segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

AINDA ESTOU AQUI [2024]

 

Em novembro passado, escrevi no meu Facebook sobre "Ainda estou aqui", filme que proporcionou à Fernanda Torres o Globo de Ouro de melhor de atriz. Recupero o texto.


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Assisti "Ainda estou aqui'' e vai ter spoiler na postagem.

O filme é uma aula de reconstituição de época, cinematografia, direção e também de atuação [não só de Fernanda Torres, mas também de Selton Mello].

O contexto político está subentendido mas nunca passa à frente do drama do desparecimento de Rubens Paiva e das consequências que ocasiona para a família e amigos. É como se o Paraíso, representado de forma magnífica pela vida idílica e rica no Leblon, e pela adolescência no fim dos anos 1960, é como se o Paraíso, dizia eu, fosse perdido pouco a pouco.

Essa vida perfeita e fascinante tem sempre o perigo da ditadura rondando, mas ao longe, um eco distante do caos que reina fora daquele círculo, mas que pode encostar no Éden de uma hora para outra, como na blitz policial nos primeiros minutos. E quando esse caos se torna presente de vez, o filme transita de forma imediata e admirável para o medo, a tensão, a incerteza, como um castelo de areia que vai se desfazendo diante das primeiras marolas.

Só não dou nota 10 porque os produtores não resistiram a dois epílogos que serviram de defesa da Justiça de transição, comissão da verdade e punição para os envolvidos na repressão, com a típica justificativa de que a condenação consolidaria na ''memória coletiva'' ou pública alguma forma de respeito aos direitos individuais: mas como se vê pela Indústria do Holocausto, que é basicamente a inspiração para essas propostas de ''passar ditaduras a limpo a fim de consolidar uma sociedade democrática'', o tiro está sempre pronto pra sair pela culatra.

O filme deveria terminar, na minha opinião, com a venda do casarão no Rio e a mudança para Sampa. Seria adequado e diria tudo que realmente importava dizer, muito bem retratado pela reação de uma das filhas do casal Rubens/Eunice, que toma consciência naquele momento que jamais veria o pai novamente.

Enfim, corram para as salas de cinema. Aliás, há tempos que não as via tão cheias para um filme. Matei saudade.


Publicado originalmente em:
https://www.facebook.com/constantor/posts/pfbid076M9U3h6MoynJXuStBP5KgpvtmspGGZ1zpZRf9UEzW3xFEJcfGeBy4AYxF2JDJXcl

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