terça-feira, 27 de agosto de 2019

A Amazônia é brasileira, mas não como pensam Bozó e o Exército


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A percepção do governo Bozó sobre a Amazônia é exatamente aquela vendida pelas Forças Armadas desde sempre. Eles pensam que a história da colonização no território brasileiro é a da ''integração'' [forçada] dos povos indígenas, ocupação por eurodescendentes [eles se vêem como continuadores da colonização portuguesa] e exploração econômica.

Daí as críticas que Augusto Heleno fez na década passada à política indigenista, declarando que ia em sentido contrário à construção do país. O oficiais superiores do Exército não parecem perceber que, desse modo, confessam o caráter genocida e predatório que a presença luso-brasileira muitas vezes representou para os povos nativos.

Os generais dão assim razão a Aílton Krenak, que tem dito que a guerra contra os índios nunca parou um dia sequer no Brasil desde a chegada dos europeus. Que nesse momento mesmo os indígenas lutam pela sobrevivência física e cultural, e pela manutenção de suas terras ancestrais contra uma série de agressões, invasões e morticínios. ''Estamos em guerra", continua o ex-deputado.

O Exército se ressente que a Constituição de 1988 tenha dificultado esse processo de extermínio. Eles não conseguem enxergar qualquer outra solução para a soberania brasileira em que a floresta permaneça de pé. ''Projeto Bandeirantes'', de fato.

Daí que nessa visão, a política indigenista, o discurso preservacionista e a intervenção estrangeira sejam sinonimizados. A depredação para a exploração econômica, destruição das comunidades e culturas ancestrais é vinculada, no raciocínio dicotômico, ao nacionalismo.

Se é verdade que o imperialismo e os interesses econômicos internacionais podem se utilizar de ONGs ambientalistas, movimentos indígenas e preservacionismo como forma de intervenção política e econômica, é evidente também que muitas vezes a equação que se faz com esses elementos não fecha.

Historicamente, sempre existiram projetos econômicos de outros países na exploração dos recursos da região. As lembranças do projeto Jari e as tratativas de Rockfeller para a construção de empreendimentos industriais na Amazônia ainda estão muito vívidas. O próprio governo Jair Bozó quer vender terras a estrangeiros e permitir que mineradoras do Canadá, EUA e outras nações atuem em reservas indígenas, atraindo forte oposição dos povos nativos e de ambientalistas.

A demarcação de terras indígenas, com a utilização de nativos em tropas do Exército brasileiro, é uma solução engenhosa para a manutenção da nossa soberania na Amazônia. As terras indígenas pertencem à União, e são dadas como posse coletiva -- sem possibilidade de propriedade individual -- às comunidades ancestrais. O acordo não impede a exploração do subsolo pela União, desde que com consentimento dos habitantes do local e com a divisão com eles dos possíveis frutos da exploração.

É risível que o Exército pense a sério que a defesa do território brasileiro dependa de atividades econômicas caóticas e destruidoras deste mesmo território e dos povos que nele vivem. Muito mais inteligente seria exigir um investimento na indústria de monitoramento por satélites e tecnologia militar na fronteira. A visão dos generais, nesse e em outros campos, é míope, curta e rasteira.

A Amazônia é brasileira e sul-americana não porque temos direito a destruí-la antes que europeus, norte-americanos e chineses. Não se trata de uma competição pra saber quem achincalha primeiro o meio ambiente e mata os indígenas e seus complexos culturais.

A floresta é brasileira e sul-americana porque nosso processo civilizacional -- em grande parte herdeiro dos povos nativos cujo sangue e cultura vivem em nossos corpos e almas -- é capaz de guardá-la, conviver com ela e mantê-la e aos povos que ali interagem, de maneira orgânica e singular. Porque somos capazes de vê-la para além de uma mero conjunto de recursos materiais, fonte de lucro ou museu. Porque ela é elemento indissociável de nossa identidade.

Qualquer ''uso'' dos recursos amazônicos tem de obedecer estes princípios. Mesmo a consideração de que a biodiversidade da região é a maior do planeta e que ela pode gerar mais riqueza de pé do que detonada tem de se submeter aos parâmetros acima.

A Amazônia é nossa, sim, sempre foi. O que implica dizer que ela não é ocidental, e não agiremos nela como colonizadores, imperialistas e estrangeiros de toda ordem acabariam por fazer.


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

As estripulias do Reino parte II -- Bozó e a grande mídia

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Já passou da hora dos opositores do Reino dos Bozós que reclamam recorrentemente que parte dos que elegeram o atual Presidente não acreditam nos erros, equívocos e bobagens que ele fala, ou nas medidas políticas que ele toma e que acabam sendo deletérias para as classes populares e para a soberania brasileira, saltarem do muxoxo para a reflexão.

No dia seguinte à final da Copa América, fui a uma farmácia perto de onde moro. Enquanto pagava minhas compras, vi dois jovens conversando. Um deles dizia ter lido um sujeito que compareceu ao jogo e disse que era mentira que Bozó tivesse sido vaiado, que era ''invenção da Globo''.

Como chegamos a esse ponto?

Desde 2013 estamos passando pelo colapso da Nova República, pactuada entre 1984 e 1994. Os principais pilares desse arranjo foram sacudidos por crises, as intermediações das autoridades e o povo estão em frangalhos por diversos motivos.

Um desses pilares é a credibilidade da grande mídia. Durante décadas, vários setores do campo político brasileiro denunciaram, de maneira precisa, a venalidade da imprensa e seu papel de caixa de ressonância do liberalismo e do entreguismo.

Todos sabíamos do papel que grupos como o Abril, a Globo, e as cadeias de jornais e rádios possuíam no nosso país. O povo percebia a função de ''partido da elite'' dessa mídia, embora tivesse suas próprias queixas, como a de que ''as novelas da Globo só tem porcaria'' -- queixas que o beatiful people esquerdeiro e cosmopolita das classes médias de culpa burguesa não podiam fazer.

Quando chegou ao poder, os petistas tiveram a oportunidade de combater o grande monstro do ''partido da elite'', aprovando medidas de regulação da mídia. Em vez disso, preferiram pactuar com ele, achando que podiam controlá-lo por meio de uma suposta dependência de jornais e redes de TV de verbas de publicidade governamentais e de renegociações de dívidas antigas.

A miopia é evidente, já que o poder da grande imprensa se exerce por meios sutis muitas vezes, atuando no imaginário, em sensibilidades que não se esgotam com a literalidade da notícia veiculada. Além disso, a descrença no aparato midiático já estava consolidada na visão da população, e a pactuação com esse quarto poder da democracia liberal-burguesa só poderia ser lida por ela como sendo um acordo com o diabo.

O PT pensou que podia aproveitar o avanço da tecnologia das informações e o advento da Internet para criar seu próprio espaço de propaganda: uma profusão de sites e páginas na web e nas principais redes sociais que divulgassem e defendessem as figuras e políticas do governo.

A seita lulista não percebia que estava tão somente lidando com bolhas de classe média, falando para os seus, sem conseguir se enraizar no povão ou atingi-lo com suas narrativas. A popularização de aplicativos de mensagens criou o terreno favorável para que contra-discursos hegemônicos percorressem nichos cada vez maiores das classes populares com uma velocidade que não mais pode ser acompanhada pelos veículos de mídia tradicionais.

Claro que todo esse contexto tem similaridades com o que ocorre na Europa e nos Estados Unidos, que está vinculado à radicalização da sociedade do espetáculo e da pós-verdade. Mas no Brasil trouxe características próprias, na medida que os grandes grupos da imprensa venal nunca foram considerados como balizas de verdade jornalística.

O lixo político da sociedade brasileira saiu na frente nesse novo jogo, colocando em campo instrumentos de disparos de mensagens financiados por empresários pilantras e aplicando tecnologias de contra-informação vanguardistas desenvolvidas em ambientes militares.

Mais importante ainda, isso deu a Jair Bozó a oportunidade de sustentar narrativas em suas redes de informação ao mesmo tempo em que posava de campeão numa guerra contra a Grande Mídia, o partido do establishment. Seu conflito contra a imprensa venal é um meio de manutenção de sua credibilidade em sua base política mais fanatizada. Dá a essa massa um sinal de que seu candidato e líder não saiu do prumo, não contemporizou com os poderes estabelecidos.

Brizola faria o mesmo.

domingo, 25 de agosto de 2019

As estripulias do Reino parte I -- Introdução: atravessaram a música


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Boa parte dos cada vez mais escassos defensores do atual governo ainda não perceberam que Bozó não é um porta-voz das hostes neoliberais. Não em sentido estrito. Ele é no máximo um escudo ou instrumento usado, com muita má vontade, pelo ''mercado'' financeiro e pelos poderes apátridas que resolveram nos agrilhoar à geopolítica ianque.


Antes, o neoliberalismo usava Fernando Henrique Cardoso e Lulla-lá como instrumentos para governar o Brasil. Eles não conseguem fazer um presidente próprio, e tem de lidar com aquilo que sai das urnas, da melhor forma possível. 


Assim como o PSDB e o PT, Jair Bozó trouxe seus próprios problemas para os neoliberais. Mas são problemas de uma ordem diferente e em um diferente período histórico da política nacional.


A Nova República era o cenário bastante propício pra agência entreguista dos rentistas e parasitas. Mas ela se tornou insuficiente diante do agravamento das disputas geopolíticas, do fim do unilateralismo dos EUA, da ascensão chinesa e russa.


A função da Operação Lava Jato era proporcionar o contexto e o instrumento para a derrocada das elites políticas e de suas instituições, para o fim da Nova República, e para um realinhamento total do nosso país à guerra de hegemonia travada pelos Estados Unidos. Para isso, deveria contribuir para a formação de um novo consenso social, um novo imaginário liberal, e a emergência de uma ''nova geração'' político-partidária -- que tal como os audios trocados por Sarney, Sergio Machado, Romero Jucá e Renan Calheiros apontavam, teria a figura pública de uma ''casta pura'' --, graduada em universidades estadunidenses, com perfil de subcelebridades, de juventude esclarecida e ocidentalizada etc.


Toda essa transformação se apoiaria em tendências e projetos já enraizados e consolidados na mentalidade de certos grupos e classes brasileiros: o lacerdismo moralista anti-corrupção, a ideologia patrimonialista, a teoria da dependência, o cosmopolitismo identitário pós-moderno.


 Mas foi aí que deu ruim.


Em vez de dar lugar a uma nova geração de políticos com perfil do Luciano Huck, da Tabata Amaral, João Amoedo e do Kim Kataguiri -- sonhos mirabolantes dos entreguistas da Pátria para reduzir de vez o Brasil a uma colônia atlantista --, o que acabou surgindo foi o Reino dos Bozós.


Antes que os MBL e os NOVO da vida conseguissem angariar capital político, eis que surge como um raio o Bozó e sua trupe de lunáticos. Eles atravessaram a música que estava sendo tocada, para desagrado dos poderes que estavam com a batuta na mão. O processo social é indomável, não se controla ânimos populares e agentes políticos em um país complexo como o Brasil, pelo menos não tão facilmente.


E eis que em vez de um governo de Marina Silva ou Geraldo Alckmin, o plano de derrocada da Nova República teve de lidar com Jair e seus pimpolhos: Carluxo, Dudu e Flávio.


Ainda assim, alguns dos principais poderes que uniram pela derrocada da Nova República resolveram embarcar na aventura. ''Só tem tu, vai tu mesmo''. Pra falar a verdade, esses poderes nunca fazem uma aposta única, e podemos estar certos que Bozó era uma alternativa contemplada desde o início. Mas era a última das possibilidades, como se fosse aquela carta na manga se tudo o mais falhasse. E só pôde se apresentar assim pelo aval dado por Paulo Guedes, e depois por Serginho do Mal.



Daí que o Reino se tornou veículo das agências de inteligência estadunidenses, submetido à influência do agente de informação ianque-sionista Olavo de Carvalho. Serginho do Mal, maior representante do lacerdismo tenentista jurídico alimentado pela NSA também se juntou ao Brancaleone do Rio de Janeiro em sua cruzada anti-comunista.



Só que os neoliberais do ''mercado financeiro'' não conseguiram um acordo de fato com a trupe de lunáticos. Não foi por falta de tentativa, claro, mas lá pra meios de abril já tinham visto que não ia funcionar.


Eles tiveram de escanteá-lo e trocar figurinhas com o eixo construído em torno de Paulo Guedes e Rodrigo Maia. De modo que continuaram governando, assim como governam em toda a Nova República. 


O governo é tocado no dia a dia por uma versão mais radical dos partidários da mesma ideologia que nos destrói desde Fernando Collor de Mello. Todo o fracasso da Nova República tem de ser colocado na conta desse verdadeiro núcleo de poder neoliberal. Mas a verdade é que esse centro econômico-financeiro-entreguista teve de se articular com outros representantes, e não com o ocupante do trono.


Porque Bozó está, na verdade, vinculado ao pior lixo da sociedade brasileira. Ele é a cara das milícias, das igrejolas envolvidas com fisiologismo politiqueiro e lavagem de dinheiro, dos grileiros, dos madeireiros e garimpos ilegais, dos médios empresários que burlam as leis trabalhistas e sonegam impostos, contrabandistas, fraudadores de toda espécie, e de corporações de policiais que formam esquadrões da morte.

Eis aí a base e alma política real de Jair Bozó.


As forças apátridas estão com um gosto de cabo de guarda chuva na boca. Elas não esperavam que, ao tentarem destruir os alicerces da Nova República, teriam que se ver com o esgoto da Pátria. Coisas da nossa terra, que não é para amadores e que faz do próprio excremento arma contra aqueles que a invadem.











terça-feira, 13 de agosto de 2019

Mais sujo que pau de galinheiro




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Por motivos inexplicados, Serginho do Mal impediu que a Força Tarefa apreendesse os celulares de Eduardo Cunha quando ele foi preso. O ''malvado preferido'' da nova direita brazuca não gozava mais de imunidade parlamentar, e era comum a apreensão de celulares pela República de Curitiba. Mas o chefão de todo o aparato estatal paralelo que havia se montado em Curitiba disse uma nã-nã-ni-nã-não quando o Procurador Purgante, também conhecido como Dallagnol, avisou que iria proceder, se é que me entendem.
Enfim, Serginho do Mal conhece seus amigos, e aplica a lei segundo as conveniências políticas. Orientou a investigação de suspeitos na lista da Odebretch para os trinta por cento que o apeteciam, segundo os vazamentos. Protegeu Fernando Henrique Cardoso de qualquer mácula. E agora, sabemos que também estendeu sua toga para esconder alguma coisa cabulosa que pudesse ser encontrada nos celulares do ''Malvadão''.
Os procedimentos contra Deltan voltaram a ser desengavetados, debatidos e apurados no CNMP. Quando uma peça chave da Lava Jato cair nas malhas das sanções devidas, toda a muralha ao redor vai ceder. Ou antes, o casco do navio vai ceder de modo irreversível.
Os ratos já começaram a perceber que as bombas e os esforços dos marujos não conseguem evitar que a água se acumule e pese sobre a embarcação. E como era de se esperar, os roedores começaram a, ehr, vazar. Dias Toffoli seguiu a linha imposta por Mendes em entrevistas recentes, e avisou à Lava Jato que ela não é uma instituição e que tudo de bom que há nela vem do STF. O que implica que há coisas ruins na operação, que vem da força tarefa e que nada tem a ver com a institucionalidade. Ou seja, a banana vai estourar nas mãos dos procuradores de primeira instância, principalmente.
Dodge entendeu o recado, e já defende a Operação com trocentos ''poréns''. Quando a Procuradora Geral precisa avisar que os membros da força tarefa tem de atuar na ''legalidade'', é que a barra tá mais suja do que pau de galinheiro.
O rato mais importante a pular fora do navio condenado é Jair Bozó. O chefão perdeu o respeito por Serginho do Mal, retirou suas prerrogativas, o tornou um enfeite, mero adorno de seu Reinado da Estupidez. O chefão do Reino reduziu Moro a um ''jogador de seu time''. Ora, jogadores estão aí pra serem substituídos de acordo com o andamento da partida. E para os lacerdistas mais fanáticos, o presidente não esconde mais que Moro perdeu -- como dizer? -- ''superpoderes''. No jargão típico dos bozós, isso acontece quando o sujeito já não tem mais caneta, conforme declarou Jair a respeito de Serginho.
Ruim para o partido lavajatista, mas ruim também para o Reino, que sai ainda mais fraco desse afastamento. Se Moro não aceitar seu novo papel de bobo da corte, e ele não parece ter inteligência nem humor suficiente pra cumprir a função que Jair lhe concede, tem de pegar a caneta quebrada e voltar pra casa, esperando nova chance política nas eleições do ano que vem. Ele teria de procurar uma maneira digna de sair por cima do imbróglio. Só que vem perdendo oportunidades.

Caso ele consiga encontrar a janela para saltar do barco antes de Bozó retirar sua última pata de vez, o Reino também será sacudido. Romper com o lacerdismo da classe média tem preço, e ele costuma ser alto. E não é como se Jair não tivesse nada a esconder.

Ruim para eles, bom para o Brasil.

sábado, 10 de agosto de 2019

Nota sobre a eficácia do assassinato político como instrumento revolucionário


Fazendo uma análise meramente histórica e crítica, os assassinatos de gente do alto escalão político não são sinônimo de Revolução, que envolve elementos e forças que vão muito mais fundo na transformação e regeneração social, cultural e política de um país.

Podem ter efeitos até anti-revolucionários, ainda que sejam meritórios em determinado âmbito.

O atentado à vida de Prudente de Moraes foi justificado em certa instância: era uma reação ao massacre de Canudos. Mas fracassou e acabou sendo usado pra que o presidente impusesse o Estado de Sítio e consolidasse o núcleo político da República Velha.

Mesmo quando bem sucedidos, podem dar margem para o sistema que visam combater, que vai poder usar as armas da propaganda contra o ''terror político'' e o ataque a símbolos da nação.

Na verdade, a tática do assassinato político é muito comum em meios anarquistas, e de resultado revolucionário pífio ao longo da história. O que sacode as fímbrias de um sistema são estratégias de espectro muito mais amplo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

VINA GUERRERO E O ASSASSINATO DA DINASTIA DOS BOZÓS

''Isto é: Ainda acha que o presidente deveria ser fuzilado?
Bolsonaro: Eu não errei em falar isso naquele local, naquela oportunidade e naquele momento. E acho que tenho o direito de falar. Eu não xinguei o presidente, nem disse que ele não conhece o pai dele. Acho que o fuzilamento é uma coisa até honrosa para certas pessoas.''


Entrevista à Revista ''Isto é Gente'', publicada em maior de 2000



O jornalista Vina Guerrero defendeu a Revolução ou o Impeachment como meios de parar a barbárie de Bolsonaro. Mas o jornalista cometeu um excesso retórico contra a família do governante.


Uma grande polêmica se instaurou ontem, primeiro em redes sociais, depois na grande mídia, e finalmente no PDT e no próprio governo Bolsonaro. O jornalista Vina Guerrero publicou em seu canal no Youtube vídeo em que criticava em tons fortes o atual governo, suas políticas e as declarações recentes do Presidente da República.


Em certo trecho, Guerrero perde a calma, e diz que os brasileiros não poderiam mais suportar um Presidente como Jair, que merecia ser assassinado ao lado de seus filhos.


Sejamos claros: o excesso de Guerrero foi um erro. Por mais que Jair Bozó propague o ódio e tenha instigado, ele próprio, a violência moral e física, ponto a que voltarei mais adiante, não nos cabe defender agressões contra as autoridades públicas. Tampouco contra um Presidente eleito segundo as regras de um jogo que a sociedade aceita como a melhor forma de resolução de conflitos, e que está formalizado na nossa Constituição e códigos legais.


O equívoco de Guerrero, no entanto, não passa de um arroubo retórico levado a termo por emoção. Acompanho seus vídeos há alguns meses. O histórico de seu canal evidencia que se trata de pessoa que preza pelo debate, pelas disputas eleitorais e pela democracia. Quem conhece seu trabalho de base testemunha seu esforço para ajudar a população mais pobre, ouvir suas demandas e levá-las a órgãos de participação política competentes. É um patriota exercendo sua cidadania.


Já as reações ao vídeo devem ser objeto de muito maior preocupação. Um desabafo em um canal cujo alcance não passa de poucos milhares de pessoas, e cujos vídeos tem, em média, apenas centenas de visualizações, foi reproduzido fora de contexto por milícias virtuais em redes sociais. Tornou-se um dos assuntos mais comentados em um dia em que uma juíza lava-jatista tentou transferir Lula de Curitiba para um presídio em São Paulo em reação às informações da imprensa que dão provas do projeto de poder e das ilegalidades por trás de toda a operação. Tornou-se escândalo no mesmo dia em que se descobriu que a força-tarefa da República de Curitiba usava senadores da República como laranjas para investirem contra Ministros do Supremo Tribunal Federal.


Sérgio Moro, que a essa altura todos sabemos ser o verdadeiro chefe da Lava-Jato, não perdeu tempo e abriu uma investigação contra o youtuber, ameaçando de enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional. O mesmo Ministro da Justiça que não consegue explicar as irregularidades cometidas quando magistrado; que publicou uma portaria inconstitucional que permitia rito sumário para expulsão de estrangeiros e que se suspeita ter como alvo um jornalista que o incomoda; que teve acesso a informações sigilosas de inquéritos da Polícia Federal e as utilizou, como um mafioso, para oferecer uma forma de “proteção” a autoridades públicas.

 
Sérgio Moro e Bolsonaro pretendem criar bodes expiatórios e perigos imaginários como meio de justificar o desapreço de ambos pelo devido processo legal

Não devemos esquecer que o Presidente da República está obcecado para encontrar uma “conspiração” comunista por trás da facada que recebeu de Adélio, um indivíduo que sofre de transtornos mentais segundo avaliação psiquiátrica. A tal conspiração nunca foi encontrada pela Polícia Federal, o que não impediu Bolsonaro de atacar a OAB por ter defendido o advogado de Adélio de uma tentativa de investigação de seu celular. Segundo ele, a OAB não quer que se solucione o atentado contra sua vida.


É nesse contexto de teorias conspiratórias e procura por bodes expiatórios que o atual governo, que prefiro chamar de Reino dos Bozós, não pensou duas vezes em atacar um jornalista que perdeu a calma e cometeu uma falha em um canal de Youtube a que pouquíssimos tem acesso e que, bem avaliado, não passa de uma mistura de exagero, desabafo e fanfarronice, ainda que um tanto irresponsável.


O cenário acima ajuda também a compreender o que leva um cidadão comum e defensor do ordenamento legal a esse tipo de lapso retórico. Vina Guerrero reagiu emotivamente a um Presidente que tem um longo histórico de pregação da violência como método de atuação política. É de conhecimento geral que Bolsonaro defendeu o fuzilamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso no fim da década de 1990.


Nesse caso, não se tratava de uma resposta irrefletida. O então deputado defendeu repetidas vezes que FHC deveria ser assassinado. Afirmou com convicção em entrevistas ao vivo, em cerimônias na presença de oficiais militares, em conversas com parlamentares. O motivo seriam as privatizações que o governo do PSDB havia conduzido, muito parecidas com aquelas hoje defendidas apaixonadamente por Paulo Guedes e que contam com o apoio da família Bolsonaro.


O Congresso tentou abrir um processo disciplinar contra o tresloucado parlamentar, mas isso não o demoveu da ideia. Em entrevista para uma revista no ano 2000 ele voltou a dizer que não considerava que havia errado e que o fuzilamento era até uma honra "pra determinado tipo d pessoa". Chegou a descrever a forma como alguém poderia assassinar o Presidente, dando detalhes de como ele próprio poderia, se quisesse, levar a efeito uma “missão suicida”. Anos depois, no Programa de entrevistas de Jô Soares, Bolsonaro repetiu que sua fala era uma reação às privatizações, citando a Vale do Rio Doce, a CSN e outras medidas que considerava como “crimes”.Bozó nunca pediu desculpas.


Sua última justificativa é a de que o “fuzilamento” era uma “força de expressão”. Mas Fernando Henrique foi só uma das polêmicas mais famosas de seu currículo. O atual Presidente já disse defender a tortura. Acha um absurdo que se fale tanto sobre o assassinato da vereadora Marielle. Tem Brilhante Ustra, um araponga e torturador de porões, como leitura de cabeceira. Seu símbolo de campanha era fazer “arminhas” com as mãos, fingindo disparar contra adversários políticos. Declarou que o grande erro do regime militar foi não ter matado uns trinta mil indivíduos. Depois do primeiro turno nas eleições do ano passado, avisou para uma multidão na Avenida Paulista que baniria do país os “marginais vermelhos”. Em diferentes ocasiões mencionou que iria “fuzilar a petralhada”, sendo um exemplo sua campanha no Acre alguns meses atrás.


Bolsonaro se sentia protegido pela imunidade parlamentar e a justificava: “tenho o direito de falar”. Óbvio que ele se refere não ao princípio da liberdade de expressão, mas à proteção que o sistema legal supostamente lhe daria para defender os maiores absurdos, pra pregar o extermínio, o homicídio, estimular a violência policial e o conflito social. É necessário enfatizar que esse mesmo senhor justifica o regime militar e toda sua brutalidade de Estado por pensar que do outro lado havia o perigo comunista, que ameaçava tragar o país para o abismo. Por todos os exemplos que forneci acima, é razoável pensar que Bozó continua pensando exatamente da mesma maneira, o que torna ainda mais inquietante sua reação ao jornalista Vina Guerrero.

Bolsonaro tem um longo histórico de pregação de ódio, defendendo a tortura, o fuzilamento de adversários políticos e o fuzilamento de Presidentes da República


O bolsonarismo e seu governo, o Reino dos Bozós, é o verdadeiro perigo à segurança do país e de nosso povo. Foi ele que tornou possível que deputados defendessem que aqueles que “gostam de índio” devem se mudar para a Bolívia. Possibilitou que governadores de Estado sobrevoassem a população em helicópteros que executavam supostos criminosos sem apreço algum ao devido processo legal. O Reino dos Bozós depende da criação de bodes expiatórios cubanos, venezuelanos, soviéticos, russos, comunistas, petistas, esquerdistas para impor a barbárie. Devemos todos encarar a verdade de que se trata de um monstro que cresceu debaixo dos nossos narizes, e que agora não sabemos ao certo como pará-lo.


Embora eu não concorde com o conteúdo do exagero retórico do jornalista Vina Guerrero, compreendo seu sentimento. Em meio à sua emoção, havia uma frase cuja verdade é cristalina, irrefutável. Não podemos mais suportar que um “bosta” como Bolsonaro permaneça na Presidência da República. E é hora de termos coragem para fazermos o que já deveria ter sido feito há décadas, segundo o devido processo legal, esse mesmo que é ultrajado a cada instante por nossos atuais governantes.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

A doença da americanofilia e o abraço ao mito nacional de formação dos EUA



Alguns brasileiros acreditam a sério que o nosso país é uma sociedade intrinsecamente corrupta, e que nosso povo ou, na versão mais amena, nossos políticos são uma gangue com a alma mergulhada na desonestidade.


Esses detratores completam a ideologia vira-lata compondo uma imagem idílica do surgimento dos Estados Unidos da América como uma terra da liberdade, acolhedora, protetora das diferenças, religiosa e moralmente sólida.


Mas boa parte dos colonos que fugiram da Europa rumo a América eram pobres deserdados dos campos e que inundavam as cidades inglesas.


Companhias de comércio que visavam lucro imediato realizavam tráfico de órfãos e de mulheres, que eram vendidas como ''esposas'' para os colonos. A mão de obra do escravo africano só passou a predominar de vez no fim do século XVII. Antes disso, era comum a servidão branca, muitas vezes involuntária, e que não deixava de fazer uso abundante do sequestro de crianças na Europa.



Um dos mitos mais fortes que os americanos acalentam sobre as próprias origens diz respeito aos ''pais peregrinos'' associados à fundação de Massachussets. Seriam gente muito boa fugindo da opressão religiosa no Velho Mundo, fundadores de uma ''Nova Inglaterra'', que imaginavam como uma Nova Canaã, depois de desembarcarem do Mayflower e promoverem uma confraternização com os povos nativos -- festa que deu início à comemoração d'O Dia de Ação de Graças.



Esquecem de contar que esses mesmos sujeitos eram fanáticos calvinistas marcados pela adesão estrita a uma moral coletiva fortemente puritana e histérica, cujos resultados foram a caça às bruxas de Salém e à batalha e destruição dos indígenas na ''Guerra do Rei Felipe''.


É o ''mito nacional'' dessa gente pobre de espírito que o vira-latismo de políticos e movimentos locais pensa que serve de modelo para nós, que somos herdeiros de civilizações gloriosas e de um processo histórico fecundo.

domingo, 4 de agosto de 2019

Os Bozós e o nepotismo descarado

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Hoje, antes de sair para o culto em uma igreja evangélica em Brasília, Jair Bozó mostrou toda sua mágoa com a imprensa, que, segundo ele, teria ''massacrado'' seu filho. Aquele mesmo que ele pretende fazer Embaixador nos Estados Unidos por que ''se daria bem com a família do Trump''.

Com lábios trêmulos, Bozó balbuciou para os jornalistas: ''chamaram Dudu de fritador de hambúrguer''. Depois defendeu a indicação, repetindo que o pimpolho era muito competente, que foi elogiado pelo Presidente ianque, que muitos senadores votariam a favor dele na sabatina e pererê pão duro.


Para não perder o costume, Jair fez uma ameaça velada que não deve ter caído bem lá nas bandas do Itamaraty. Avisou que se Dudu não passar na sabatina do Senado, vai colocá-lo como Ministro das Relações Exteriores, no lugar do tresloucado Ernesto Araújo. Sorrindo nervoso, perguntou Jair para os repórteres: ''E aí?! Ele vai mandar em todos os Embaixadores, tão vendo como vocês são hipócritas?"

Bozó não tem a mínima noção da importância, da dimensão e das funções do cargo que ocupa. Ele é uma pessoa mesquinha demais para isso. Uma pessoa pequena, não apenas intelectualmente. Ele também não possui densidade emocional, intuição, visão, capacidade de articulação. É uma ''pessoinha'' em todos os sentidos. Gentinha. Ou, pior ainda, gentalha.

Uma das causas do mau humor do sujeito que atualmente usa a faixa é matéria de hoje d'O Globo [1]. Baseada em documentos oficiais, a reportagem revela que desde que os bozós se tornaram parlamentares, mais de uma centena de pessoas com laços familiares entre si foram nomeadas no gabinetes deles, boa parte sem função clara.

Ou seja, tratava-se de apadrinhamento e nepotismo na cara dura. Não surpreende que Jair não veja nada demais na tentativa de nomear seu filhote como Embaixador dos EUA, ainda que Dudu não tenha absolutamente nenhuma qualidade requerida para o cargo.

O nepotismo e o apadrinhamento é norma nos gabinetes dos Bozós há trinta e oito anos. São quase duas gerações doando dinheiro público a apaniguados e suas parentelas.

Por fim: é para evitar isso que o concurso público e a estabilidade dos servidores foram instituídos no país. Para que a máquina do Estado deixasse de ficar refém desse tipo de politicagem, com cargos de carreira ocupados por puro clientelismo. Como se vê, concursos públicos e estabilidade funcional continuam mais do que nunca necessários. Basta olhar para o que os bozós fazem com seus cargos de confiança, empregando afilhados, a parentela dos afilhados, e ainda praticando a famosa ''rachadinha'' com os salários dos próprios funcionários.

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sábado, 3 de agosto de 2019

A alma vira-lata de Serginho do Mal, ou: ''SÓ NO BRASIL QUE...''


Quando Sérgio Moro resolveu ir pro Twitter defender o projeto 666 com que ele pretendeu ameaçar o jornalista Glenn Greenwald de deportação sumária, iniciou assim suas considerações: ''SÓ NO BRASIL QUE...''

A mensagem de Serginho do Mal foi passada com essas breves palavras, todo o restante sendo mero apêndice, complemento de importância bem menor. Um complemento, diga-se de passagem, repleto de tergiversações, mentiras e até baboseiras explícitas. Mas pouco significativo quando comparado às palavras introdutórias.

Porque só sendo representante de uma classe média vira-lata, ou pelo menos influenciada por essa mentalidade deletéria, pra fazer uso desse tipo de linguagem.

O Ministro da Justiça e da Segurança Pública quer dizer com isso que o nosso país tem um déficit em relação às outras sociedades do mundo, uma inferioridade implacável e irremediável. O que ele quer dizer é que ''só nessa merda chamada Brasil'' isso e aquilo.

Os brasileiros, somos nós que estamos por trás do uso do termo ''Brasil'' na frase de Moro, somos o cocô da bosta do bandido. É assim que ele nos vê. Por isso não entendemos a magnitude civilizatória do decreto 666 de Sérgio Moro, que qualquer outro povo do planeta terra, da história e quiçá do universo, aprovaria sem maiores delongas ou muxoxos.

''SÓ NO BRASIL QUE...'' é o lema da classe média vira-lata, que se acha muito acima da nojeira que percebe ser o homem e a sociedade pátrias. É a alma daquele quinta-coluna doido pra participar da maravilhosa civilização anglo-saxã, estadunidense ou europeia. Ele quer imitar o ocidental médio, inclusive em seus preconceitos contra os demais povos, particularmente o nosso, pra mostrar que não é um animal asqueroso como seus compatriotas.

É o mesmo tipo de mensagem que Deltan Dallagnol, um verdadeiro purgante em forma humana, transmite ao dizer que os EUA são uma terra de gente honesta porque ''colonizados por verdadeiros cristãos''. O lacerdismo de classe média está inextrincavelmente ligado a esse ódio pela própria gente, pela própria origem. É racismo em sua face mais cristalina, e ainda pior, porque exercido contra os seus, contra a própria família, contra o próprio sangue e solo.

A raiz de todos os males da sociedade brasileira está nesse desprezo de parte da elite pelo próprio povo, e a mania de gente da classe média de bancar o feitor de escravos, abanando o rabinho pros senhores que tem o chicote na mão pra delatar e prejudicar aquela gente da qual saiu mas com a qual não quer nada a ver. A alma de Moro grita do espelho em que ele se contempla, ''não sou índio, não sou preto, não sou mestiço, eu sou UM VERDADEIRO CRISTÃO, um OCIDENTAL.''

Nada disso, Moro. Você é apenas um traíra, um lesa-pátria, um cão adestrado, um quinta-coluna, um sujeito indigno da língua que fala e das calças que veste.

Brincadeira de polícia e ladrão




16 pessoas foram decapitadas no presídio de Altamira. Não é novidade, decapitar inimigos políticos é prática até comum entre facções rivais dos presídios brasileiros. É um dos modos de vilipendiar o cadáver daqueles que foram executados, de comemorar o ato cometido. Deve ser também alguma forma de catarse maníaca, e também evoca elementos tribais e de desumanização do adversário.

É uma brutalidade similar à cometida pelo Estado Islâmico no Oriente Médio, o que parece revelar algumas disposições psico-sociais comuns.

É possível talvez compreender esse tipo de atitude por meio da mobilização de conceitos sociológicos, antropológicos, históricos. Claro que justificar são outros quinhentos, porque o vilipêndio de cadáveres ou a decapitação a sangue frio não são meios aceitáveis em uma civilização.

Por isso é impossível contemporizar com o grito de guerra que a unidade de elite da PM do Pará disparou em cerimônia na presença do Governador do Estado (!!!): ''Arranca a cabeça e deixa pendurada/pena de morte à moda brasileira''.

O Governador tinha, de imediato, abrir uma investigação sobre esse grito de guerra e punir TODOS os que o entoaram. As razões são óbvias demais: a pena de morte é proibida em tempo de paz pela Constituição brasileira, e é função da PM fazer cumprir a lei. E mesmo em tempo de guerra, a pena de morte é aplicada no Brasil apenas para deserção, e a execução estipulada é o fuzilamento, não cabeças arrancadas e penduradas onde quer que seja.

Pessoalmente, não sou contrário à pena capital. Mas óbvio que sou contrário a qualquer policial que pense que pode praticá-la ao arrepio da lei. Mais do que contra, esse policial tem tendências criminosas incompatíveis com o exercício de sua função.

Vamos combinar o seguinte: a polícia faz cumprir a lei, ainda que o indivíduo por trás da farda não goste dessa ou daquela lei específica. Essa é a função dele. É isso que significa policiar. Já ''bandido'' é o epíteto que conferimos a quem descumpre sistematicamente a lei. Esse é o cara que o policial tem de pegar e trazer às malhas da justiça, conforme o processo legal instituído. Perceberam a diferença? Não dá pra desenhar melhor do que isso aí.

Se essa diferença é suprimida, não estamos mais falando de ''policiais'' e ''criminosos'' [ou ''bandidos''], e sim de duas gangues, uniformizadas ou não, disputando espaço nas nossas cidades, trocando tiros e matando a esmo pra defender seus próprios interesses, que evidentemente não se confundem com os do Estado, ao qual não respeitam.

E aí não se trata mais de fazer cumprir as leis e respeitar as instituições, não se trata de impor uma ordem coletiva voltada ao bem comum, mas somente de participar de uma guerra movimentada por instintos sub-humanos e amor ao dinheiro.

Não é necessário concordar com a ordem legal vigente, com o arranjo institucional estabelecido -- e eu certamente não concordo -- para entender que um aparato policial descontrolado não passa da construção de uma máfia uniformizada, de posse de instrumentos letais e voltada para o crime. Evidentemente, quem fica no meio da merda é o povo mais pobre, ainda que por um momento ou em dada situação ele seja, por desespero ou por histeria, motivado a aprovar esse ou aquele justiçamento específico.

Repetindo: os PMs que entoaram esse canto tem de ser punidos. Se o Governador do Pará não fizer nada a respeito, estará sendo cúmplice do que ouviu na cerimônia.