quarta-feira, 3 de abril de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta II: Jimmy Connors, 1974


Rod Laver foi o primeiro tenista rememorado nesta série de postagens sobre as grandes temporadas da Era Aberta. O texto sobre sua magnífica temporada de 1969 pode ser lido aqui: Rod Laver.

Agora é hora de recordar um dos mais carismáticos e polêmicos tenistas da história, o americano Jimmy Connors. 



O DONO DAS BOLINHAS, DAS RAQUETES E DAS QUADRAS


Poucos tenistas incendiaram tanto o público quanto ele. Em uma época em que o tenista típico devia possuir temperamento monástico, reservado, dando exemplo inequívoco de controle emocional e de cavalheirismo, Jimmy se tornou dominante no esporte seguindo direção contrária. Sua arma era a paixão arrebatadora, a explosão de ira, a manipulação dos sentimentos da plateia e a intimidação ostensiva de juízes e adversários. 

Ele se fazia odiar pelos seus pares, se orgulhava disso e usava a seu favor o ódio de que se tornara alvo. Ao mesmo tempo, transformava o público em torcida apaixonada: as quadras em que atuava não se reduziam a templos em que reinava o silêncio, mas podiam ser similares a arquibancadas parciais e engajadas.

Da mesma maneira que John McEnroe, um de seus grandes rivais, Jimbo se orgulhava de suas raízes irlandesas. Grande parte de seu temperamento, e principalmente de seu comportamento, expressa o desprezo das classes mais pobres pelos ritos e costumes da ''nobreza'' anglo saxã, tão presentes no estilo do tennis contemporâneo. Jimmy era popular, não um aristocrata com uma raquete. Brigou com tudo e com todos, não só com a imprensa mas contra colegas; não só contra adversários mas também contra amigos; não só contra tenistas mas também contra a ATP [processada em meados dos anos 1970 por ''reduzir a liberdade profissional dos tenistas''].

Além de popular, Jimmy possuía aquele inesgotável brilho flamejante que forja a alma dos grandes campeões. Se a quadra não era somente uma igreja e se de vez em quando podia se tornar arquibancada arrebatada, ela era sempre um ringue, uma disputa direta entre dois contendores. Ele não perdia partidas. Era necessário vencê-lo. Sua vontade de conquista talvez tenha sido a maior já presenciada pelo mundo do esporte dos reis. Em nome dessa competitividade, abandonou amizades, criou uma imagem de calhorda, atuou no limite da ética desportiva. No fim do dia, o importante era fazer o último ponto.

Seu estilo de jogo se fundamentava em um misto de disposição para correr em todas as bolas com a agressividade de golpear sempre na subida, de dentro da quadra, reduzindo a distância. Não era um grande sacador, mas possuía uma devolução mortal. Seu revés duplo, fugindo do padrão de elegância do tennis até então, foi um dos golpes mais eficientes da história, batido reto, buscando o winner.

Esses elementos o tornaram autor de recordes incontestáveis. Foi número um do ranking por 160 semanas consecutivas, marca que durou 30 anos -- e que poderia ter sido maior se não houvesse perdido a liderança para Borg por apenas uma semana em 1977 antes de enfileirar mais 80 semanas na frente do circuito. Foi o primeiro tenista a ultrapassar 260 semanas no topo.  Alcançou inacreditáveis 109 títulos na ATP.

Dono de 8 Grand Slams -- mesmo tendo desprezado o Australian Open e Roland Garros durante a maior parte da carreira --, Connors reservava suas mais aguerridas apresentações para Nova York. Possui o imbatível número de 98 vitórias no major americano. São catorze semifinais, sete finais e cinco títulos. É o único tenista a vencer o US Open em três superfícies: na grama, atropelando Ken Rosewall; na hard-thru em cima de Borg, um dos maiores saibristas da história; e na dura, contra Borg e Ivan Lendl, este último um dos maiores especialistas do piso. Sua jornada no torneio de 1991 se tornou mítica: aos 39 anos, o veterano chegou às semifinais da competição, atraindo a atenção de todo o país, vidrado na arrancada final de um de seus maiores ídolos.






Voltemos para sua época de maior dominância. Connors saía de uma temporada de tirar o chapéu em 1973. Mas 1974 foi um ano inacreditável. O jovem americano, de apenas 22 anos de idade, venceu 3 majors: o Aussie Open, Wimbledon e US Open. Detalhe, ele não disputou Roland Garros. Ou seja, Jimbo venceu todos os Grand Slams que disputou, saiu invicto no ano em jogos de majors.

No total foram nada mais, nada menos, do que 15 títulos, com 93 jogos e apenas 4 derrotas, um aproveitamento de 95,8%: só inferior, entre as grandes temporadas, àquela de John McEnroe em 1984.

Em suas campanhas, Jimmy superou grandes nomes como Jan Kodes, Adriano Panatta, Roscoe Tanner e Ken Rosewall. Esse último, uma lenda do esporte, foi massacrado pelo jovem nas finais de Wimbledon e Us Open.

Connors iniciava uma hegemonia que lhe levaria a terminar cinco temporadas seguidas como número um da ATP, um recorde que só foi batido por Sampras uma geração mais tarde.




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