segunda-feira, 27 de maio de 2019

A paralisia do governo Bozó, ou: um Reino dividido não pode subsistir

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas andando, criança e atividades ao ar livre
Apoiador de Jair Bozó em traje que expressa os compromissos mais profundos do Presidente -- roupa de Capitão América e bandeira de Israel: guerra santa contra o totalitarismo e na defesa do ''Ocidente judaico

O Reino dos Bozós se encontra paralisado, incapaz de atender as expectativas dos grupos que apostaram suas fichas nele nas eleições do ano passado. Que não se tire daí a conclusão de que as forças nefastas que se associaram a Jair Bolsonaro estão próximas da derrota definitiva por causa dos problemas atuais do governo.

Repito: o Reino dos Bozós foi o arranjo possível que campos políticos, econômicos e sociais comprometidos com a ocidentalização do nosso país e a agenda neoliberal encontraram para chegar ao Executivo Federal. Essas forças convivem em um desenho de governo muito instável, que tem  bases que se friccionam.

Dentro desse saco de gatos há uma disputa intensa por protagonismo por parte de grupos que querem determinar a cara do atual governo. Bozó não tem capacidade ou sagacidade para alinhavar ou manobrar em meio a esse rol de interesses, e nesses cinco meses foi fazendo escolhas atabalhoadas, queimando pontes, atirando pela janela capital político e aliados que ainda lhe seriam úteis. Quando viu, ficou isolado em uma balhata da qual jamais poderia sair vencedor.

O grupo que Jair decidiu ser o seu no interior da maçaroca que o apóia foi o de seus filhos, e portanto o de Olavo de Carvalho. Eis a real agenda com a qual o presidente eleito se mostrou comprometido, a de servir de agente da CIA, posar de instrumento do ''Ocidente Judaico-cristão'' na sagrada cruzada contra o marxismo cultural, o de manter vínculos com Bannon, com o sionismo e com a ''revolução conservadora'' que, segundo o guru da Virgínia, estaria acontecendo no país e tornaria possível ao ''escolhido por Deus'' reformar de vez o Estado aparelhado por temíveis comunas. Nesse lugar repousa o disputado coração, o cômodo mais íntimo e determinante das políticas do Reino.

É esse papel messiânico, de soldado olavete, que Bozó esteve disposto a cumprir até aqui. Os demais círculos de influência foram sendo colocados para escanteio, ou deixados à margem para serem usados como trunfos demagógicos capazes de manter o fôlego de sua popularidade [como os acenos pra bancada da bala por meio do ''decreto desarmamentista''].

Bebbiano e o PSL descobriram cedo que não teriam a parte saborosa do bolo; Mourão foi considerado inimigo da Dinastia dos Bozós; as Forças Armadas foram denegridas; Sérgio Moro descobriu que está sendo mais usado do que usando o governo; e a agenda liberal está em banho maria porque o Presidente se recusa a governar.

Grande parte das críticas que são feitas a Jair Bozó vem daqueles que gostariam que ele desse prioridade a outros membros que formam a figura distorcida do Reino, em vez de se atirar de vez a essa pauta olavética ou ianque-sionista, de guerra santa contra o comunismo que estaria ameaçando o Ocidente e o Brasil. A grande mídia, por exemplo, critica Bozó por sua recusa do papel de pragmático tocador da agenda neoliberal de Paulo Guedes.

O próprio Centrão está disposto a embarcar no lero-lero de Rodrigo Maia e aprovar na Câmara parte da agenda liberal que Bozó não consegue levar adiante porque está pensando em outras lutas que lhe parecem ser mais prioritárias, segundo o mapa de guerra estabelecido pelo ideólogo da Virgínia.

Que ninguém imagine que o Centrão ou a grande mídia estão em pé de guerra contra Bozó por ser ele neoliberal. E sim porque ele preferiu o olavetismo às Reformas que o tal do mercado acreditou que ele quisesse implementar. [no caso do Centrão, evidentemente, há o desejo de que o Presidente faça a política partidária, parando de se preocupar com o ato santo de derribar as ''instituições corruptas'']. 

Esses atores ainda sonham com um surto de sanidade em Jair Bozó. Que ele se desnude do uniforme de templário e se torne uma versão mais radicalizada da ''República paulistocêntrica'', levando a efeito a destruição da Era Vargas iniciada por Fernando Henrique Cardoso. Afinal, o que eles queriam mesmo era um Alckmin que falasse grosso.

Penso que esses grupos estão sonhando acordados, viajando na maionese. A barca do Bozó é a barca egípcia olavética, de gente doida e desmiolada, que se pudesse levaria o Brasil a uma guerra contra a Venezuela pra atender à CIA, e que acredita que a aliança entre o Presidente e as massas conservadoras são a chave para uma ''revolução liberal''.

O delírio que se encontra no coração do Reino, ou seja, a adesão do Presidente ao ianque-sionismo escalafobético intrínseco à visão de mundo de Olavo de Carvalho, gera um impasse que está longe de ser resolvido e que tem de ser explorado. A paralisia do Reino não é excruciante para nós, que somos patriotas, até porque não existe num horizonte próximo uma alternativa que nos permita virar o jogo de forma imediata.

Além disso, mirar em Bozó é importante. Afinal, ele foi o nome que permitiu ao arranjo disforme conquistar o Palácio do Planalto. Ferir sua popularidade, destruir seu capital político, reduz o espaço de manobra das forças nefastas que citei, pelo menos a curto prazo, e abre possibilidades de contestação à atual posição central que elas ocupam no campo político.

Em breve, pretendo esboçar uma análise mais detalhada dos primeiros meses do mandato de Bozó. Por enquanto, sugiro os primeiros parágrafos desse pequeno texto que escrevi em novembro do ano passado: O Reino dos Bozós: o que esperar do governo Bolsonaro? Parte II .


Nenhum comentário:

Postar um comentário