Continuando a série sobre os maiores da história do Flamengo, apresentados por posição e em ordem cronológica, chegamos a dois dos maiores ídolos da Gávea: Evaristo de Macedo, craque que foi vendido para o futebol europeu e conseguiu a façanha de ser ídolo tanto de Real Madrid quanto de Barcelona; e Dida, o maior goleador e meia-atacante rubro-negro antes do surgimento do Galinho de Quintino. Os links para os textos anteriores da série estão disponíveis no final dessa postagem.
2) EVARISTO DE MACEDO [1953/57; 1965/67]
O lendário radialista Washington Rodrigues, o Apolinho -- que também foi técnico do Flamengo em algumas ocasiões nos anos 1990, incluindo no ano em que se comemorava o Centenário do clube [1995] -- dizia que seu maior ídolo era Evaristo de Macedo. Quando criança, Apolinho brincava de ser Evaristo nas peladas.
De fato, esse carioca é provavelmente um dos gênios subestimados do futebol brasileiro. Ou, melhor dizendo, NO futebol brasileiro, pois seu status na Espanha é gigantesco. Veloz, com técnica monstruosa, e grande mobilidade, atuava em todas as posições do ataque com igual desenvoltura, e era mortal se infiltrando na área como meia-atacante.
Formado nas divisões de base do Madureira, foi convocado para a Seleção Olímpica de 1952. No ano seguinte, com apenas 20 anos, chegou à Gávea para roubar a posição de Benítez e se tornar um dos imortais do clube. Seu futebol potencializou um time que, jogando no 4-2-4 de Fleitas Solich, dominaria o futebol do Rio nos próximos anos e se tornaria um dos mais marcantes do Maracanã.
Rolo Compressor, eis o epíteto que aquela equipe ganhou. Todo o ataque foi parar em algum momento na seleção brasileira.
Com Evaristo não foi diferente. Levantou taças importantes com o time canarinho, que se preparava para conquistar o mundo. E em 1957, se tornou o maior goleador do Brasil em uma partida. A seleção enfiou 9 a 0 na Colômbia no Sul-Americano [‘Copa América’] daquele ano, e Evaristo anotou nada menos que cinco tentos.
O Flamengo era tricampeão carioca, o primeiro da Era Maracanã, e conquistava fama internacional, plenamente consolidada com os amistosos que fez no Brasil e na América do Sul contra a equipe húngara do Honved, base do escrete húngaro liderado por Puskas e que encantou o mundo em 1954. O Ponta de Lança chamou a atenção de europeus, e ele partiu para o Barcelona ainda naquele ano.
Na Espanha, Evaristo se tornou o maior artilheiro brasileiro da história da equipe catalã, só superado décadas depois por Rivaldo [que teve, no entanto, média de gols inferior]. Venceu campeonatos nacionais, duas Copas da UEFA, e em 1962 se mudou para o grande rival, o Real Madrid. O Barcelona queria que ele se naturalizasse espanhol, e ele se negou.
No Madrid, foi tricampeão espanhol, conseguindo ser idolatrado também pela torcida rival. Em sua curta passagem pela Espanha, em meados dos anos 1980, o centroavante Roberto Dinamite se impressionou com a verdadeira paixão que existia por Evaristo.
Infelizmente, a passagem pela Europa lhe custou a posição na seleção brasileira. A CBD não incentivava a convocação de astros que atuavam no exterior, mas abriu uma exceção para Evaristo. Só que o Barcelona não o liberou para a Copa do Mundo. Bons tempos em que o Brasil podia abrir mão de jogadores desse quilate e ainda assim dizer que “a Taça do Mundo é nossa”. Mazzola, do Palmeiras, viajou para a Suécia em seu lugar.
Evaristo retornou ao Flamengo em 1965 já aos 33 anos. Levantou o Troféu do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro e o Carioca, e se aposentou dos gramados dois anos depois. Construiu uma destacada carreira de técnico, chegando a dirigir a seleção brasileira em 1985 e a conquistar o Campeonato Brasileiro pelo Bahia, em 1988. Teve também grande destaque como treinador no futebol pernambucano, baiano e gaúcho.
Suas principais conquistas pelo Flamengo são os cariocas de 1953/54/55 e 1965. É o 20º maior artilheiro da história d'O Mais Querido, com 103 gols.
Cresci ouvindo que Dida era o maior ídolo do Flamengo depois de Zico. Talvez seja uma declaração exagerada para um clube tão repleto de ídolos de todos os tamanhos. Mas a própria existência do debate revela não só a dimensão extraordinária desse alagoano como também o espanto de que esteja um tanto esquecido nas últimas décadas.
Começou nas divisões de base do CSA, e logo chamou atenção dos olheiros do Flamengo durante uma partida do Campeonato Brasileiro [de Seleções: cada Estado fazia uma seleção de melhores jogadores e elas disputavam o campeonato brasileiro. Ainda não havia um torneio nacional de clubes.]
Chegou na Gávea com apenas 20 anos, e participou das campanhas do bicampeonato de 1954 e a do tri, em 1955, reserva de Benítez e Evaristo. Mas não demorou muito pra que seu futebol se impusesse. Marcou nada menos que os 4 gols da goleada aplicada pelo Rolo Compressor no América na decisão do Carioca – recordemos que o campeonato de 1955 terminou na verdade em abril de 1956.
E assim, o gigante de apenas 1,60 m conquistou a Magnética e a titularidade da equipe. Com uma arrancada fulminante e muito faro dentro da área, Dida se tornou o maior artilheiro da história d’O Mais Querido, só superado décadas depois por Zico. Foram 264 em 357 partidas, e uma média de 0,74, superior inclusive a do Galinho.
Não demorou muito para que chegasse à seleção, ainda em 1956. Infelizmente, não deu à equipe canarinho tudo o que podia, sempre se contundindo às vésperas de convocações importantes – uma tendência que lhe garantiu, injustamente, o apelido de “Canela de Vidro”.
E foi com uma grave contusão no calcanhar que ele se apresentou à equipe que disputou a Copa de 1958. Atuou no sacrifício na estreia, em que vencemos os austríacos por 3 a 0, mas foi sacado do time depois em um episódio que nunca foi inteiramente esclarecido. No decorrer da competição, perdeu definitivamente a posição para um menino chamado Pelé, que também chegou machucado na Suécia.
Dida conquistou pelo Flamengo os campeonatos estaduais de 1954/55 e 1963 e o Rio São Paulo de 1961; além de muitos outros torneios de peso, como o famoso Hexagonal do Peru [ou Torneio Internacional de Lima], conquistado pelo Mais Querido em 1959 em cima de potências do subcontinente, tais como River Plate, Peñarol e Allianza. Pela Seleção, fez parte do elenco campeão do mundo em 1958.
Depois de se afastar da Gávea por brigas com o técnico Flávio Costa, brilhou também na Portuguesa de SP, sendo vice-campeão paulista em 1964. Aos 31 anos, foi contratado pelo Junior Barranquilla, da Colômbia, se tornando um ídolo local. Se aposentou aos 34 anos, e trabalhou nas divisões de base do Flamengo até os anos 1980.
Dida foi o legítimo Camisa 10 da Gávea antes do Camisa 10 da Gávea.
Clique nos links para ler os textos anteriores da série:
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