terça-feira, 17 de novembro de 2015

O sacerdócio que é também feminino, ou; quando alhos são confundidos com bugalhos

O Logos divino, que nasce de uma vez por todas na carne, quer sempre, em Sua compaixão, nascer no espírito daqueles que O desejam. Ele se torna uma criança e se molda neles através das virtudes. Ele revela tanto de Si quanto aquele que O recebe consegue aceitar; Ele não diminui a manifestação de Sua própria grandeza por falta de generosidade mas estima a capacidade de receptividade daqueles que desejam vê-Lo.

São Máximo o Confessor





Primeira postagem do Diácono Marcelo acusando, ainda que sem o saber, o sacerdócio régio de ''culto à deusa mãe''.


Recentemente, o Diácono Marcelo Paiva publicou no seu perfil pessoal e em outra página que administra no Facebook uma crítica a um vídeo que fazia considerações informais sobre alguns aspectos dos ensinamentos da Ortodoxia sobre as mulheres. As críticas mais fortes incidem sobre a afirmação de que as mulheres seriam ''sacerdotisas naturais'' e com a associação entre esse sacerdócio e a capacidade de parir. Essa alegação foi tida como uma informação errada sobre ''as crenças da Igreja'', alheia ao cristianismo, vinculada a cultos pagãos à deusa mãe, e a uma contemplação do ''sagrado feminino'' que, de alguma maneira, repercutiria a heresia da sofiologia. Por fim, é atacada a ideia de que as vestes sacerdotais possam ser de alguma maneira imagens femininas. Os pequenos textos escritos pelo Diácono Marcelo Paiva com o intuito de ''esclarecer'' os fiéis sobre a correta posição ortodoxa estão repletos de erros. O estranhamento que ele sentiu flagra um certo desconhecimento da Ortodoxia e acabam por espalhar equívocos, ainda que possivelmente repletos de boas intenções. Vamos buscar dirimir essa confusão o máximo quanto possível.




1. Toda mulher é naturalmente sacerdotisa



Diácono Marcelo Paiva: ''A mulher NÃO é para a Igreja Ortodoxa natural sacerdotisa. Este é um conceito pagão, vinculado ao culto ''da Grande Deusa''.

A Igreja Ortodoxa faz distinção entre o Sacerdócio Único de Cristo, a Ordenação Sacerdotal recebida pelo Clero e o Sacerdócio Régio e Universal de todos os fiéis e -- na verdade -- de toda pessoa humana. Todo homem, por ser imagem de Deus, é também imagem do sacerdócio de Cristo. Essa característica que pertence ao homem por natureza -- o sacerdócio régio -- foi embotada pela Queda, mas jamais perdida, pois a imagem de Deus no homem não é apagada em virtude do pecado de nossos pais ancestrais. Ela é revivificada no homem por meio dos mistérios da Igreja, do batismo, da eucaristia e do crisma. [1] Esse sacerdócio, que pertence naturalmente a todo homem e toda mulher enquanto imagens divinas, consiste na capacidade que possuímos em algum grau de [co-]criar e transfigurar o mundo. Consiste também na capacidade humana de entregar todas suas energias em sacrifício amoroso a Deus e ao próximo. [2] É de espantar que o Diácono associe o sacerdócio régio ao paganismo em vez de entendê-lo como intrínseco ao homem enquanto tal, conforme ensina a Santa Tradição.

Reafirmando, portanto: toda mulher é naturalmente sacerdotisa, e tal declaração não está vinculada a nenhum culto à deusa mãe, e sim a um princípio de fé básico e fundamental ao cristianismo, o fato de sermos todos nós imagens de Deus. [3]  As mulheres não podem ser ordenadas sacerdotes, como os homens, mas não precisam dessa ordenação para exercerem elas também o sacerdócio que Deus naturalmente lhes conferiu.


O Diácono sentiu necessidade de uma segunda postagem, em que detalha seu entendimento sobre a questão, confundindo-a com paganismo e sofiologia



2. O sacerdócio régio da mulher está vinculado também à maternidade



Diácono Marcelo Paiva: ''Há sim um sacerdócio comum a todos os cristãos, que dado pelo batismo e pela conversão de vida, que faz de todo homem e mulher, anunciadores da Boa Nova. Nada disso diz respeito à capacidade de gerar crianças.''

Como dito no ponto anterior, o sacerdócio comum a todos homens e mulheres é revivificado pelos mistérios da Igreja, mas já está inscrito na natureza humana por sermos imagens divinas. Não me estenderei sobre esse ponto. O importante aqui é a alegação do Diácono de que a maternidade não tem nada a ver com isso. Ora, homens e mulheres são complementares. Eles expressam em sua dimensão sexual -- que não se reduz somente a um órgão do corpo mas se espraia por toda a individualidade -- operações, energias e qualidades próprias. [4]  O sacerdócio régio de uma mulher terá expressões diferentes daquele exercido por um homem. Ao sacrificar a si mesma a Deus, a mulher fará oferta daquelas operações e qualidades que possui enquanto mulher. O potencial da pessoa humana de participar e transfigurar a criação se exerce também por meio daquelas atividades que a distinguem como indivíduo de um ou de outro sexo. E um dos elementos definidores da mulher enquanto tal é a capacidade para a maternidade, que lhe foi dada pelo próprio Senhor. [5] O exemplo mais perfeito disso está na Toda Santa e Pura Mãe de Deus, que é ela também Mãe da Igreja e de todos os Santos, pois a humanidade do Verbo Encarnado tem sua origem na humanidade da Santíssima Virgem. Nela temos a imagem perfeita da transfiguração de uma potência natural da mulher, que se entrega totalmente, corpo e alma, para colaborar para a obra de deificação do homem. 

Diferente do que pensa o Diácono, o sacerdócio régio da mulher é exercido e expresso também na capacidade de gerar crianças, uma manifestação do poder que Deus deu à humanidade de cooperar com a criação e com sua deificação. Mais uma vez, nada disso tem a ver com paganismo algum, mas decorre de princípios fundamentais da fé e da veneração ortodoxa.



Diácono Marcelo Paiva: ''Sacerdotes geram filhos como PAIS na fé. A IGREJA é a MÃE de todos, e nisso se concilia ao simbolismo a Virgem Maria, mas os sacerdotes nunca são associados à maternidade....''

A diferença entre o sacerdócio régio e o sacerdócio ordenado já foi estabelecida. Assim, ainda que a figura do sacerdócio ordenado esteja vinculada ao exercício da paternidade -- e não poderia ser doutra maneira, pois a Santa Tradição veta a ordenação de mulheres por razões que não são nosso tema aqui --, o sacerdócio régio exercido pelas mulheres  está sim associado também àquela potência criadora e geradora que nelas se expressa no campo físico pela maternidade. No entanto, o Diácono se equivoca ao declarar que a paternidade espiritual não está nunca associada à imagem da maternidade. O Bem Aventurado São Paulo afirma, no capítulo 4 da Epístola aos Gálatas, ''Filhinhos meus, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós''. Ora, temos aí o Santo Apóstolo dos Gentios usando uma imagem maternal para fazer referência à sua atividade de ''formar Cristo'' em seus ''filhos espirituais''. [6]  Mais ainda, a formação de Cristo nos fiéis é ela mesmo uma forte imagem maternal que diz respeito à realização plena do sacerdócio régio em todo homem. Trataremos disso a seguir.


Parte final do arrazoado do Diácono Marcelo Paiva, negando qualquer validade da associação da maternidade com o sacerdócio, seja ele qual for


3. Todo homem tem de desenvolver misticamente em si certas virtudes que são mais características nas mulheres



Diácono Marcelo Paiva: ''A Pia Bastimal é ao mesmo tempo um sepulcro (do homem velho) e UTERO, do qual nasce o homem novo. Utero da Mãe Igreja... [...] Há sim um sacerdócio comum a todos os cristãos. Nada disso diz respeito à capacidade para gerar crianças.''

Na Igreja, não só a Pia Bastimal é um sepulcro e um útero. Na verdade, o mais importante sepulcro e útero na vida mística, segundo os ensinamentos dos Padres, é a alma e o coração de todo homem. Na imagem dos Padres, a alma humana -- note, a alma de todo homem e toda mulher -- deve ser noiva de Deus, e seu coração é a caverna em que Cristo nasce em todos nós, crescendo e nos transfigurando rumo a salvação e à theosis.[7] Desse modo, todo homem deve desenvolver em si uma qualidade eminentemente feminina, a receptividade para a Vontade e a Graça divina.  O sexo feminino possui de modo mais espontâneo essa receptividade, que se expressa no plano físico pela capacidade de gerar filhos, nutri-los em seu corpo e pari-los no mundo. Essa potência feminina deve ser imitada, desenvolvida e buscada no plano espiritual pelos indivíduos do sexo masculino. A Igreja ensina que devemos gerar Cristo dentro de nós de um modo místico, assim como a Santíssima Virgem Maria a gerou em seu corpo de modo físico. [8]  A Santíssima Virgem Maria adequa sua vontade à Vontade de Deus, se torna esposa do Espírito Santo, e recebe em si mesma o Verbo Encarnado. Nesse sentido espiritual, todo homem tem de se fazer mulher, tem de investir em qualidades do sexo feminino, tornando-se receptivo a Deus e formando, a partir da Graça Divina que o fecunda, Cristo em seu coração, e manifestando-o no mundo por meio dos atos de sua vida. [9] Suas qualidades masculinas somente não são capazes de sozinhas realizarem esse objetivo, pois o homem foi criado macho e fêmea. O sacerdócio que é comum a toda pessoa humana é realizado em sua plenitude por meio não só das virtudes masculinas mas também das femininas. Evidentemente não em um sentido corporal, vulgarmente literal, como parece que o Diácono lê essa questão -- embora não faça o mesmo com a pia batismal da Igreja, pelo menos assim espero! Mas no sentido de que as características que se expressam no sexo físico são imagens de atividades possuídas por todo homem, embora mais fortes em uns e outros de acordo com o sexo. [10]


Deus cria Eva do lado de Adão: o homem, que era em certo sentido andrógino, se torna sexualmente dividido mas também complementar. 


4. O Véu como obediência ao Princípio Hierárquico 



Diácono Marcelo Paiva: ''A cobertura dos homens na Igreja (clerigos e monges) de jeito algum são um meio de ''representar o feminino'' [...] Não há uso de saias entre os parâmetros da Igreja!''

Devemos nesse momento tranquilizar o Diácono: ele não usa saias na Igreja. Mas aqui também, movido por essa preocupação algo prosaica, ele está caindo em certa rigidez literalista quanto à imagem proposta de que ''os sacerdotes cobrem a cabeça assim como as mulheres''. O uso de véus pelas mulheres diz respeito ao lugar e as tendências naturais do ser feminino. Elas o fazem em obediência ao princípio hierárquico, que as faz aceitar como cabeça seu marido como aceitam ao Senhor. Essa aceitação de Cristo como cabeça, expressa pelo uso do véu, é uma virtude que deve também ser imitada pelos homens -- que tem por temperamento uma maior independência --, já que é vocação de toda pessoa humana receber Cristo por hipóstase, realizando assim seu telos. [11] É desse ''jeito'' que o véu é tomado como imagem de uma qualidade que os homens também devem adquirir. Desnecessário dizer, nada disso tem a ver com algum travestismo, como parece entender o Diácono.




5. A confusão entre o sacerdócio régio e a expressão da espiritualidade feminina com o ''culto a deusa mãe'', a busca por um ''sagrado feminino'' e a ''sofiologia''

Diácono Marcelo: ''Isso não faz parte dos ensinamentos da Igreja. Faz sim, parte dos ensinamentos de diversos grupos pagãos, que identificam a mulher como ''deusa mãe''. Uma heresia moderna nascida no seio do povo ortodoxo, a Sophiologia, tinha como um das características justamente a identificação desse ''sagrado feminino''. A Igreja refutou esse erro de modo claro.''


O exercício do sacerdócio não torna ninguém divino, como o Diácono deveria saber. O ensinamento da Igreja de que todos os homens possuem um sacerdócio régio -- que é renovado pelos mistérios e realizado na santidade --, não tem absolutamente nada a ver com o culto a uma deusa mãe. Será que o Diácono Marcelo Paiva pensa que sacerdotes devem ser cultuados como deuses? De onde ele retirou essa idéia algo implícita em sua abordagem? Nem homem nem mulher são deuses por serem sacerdotes. Eles são, isto sim, imagens do Deus vivo. Nem homem nem mulher são deuses por serem reis. Mais uma vez, eles são ícones de Deus. Nem homem nem mulher são deuses quando se tornam santos. Eles se fazem semelhantes a Deus. O Diácono confunde um princípio básico de fé com uma ordem de idéias que lhe é toda própria e que não encontra justificativa alguma em relação ao tema. Da mesma maneira, o uso do termo ''sofiologia'' para categorizar o ensinamento da Santa Tradição sobre o sacerdócio de todos os cristãos é totalmente impróprio. A sofiologia foi condenada por defender que a Virgem Maria seria, de alguma forma, uma encarnação do Espírito Santo ou da Divina Sofia [12], o que faria dela uma Quarta Pessoa da Santíssima Trindade e violaria o caráter cristocêntrico da theosis, segundo o qual fomos criados para recebermos a Hipóstase do Verbo. De onde o Diácono retirou essa vinculação torta entre o que foi dito e a Sofiologia é algo ainda a ser respondido. Confundir o sacerdócio régio com o culto a uma deusa mãe é um erro bem mais grosseiro do que aquele que o Diácono Marcelo Paiva pensou enxergar no vídeo que pretendeu ''corrigir''.




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[1] ''Existem três verdades interdependente que tem de ser mantidas em equilíbrio: (1) Um, e somente um, é sacerdote. (2) Todos são sacerdotes. (3) Apenas alguns são sacerdotes. Um, e somente um, é sacerdote: Jesus Cristo, o único Sumo Sacerdote da Nova Aliança, o ''único mediador entre Deus e os homens'' (1 Tim 2:5), é o único verdadeiro celebrante em todo ato sacramental. Todos são sacerdotes: em virtude de nossa criação à imagem e semelhança de Deus, e também em virtude da renovação dessa imagem através do batismo e da unção do crisma (a ''confirmação'' ocidental), somos todos nós, clero e leigos, um ''sacerdócio real, uma nação santa'' (1 Pe 2:9), colocados à parte para serviço a Deus.'' [cf. Metropolita Kallistos Ware, ''Man, Woman and the Priesthood of Christ''].

[2] ''Esse sacerdócio régio consiste acima de tudo no poder possuído por toda pessoa humana, criada de acordo com a imagem divina, de agir como criador à semelhança do Deus Criador''. [cf. Metropolita Kallistos Ware, ''Man, Woman and the Priesthood of Christ''].

[3] São Gregório de Nyssa define magistralmente esse princípio em sua obra ''Sobre a Alma e a Ressurreição'', explicando que todos os atributos divinos estão refletidos no homem, a diferença entre o protótipo original e sua imagem sendo o caráter criado dessa última.

[4] São Clemente de Alexandria deixa claro que a criação de Eva implicou em certa divisão das energias e qualidades do primeiro Adão: ''Toda suavidade e passividade que havia nele foi abstraída por Deus do lado de Adão quando formou a mulher Eva''. Nos escritos dos Santos Ascetas do deserto, a mulher é comparada aos elementos da alma apetitiva, e o homem aos elementos da alma irascível.

[5] ''Tal é a essência do sacerdócio universal inerente em toda natureza humana. Em termos dessa auto-oferta hierática, tanto homem quanto mulher são igualmente sacerdotes do universo criado, em virtude da humanidade comum que eles partilham. Ao mesmo tempo, cada um deles exerce esse sacerdócio de uma maneira distinta, pois as diferenças de sexualidade se estendem profundamente na natureza humana e não são de modo algum limitadas ao ato da procriação''. [cf. Metropolita Kallistos Ware de Diokkleia, ''Man, Woman and the Priesthood of Christ'']


[6] Há outras comparações entre o sacrifício de Deus e o amor materno, como nessa passagem de São Silouan o Athonita: ''Um monge me contou que certa vez, quando se encontrava muito doente, sua mãe disse ao seu pai, 'Como nosso menininho está sofrendo. Eu ficaria feliz de me entregar para ser cortada em pedaços se isso pusesse fim ao seu sofrimento'. Tal é o amor de Deus pelas pessoas. Ele se apieda tanto das pessoas que quer sofrer por elas, como se fosse sua própria mãe, e ainda mais. Mas ninguém pode entender esse grande amor sem a graça do Espírito Santo''. [''Wisdom from Mount Athos: The Writtings of Staretz Silouan, 1866-1938] 

[7]  ''De acordo com a interpretação dos Santos Padres, a palavra de Deus é uma semente, o nous e o coração do homem é um útero. Através da fé a palavra de Deus é semeada no coração do homem e o emprenha com o temor de Deus, o medo de que os homens continuem distantes de Deus. Com esse medo se inicia a luta para purificar o coração e adquirir as virtudes, que é como o trabalho e as dores do parto. Nessa via nasce o espírito da salvação, que é a deificação [theosis] e a santificação. A formação de Cristo em nós ocorre através de trabalhos espirituais. [...] Segundo os Santos Padres, o que ocorreu com a Panagia fisicamente, ocorre espiritualmente com todo aquele cuja alma vive na virgindade, isto é, que está purificada de paixões.'' [cf. Sua Eminência Metropolita Hierotheos de Nafpaktos, ''A Encarnação do Logos''].

[8] "Se examinamos as festas da Igreja Ortodoxa cuidadosamente, percebemos que a Igreja quer associar nossa vida com Cristo. O ano eclesiástico começa em primeiro de setembro e termina no fim de agosto. No início de setembro celebramos o Nascimento de Theotokos. É com o nascimento da Toda Santa Mãe de Deus que se inicia a contagem regressiva para a salvação do homem. O ano eclesiástico prossegue com a Natividade de Cristo e o Pentecostes, que é a festa da deificação do homem, e termina com a gloriosa Dormição da Panagia que revela a glória que um homem pode alcançar quando se une a Cristo. Assim, mantendo a analogia, aquilo que ocorre com a Panagia deve também acontecer conosco, Cristo deve nascer em nosso coração''. [Metropolita Hierotheos de Nafpaktos].

[9] ''De acordo com São Simeão o Novo Teólogo [Discurso ético 1], os santos estão relacionados com Theotokos de três maneiras. Em primeiro lugar, por causa da natureza humana, já que tanto ela quanto eles são do mesmo barro e do mesmo alento. A Panagia é Mãe de Deus, mas ao mesmo tempo é também um ser humano como nós. Em segundo lugar, estão relacionados por meio da carne que foi tomada dela. Quando comungamos os sacramentos, o Corpo e o Sangue de Cristo, comungamos a carne deificada do Verbo que Ele assumiu da Virgem. Portanto, como ensina São Simeão, ao comungar o Corpo e o Sangue de Cristo, comungamos também da carne de Theotokos. E em terceiro lugar, os santos estão relacionados com a Panagia ''porque através da santidade do espírito que adveio a eles graças a ela, cada um deles concebe e também possuem neles o Deus de todos, assim como ela possuiu o Senhor dentro dela''. [cf. Metropolita Hierotheos de Nafpaktos, ''São Gregório Palamas como hagiorita''].

[10] Da mesma forma que os homens devem adquirir e exercitar certas virtudes que são mais espontâneas na mulher, assim também as mulheres devem adquirir e exercitar certas virtudes que são mais espontâneas no homem. O ser humano deificado é um homem integrado em suas energias masculinas e femininas, como Adão no Éden e como é Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo. São Máximo Confessor ensinou que no caminho da pessoa humana rumo á deificação, ele une em si mesmo as energias que foram separadas pela 'divisão sexual', ou antes, pela criação de Eva a partir do lado de Adão. O casamento, esse ''grande mistério'', como dizia São João Crisóstomo, é um dos meios de refazer essa unidade, pois os dois já não são mais um, mas uma só carne. Mais sobre isso; Casamento como via de união

[11] O véu representa assim não a submissão da mulher ao homem, entendida de forma pejorativa, mas uma união ordenada e amorosa em um todo orgânico. A mulher se coloca, por própria vontade -- pois como São João Crisóstomo ensina em suas homilias, é vetado ao homem obrigá-la -- , sob a autoridade amorosa de seu marido, assim como o homem deve se colocar sob a autoridade amorosa de Cristo. Nesse sentido, todo homem deve ser também feminino -- receptivo -- em relação a Deus. Sem abdicar, claro, de suas qualidades propriamente masculinas, expressas nas imagens do soldado e do atleta de Cristo.

[12] Sofia é, na verdade, um dos nomes de Cristo, uma das atividades por meio da qual a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade cria e governa o cosmos.




2 comentários:

  1. Excelente texto sobre a expressão feminina do sacerdócio

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  2. Perfeita exposição, André! Quisera existissem mais pessoas ponderadas como você em meio aos neófitos ortodoxos. Obrigado!

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