segunda-feira, 20 de abril de 2020

UMA TERRA EM TRANSE, ou: a oposição está tão nua quanto Bozó

O político 'profissional' Diaz, ''pai da Pátria'', um místico reacionário que usa a religião para manter seu poder em Alecrim, cidade de Eldorado, usando seus aliados de hoje como escadas para o governo e com um ódio inato por qualquer
vislumbre de poder popular

A oposição político-partidária não age para derrubar Bozó porque não tem lideranças nem um discurso forte de modo a reunir todo o repúdio que ele causa e dar um xeque-mate no [des]governo. Essa análise vem das próprias fileiras dos partidos de oposição.


Evidente que ela não está disposta a encarar o imenso desgaste que um movimento forte contra o Reino causaria. Parece arriscado demais aos olhos desse campo, que prefere esperar por um quase consenso social sobre a necessidade de derrubar Bozó.


É possível que eles imaginem que esse consenso será formado quando os sepultamentos em massa começarem. E não estamos muito longe desses tenebrosos dias.


Resumindo, a ''estratégia política'' da oposição partidária é esperar um grande número de mortes de brasileiros, pra aí se ver forte o suficiente de modo a ter coragem de fazer o que deveria estar sendo feito desde já para que essas mortes em massa fossem evitadas ou minimizadas.


Não sei se esse ''cálculo político'' é tão melhor que o cálculo do próprio Bozó. Parece tão anti-patriótico e covarde quanto a propaganda em cima da hidroxicloroquina, as carreatas contra o isolamento social dos pobres, as declarações de que o brasileiro tem de ser jogado no esgoto pra criar imunidade contra doenças.


Qual o papel da oposição no transe por que passa Eldorado?


Afinal, as pesquisas revelam que a maioria esmagadora da população é favorável ao isolamento, e pensa, inclusive, que ele deveria ser imposto pela força da lei. O eleitorado deu aprovação esmagadora a Mandetta no confronto do Ministro com o Presidente.


Ainda assim a oposição duvida das próprias possibilidades. Ao mesmo tempo que declara que Bozó é o pior governante da história, que se trata de um sociopata genocida, e o compara com o diabo encarnado -- que no discurso colonizado assume a figura de Hitler, que diz muito pouco para o imaginário do povão --, tem medo que a população escolha o lado do capeta caso ocorra uma disputa direta.


Talvez a oposição não se acredite tão melhor assim que o coisa-ruim. Talvez ela seja quase tão feia quanto o cramulhão, pelo menos aos olhos do povo.
Paulo Martins, poeta, intelectual de ímpeto revolucionário, não segura seu desprezo diante das opiniões populares. Quando um representante das camadas médias do proletariado começa a falar, Paulo o cala e pergunta: ''imagina se esse povo chega ao poder?!" Já os estratos mais pobres da população sequer tem direito a reivindicação. Ou são taxados de extremistas ou tratados com sadismo pelo intelectual, que nutre o desejo inconfesso de provar o quão subservientes os populares são


A verdade é que o eleitorado compara o mentecapto que está no Palácio do Planalto com suas alternativas e não considera uma possível reviravolta política tão bacana assim.


Afinal, Bozó se ajoelha diante de religiosos, defende valores populares sobre aborto e casamento e armas, e se erige em inimigo da grande mídia e de instituições republicanas que não tem respaldo nem grande legitimidade pro povão.


Se fizermos um levantamento qualquer nos bairros populares sobre o prestígio das instituições e compararmos os resultados sobre Igreja e Forças Armadas com as respostas a respeito do Congresso, partidos políticos, grande mídia e STF, os resultados serão desalentadores para os burgueses ''iluminados''. E no fundo, eles sabem do próprio fracasso, do desprezo popular às suas ideias e às perspectivas que tem para oferecer.


Bozó é um estúpido. E aí ele ataca a Globo, a Folha de SP, o Congresso, o STF, a ''velha política'', e cita versículos bíblicos enquanto critica o identitarismo pós-moderno. É o suficiente pra um energúmeno sem partido permanecer no poder fazendo merda em meio a uma pandemia.


Isso deveria fazer a oposição perceber o quanto suas posições sobre ''democracia'', ''República'', ''laicismo'' e ''progressismo'' são frágeis e ANTI-POPULARES.


A existência de Bozó é a demonstração que todas as hesitações da oposição, supostamente nacional e popular, em adotar uma postura realmente revolucionária era, no fim das contas, apenas pusilanimidade.


Pouco serventia há nessa oposição, que reconhece que é pusilânime, se esconder da própria consciência com xingamentos no twitter.


Pior ainda se enveredar pelo pior caminho possível, que é o de culpar o povo, revelando assim que toda sua sensibilidade ''democrática'' não passa de um verniz que esconde a defesa por um governo de classe média liberal.
Felipe Vieira, eleito governador com apoio das massas e promessas de transformação, é sempre hesitante diante de seus compromissos com classes médias e elites, e no momento da maior radicalização prefere desistir da luta por causa dos riscos implicados


E a oposição político-partidária é doida de vontade de dar esse veredito contra o povo. Ela é mais ou menos como o poeta Paulo Martins, protagonista do clássico imortal ''Terra em Transe'', calando com as mãos a boca de um representante [das camadas intermediárias] do povo por não suportar o que ela dizia. [''Esse povo é nazistoide, vulgar, burro!"] E que prefere não reconhecer a ''Ralé'', que no filme é chamada de ''extremista'' e sequer tem direito a existência social.


Porque o verdadeiro papel da oposição foi revelado mais uma vez pela pandemia. Não é só Bozó que está nu no meio da praça, como um palhaço e bufão. Seus supostos inimigos no campo partidário também estão.


Eles são o político Felipe Vieira, cujas promessas de mudança social são apenas fanfarronices demagógicas que não suportam a ruptura de um só dos compromissos com a classe média e as elites reais, muito menos qualquer sinal de radicalização. Não são líderes, mas ''políticos'', que na hora 'h' escondem a fraqueza em discursos vãos sobre a sacralidade do sangue das massas.


Glauber era um gênio.


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