sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

OS 10 MAIORES DA HISTÓRIA, NÚMERO 3: DIEGO MARADONA

 Aos 25 anos, realizou em gramados mexicanos a performance mais assombrosa que um jogador já havia feito em uma Copa, superando a de Garrincha em 1962 e, coincidentemente, assim como a do brasileiro, lembrada pelo desempenho e gols nas Quartas-de-Final contra os ingleses. Longe de ser apenas um mês inspirado, Maradona continuou demonstrando no campeonato italiano a magnitude esplendorosa que capturou a imaginação de todos no Mundial. Com uma movimentação anárquica e imarcável, dribles em velocidade, verticais e em todos os pontos do gramado, Maradona era ao mesmo tempo um fenômeno da natureza e a síntese da cultura latino-americana. 




NÚMERO 3: DIEGO MARADONA


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''El Pibe de Oro'' foi o jogador de carreira mais apaixonante que tive o prazer de acompanhar. Havia uma grande dúvida em meados dos anos 1980 sobre o melhor jogador do mundo. Os preferidos eram Zico e o francês Michel Platini. Maradona vinha atrás, considerado menos objetivo do que os dois primeiros.


Toda e qualquer discussão chegou ao fim em 1986, quando Diego alcançou a maturidade de seu futebol. Aos 25 anos, realizou em gramados mexicanos a performance mais assombrosa que um jogador já havia feito em uma Copa, superando a de Garrincha em 1962 e, coincidentemente, assim como a do brasileiro, muito lembrada pelo desempenho e gols nas Quartas-de-Final contra os ingleses. Longe de ser apenas um mês inspirado, Maradona continuou demonstrando no campeonato italiano a magnitude esplendorosa que capturou a imaginação de todos no Mundial.


A carreira de Maradona está repleta de aspectos que transcendem o âmbito esportivo de um modo ainda mais explícito do que o de outros craques, alguns já debatidos quase à exaustão: os elementos geopolíticos e patrióticos de sua atuação contra a Inglaterra no México, incluindo aí ''La Mano de Díos'' e o ''gol do século''; as declarações socialistas e amizade com Cuba e Fidel Castro; suas possíveis ligações com a Cosa Nostra; suas observações sobre as diferenças entre o Norte e o Sul da Itália em plena disputa do Mundial de 1990, pouco antes da semifinal contra a Azzurra; as acusações à FIFA pela perda da Copa e pela falta de reconhecimento de sua grandeza; os problemas com a cocaína, que resultaram em reviravoltas dramáticas na imagem do craque; a identificação fora do comum com as classes populares argentinas, que viam em sua vida uma expressão acabada da alma do país.


Não há palavras para descrever o impacto que Maradona causou na minha geração. Ainda garoto, acompanhei todas as partidas da Argentina no México. Dom Diego era um deus vivo, quebrando toda a lógica do futebol com uma movimentação anárquica e imarcável por todo o campo adversário. Seus dribles em velocidade, verticais e em todos os pontos do gramado, eram o sonho de todo menino que corria atrás da bola. Ao mesmo tempo um fenômeno da natureza e a síntese da cultura latino-americana. Maradona era impossível de enquadrar, se tratava de um demônio destruindo esquemas e certezas. Em uma época em que pouco tínhamos interesse nos campeonatos de outros países, assistíamos o italiano para contemplar a mágica do camisa 10 do Napoli passar por cima de toda minuciosa arquitetura dos maiores sistemas defensivos já criados.


Diego foi o único a polarizar com a figura dominante de Pelé e manter a pulga atrás da orelha de muita gente mesmo depois que seus anos áureos passaram. Lembro de um repórter na Copa de 1986 perguntando ao Rei do Futebol se o camisa 10 argentino era o ''novo Pelé''. Ele pensou alguns segundos e emendou, ''o de 1986, sim!''


Ainda hoje se discute em alguns meios sobre quem foi o maior talento individual. Mas para a maioria de nós, Pelé foi mais completo, já que possuía todos os fundamentos, batia com as duas pernas, um jogo aéreo superior e mais presença de área. Era tão espetacular quanto Diego, e mais objetivo, mais mortífero, e também mais duradouro.


Ainda assim, Maradona permanece como o espetáculo mais singular que o futebol foi capaz de ofertar, desde as demonstrações de habilidade e domínio da pelota que dava nos aquecimentos das partidas até a figura desviante e autêntica que acompanhávamos fora das quatro linhas.


Sua personalidade vibrante e polêmica, encarnação do talento e da psique popular, seu temperamento indomável, impedem qualquer imparcialidade quando se trata de analisá-lo. Diferente de Messi, ídolo das novas gerações, Maradona era a anti-tática, a paixão unida ao trágico. Se os fãs de Messi lamentam a falta de condições ideias para que o craque do Barcelona renda tudo o que pode, Diego fazia questão de suplantar as restrições que o time e o contexto lhe impunham. 


Maradona era uma revolução solitária desafiando a ordem planejada pelos melhores treinadores e implantada pelas equipes mais gabaritadas. Sua posição na lista seria mais alta caso eu fosse argentino.

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