sábado, 9 de julho de 2022

Esquerdeiros citam Sol da Pátria contra duginismo, ou: histrionismo e incompetência do 'nordicismo eXotérico'

"Corajoso" perfil fake que pensa estar seguro de um processo pelas bobagens que anda proclamando em redes sociais julga que existe algum componente "psicológico" nas nossas discordâncias com o duginismo. Seria fácil especular sobre alguma motivação psicológica dele também.


Fui citado por militantes da esquerda liberal, que chamo gentilmente de esquerdeiros ou esquerdalha, no perfil da Nova Resistência no Twitter. O debate era sobre as possíveis ligações do líder do grupo duginista com Álvaro Hauschild, acusado de racismo em caso de flerte na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e de suposta busca e apreensão da Polícia Federal em apartamento de Raphael Machado.

 

Que um perfil falso vinculado a militantes pós-pós tenha usado postagens de ativistas da Frente Sol da Pátria para argumentar contra duginistas tem implicações bastante interessantes, que vou resumir e depois detalhar: o fake se liga à jornalista Letícia Oliveira, vulgo “bicicreta”, que une incompetência com histeria anarco-identitária, e nenhum dos dois é capaz de apurar informações básicas sobre seus supostos inimigos políticos; por não saberem do que estão falando, e não ter nada de relevante para colocar contra os duginistas além de xingamentos mambembes e especulações baratas, dependem da reprodução das críticas que fazemos ao geopolítico russo; como nunca leram meio livro do que pretendem denunciar, tampouco são capazes de entender as críticas que fazemos, deturpando-as segundo os moldes de sua própria ignorância.

 

Deixe-me agora partir para os detalhes envolvendo o circo esquerdeiro.

 


1. Histeria tuiteira para compensar incompetência jornalística e vazio analítico


Letícia Oliveira declara que acompanha “movimentos fascistas” [como ela qualifica qualquer um que não concorde com os dogmas da esquerdalha pós-moderna] há quinze anos, mas conforme demonstrei em vídeo publicado em um dos meus canais no Youtube [veja aqui], pensava até mês passado que o famigerado debate entre Olavo e Dugin se deu “por vídeo”. Eis o nível da jornalista, que três ou quatro dias depois de uma operação da Polícia Federal em Caxias do Sul é incapaz de informar ao seu distinto público se Raphael Machado foi ou não alvo de busca e apreensão. Em vez disso, aquela que diz monitorar o sujeito há mais de década mendiga qualquer informação que imagine pescar em postagens públicas no Twitter e em blogs. Só resta o estardalhaço algo constrangedor em seu perfil.

 

Pequeno barraco no perfil oficial da NR no Twitter. A ilogicidade dos esquerdeiros, que veem conexão ideológica porque pessoas compartilham o mesmo ambiente

Como não tem informações relevantes nem o mínimo compromisso com a verdade, “bicicreta” e cia. se dedicam com denodo a dar exemplos de ilogicidade [para esse pessoal, a lógica é “falocêntrica”, ou seja, muito, muito ruim e opressora]. Funciona assim: se X é fascista e esteve no mesmo evento que Y, então Y é fascista também. Por este mesmo raciocínio deturpado e falso, “bicicreta” deveria se admitir NAZISTA, já que realizou um podcast com estudioso que participou do V Encontro Nacional Evoliano, em São Paulo, e era colaborador do Centro de Estudos Multipolares, liderado por Flávia Virgína e vinculado a Alexander Dugin, conforme aponto no vídeo cujo link coloquei acima. Mas Letícia Oliveira alegar ter seus privilégios. O privilégio de poder conviver, debater, e ter ligações com duginistas e ex-duginistas sem cair na mesma “culpa por associação” com que pretende tratar adversários!

 

A “bicicreta” não resistiu e caiu na provocação de uma liderança da NR sobre o anti-getulismo! Ora, Raphael Machado não é nem nunca foi getulista. Ele começou a usar a imagem de figuras do trabalhismo histórico como meio de se contrapor à LNT [Legião Nacional Trabalhista] do Rio de Janeiro, movimento que era de fato getulista – é uma estratégia de imitação do rival que continua até hoje, como por exemplo as cópias em cima de textos de Luiz Campos e Ewerton Alípio [só os textos, não vídeos, porque aí seria mais difícil]. 


Mas praticamente todo o conteúdo getulista e trabalhista da organização foi desenvolvido por mim e por amigos meus que saíram da Nova Resistência este ano. Se não fosse minha ação nas redes sociais em 2018, não teria existido reunião na sede do PDT no Rio de Janeiro com Carlos Lupi logo após as eleições. Praticamente todos os textos sobre Getúlio Vargas no site da NR até março de 2022 eram originalmente publicados nas minhas redes e blog. O mesmo pode ser dito do conteúdo sobre cultura popular, carnaval, movimento armorial, música brasileira e até bossa nova [que Dugin gosta, mas Raphael Machado considerava “música de pau mole”, como costumava dizer], cuja autoria é, em geral, de lideranças que deixaram a organização. 


Todas as aparências de getulismo, nacionalismo, Trabalhismo da organização são meras ressonâncias em cima do trabalho de alas que romperam com a NR, e que são mantidas porque eles não tem nada, absolutamente nada, para colocar no lugar, como se viu no caso recente das incompatibilidades que trouxemos à tona entre o modelo de etnicização defendido por Dugin e a ideia de civilização brasileira de Darcy Ribeiro. [incompatibilidade que já deixávamos claro quando participávamos da NR, como se pode ouvir neste famoso episódio do Caipira Armorial em meados de 2020: clique aqui], e como se percebe nas reticências de Machado por retirar nossos textos do site oficial da organização. A inimizade de Letícia Oliveira com Getúlio Vargas não significa nada, no fundo, contra a NR. Por trás das aparências, a NR é puro suco de duginismo, não de getulismo.

 

Dias depois do acontecimento, a "jornalista que monitora movimentos X e Y há 15 anos" mendiga dados, incapaz de informar ao seu público, de modo objetivo, o que de fato aconteceu. Histrionismo na Internet

O perfil fake que citou ativistas da Frente Sol da Pátria no ‘fio’ do Twitter está doido por informações confiáveis das conexões de Álvaro Hauschild com a NR, e aparentemente Letícia Oliveira não é capaz de ajudá-lo a não ser com fotos inócuas supondo a culpa por associação que tragaria ela própria pro abismo das simpatias “neonazistas”. Deixe-me tirá-los da ignorância gerada pela falta de dados sólidos! 


Fiz parte do núcleo estratégico interno da Nova Resistência entre 2018 e 2022, e sou testemunha que Hauschild era persona non grata desde fins de 2018. O líder da célula gaúcha da NR -- um cripto-separatista que mais tarde sairia do grupo por discordar, dentre outras coisas, do ritmo nacionalista e getulista que eu e amigos meus dávamos à ideologia do movimento --, não suportava o sujeito, e exigiu que ele fosse barrado em qualquer evento da organização. E assim foi feito. A última vez que ouvimos falar dele, em 2021 e antes da celeuma que estourou na imprensa, estava conspirando para sabotar a Nova Resistência, por considerar que a atuação dela obstaculizava os planos dele, Hauschild, sobre o que deveria ser a Dissidência no Brasil, que não posso garantir quais seriam mas posso imaginar: anti-getulistas, nesse ponto bem parecido com a “bicicreta”. Sobre envolvimentos  pretéritos de Hauschild com Machado, nada de concreto sei a respeito, como Leticia Oliveira tampouco parece saber.



2. Falta de conhecimento mínimo sobre os temas que pretendem denunciar

 

O “corajoso” perfil fake, que do alto de seu pretenso anonimato usa postagens nossas para conectar a Nova Resistência ao nazismo, não é capaz de entender do que estamos falando. É um ignorante e mais nada. Um dos fios que ele cita, composto por Uriel Araujo, critica o projeto de etnicização forçada e de separação étnica-regional implicado no duginismo. Mas este não é um modelo nazista, e sim soviético. Além disso, o próprio Uriel Araujo nega no mesmo fio que o duginismo seja fascista. Ele demonstra que ele sequer pode ser chamado de nacionalista. O modelo propugnado por duginistas é deletério e incompatível com o Brasil, mas nem tudo que é ruim pode ser descrito como “fascista”, como na mentalidade binária e maniqueísta típica de militantes da esquerda pós-pós, cuja imaginação e vocabulário político é incapaz de enxergar para além do preto e branco.

 

De modo similar, quando digo que Dugin é um "nordicista esotérico" não me refiro a qualquer tipo de racismo biológico. O conceito de etnia de Dugin não está vinculado ao de raça. Pelo contrário, ele dedica páginas e mais páginas de sua obra "Etnossociologia" para negar a biologização da etnia e colocar problemas ao próprio conceito de raça biológica. Portanto, a declaração de esquerdeiros de que estas ideias duginianas não se distinguem do nazismo são pura demonstração de incultura. Digo que Dugin é racista segundo os critérios do próprio Dugin, que estende o termo para incluir qualquer hierarquia de povos em que um sirva de modelo civilizacional para os demais. Nesse sentido, ao fazer dos povos do Norte Geopolítico os modelos de verdade tradicional e de dominância, Dugin acaba se traindo.

 

Mas isto não é racismo biológico. E além disso, se aplica igualmente a “bicicreta” e cia. A esquerdalha identitária é igualmente racista segundo estes parâmetros: defendem que a agenda política e os padrões institucionais, axiológicos e de sociabilidade dos grandes centros capitalistas do Ocidente devem governar o debate público do nosso país e moldar nossas leis. São a “esquerda de Oslo”, como a chama Jessé de Souza, que neste ponto específico está correto [e errado em muitos outros]. Não conseguem enxergar civilização senão no “eurocentrismo” mais tacanho e viciado. Se Dugin é um “nordicista esotericista”, Letícia Oliveira e cia. são “nordicistas eXotéricos”. Se duginistas toleram ideias de desmantelamento da nacionalidade brasileira pra criar “novas etnias”, Letícia Oliveira e cia. adorariam fazer tabula rasa de toda a história e identidade brasileiras, consideradas selvagens e fracassadas, para substituí-las pelo admirável mundo novo saído da cartilha do Partido Democrata ianque e de ONGs estrangeiras. O que falta a ambos é amor pelo Brasil, pela brasilidade, e identificação com o próprio povo.

 

E isto não é supor homogeneidade do povo, nem negar a centralidade da questão identitária, como afirmou um esquerdeiro perplexo por alguém ser contra certos identitarismos e a favor de outros. A identidade coletiva ou grupal é fundamental para a identidade pessoal. Esta se constrói tendo aquela por referência. A própria nacionalidade é uma identidade coletiva, grupal, não só um vínculo contratual. Mas uma coisa é a defesa de identidades orgânicas e holistas, outra é a defesa de identidades calcadas no individualismo e no cosmopolitismo. Uma coisa é defender identidades nascidas e sustentadas em comunidades populares brasileiras, outra é defender identidades importadas pela indústria cultural dominada por centros capitalistas. Letícia Oliveira e cia. nada mais são do que agentes de opressão de classe a serviço da dominação ideológica [do ‘soft power’] de potências estrangeiras. São pequenos burgueses que se imaginam mais “esclarecidos” do que os "selvagens" de Madureira e Bangu, a quem taxam de fascistas por discordarem de usos e costumes de San Francisco e Londres. São verdadeiramente inimigos do legado de Getúlio.

 

Não há contradição entre defender certas identidades e criticar outros projetos identitários. O nacionalismo defende um tipo de identidade grupal. O individualismo é outro projeto de identidade, baseada em um suposto sujeito moral autônomo, encarado como normativo. Outro projeto é o comunitarismo. Outro ainda é a defesa de identidades tradicionais, ou seja, holistas. Esquerdeiros não sabem do que falam.



De resto, é possível que racistas e segregacionistas efetivamente tenham usado ideias duginianas para esconder os próprios vícios da alma. Há sempre este perigo, ainda mais em um sistema de ideias que dá tanta importância ao Norte Global e à necessidade de identidade étnica. Racistas fazem o mesmo com as ideias afrocêntricas importadas dos EUA, tentando esconder seu ressentimento racial, sua militância pró-etnicizante e seu ódio ao mestiço atrás de máscaras de tolerância e pedidos de Justiça Social e democracia. 


Discordamos do duginismo. Discordamos da exigência por etnicização brasileira baseada na diversidade das culturas regionais, emulando o modelo soviético e russo; discordamos do apartamento das regiões brasileiras, com controle estrito de migrações internas para não “desenraizar etnias regionais”; discordamos da subordinação geopolítica ao Norte e ao neocolonialismo; discordamos da leitura tradicionalista duginista; discordamos da tolerância com ideias separatistas; discordamos da exigência de fim da identidade nacional; discordamos da exigência pelo fim da soberania brasileira; discordamos da defesa de um mundo quadripolar em que o Brasil ficaria sob égide da doutrina Monroe; discordamos da russofilia, em que não se pode chamar a invasão ucraniana de ‘guerra’ para não ofender a ‘perspectiva russa’, como se um brasileiro devesse subordinar sua análise do evento ao ponto de vista russo; discordamos do apego abstrato à ideia de multipolaridade sem levar em conta considerações de Justiça, segurança coletiva e p interesse nacional brasileiro. Discordamos dos duginistas em inúmeros pontos. Mas desconheço qualquer discurso explicitamente racista ou nazista na cúpula da Nova Resistência. O duginismo tem muitos equívocos [e outros tantos acertos], mas não é uma reedição do nazismo nem milita por supremacismo racial. 

 

A questão é que Letícia Oliveira e os perfis fakes que frequentam suas redes são ineptos para falar dos problemas da Quarta Teoria Política e do Neo-Eurasianismo. São apenas antifas “causando na rede”, “espalhando caos”, “lacrando”, e babando na gravata enquanto ficam cada vez mais isolados até mesmo no espectro político-partidário que imaginavam dominar.


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