terça-feira, 16 de julho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Ponteiros/Atacantes: Bruno Henrique e Outros

Postagem final da posição de Ponteiros/Atacantes: o atleta que simbolizou o "Outro Patamar", e jogadores que poderiam estar na prateleira principal. O próximo texto inaugura a lista de centroavantes na série sobre os maiores da história do Flamengo, apresentados em ordem cronológica.


10) BRUNO “OUTRO PATAMAR” HENRIQUE, O “REI DOS CLÁSSICOS”, O “REI DA AMÉRICA” [2019/ATÉ O PRESENTE]





Não há discussão possível: na temporada dourada de 2019, em que O Mais Querido alcançou um domínio assustador sobre seus rivais e teve quase todos os titulares escolhidos para a seleção do campeonato brasileiro, o melhor jogador da equipe não foi nem Arrascaeta nem Gabigol, nem Éverton Ribeiro, nem Filipe Luís, nem Gérson, nem Rodrigo Caio. No time que estava em outro patamar, Bruno Henrique ERA o outro patamar.



Artilheiro do Carioca, eleito melhor jogador do Brasileiro e da Libertadores da América, Bruno terminou 2019 eleito também oelhor jogador brasileiro do ano, desbancando Neymar. E não há qualquer exagero. O homem começava as partidas em altíssimo nível, ia melhorando aos poucos, até que decolava como um avião supersônico, imarcável, imparável, absolutamente decisivo.



Em 2019, o maior rival para a avalanche de gols de Gabriel Barbosa n’O Mais Querido era justamente a Tsunami invocada por seu companheiro de ataque.



Mineiro de Belo Horizonte, começou como “atacante do lado”, na verdade um ponta esquerda, no Inconfidência. Pulou de clube em clube, não alcançou sucesso na Europa, e brilhou muito, mas por pouco tempo, no Santos, sofrendo lesões que colocaram em dúvida seu futuro no futebol de alto nível.



Mas o ceticismo foi exorcizado sem dó nem piedade logo no primeiro jogo com o Manto Sagrado, contra o Botafogo. Em atuação de gala, Bruno construiu a vitória e conquistou o epíteto de “rei dos clássicos”. Quando questionado sobre o que esperava no Flamengo, foi curto e grosso, mas também profético: “Títulos”.



E títulos não tem faltado. Mesmo depois de sair do estado de graça de 2019, continuou enfileirando grandes atuações, gols e troféus, ainda que atrapalhado um pouco por contusões e buscando em espaço em sistemas táticos menos adequados ao seu futebol. Bruno lutou contra uma contusão recorrente no joelho durante 2021. Quando ela estourou de vez, na temporada seguinte, o deixou um ano fora do futebol. Seu retorno aos gramados, cercado de expectativa pela torcida, despertou tantos sentimentos positivos que o levou a renovar com o Flamengo por mais três anos.



Seu jogo se destaca pela imensa velocidade mas tem também excelente finalização, inclusive de fora da área, e bom passe e impulsão invejável, que o torna mortal no jogo aéreo. Com tantas qualidades, é um dos maiores exemplos contemporâneos de Atacante no sentido em que tenho dado ao termo nessa seção: um ponta-de-lança moderno, que joga à frente da linha de quatro no meio campo, rodando a área e se infiltrando como um centroavante.



Talvez Bruno merecesse mais chances na seleção. Não importa. No Flamengo, é um atleta que continuará fazendo História. Seus principais títulos com o Manto Sagrado são, por enquanto, os Cariocas de 2019/20/21 e 24; a Supercopa do Brasil de 2020/21; a Copa do Brasil de 2022; os Brasileiros de 2019/20; as Libertadores de 2019 e 2022; a Recopa Sul-Americana de 2020. Bruno Henrique tem 91 gols pelo rubro negro até a presente data. Será que comemoramos o centésimo ainda nesta temporada?




OUTROS

Pra terminar a lista e começar a falar da posição derradeira da série, a de centroavantes, vamos àqueles nomes que poderiam estar na prateleira principal mas acabaram ficando pra trás por critérios meus.

I) VEVÉ [1941/48]



Dói o coração tirar Everaldo, o Vevé, da prateleira principal de Ponteiros/Atacantes. Foi um dos grandes ídolos d’O Mais Querido nos anos 1940. Direto de Belém do Pará para o Galícia, de Salvador, e de lá para a Gávea, onde sucedeu Jarbas “Flecha Negra”, o baixinho e veloz ponta esquerda tinha drible rápido, fácil, aliado a chute forte e acrobacias aéreas [seu famoso ‘sem pulo’]. Tricampeão carioca 1942/43/44, está entre os 25 maiores artilheiros do clube, com 92 gols em pouco mais de 200 partidas. Teve a carreira abreviada por seus problemas com álcool [era parte da “turma do bagaço” do Flamengo, que perdia noites em desvarios na Lapa] e operação nos meniscos.



II) ESQUERDINHA [1948; 1949; 1950; 1951/55]



Mais um paraense que brilhou na ponta esquerda do Mengão. Bem sucedido no Madureira e no Olaria, em idas e vindas na Gávea, até assumir de vez a posição no ataque do famoso Rolo Compressor da primeira metade dos anos 1950. Tricampeão carioca 1953/54/55, marcou 117 gols em 280 partidas com o Manto Sagrado. É o 17º maior artilheiro da Gávea.


III) JOSÉ UFARTE, O “ESPANHOL” [1958/61; 1962/64]



Um traço de união entre o Flamengo e a Espanha. Nascido na Galiza, mas criado no Rio, foi profissionalizado pelo Flamengo em 1958, ainda aos 17 anos de idade. Passou uma temporada de sucesso no Corinthians antes de retornar para O Mais Querido. Campeão do Torneio Rio São Paulo de 1961 e do Carioca de 1963. Foi vendido em 1964 para o Atlético de Madri, tornando-se ídolo do clube, vencendo três campeonatos espanhóis e chegando à Fúria, seleção que defendeu na Copa do Mundo de 1966.


IV) PAULO CÉZAR “CAJU” [1972/74]



Carioca profissionalizado no Botafogo e considerado um gênio desde adolescente, “Caju” foi uma das sensações da Copa de 1970, em que substituiu Gérson em três partidas. Atuava na ponta esquerda, mas também como meia e ponta-de-lança. Chegou ao Flamengo depois de responsabilizado no Botafogo pela perda do estadual de 1971. Tinha então 23 anos de idade e estava no auge da forma. Ganhou o Torneio do Povo, o bicampeonato da Taça Guanabara em 1972/73, e os Cariocas de 1972 e 1974. Disputou também a Copa de 1974, ainda pelo Flamengo. Depois saiu do clube para fazer parte da “Máquina Tricolor”, de Francisco Horta.


V) JÚLIO CÉSAR “URI GELLER” [1975; 1976/77; 1978/81]



Uma lenda da era de ouro do Flamengo, nasceu na Argentina, mas foi criado desde a infância na famosa favela da Praia do Pinto, que ficava do lado da sede d’O Mais Querido, na Gávea. Era amigo de infância de Adílio, com quem entrou no futebol de salão do Flamengo. Profissionalizado no clube em 1975 com apenas 20 anos de idade, se destacava pela magia dos dribles na ponta esquerda. O apelido de “Uri Geller” pegou: ele entortava os zagueiros adversários da mesma maneira com que a subcelebridade internacional, o paranormal Uri Geller, entortava colheres. Naturalizado brasileiro, jogou as Olimpíadas de Montreal pela seleção, em 1976.


VI) EDÍLSON “CAPETINHA” [2000/01; 2003/04]



O multicampeão e polêmico baiano chegou ao clube no pacotão de contratações da ISL. Seu ambiente no Corinthians tinha se tornado insuportável, e logo arrumaria as maiores confusões também na Gávea. Mas não faltaram grandes atuações e troféus importantes. Foi o artilheiro e eleito o melhor jogador do Carioca de 2001, que garantiu o tricampeonato para O Mais Querido em cima do Vasco da Gama. E também protagonista na conquista da Copa dos Campeões no mesmo ano, passando por cima de Bahia, Cruzeiro e São Paulo. Edílson é campeão do mundo pela seleção, estava no elenco da Copa de 2002.


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sábado, 13 de julho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Ponteiros/Atacantes: Sávio, o "Anjo Loiro da Gávea"; e Gabriel Barbosa, o "Gabigol", o "Predestinado"

 Sávio deu continuidade ao slogan "Craque, o Flamengo faz em casa" em uma época de mudanças profundas do modelo dos anos 1970/80: Kleber Leite colocava fim definitivo à era de domínio da Frente Ampla pelo Flamengo [FAF], de Márcio Braga e George Helal. O "Anjo Loiro" foi o último suspiro na expectativa rubro-negra de ''criar um novo Zico'' nas divisões de base do clube. Já Gabriel Barbosa, o Predestinado, o Gabigol, é o maior símbolo da era de profissionalismo e gigantismo do Flamengo do século XXI, em que O Mais Querido almeja consolidar seu predomínio no continente e se tornar o primeiro sul-americano a fazer frente aos orçamentos das super-equipes europeias. Gabigol é o novo Leônidas da Silva.


8 ) SÁVIO, O “ANJO LOIRO DA GÁVEA” [1992/97; 2006]




Os problemas financeiros que estouraram o clube no início dos anos 1990 fizeram o Flamengo “queimar” no mercado uma das mais talentosas gerações já formadas no clube. Djalminha, Marcelinho “Carioca”, Paulo Nunes, Júnior Baiano e outros saíram da Gávea a preço de banana e sem conquistarem tudo o que podiam. Tornaram-se grandes ídolos de outras equipes.

O capixaba Sávio foi a primeira grande revelação das categorias de base depois do desperdício do primeiro terço da década e, como tal, foi tratado como um jóia rara. Ele se tornou o foco do sonho flamenguista de ''fazer'' um novo Zico em suas divisões de base. Chegou no clube pré-adolescente, morou no Morro da Viúva junto com outros juvenis, e se destacou desde o início. Atuou alguns minutos na final do Brasileiro de 1992, e em algumas partidas no ano seguinte.



Mas em 1994 a Magnética foi apresentada de vez ao seu futebol de dribles em alta velocidade, muita habilidade e faro de gol. Sávio conquistou imediatamente as arquibancadas no Carioca, sob a batuta do técnico Júnior. O Flamengo não conquistou a taça, mas ganhou um ídolo.

No Brasileiro, o “Anjo Loiro” liderou uma frágil e jovem equipe em vitórias tão importantes quanto surpreendentes, como a goleada de 5 a 2 imposta ao Corinthians no Maracanã e a quebra da invencibilidade do Palmeiras de Luxemburgo -- atuação de gala na vitória por 2 a 0 sobre o alviverde.



O "novo Zico" ganhou a camisa 10 em jogada de marketing do Presidente Kleber Leite quando da contratação de Romário. Apesar da crise em que se tornou o ano do Centenário, seu futebol se encaixou perfeitamente com o do Baixinho, e o jovem de 20 anos iniciou de vez a transição para a função de Atacante total que era necessária naquela época em que ponteiros faziam cada vez menos sentido.

Sávio chegou à seleção brasileira como grande esperança para as Olimpíadas de Atlanta. Embora tenha perdido a posição de titular para Ronaldo “Fenômeno”, teve participação crucial em toda a preparação da equipe, que terminou com a medalha de bronze.



1996 foi o auge de seu futebol no Flamengo e também das contusões que se tornariam crônicas tamanho o número de bordoadas que tomou ao longo da carreira pelo “crime” de apostar sempre no drible vertical, hábil e veloz rumo à linha de fundo ou à área adversária.

Depois da decepção com os vice-campeonatos do Torneio Rio São Paulo e da Copa do Brasil, em 1997, e muito bem sucedido em uma excursão à Espanha em que impressionou os europeus com sua atuação contra o Real Madri, o “Anjo Loiro” foi negociado com o maior clube da Espanha naquela que era a maior transferência da história do Flamengo. Bem diferente, portanto, da “geração [quase] perdida”.



Sávio ainda retornou ao clube em 2006, já com 32 anos de idade. Mas, com problemas crônicos nos tornozelos, rendeu pouco. A magia havia acabado. Mas não a gratidão da Magnética por seu futebol: É o 26º maior artilheiro da nossa história, com 95 gols; e o segundo maior goleador rubro-negro da década de 1990, atrás apenas de Romário.

No Flamengo, Sávio conquistou as Taças Guanabara de 1995/96; o Carioca [invicto] de 1996; o Brasileiro de 1992; e a Copa Conmebol em 1996.





9) GABRIEL, O “GABIGOL”, O "PREDESTINADO" [2019/ATÉ O PRESENTE]




Eu costumava dizer que Gabriel Barbosa, o “Gabigol”, era o novo Leônidas da Silva. Muitos se espantavam, imaginando que se trata de uma comparação técnica entre os jogadores. O Diamente Negro era considerado uma sumidade, que misturava eficiência e plasticidade. Além disso, era um ‘bom malandro’, tanto na vida quanto no tratamento do público e dos dirigentes. Nesse aspecto, a similaridade é muito maior com Romário, e vou tratar disso quando chegarmos à seção de centroavantes.

Mas Gabigol é o novo Leônidas por causa do projeto em cima dele. Assim como nos anos 1930 o clube passou por uma reformulação com o objetivo de atingir novo nível de profissionalismo e , condizente não só com o domínio do Brasil como com a projeção continental e internacional que o coloque em “outro patamar”.



Esse projeto inclui um esforço não só de manutenção mas de ampliação da popularidade e do status de Mais Querido do Brasil, que vinha sendo desafiado por um plano desenvolvido em torno da hegemonia econômica, demográfica e midiática do Estado de São Paulo.

Nos anos 1930, o Flamengo enfrentou desafios semelhantes, embora em outro contexto: estava ficando pra trás no fim dos anos 1920, era de profissionalização e construção das torcidas, em que o futebol deixava seu caráter elitista e se massificava. Naquela década, o Presidente José Bastos Padilha vinculou a imagem do rubro-negro carioca ao do nacionalismo popular. E para isso, foi muito importante a contratação de diversos atletas mestiços de imenso apelo para o povão. O Diamante Negro foi o maior representante da turma, não só por seu talento incomensurável, mas por seu carisma esfuziante.



No Flamengo de hoje, o principal nome do projeto do clube é Gabriel Barbosa. Sua popularidade entre as gerações mais jovens de rubro-negros é assombrosa, chega mesmo às raias do absurdo. O temperamento de Gabriel parece bem distante daquele de Leônidas. Não é um “malandro”, não tem ares pouco profissionais, não é “caôzeiro”. Mas atende perfeitamente outra face da Magnética: a marra, o deboche, o desejo incontido de não levar desaforo para casa. Aliada à imensa raça e aos resultados em campo, a combinação se torna apaixonadamente explosiva. Nessa linha de raciocínio, Gabigol está mais para Renato Gaúcho, e tem também características do Baixinho.

Mas Gabriel não é só uma síntese de velhos ídolos, ele é um fenômeno novo, e daí sua capacidade de angariar simpatias das crianças e adolescentes. Sua persona midiática oferece entretenimento e emoção à flor da pele. O gesto do muque é um dos gestos mais icônicos da era gloriosa iniciada em 2019, bem como o apelido de ''Predestinado'', ou o slogan ''Hoje tem gol do Gabigol!"



Em campo, ele tem limitações técnicas visíveis. Não é exímio finalizador, só usa uma perna, é fraco no jogo aéreo. Mas esses “defeitos” são compensados por uma aptidão extrema para abrir espaços e se movimentar pelos lados do campo. É um jogador que teria muita dificuldade nos tempos dos ponteiros e dos centroavantes, e isso explica seu pouco sucesso na passagem pela Europa.

Não à toa o desempenho de Gabigol mudou de nível com a chegada de Jorge Jesus. O mais curioso na dominância impressionante do Flamengo de 2019 é que ela foi construída no desenho tático comum às equipes do país nos anos 1990 e 2000: o 4-4-2, com dois meias nos corredores, e dois pontas de lança [Atacantes] modernos entrando em facão na área, correndo em diagonal e mudando de lado constantemente um com o outro.



[Claro que existiam muitas diferenças no sistema de marcação, intensidade, execução de simetria etc. no modelo de Jorge Jesus, mas falo aqui do desenho tático.]

Erra quem pensa que Gabriel Barbosa é centroavante no sentido estrito do termo, ou que tenha aptidão para jogar na ponta. Ele é Atacante no sentido explicado no início dessa seção, um dos exemplos mais poderosos da persistência deste tipo de Atleta no futebol brasileiro, e da especialização de alguns jogadores para a posição.



Os números estratosféricos estão sendo sempre atualizados. Até o momento desta postagem, são mas de 150 gols em quase 280 partidas defendendo o Manto Sagrado. É o sexto maior goleador da História rubro-negra, com média de 0,55 gol por partida. Seu cartel de títulos é impressionante, bem como sua capacidade decisiva: Marcou em três finais de Libertadores, decidindo os títulos de 2019 e 2022, e se tornou o maior artilheiro brasileiro na competição, com mais de 30 tentos. [No ranking geral, está no top 5 entre os maiores artilheiros do torneio continental, e tem idade para chegar à segunda posição.]

2024 pode ser o término desse bonito conto de amor entre Gabriel Barbosa, o Gabigol, e o Flamengo, uma relação desgastada por polêmicas em torno de seu comportamento dentro e fora das quatro linhas, queda de desempenho e polemismo em redes sociais. Não muito diferente da ruptura entre o Flamengo e Leônidas, também muito traumática. Mas Gabriel está marcado para sempre como um dos maiores e mais apaixonantes ídolos da Magnética, e um dos campeões mais marcantes d'O Mais Querido do Brasil. De fato, é o Leônidas da Silva de toda uma geração de flamenguistas.

Até a data dessa postagem, ele ostenta os títulos do Campeonatos Carioca de 2019/20/21 e 24; as Supercopas do Brasil de 2019/20; a Copa do Brasil de 2022; os Campeonatos Brasileiros de 2019 e 2022; a Recopa Sul-Americana de 2020; e as Libertadores da América de 2019 e 2022.



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