1991, os campeões carioca e paulista recebem 30 pontos.

Em 1992, o fechamento provisório do Maracanã escancarou a diferença de estrutura e capacidade financeira entre o estadual de São Paulo e o do Rio de Janeiro. Sampa era uma metrópole com população 80% maior que a fluminense, o que justificou sua classificação pelo IBGE como “Grande Metrópole Nacional”, passando o Rio ao status de Metrópole Nacional ao lado de Brasília. A TV, que entrou nos lares das classes populares de todo o país ao longo dos anos 1980, levou o campeonato paulista para todos cantos do país, iniciando de modo rápido a nacionalização das torcidas do estado. Houve também uma defasagem técnica entre as competições dos dois centros, com um esvaziamento considerável dos clubes pequenos cariocas quando comparados à vitalidade do interior paulista.

Outro torneio nacional foi criado, a Copa do Brasil, e junto com o Campeonato Brasileiro, impulsionados cada vez mais pelas cotas de TV, geravam muito mais dividendos que os antigos estaduais, que entravam num processo de decadência do qual nunca mais escaparam. Entre 1992 e 2002, o Paulista leva 25 pontos, o Carioca fica com 20.

O Campeonato Brasileiro passou a ser disputado em pontos corridos a partir de 2003. A competição se estendeu por cerca de 8 meses do ano, diminuindo consideravelmente o tempo de disputa dos estaduais. O Paulista leva 20 pontos entre 2003 e 2011, e o campeão do Rio leva 15.


Com o fim do Clube dos 13 e a consolidação da TV fechada e, mais tarde, do streaming, a nacionalização do futebol brasileiro se acentuou. As competições nacionais passaram a receber cotas e patrocínios muitas vezes superiores aos estaduais. O sucesso da Copa do Brasil tornou essas cotas acessíveis a praticamente todos os clubes médios e pequenos do país. Os antigos portentos Carioca e Paulista se tornaram pouco mais que torneios preparatórios para as competições nacionais. Eles ainda mantém sua relevância histórica e alimentam as rivalidades dos clubes de maior torcida e tradição, e por isso recebem 12 pontos no caso do Paulista e 10 no caso do Carioca.

O segundo grupo de estaduais inclui Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A profissionalização e a capacidade de mercado de Porto Alegre e Belo Horizonte se consolidaram depois de Rio e Sampa, e nunca foram suficientes para sustentar o mesmo número de clubes de sucesso no cenário nacional. Até 1960, os estaduais gaúcho e mineiro recebem 10 pontos. 

Com a criação dos primeiros torneios nacionais e o sucesso de Cruzeiro, Atlético Mineiro e, em um primeiro momento, do Internacional, a visibilidade desses centros se amplia. Em 1966, pela primeira vez a seleção brasileira deixa de ser um combinado entre os clubes de Rio e de São Paulo. Entre 1961 e 1991, estes estaduais recebem 15 pontos. Na década de 1992/2002, afetados pelo mesmo processo de esvaziamento e perda de relevância em comparação com as competições nacionais, eles voltam a receber 10 pontos. E após 2003, o campeão de RS e MG recebe 8 pontos.

O terceiro grupo é composto por centros de futebol historicamente secundários, mas que sempre foram capazes de colocar representantes nos torneios nacionais: os campeonatos de Paraná, Goiás, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Pernambuco recebem 5 pontos. No grupo seguinte, os demais estaduais recebem 3 pontos.

Desse modo penso ter enfrentado a questão da diferença de peso entre os principais centros do futebol brasileiro bem como a alteração da importância dos próprios estaduais ao longo do tempo.

Os casos especiais continuam, no entanto, oferecendo desafios que não me dispus ainda a enfrentar. Essas dificuldades podem ser exemplificadas com a Taça Guanabara, torneio criado no Rio de Janeiro em 1965 e que era um dos maiores objetos de desejo dos clubes da cidade. A Taça Guanabara era considerada quase que como um estadual à parte, e sua conquista gerava comemorações efusivas na cidade até o fim dos anos 1990.

Desconsiderar o caso da Taça Guanabara é um desserviço histórico, mas sua excepcionalidade é também um nó difícil de desatar. Ela teria de ser comparada com outros Troféus secundários disputados nos demais centros, gerando uma celeuma enorme. Fica para um ranking futuro.





TORNEIOS ESTADUAIS


1. CARIOCA E PAULISTA


1.1 Até 1936: Carioca 15 p / Paulista 20 p

1.2 1937 a 1960: Carioca 40 p / Paulista 30 p

1.3 1961 a 1970: Carioca 40 p / Paulista 40 p

1.4 1971 a 1991: Carioca  30 p / Paulista 30 p

1.5 1992 a 2002: Carioca 20 p / Paulista 25 p

1.6 2003/2011: Carioca 15 p / Paulista 20 p

1.7 2012 em diante: Carioca 10 p / Paulista 12 p


2. MINAS GERAIS E RIO GRANDE DO SUL


2.1 Até 1960: 10 p

2.2 1961 a  1991: 15 p

2.3 1991 a 2002: 10 p

2.4 2003 em diante: 8 p


3. PR, SC, BA, PE, CE, GO

5 p


4. DEMAIS ESTADUAIS

3 p