Grigor Dimitrov sempre foi um sujeito intrigante. Ainda juvenil o cara recebeu o apelido de ''Baby Federer'' por causa de um treinador que, numa tremenda propaganda, afirmou que ele era mais talentoso do que Roger na mesma idade. Claro que as expectativas em cima do rapaz estouraram; afinal, ele tem muita mão mesmo e um estilo clássico que em tudo, até mesmo na preparação do saque e na postura de recepção do serviço adversário, lembra o do suíço. Mas no circuito não basta parecer, tem de ser. E o garoto se destacava mais pelo sucesso fora das quadras do que por resultados convincentes. Todo o carisma que o jovem tenista búlgaro demonstrava entre musas do esporte -- mal saído das fraldas, o sujeito conquistou o coração de Serena Williams e, depois, o de ninguém menos que Maria Sharapova, com quem mantém um relacionamento sério e de quem já ganhou até carro do ano -- se transformava em uma tremenda falta de, como dizer, testosterona nos jogos que valiam alguma coisa. O rapaz não tinha resistência física, chegava a ter cãibras em jogos de três sets. Pior ainda, quando topava com um ''cachorrão'' do circuito tremia na hora 'h', aquela que separa os meninos dos homens, a hora da onça beber água e de fechar sets e jogos. Nestes momentos, ele conseguia fazer duas, três e até quatro duplas faltas no game decisivo. Apesar da ira que me causava nas ocasiões, eu gostava de ver jogos do sujeito. Porque o filho da mãe joga bonito em um tempo em que o tênis, por vários motivos, vem se tornando atlético demais e plástico de menos.
Ano passado, apesar das amareladas, o búlgaro aprontou pra cima de gente graúda. Quase tirou Rafael Nadal do Master de Monte-Carlo, e eliminou ninguém menos que Novak Djokovic de Madri. Não é pouca coisa, já que se tratam dos dois jogadores dominantes em quadras de saibro, superfície em que são jogados os tais torneios. Finalmente, lá pro fim do ano, aos vinte e dois anos, ''Baby Federer'', que a essa hora todos sabemos que não é um Roger 2.0, conquistou seu primeiro título. E o que parecia auspicioso para a temporada de 2014 está se tornando realidade diante dos olhos de todos. Dimitrov começou o ano com tudo, complicando a vida de Nadal no Australian Open. E hoje, senhoras e senhores, mostrou pro circuito carteira de identidade e gritou ''mulheres, cheguei!'' Não para as tenistas, que, afinal, parecem simpatizar com ele de todo modo. Mas para as peludinhas que quicam pelas quadras, rápidas e faceiras, enquanto os tenistas se torcem e contorcem atrás delas. O jogo de hoje contra Andy Murray em Acapulco mostrou definitivamente que o ''namorado de Sharapova'' está pronto pra vencer qualquer um.
Não é à toa que fiquei acordado até agora pra conferir essa peleja da madrugada. Não me arrependi. Murray está voando. A capacidade de defesa que ele vem demonstrando no fundo da quadra só tem paralelo hoje em Djokovic, e parece maior até do que a de Rafael Nadal. São estilos de defesa diferentes, por certo, pois tanto o sérvio quanto o espanhol correm mais de lado, mostrando um jogo de pernas melhor, enquanto o britânico parece ter mesmo é um motor no traseiro que o faz correr de um lado pro outro como se fosse o Usain Bolt. Mais ainda, o saque do Murray e a intensidade nas trocas da linha de base estão um colosso. Lá pro décimo game do segundo set, as estatísticas mostravam que ele havia vencido todos os pontos jogados com o segundo saque e mais de noventa por cento daqueles que jogou com o primeiro. Incrível? Pois é, e Dimitrov venceu esse set! Não preciso dizer mais nada, ou preciso? Preciso. Pelo menos tenho de chamar a atenção pra uma questão. Aquele tenista que demonstrava pouca resistência física quando tinha pela frente aquele o estilo tão atual de tenista top que corre como um louco e troca trinta bolas por ponto parece ter desaparecido também. A cereja do bolo foi ter visto hoje que Murray cansou antes de Dimitrov, sentiu mais a intensidade da batalha que o búlgaro. Pontaço de Roger Rasheed, a quem o [gordo] Tsonga dispensou justamente por ser um treinador que coloca o pupilo em forma e o faz correr pra cima de todas as bolas.
ps.: E o Federer, o primeiro e único, ressuscitou. O terrível ano passado...passou. Venceu Djokovic em Dubai elevando o nível de seu jogo com o decorrer da partida e vai decidir mais um título em sua vitoriosa carreira. Se confirmar, se torna, sozinho, o terceiro maior vencedor de torneios da ATP, atrás apenas de Ivan Lendl e do recordista Jimmy Connors. O estilo que Federer vem colocando em quadra também está bem diferente do da temporada anterior, quando tentou se fixar mais na linha de base. Roger está agressivo, partindo pro ataque, o que nos permite ver todo o maravilhoso arsenal de que ele dispõe. Está subindo muito à rede, bem diferente da temporada de grama do ano passado, e inclusive usando e abusando do chip and charge. E sem deixar de lado a impressionante capacidade de variação e de improviso que possui. A nova raquete também tem ajudado muito, melhorando a potência de seus golpes. E o saque, definitivamente, voltou, sinal de que os problemas nas costas resolveram dar uma trégua por enquanto. Nem tudo são flores, claro: a devolução de saque na esquerda ainda tem de melhorar muito. Mas assistir seus jogos tem sido um maravilha. E o estilo ofensivo que Federer adotou, provavelmente visando o título de Wimbledon, tem também um dedo de seu novo treinador, o grande Stefan Edberg, uma parceria que parece ter muito mais 'liga' do que a de Boris Becker e Novak Djokovic.
Na foto, Dimitrov no maior love com Sharapova.
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