A oposição político-partidária não age para derrubar Bozó porque não tem
lideranças nem um discurso forte de modo a reunir todo o repúdio que ele causa
e dar um xeque-mate no [des]governo. Essa análise vem das próprias fileiras dos
partidos de oposição.
Evidente que ela não está disposta a encarar o imenso desgaste que um movimento forte contra o Reino causaria. Parece arriscado
demais aos olhos desse campo, que prefere esperar por um quase
consenso social sobre a necessidade de derrubar Bozó.
É possível que eles imaginem que esse consenso será formado quando os
sepultamentos em massa começarem. E não estamos muito longe desses tenebrosos
dias.
Resumindo, a ''estratégia política'' da oposição partidária é esperar um
grande número de mortes de brasileiros, pra aí se ver forte o suficiente de
modo a ter coragem de fazer o que deveria estar sendo feito desde já para que
essas mortes em massa fossem evitadas ou minimizadas.
Não sei se esse ''cálculo político'' é tão melhor que o cálculo do
próprio Bozó. Parece tão anti-patriótico e covarde quanto a propaganda em cima
da hidroxicloroquina, as carreatas contra o isolamento social dos pobres, as
declarações de que o brasileiro tem de ser jogado no esgoto pra criar imunidade
contra doenças.
Qual o papel da oposição no transe por que passa Eldorado?
Afinal, as pesquisas revelam que a maioria esmagadora da população é
favorável ao isolamento, e pensa, inclusive, que ele deveria ser imposto pela força da lei. O eleitorado deu aprovação esmagadora a Mandetta no confronto do
Ministro com o Presidente.
Ainda assim a oposição duvida das próprias possibilidades. Ao
mesmo tempo que declara que Bozó é o pior governante da história, que
se trata de um sociopata genocida, e o compara com o diabo encarnado -- que no
discurso colonizado assume a figura de Hitler, que diz muito pouco
para o imaginário do povão --, tem medo que a população escolha o lado do
capeta caso ocorra uma disputa direta.
Talvez a oposição não se acredite tão melhor assim que o coisa-ruim. Talvez
ela seja quase tão feia quanto o cramulhão, pelo menos aos olhos do povo.
A verdade é que o eleitorado compara o mentecapto que está no Palácio do
Planalto com suas alternativas e não considera uma possível reviravolta política tão
bacana assim.
Afinal, Bozó se ajoelha diante de religiosos, defende valores populares
sobre aborto e casamento e armas, e se erige em inimigo da grande mídia e de
instituições republicanas que não tem respaldo nem grande legitimidade pro
povão.
Se fizermos um levantamento qualquer nos bairros populares sobre o prestígio das instituições e compararmos os resultados sobre Igreja e Forças Armadas com as
respostas a respeito do Congresso, partidos políticos, grande mídia e STF, os resultados serão desalentadores para os burgueses ''iluminados''. E no fundo, eles sabem do próprio fracasso, do desprezo popular às suas ideias e às perspectivas que tem para oferecer.
Bozó é um estúpido. E aí ele ataca a Globo, a Folha de SP, o
Congresso, o STF, a ''velha política'', e cita versículos bíblicos enquanto
critica o identitarismo pós-moderno. É o suficiente pra um energúmeno sem
partido permanecer no poder fazendo merda em meio a uma pandemia.
Isso deveria fazer a oposição perceber o quanto suas posições sobre
''democracia'', ''República'', ''laicismo'' e ''progressismo'' são frágeis e
ANTI-POPULARES.
A existência de Bozó é a demonstração que todas as hesitações da
oposição, supostamente nacional e popular, em adotar uma postura realmente
revolucionária era, no fim das contas, apenas pusilanimidade.
Pouco serventia há nessa oposição, que reconhece que é pusilânime, se
esconder da própria consciência com xingamentos no twitter.
Pior ainda se enveredar pelo pior caminho possível, que é o de culpar o povo, revelando assim que toda sua sensibilidade ''democrática'' não
passa de um verniz que esconde a defesa por um governo de classe média liberal.
E a oposição político-partidária é doida de vontade de dar esse veredito contra o povo. Ela é mais ou menos como o poeta Paulo Martins,
protagonista do clássico imortal ''Terra em Transe'', calando com as mãos a
boca de um representante [das camadas intermediárias] do povo por não suportar
o que ela dizia. [''Esse povo é nazistoide, vulgar, burro!"] E que prefere
não reconhecer a ''Ralé'', que no filme é chamada de ''extremista'' e sequer
tem direito a existência social.
Porque o verdadeiro papel da oposição foi revelado
mais uma vez pela pandemia. Não é só Bozó que está nu no meio da praça, como um
palhaço e bufão. Seus supostos inimigos no campo partidário também estão.
Eles são o político Felipe Vieira, cujas promessas de mudança social são
apenas fanfarronices demagógicas que não suportam a ruptura de um só dos
compromissos com a classe média e as elites reais, muito menos qualquer
sinal de radicalização. Não são líderes, mas ''políticos'', que na
hora 'h' escondem a fraqueza em discursos vãos sobre a sacralidade do sangue
das massas.
Glauber era um gênio.
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