Fui
citado por militantes da esquerda liberal, que chamo gentilmente de
esquerdeiros ou esquerdalha, no perfil da Nova Resistência no Twitter. O debate
era sobre as possíveis ligações do líder do grupo duginista com Álvaro
Hauschild, acusado de racismo em caso de flerte na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, e de suposta busca e apreensão da Polícia Federal em apartamento de
Raphael Machado.
Que
um perfil falso vinculado a militantes pós-pós tenha usado postagens de ativistas
da Frente Sol da Pátria para argumentar contra duginistas tem implicações
bastante interessantes, que vou resumir e depois detalhar: o fake se liga à
jornalista Letícia Oliveira, vulgo “bicicreta”, que une incompetência com
histeria anarco-identitária, e nenhum dos dois é capaz de apurar informações
básicas sobre seus supostos inimigos políticos; por não saberem do que estão
falando, e não ter nada de relevante para colocar contra os duginistas além de
xingamentos mambembes e especulações baratas, dependem da reprodução das
críticas que fazemos ao geopolítico russo; como nunca leram meio livro do que
pretendem denunciar, tampouco são capazes de entender as críticas que fazemos,
deturpando-as segundo os moldes de sua própria ignorância.
Deixe-me
agora partir para os detalhes envolvendo o circo esquerdeiro.
1. Histeria tuiteira para compensar incompetência jornalística e vazio analítico
Letícia Oliveira declara que acompanha “movimentos fascistas” [como ela qualifica qualquer um que não concorde com os dogmas da esquerdalha pós-moderna] há quinze anos, mas conforme demonstrei em vídeo publicado em um dos meus canais no Youtube [veja aqui], pensava até mês passado que o famigerado debate entre Olavo e Dugin se deu “por vídeo”. Eis o nível da jornalista, que três ou quatro dias depois de uma operação da Polícia Federal em Caxias do Sul é incapaz de informar ao seu distinto público se Raphael Machado foi ou não alvo de busca e apreensão. Em vez disso, aquela que diz monitorar o sujeito há mais de década mendiga qualquer informação que imagine pescar em postagens públicas no Twitter e em blogs. Só resta o estardalhaço algo constrangedor em seu perfil.
Pequeno barraco no perfil oficial da NR no Twitter. A ilogicidade dos esquerdeiros, que veem conexão ideológica porque pessoas compartilham o mesmo ambiente |
Como
não tem informações relevantes nem o mínimo compromisso com a verdade, “bicicreta”
e cia. se dedicam com denodo a dar exemplos de ilogicidade [para esse pessoal,
a lógica é “falocêntrica”, ou seja, muito, muito ruim e opressora]. Funciona
assim: se X é fascista e esteve no mesmo evento que Y, então Y é fascista também.
Por este mesmo raciocínio deturpado e falso, “bicicreta” deveria se admitir NAZISTA,
já que realizou um podcast com estudioso que participou do V Encontro Nacional
Evoliano, em São Paulo, e era colaborador do Centro de Estudos Multipolares, liderado
por Flávia Virgína e vinculado a Alexander Dugin, conforme aponto no vídeo cujo
link coloquei acima. Mas Letícia Oliveira alegar ter seus privilégios. O
privilégio de poder conviver, debater, e ter ligações com duginistas e
ex-duginistas sem cair na mesma “culpa por associação” com que pretende tratar
adversários!
A “bicicreta” não resistiu e caiu na provocação de uma liderança da NR sobre o anti-getulismo! Ora, Raphael Machado não é nem nunca foi getulista. Ele começou a usar a imagem de figuras do trabalhismo histórico como meio de se contrapor à LNT [Legião Nacional Trabalhista] do Rio de Janeiro, movimento que era de fato getulista – é uma estratégia de imitação do rival que continua até hoje, como por exemplo as cópias em cima de textos de Luiz Campos e Ewerton Alípio [só os textos, não vídeos, porque aí seria mais difícil].
Mas praticamente todo o conteúdo getulista e trabalhista da organização foi desenvolvido por mim e por amigos meus que saíram da Nova Resistência este ano. Se não fosse minha ação nas redes sociais em 2018, não teria existido reunião na sede do PDT no Rio de Janeiro com Carlos Lupi logo após as eleições. Praticamente todos os textos sobre Getúlio Vargas no site da NR até março de 2022 eram originalmente publicados nas minhas redes e blog. O mesmo pode ser dito do conteúdo sobre cultura popular, carnaval, movimento armorial, música brasileira e até bossa nova [que Dugin gosta, mas Raphael Machado considerava “música de pau mole”, como costumava dizer], cuja autoria é, em geral, de lideranças que deixaram a organização.
Todas as aparências de getulismo, nacionalismo, Trabalhismo da
organização são meras ressonâncias em cima do trabalho de alas que romperam com
a NR, e que são mantidas porque eles não tem nada, absolutamente nada, para
colocar no lugar, como se viu no caso recente das incompatibilidades que trouxemos
à tona entre o modelo de etnicização defendido por Dugin e a ideia de civilização
brasileira de Darcy Ribeiro. [incompatibilidade que já deixávamos claro quando
participávamos da NR, como se pode ouvir neste famoso episódio do Caipira Armorial
em meados de 2020: clique aqui], e como se percebe nas reticências de Machado por retirar nossos
textos do site oficial da organização. A inimizade de Letícia Oliveira com
Getúlio Vargas não significa nada, no fundo, contra a NR. Por trás das
aparências, a NR é puro suco de duginismo, não de getulismo.
O perfil fake que citou ativistas da Frente Sol da Pátria no ‘fio’ do Twitter está doido por informações confiáveis das conexões de Álvaro Hauschild com a NR, e aparentemente Letícia Oliveira não é capaz de ajudá-lo a não ser com fotos inócuas supondo a culpa por associação que tragaria ela própria pro abismo das simpatias “neonazistas”. Deixe-me tirá-los da ignorância gerada pela falta de dados sólidos!
Fiz parte do núcleo estratégico interno da Nova Resistência entre 2018 e 2022, e sou testemunha que Hauschild era persona non grata desde fins de 2018. O líder da célula gaúcha da NR -- um cripto-separatista que mais tarde sairia do grupo por discordar, dentre outras coisas, do ritmo nacionalista e getulista que eu e amigos meus dávamos à ideologia do movimento --, não suportava o sujeito, e exigiu que ele fosse barrado em qualquer evento da organização. E assim foi feito. A última vez que ouvimos falar dele, em 2021 e antes da celeuma que estourou na imprensa, estava conspirando para sabotar a Nova Resistência, por considerar que a atuação dela obstaculizava os planos dele, Hauschild, sobre o que deveria ser a Dissidência no Brasil, que não posso garantir quais seriam mas posso imaginar: anti-getulistas, nesse ponto bem parecido com a “bicicreta”. Sobre envolvimentos pretéritos de Hauschild com Machado, nada de concreto sei a respeito, como Leticia Oliveira tampouco parece saber.
2. Falta de conhecimento mínimo sobre os temas que pretendem denunciar
O
“corajoso” perfil fake, que do alto de seu pretenso anonimato usa postagens
nossas para conectar a Nova Resistência ao nazismo, não é capaz de entender do
que estamos falando. É um ignorante e mais
nada. Um dos fios que ele cita, composto por Uriel Araujo, critica o projeto de
etnicização forçada e de separação étnica-regional implicado no duginismo. Mas
este não é um modelo nazista, e sim soviético. Além disso, o próprio Uriel
Araujo nega no mesmo fio que o duginismo seja fascista. Ele demonstra que ele sequer
pode ser chamado de nacionalista. O modelo propugnado por duginistas é
deletério e incompatível com o Brasil, mas nem tudo que é ruim pode ser
descrito como “fascista”, como na mentalidade binária e maniqueísta típica de
militantes da esquerda pós-pós, cuja imaginação e vocabulário político é incapaz
de enxergar para além do preto e branco.
De
modo similar, quando digo que Dugin é um "nordicista esotérico" não me refiro a
qualquer tipo de racismo biológico. O conceito de etnia de Dugin não está
vinculado ao de raça. Pelo contrário, ele dedica páginas e mais páginas de sua
obra "Etnossociologia" para negar a biologização da etnia e colocar problemas ao
próprio conceito de raça biológica. Portanto, a declaração de esquerdeiros de
que estas ideias duginianas não se distinguem do nazismo são pura demonstração
de incultura. Digo que Dugin é racista segundo os critérios do próprio Dugin,
que estende o termo para incluir qualquer hierarquia de povos em que um sirva
de modelo civilizacional para os demais. Nesse sentido, ao fazer dos povos do
Norte Geopolítico os modelos de verdade tradicional e de dominância, Dugin
acaba se traindo.
Mas
isto não é racismo biológico. E além disso, se aplica igualmente a “bicicreta”
e cia. A esquerdalha identitária é igualmente racista segundo estes parâmetros:
defendem que a agenda política e os padrões institucionais, axiológicos e de
sociabilidade dos grandes centros capitalistas do Ocidente devem governar o
debate público do nosso país e moldar nossas leis. São a “esquerda de Oslo”,
como a chama Jessé de Souza, que neste ponto específico está correto [e errado
em muitos outros]. Não conseguem enxergar civilização senão no “eurocentrismo”
mais tacanho e viciado. Se Dugin é um “nordicista esotericista”, Letícia
Oliveira e cia. são “nordicistas eXotéricos”. Se duginistas toleram ideias de desmantelamento
da nacionalidade brasileira pra criar “novas etnias”, Letícia Oliveira e cia.
adorariam fazer tabula rasa de toda a história e identidade brasileiras,
consideradas selvagens e fracassadas, para substituí-las pelo admirável mundo
novo saído da cartilha do Partido Democrata ianque e de ONGs estrangeiras. O
que falta a ambos é amor pelo Brasil, pela brasilidade, e identificação com o
próprio povo.
E
isto não é supor homogeneidade do povo, nem negar a centralidade da questão
identitária, como afirmou um esquerdeiro perplexo por alguém ser contra certos
identitarismos e a favor de outros. A identidade coletiva ou grupal é
fundamental para a identidade pessoal. Esta se constrói tendo aquela por
referência. A própria nacionalidade é uma identidade coletiva, grupal, não só
um vínculo contratual. Mas uma coisa é a defesa de identidades orgânicas e
holistas, outra é a defesa de identidades calcadas no individualismo e no
cosmopolitismo. Uma coisa é defender identidades nascidas e sustentadas em
comunidades populares brasileiras, outra é defender identidades importadas pela
indústria cultural dominada por centros capitalistas. Letícia Oliveira e cia.
nada mais são do que agentes de opressão de classe a serviço da dominação ideológica
[do ‘soft power’] de potências estrangeiras. São pequenos burgueses que se imaginam
mais “esclarecidos” do que os "selvagens" de Madureira e Bangu, a quem taxam de
fascistas por discordarem de usos e costumes de San Francisco e Londres. São
verdadeiramente inimigos do legado de Getúlio.
De resto, é possível que racistas e segregacionistas efetivamente tenham usado ideias duginianas para esconder os próprios vícios da alma. Há sempre este perigo, ainda mais em um sistema de ideias que dá tanta importância ao Norte Global e à necessidade de identidade étnica. Racistas fazem o mesmo com as ideias afrocêntricas importadas dos EUA, tentando esconder seu ressentimento racial, sua militância pró-etnicizante e seu ódio ao mestiço atrás de máscaras de tolerância e pedidos de Justiça Social e democracia.
Discordamos do duginismo. Discordamos da exigência por etnicização brasileira baseada na diversidade das culturas regionais, emulando o modelo soviético e russo; discordamos do apartamento das regiões brasileiras, com controle estrito de migrações internas para não “desenraizar etnias regionais”; discordamos da subordinação geopolítica ao Norte e ao neocolonialismo; discordamos da leitura tradicionalista duginista; discordamos da tolerância com ideias separatistas; discordamos da exigência de fim da identidade nacional; discordamos da exigência pelo fim da soberania brasileira; discordamos da defesa de um mundo quadripolar em que o Brasil ficaria sob égide da doutrina Monroe; discordamos da russofilia, em que não se pode chamar a invasão ucraniana de ‘guerra’ para não ofender a ‘perspectiva russa’, como se um brasileiro devesse subordinar sua análise do evento ao ponto de vista russo; discordamos do apego abstrato à ideia de multipolaridade sem levar em conta considerações de Justiça, segurança coletiva e p interesse nacional brasileiro. Discordamos dos duginistas em inúmeros pontos. Mas desconheço qualquer discurso explicitamente racista ou nazista na cúpula da Nova Resistência. O duginismo tem muitos equívocos [e outros tantos acertos], mas não é uma reedição do nazismo nem milita por supremacismo racial.
A
questão é que Letícia Oliveira e os perfis fakes que frequentam suas redes são
ineptos para falar dos problemas da Quarta Teoria Política e do
Neo-Eurasianismo. São apenas antifas “causando na rede”, “espalhando caos”, “lacrando”,
e babando na gravata enquanto ficam cada vez mais isolados até mesmo no
espectro político-partidário que imaginavam dominar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário