sábado, 5 de outubro de 2024

O Profeta Jonas e o Monstro Marinho


 O Profeta Jonas, que os ortodoxos comemoramos hoje, não foi engolido por um ''peixe'' [tradução na Vulgata]. Nem por uma "baleia" [tradução de Lutero]. O termo na Septuaginta é Kêtos, que é melhor traduzido como ''ser marinho'' ou ''monstro marinho''. E aí pode ser muita coisa, incluindo monstros desconhecidos por nós.


São Nicodemos trata desse tema em seu 'Grande Synaxaristes':

"Para aqueles que amam o conhecimento e que são curiosos, apresentamos aqui algumas coisas sobre o Ketos. O Ketos era maior que um navio-prisão, de acordo com Theocles. Era cinco vezes maior que um elefante, de acordo com Aeliano. Tinha 50 cúbitos de comprimento, de acordo com Eratóstenes. Era de cem cúbitos segundo Nearchos. E segundo Onésicrato, tinha seiscentos pés. Ortágoras diz que tinha mil pés de comprimento e cinquenta de largura.
De acordo com os Padres Teóforos que seguiam estes homens da Antiguidade, o Ketos tinha um tamanho imenso. São Basílio Magno afirmava que a magnitude do corpo do Ketos era maior que uma montanha, e que eles pareciam ilhas [Hexaemeroun, Hom. 7). Quando o Ketos nadava sobre as ondas, dizia Santo Ambrósio, parecia uma ilha ou uma grande montanha cujo pico tocava os céus. Eustácio de Antioquia, em seu Hexaemeron, declarou que um Ketos, chamado de aspidochelon, era tão grande que parecia uma ilha aos olhos dos marinheiros.
Mesmo os modernos dizem que em Santonia, cidade da França localizada o Oceano Britânico, foi encontrado um Ketos com cento e vinte pernas, segundo Scaliger. E outro foi achado no Mar Báltico, com cem cúbitos de comprimento, segundo Ziegler. Estes estão entre os muitos Ketos que contam ter sido encontrados, dentre os quais estão aqueles chamados de baleias."


Como se percebe, os homens encontraram muitos tipos de Ketos no mar, eles não podem ser reduzidos a grandes peixes, tubarões e baleias. Não sabemos que tipo de Monstro Marinho engoliu o Profeta Jonas, mas sabemos que ele foi ''sepultado'' em suas entranhas ou ventre. Tanto isso é verdade, que ele ora ao Senhor dessa maneira:

"Gritei em aflição ao Senhor meu Deus;
E ele ouviu-me.
Das entranhas do Hades ouviste meu grito e minha voz.
Atiraste-me para [as] profundezas
Do coração do mar; e rios me cercaram.
[...]
Desci à terra, cujas trancas me detêm, eternas;
E que suba a ruína da minha vida, ó Senhor meu Deus!
Quando a minha alma me abandonava,
Lembrei-me do meu Senhor."

O Profeta fala da sua morte. Daí o Sinal de Jonas, mencionado por Cristo: Jonas foi tragado pelo Hades e depois retornou à vida. [Deus ordena que o Ketos, o Monstro Marinho, o vomite em terra.]



Existem diversas conexões entre o ocorrido com Jonas e ritos iniciáticos em diversos continentes e tempos. Mircea Eliade tratou dessas similaridades em seu "Mito e Realidade", associando o neófito engolido por um monstro ao retorno à Mãe-Terra ou, de modo mais próprio, um ''retorno ao útero''.

O importante é notar que para a Igreja não se trata de uma ''alegoria'' ou parábola. O Profeta Jonas e os acontecimentos descritos são considerados históricos. No entanto, o mundo para os antigos não é o mundo imaginado pelo homem moderno. É uma realidade imbricada por diversas dimensões, em que o preternatural e o sobrenatural irrompem a todo momento e se fazem presentes aos sentidos. Não convém interpretar ou compreender estas passagens escriturísticas com limitada capacidade imaginativa e cognitiva contemporânea.

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