domingo, 16 de junho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Meia-Atacantes: Evaristo de Macedo e Dida

 Continuando a série sobre os maiores da história do Flamengo, apresentados por posição e em ordem cronológica, chegamos a dois dos maiores ídolos da Gávea: Evaristo de Macedo, craque que foi vendido para o futebol europeu e conseguiu a façanha de ser ídolo tanto de Real Madrid quanto de Barcelona; e Dida, o maior goleador e meia-atacante rubro-negro antes do surgimento do Galinho de Quintino. Os links para os textos anteriores da série estão disponíveis no final dessa postagem.



2) EVARISTO DE MACEDO [1953/57; 1965/67]



O lendário radialista Washington Rodrigues, o Apolinho -- que também foi técnico do Flamengo em algumas ocasiões nos anos 1990, incluindo no ano em que se comemorava o Centenário do clube [1995] -- dizia que seu maior ídolo era Evaristo de Macedo. Quando criança, Apolinho brincava de ser Evaristo nas peladas.

De fato, esse carioca é provavelmente um dos gênios subestimados do futebol brasileiro. Ou, melhor dizendo, NO futebol brasileiro, pois seu status na Espanha é gigantesco. Veloz, com técnica monstruosa, e grande mobilidade, atuava em todas as posições do ataque com igual desenvoltura, e era mortal se infiltrando na área como meia-atacante.


Formado nas divisões de base do Madureira, foi convocado para a Seleção Olímpica de 1952. No ano seguinte, com apenas 20 anos, chegou à Gávea para roubar a posição de Benítez e se tornar um dos imortais do clube. Seu futebol potencializou um time que, jogando no 4-2-4 de Fleitas Solich, dominaria o futebol do Rio nos próximos anos e se tornaria um dos mais marcantes do Maracanã.

Rolo Compressor, eis o epíteto que aquela equipe ganhou. Todo o ataque foi parar em algum momento na seleção brasileira.

Com Evaristo não foi diferente. Levantou taças importantes com o time canarinho, que se preparava para conquistar o mundo. E em 1957, se tornou o maior goleador do Brasil em uma partida. A seleção enfiou 9 a 0 na Colômbia no Sul-Americano [‘Copa América’] daquele ano, e Evaristo anotou nada menos que cinco tentos.



O Flamengo era tricampeão carioca, o primeiro da Era Maracanã, e conquistava fama internacional, plenamente consolidada com os amistosos que fez no Brasil e na América do Sul contra a equipe húngara do Honved, base do escrete húngaro liderado por Puskas e que encantou o mundo em 1954. O Ponta de Lança chamou a atenção de europeus, e ele partiu para o Barcelona ainda naquele ano.



Na Espanha, Evaristo se tornou o maior artilheiro brasileiro da história da equipe catalã, só superado décadas depois por Rivaldo [que teve, no entanto, média de gols inferior]. Venceu campeonatos nacionais, duas Copas da UEFA, e em 1962 se mudou para o grande rival, o Real Madrid. O Barcelona queria que ele se naturalizasse espanhol, e ele se negou.

No Madrid, foi tricampeão espanhol, conseguindo ser idolatrado também pela torcida rival. Em sua curta passagem pela Espanha, em meados dos anos 1980, o centroavante Roberto Dinamite se impressionou com a verdadeira paixão que existia por Evaristo.


Infelizmente, a passagem pela Europa lhe custou a posição na seleção brasileira. A CBD não incentivava a convocação de astros que atuavam no exterior, mas abriu uma exceção para Evaristo. Só que o Barcelona não o liberou para a Copa do Mundo. Bons tempos em que o Brasil podia abrir mão de jogadores desse quilate e ainda assim dizer que “a Taça do Mundo é nossa”. Mazzola, do Palmeiras, viajou para a Suécia em seu lugar.



Evaristo retornou ao Flamengo em 1965 já aos 33 anos. Levantou o Troféu do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro e o Carioca, e se aposentou dos gramados dois anos depois. Construiu uma destacada carreira de técnico, chegando a dirigir a seleção brasileira em 1985 e a conquistar o Campeonato Brasileiro pelo Bahia, em 1988. Teve também grande destaque como treinador no futebol pernambucano, baiano e gaúcho.

Suas principais conquistas pelo Flamengo são os cariocas de 1953/54/55 e 1965. É o 20º maior artilheiro da história d'O Mais Querido, com 103 gols.




3) DIDA [1954/63]



Cresci ouvindo que Dida era o maior ídolo do Flamengo depois de Zico. Talvez seja uma declaração exagerada para um clube tão repleto de ídolos de todos os tamanhos. Mas a própria existência do debate revela não só a dimensão extraordinária desse alagoano como também o espanto de que esteja um tanto esquecido nas últimas décadas.

Começou nas divisões de base do CSA, e logo chamou atenção dos olheiros do Flamengo durante uma partida do Campeonato Brasileiro [de Seleções: cada Estado fazia uma seleção de melhores jogadores e elas disputavam o campeonato brasileiro. Ainda não havia um torneio nacional de clubes.]


Chegou na Gávea com apenas 20 anos, e participou das campanhas do bicampeonato de 1954 e a do tri, em 1955, reserva de Benítez e Evaristo. Mas não demorou muito pra que seu futebol se impusesse. Marcou nada menos que os 4 gols da goleada aplicada pelo Rolo Compressor no América na decisão do Carioca – recordemos que o campeonato de 1955 terminou na verdade em abril de 1956.


E assim, o gigante de apenas 1,60 m conquistou a Magnética e a titularidade da equipe. Com uma arrancada fulminante e muito faro dentro da área, Dida se tornou o maior artilheiro da história d’O Mais Querido, só superado décadas depois por Zico. Foram 264 em 357 partidas, e uma média de 0,74, superior inclusive a do Galinho.


Não demorou muito para que chegasse à seleção, ainda em 1956. Infelizmente, não deu à equipe canarinho tudo o que podia, sempre se contundindo às vésperas de convocações importantes – uma tendência que lhe garantiu, injustamente, o apelido de “Canela de Vidro”.


E foi com uma grave contusão no calcanhar que ele se apresentou à equipe que disputou a Copa de 1958. Atuou no sacrifício na estreia, em que vencemos os austríacos por 3 a 0, mas foi sacado do time depois em um episódio que nunca foi inteiramente esclarecido. No decorrer da competição, perdeu definitivamente a posição para um menino chamado Pelé, que também chegou machucado na Suécia.


Dida conquistou pelo Flamengo os campeonatos estaduais de 1954/55 e 1963 e o Rio São Paulo de 1961; além de muitos outros torneios de peso, como o famoso Hexagonal do Peru [ou Torneio Internacional de Lima], conquistado pelo Mais Querido em 1959 em cima de potências do subcontinente, tais como River Plate, Peñarol e Allianza. Pela Seleção, fez parte do elenco campeão do mundo em 1958.


Depois de se afastar da Gávea por brigas com o técnico Flávio Costa, brilhou também na Portuguesa de SP, sendo vice-campeão paulista em 1964. Aos 31 anos, foi contratado pelo Junior Barranquilla, da Colômbia, se tornando um ídolo local. Se aposentou aos 34 anos, e trabalhou nas divisões de base do Flamengo até os anos 1980.

sábado, 15 de junho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Meia-atacante/Ponta-de-Lança: Definição da posição e Perácio


 

DEFINIÇÃO


Essa posição, cujo significado parece bem óbvio para um brasileiro, também precisa de alguns esclarecimentos, que vão acabar por ajudar no entendimento das mudanças táticas ocorridas no futebol brazuca das últimas décadas.

As funções do típico Ponta de Lança se consolidaram com o WM à brasileira, implementado por Flávio Costa no Flamengo em 1938 a partir de modificações no sistema estabelecido, também na Gávea, pelo treinador húngaro Izidor Kurschner [chamado pela imprensa brasileira de Dori Kruschner].

Antes do WM imperava o 2-3-5, conhecido também como “Pirâmide”. O novo esquema atrasava um dos ‘centro-médios’ pra zaga, transformando o desenho em um 3-2-5, ou, de modo mais preciso, num 3-2-2-3 [três beques, dois centro-médios, dois meias, e três atacantes].

O gênio intuitivo de Flávio Costa, no entanto, deixou a rigidez europeia de lado e “entortou” o WM, inventando a Diagonal, um meio-caminho para o 4-2-4, e que dominaria o futebol brasileiro por mais de quinze anos.


Imagem retirada do livro "A escola brasileira de futebol", de Paulo Vinícius Coelho

A Diagonal funcionava da seguinte maneira: se no WM tradicional se recuava o centro-médio “central” para a primeira linha de defesa, que passava a contar com três zagueiros; no esquema de Flávio Costa, quem voltava em primeiro lugar era um dos centro-médios dos lados do campo [que mais tarde se tornariam os “laterais direito e esquerdo”]. Podia ser o centro-médio da direita [lateral direito] ou da esquerda [lateral esquerdo].

Foi criada uma “cultura futebolística” a partir dessas inovações. A numeração das camisas [de 1 a 11] obedecia a posição dos jogadores em campo. Na pirâmide [2-3-5], o número 1 pertencia ao goleiro. A camisa número 2 era entregue ao beque à direita, e a 3 ao beque à esquerda. A camisa 4 ia para o centro-médio à direita [futuro lateral direito], a 5 para o centro-médio central, e a 6 para o centro-médio à esquerda. Assim sucessivamente, da direita para a esquerda, até a camisa número 11 dada ao atacante que se posicionava na ponteira esquerda.

Já no novo sistema, a Diagonal, se o centro-médio posicionado na linha de zaga [3-2-5] fosse o “lateral direito”, ele recebia a camisa número 2. Os beques recebiam a 3 e a 4. Depois, na nova “linha média”, o centro-médio central ficava com a 5 e o centro-médio à esquerda [o “lateral esquerdo”] recebia a 6.



Essa numeração defensiva se cristalizou nas mentes e corações brazucas depois da consolidação do 4-2-4, nos anos 1950, mas tinha variações quando do nascimento da Diagonal. Porque se o centro-médio recuado pra linha de defesa fosse o da esquerda, ele recebia a camisa 3 e o “lateral direito” permanecia mais avançado com a 4.

Mas isso não explica ainda a inovação e a consolidação do Ponta de Lança. O esquema era “torto” no meio também. Se o centro-médio por um dos lados [direito ou esquerdo] voltava para a linha de defesa [se o direito, voltava com a camisa número 2; se o esquerdo, voltava com a camisa número 3], ele formava uma linha [Diagonal, daí o nome do sistema] com o centro-médio central e um dos meias, que ficava mais avançando e se tornava o armador da equipe. Se a diagonal começasse na direita, o meia armador ganhava a camisa 10. Se começasse na esquerda, ele ganhava a camisa 8.

O outro meia se tornava um atacante um pouco atrás do centroavante. O ponta de lança, que se infiltrava na área como uma flecha vinda de trás. Se abstrairmos os ponteiros, esse meia se tornava um segundo atacante pelo centro vindo um pouco mais atrás do homem de área, e entrando em diagonal seja da direita ou da esquerda [dependendo do tracejado da Diagonal].
Dependendo da Diagonal, ele jogaria com a 8, como Tostão no Cruzeiro, ou com a 10, como Pelé no Santos. Mais tarde, com o sucesso de Pelé e a consolidação do 4-2-4, a organização das camisas na organização ofensiva se faria de outra maneira.

Com o 4-2-4, a diferença entre o meia armador, que cadenciava e ditava o ritmo de jogo no meio campo, e o ponta de lança, que jogava próximo da área como um segundo avante [um avante atrás do centroavante], se firmaria definitivamente. Mas aqui é necessário fazer uma outra série de considerações.



As mudanças táticas nos anos 1980 e 1990 formaram quadrados no meio campo e puseram fim aos ponteiros [ponta-direita e ponta esquerda]. O fim dos pontas foi acompanhado também de esvanecimento da posição de centroavante típico e a formação da última grande revolução do futebol brasileiro, a criação do Atacante [que estou grifando com maiúscula pra diferenciar do conceito mais genérico].

O Atacante total não era ponteiro nem era centroavante, era um atleta que vinha em diagonal para o meio da área, jogava pelos lados, e se infiltrava para decidir o lance. Zagallo chamava o Atacante brasileiro dos anos 1980 e 1990 de Ponta de Lança. Está correto, porque o Ponta de Lança é, em muitos aspectos, o modelo ou protótipo desse Atacante total ou “Comandante de Ataque”.

Mas era um ponta de lança especial. Primeiro, porque ele se dava em uma nova disposição tática, com quadrados no meio campo. Segundo, ele não matou definitivamente a posição e função clássica de ponta de lança/meia-atacante [o meia que joga mais próximo da área], que conviveu comumente com ele; e sim a função de ponteiro [ponta direita e ponta esquerda].

Mesmo quando o novo Atacante [ou ponta de lança dos anos 1980 e 1990, segundo Zagallo] era um ponta de lança original [pensem em Bebeto, Rivaldo, Edílson “Capetinha”, Ronaldinho Gaúcho no Flamengo de Luxemburgo etc.] – e muitos eram ex-ponteiros, como Romário, Renato Gaúcho, Edmundo, Muller etc. --, ainda assim, a posição que morreu taticamente foi a de ponta direita e esquerda.



Não é à toa que, quando os ponteiros ressuscitaram na Europa nos anos 2000, com a adoção do 4-2-3-1, o Atacante começou a desaparecer e toda uma geração brasileira preparada pra essa função teve dificuldade de se adaptar às novas configurações, já que não eram formados pra ser nem centroavantes nem ponteiros.

Vou colocar Ponteiros e Atacantes [nesse sentido de ponta-de-lança dos anos 1990, ou Atacante total, ou ainda ‘Comando de Ataque’] juntos na próxima seção, e não com o Ponta de Lança tradicional, também chamado de Meia-Atacante, aquele Meia que joga mais próximo da área, se infiltrando nela como um centroavante.

Vamos então à lista de maiores Pontas de Lança/Meia Atacantes da História d’O Mais Querido.



1) PERÁCIO [1942/47]



Perácio foi o primeiro Ponta de Lança típico a marcar época não só na Gávea como no futebol brasileiro. Mineiro de Villa Nova, teve passagens relâmpagos pelo Fluminense e pelo Palestra Itália [atual Palmeiras] antes de se tornar jogador do Botafogo, em 1937, apenas aos 20 anos de idade.

Atuações magistrais o levaram direto pra seleção brasileira, em que teve atuação destacada na Copa do Mundo de 1938, marcando gols contra Tchecoslováquia e Suécia.

O sucesso não fez bem ao garoto, que se tornou um “baladeiro” no Rio, inventando mil desculpas para faltar aos treinamentos em General Severiano. O negócio de Perácio eram as noitadas. A perda do Carioca para o Flamengo, em 1939, manchou de vez sua reputação no alvi-negro, e foi questão de tempo até que tivesse seu contrato rescindido.



Em baixa, Perácio atuou em 1941 pelo Canto do Rio, recuperando sua forma e voltando a ser cobiçado por grandes clubes. No ano seguinte, estava na Gávea, pra fazer parte de um dos grandes esquadrões da história d’O Mais Querido, ao lado de Leônidas, Zizinho, Domingos da Guia, Jayme, Biguá, Volante e outros.

No Flamengo, Perácio jogava na Diagonal, o WM inventado por Flávio Costa, e se consolidou como o primeiro grande Meia-Atacante do clube. Teve importância inestimável na conquistados campeonatos de 1942 e 1943, e só não participou inteiramente da campanha do tri porque foi convocado para a Segunda Guerra Mundial. Na Itália, foi motorista do General Cordeiro de Farias e esteve próximo às tropas que combateram em Monte Castelo.

Voltou ao Flamengo em 1945. O time perdeu o domínio do Rio para o então ascendente Expresso da Vitória vascaíno, mas Perácio continuou brilhando até a temporada seguinte, em que foi artilheiro do Carioca.



Seu prestígio n’O Mais Querido só foi abalado em 1947, pelas constantes festas e pela idade que chegava. O Flamengo contratou Jair da Rosa Pinto, e Perácio teve o contrato rescindido.
Figura folclórica, repleta de historietas deliciosas divulgadas por Mário Filho, Perácio se tornou chofer em São Paulo até fazer um último jogo de despedida do Flamengo em 1951.

domingo, 9 de junho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Meia-armadores: Renato Abreu; Éverton Ribeiro; Gérson; e Outros

 Parte final da posição de meia-armador, apresentada em ordem cronológica. Nesse texto, três jogadores simbólicos da transição que levou ao Flamengo atual: Renato Abreu, que foi identificado pela torcida com o próprio totem do clube; Éverton Ribeiro, um dos principais capitães dos "Curingas"; e o próprio "Curinga" em pessoa, Gérson "Vapo", que criou o símbolo de dominância do time 'corta-cabeças' de 2019. Além disso, a 'segunda prateleira', com meias que chegaram próximo ou que poderiam estar incluídos entre no Olimpo d'O Mais Querido do Brasil. Na próxima postagem os meia-atacantes ou Pontas-de-Lança que marcaram época no Flamengo. Clique nos links no fim deste texto para ler as postagens anteriores.



8) RENATO ABREU, "O URUBU-REI" [2005/07; 2010/13]




O ''Canhão da Gávea'' simboliza uma importante transição. Ele chegou n'O Mais Querido em um dos momentos mais conturbado e desafiadores já vistos na Gávea. Ao longo de suas passagens, no entanto, o Flamengo se tornou capaz de disputar títulos nacionais mais uma vez. Curiosamente, sua jornada acaba também por causa da segunda etapa da transição, que recuperaria inteiramente o clube mais popular do país.

Renato já era jogador maduro, com 27 anos de idade, quando decidiu trocar o vitorioso Corinthians, em que era coadjuvante, por um Flamengo de estrutura e finanças destruídas, que mal conseguia se segurar na primeira divisão do campeonato brasileiro. Parecia um mau passo na carreira, mas foi ela que lhe garantiu imortalidade.



A excelência técnica não é a única via para a imortalidade. Na verdade, ela raramente é suficiente. Renato Abreu estava longe de ser brilhante nesse quesito. Mas sua identificação com a torcida e seus feitos no clube lhe garantiram a presença nessa lista ao lado de jogadores de muito mais refinamento e recurso.

Profissional dedicado, ganhou da torcida o apelido do animal símbolo do clube. Se tornou especialista nas bolas paradas. Chegou a marcar dois gols de falta numa mesma partida, contra o Campinense, nas fases iniciais da Copa do Brasil de 2013. Até Gabigol superar sua marca, era o maior artilheiro do Flamengo no século XXI, com 73 gols marcados.



Campeão da Copa do Brasil em 2006 e do Carioca em 2007, Abreu teve passagem de sucesso pelo futebol árabe, antes de retornar ao Flamengo em 2010, já aos 32 anos. O clube era agora campeão brasileiro, e logo contrataria Ronaldinho Gaúcho. Achou seu lugar ainda assim, e participou da conquista do título invicto do Carioca 2011.

O fim de sua trajetória na Gávea foi uma das mais fortes sinalizações dadas por Eduardo Bandeira de Mello no seu primeiro ano como Presidente d'O Mais Querido. O contrato do ''Urubu Rei" foi rescindido de modo unilateral em meados de 2013. Ele tinha o salário mais alto da equipe, que escolheu o caminho da contenção financeira e da reestruturação, que possibilitou a "mudança de patamar'' dentro do Brasil e da América Latina.



Ainda assim, o "Canhão da Gávea'' tem de ser considerado campeão também da Copa do Brasil daquele ano, já que participou, e foi decisivo inclusive, das três primeiras fases da competição que culminaria com o título rubro-negro no fim da temporada.

Renato Abreu defendeu o Manto Sagrado em mais de 270 partidas. Seus principais títulos no Flamengo são os Cariocas de 2007 e 2011, e as Copas do Brasil de 2006 e 2013.





9) ÉVERTON RIBEIRO, "O MITEIRO" [201/2023]


Ás do drible e do ritmo de jogo, o "Miteiro" foi um dos mais vitoriosos atletas brasileiros da última década. Paulista revelado pelo Corinthians e com passagem de grande sucesso no Coritiba e no Cruzeiro, chegou ao Flamengo aos 27 anos de idade e participou ativamente da construção de equipes que marcou história no futebol sul-americano tanto em termos técnicos quanto táticos.



A importância de Everton para o novo período de dominância rubro-negra não pode ser subestimada. Era liderança técnica e moral dentro dos “Curingas”, como era conhecida a espinha dorsal do elenco. Profissional dedicado, sem estrelismos fora de campo, nunca fez questão de procurar holofotes só para si. Apesar de toda habilidade com a pelota, sempre foi atleta de grupo, cuja voz se fazia ouvir de modo mais forte no vestiário, e cuja influência se exercia de modo mais decisivo pelo exemplo. Não à toa, foi capitão do time em um dos períodos mais estrelados d'O Mais Querido do Brasil.



Campeão carioca em 2019/20/21, Supercopa do Brasil 2020/21; Recopa Sul-Americana em 2020; Copa do Brasil 2022; Campeonato Brasileiro em 2019/20; Libertadores da América em 2019 e em 2022. Suas atuações o levaram de volta à Seleção e lhe possibilitaram realizar o sonho de disputar uma Copa do Mundo, no fim de 2022.



Éverton não renovou o contrato com o Flamengo para a temporada de 2024, e aceitou a proposta do Bahia, SAF gerida pelo Grupo City. Seu dia a dia no clube e o modo respeitoso com que saiu à busca de novos desafios estão entre os modelos a serem replicados por todos os ídolos.



Foram 398 partidas pelo Flamengo, o que faz dele o 19º atleta que mais vestiu o Manto Sagrado. Nesse período, marcou 46 gols e deu cerca de 60 assistências.



10) GÉRSON "CURINGA", "O VAPO" [2019/21; 2023/ATÉ O PRESENTE]



É sempre arriscado colocar um jogador jovem em uma lista dessas. Mas Gérson é uma daquelas exceções às regras. Ninguém contesta sua importância na formação de uma das equipes mais dominantes já surgidas em nosso futebol, raiz de uma revolução, ou antes aprimoramento tático que sacudiu o esporte brasileiro.

É bem provável que no futuro esse time seja conhecido como o Flamengo de Gabigol. E que jogadores como Bruno Henrique sejam considerados bem mais decisivos. Que a fama de Filipe Luís como cérebro dentro de campo se consolide definitivamente. Mas a “liga” da famosa equipe de Jorge Jesus, a “alma” por trás da supremacia, tem a cara do “Curinga”, apelido dado pelo técnico português e que depois foi estendido para todo o grupo. [Internamente, os líderes eram “os Curingas”.]



Do mesmo modo, o gesto que define o Flamengo de 2019 não é tanto os muques de Gabigol, mas o “Vapo”, revelado por Gérson à torcida em seu terceiro jogo, ao marcar um gol no clássico contra o Botafogo. Aquele time era matador, impiedoso: cortava as cabeças dos adversários.

O “Curinga” nasceu em Belford Roxo, no Grande Rio, e foi um dos muitos jovens revelados pelo Fluminense em Xerém. E também seguiu o mesmo caminho da maioria deles, negociado com o exterior com apenas 18 anos de idade. Gérson não encontrou espaço no futebol italiano. A Roma o emprestou para a Fiorentina, e o atleta parecia encostado.



Parecia, porque a diretoria do Flamengo tinha um sonho antigo no jogador, anterior mesmo à chegada do técnico Jorge Jesus, monitorava a situação e chegou a fazer proposta por ele no início de 2019. A negociação, uma das mais caras da história do futebol brasileiro, só se concretizou no meio do ano, e se mostrou um dos maiores acertos das últimas décadas.

Gérson sempre foi rubro-negro, e sempre fez questão de demonstrar seu amor pela camisa. Começou sendo usado nas meias direita ou esquerda, mas depois que Cuellar foi embora para a Arábia e Jorge Jesus adotou como sistema principal o 4-4-2, se tornou o segundo homem do meio campo, responsável pela imposição física na segunda bola, pelo ritmo do time, e pela distribuição de jogo.



Seu futebol encantou os analistas. Para eles, Gérson se tornou quase que sinônimo do caráter diferenciado do Flamengo. Sua presença na seleção brasileira passou a ser pedida, depois exigida. Em meio a tudo isso, o “Curinga” empilhou taças, decidiu títulos [vide a Recopa, contra o Independiente del Valle], e conquistou a admiração irrestrita tanto da Magnética quanto das torcidas adversárias.

Logo, logo chamou a atenção da Europa que o havia rejeitado e voltou para o Velho Mundo pra atuar no time de maior torcida do ascendente campeonato francês, o Olympique de Marselha. Sua história não tinha terminado no Flamengo. O clube se esforçou para trazê-lo de volta para a disputa do Mundial de Clubes de 2022, disputado no início de 2023. Foi no entanto uma experiência decepcionante, assim como o restante da temporada. O "Curinga", ainda que um dos melhores da equipe, não rendeu tudo o que se esperava dele, e ainda se envolveu em acontecimentos polêmicos dentro e fora do campo, como a expulsão na semifinal do Mundial e os socos trocados em um treino com o lateral Varela.



Mas 2024 já trouxe de volta os bons ares. Gérson se consolida como um meia ponta armador pela direita. O bom futebol voltou, e também os títulos. Com apenas 27 anos de idade, a confiança da diretoria e da comissão técnica da equipe, a paixão que demonstra pelo Manto Sagrado, e uma incontestável liderança no grupo, o "Curinga" tem a oportunidade de se consagrar como um dos mais vitoriosos e idolatrados meias que já passaram pelo Mais Querido do Brasil.

Até aqui, conquistou pelo Flamengo os Cariocas de 2020/21 e 2024, a Supercopa do Brasil 2020/21, os Brasileiros de 2019/20; a Recopa Sul-Americana de 2020, a Libertadores da América de 2019.





OUTROS

Para terminar a lista dos meias, cito alguns que não entraram na prateleira principal por causa de critérios meus, mas que estiveram próximos, ou que poderiam entrar caso algum critério fosse alterado.

I) GÉRSON “CANHOTINHA DE OURO” [1959/63]




Muitos rubro-negros desprezariam a inclusão de Gérson na lista. Ele saiu do Flamengo brigado, era tricolor de coração e alcançou muito mais projeção quando jogou pelo Botafogo e pelo São Paulo [time em que atuava quando foi campeão em 1970, Copa de que saiu como o segundo melhor jogador]. Mas a verdade é que Gérson fez bela figura n’O Mais Querido. Começou jogando bola nas areias da praia de Icaraí, em Niteroi, e foi descoberto no Canto do Rio por Modesto Bría, de quem já falamos na seção sobre Volantes. Profissionalizado pelo Flamengo em 1959, com apenas 18 anos de idade, roubou gradualmente a posição de Moacir, que havia sido campeão do mundo pela seleção. Já era dono da camisa quando vencemos o Torneio Rio SP de 1961 e foi fundamental na conquista do Carioca de 1963.


II) CARPEGIANI [1977/81]




É um daqueles meia-armadores que ficaram conhecidos como “segundo volante”, embora fossem bem mais úteis na distribuição de jogo e passe longo do que no combate direto à frente da área. Chegou na Gávea aos 28 anos de idade, já consagrado e vindo de um vitorioso Internacional. Trazia também problemas físicos e uma operação no menisco, o terror daquela época. Seu papel na construção do time da Era de Ouro é inestimável, inclusive fora de campo, já que se tornou treinador d’O Mais Querido após pendurar as chuteiras. Conquistou as Taças Guanabara de 1978/79, o tricampeonato estadual de 1978/79/79 especial, e o Brasileiro de 1980.


III) DJALMINHA [1990/93]




Nascido em Santos e formado nas categorias de base da Gávea, é mais um atleta cuja inclusão na lista seria polêmica. Mas a verdade é que era ídolo dos rubro-negros desde o título da Copinha em 1990. Profissionalizado no mesmo ano, teve participação ativa no elenco campeão da Copa do Brasil de 1990, do Carioca de 1991 e do Brasileiro de 1992, atuando em muitas partidas, ora como meia esquerda ou mais centralizado. Nunca conseguiu se firmar como titular por um motivo bem simples: a presença de Júnior no time principal. Foi praticamente expulso da Gávea depois de briga em campo com Renato Gaúcho, mas era uma desculpa da desastrosa gestão de Luiz Veloso para vender jogadores e pagar salários atrasados. Depois de aposentado, fez parte da equipe rubro-negra de Showbol, pela qual foi campeão brasileiro.



IV) NÉLIO "MARRECO'' [1990/94; 96/97; 98]




No famoso time de juniores que ganhou a Copinha em São Paulo, em 1990, Nélio jogava como centroavante. Era companheiro de uma trupe de amigos que marcaria a década seguinte: Djalminha, Marcelinho [depois chamado de 'Carioca'], Paulo Nunes, Júnior Baiano etc. Logo que estreou no time principal, mudou para atacante 'genérico'/ponta de lança [falarei sobre essas transformações táticas mais pra frente], decidindo um jogo contra o Vasco da Gama em 1990, com apenas 19 anos de idade. O genial Carlinhos transformou o futebol daquele atacante franzino e habilidoso, que demonstrava dribles curtos de futebol de salão mas não tinha grande poder de finalização. Na montagem do time campeão carioca de 1991 e Brasileiro de 1992, Nélio ganhou funções defensivas, atuando pelos corredores e chegando de trás como um meia armador. Foi o auge do futebol do ''Marreco'', quando apresentava não só grande qualidade técnica, mas fôlego pra correr cobrir o campo de intermediária à intermediária. Chegou à seleção pré-olímpica e conquistou a Bola de Prata da Placar pelo desempenho no Brasileiro de 1992. Infelizmente, teve problemas sérios nos joelhos, um no início da carreira, e outro na final do Brasileiro de 1992. As cirurgias permitiram que voltasse bem ao futebol, mas já não conseguia mais cumprir com desenvoltura todos os papéis que o consagraram. Ainda assim permaneceu peça importante do elenco da Gávea. Sua entrada no time foi crucial, por exemplo, para a campanha do título invicto do Carioca de 1996, vencendo os dois turnos mais uma vez em cima do Vasco. O ''Marreco'' ainda era um dos jogadores que faziam de tudo pra jogar no clube do coração. Mesmo quando emprestado ao Guarani no ano do Centenário, fez de tudo para voltar pra casa. Infelizmente, o gol da vitória do Grêmio na final da Copa do Brasil de 1997 saiu pelo seu lado. Ele cansou e não acompanhou a subida do lateral adversário. A falha colocou fim a seus tempos de Flamengo, mas não arranhou nem um pouco sua importância histórica. Nélio defendeu o Manto Sagrado em mais de 300 partidas. Conquistou a Taça Guanabara de 1996, os Cariocas de 1991 e 1996, a Copa do Brasil de 1990, e o Campeonato Brasileiro de 1992. Depois que saiu da Gávea se tornou um cigano, encerrando a carreira no Flamengo do Piauí, em 2010, com 39 anos de idade. Aposentado, entrou para a equipe Master e de showbol d'O Mais Querido.


IV) BETO “CACHAÇA” [1998/2000;2001/02]




Nascido em Cuiabá, foi formado nas divisões de base do Botafogo. Fez muito sucesso no clube da estrela solitária, conquistando o Campeonato Brasileiro de 1995 e chegando à seleção brasileira. Vendido ao Napoli, não fez sucesso na Europa. Chegou ao Flamengo em 1998, sendo peça fundamental do tricampeonato carioca de 1999/2000/2001, em cima do Vasco; da Copa dos Campeões de 2001, em cima do São Paulo; e da Copa Mercosul 1999, em cima do Palmeiras. Pela seleção, foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de 1996 e campeão da Copa América em 1999.


V) DIEGO RIBAS [2016/2022]




Considerado um menino de ouro no Santos no início dos anos 2000, se tornou ídolo do Werder Bremen, na Alemanha. Foi o primeiro grande jogador a acreditar no projeto do atual Flamengo, chegando no clube com 31 anos de idade, em 2016. Os fracassos do clube nas primeiras temporadas o deixaram marcado com parte da torcida, mas jamais abalaram seu status com a maioria. Sua importância no elenco se tornou fundamental, mesmo depois de perder a titularidade incontestável. Campeão Carioca em 2017, 2019/20/21, Supercopa do Brasil 2020/21; Copa do Brasil em 2022; Brasileiro em 2019/20; Recopa Sul-Americana em 2020; Libertadores da América em 2019 e 2022. O tempo demonstrou que a importância de sua liderança no vestiário e a dignidade e competência com que exerceu o papel de Camisa 10 da Gávea. Tem medalha de bronze nas Olimpíadas de 2008 e conquistou a Copa América de 2004 e 2007.