sábado, 3 de outubro de 2020

90 anos da Revolução Patriótica de 1930

''Em vez de o sr. Júlio Prestes sair dos Campos Elísios para ocupar o Catete, entre as cerimônias oficiais e o cortejo dos bajuladores, eu entrei de botas e esporas nos Campos Elísios, onde acampei como soldado, para vir no outro dia tomar posse no Catete, com poderes ditatoriais."

Getúlio Vargas, 20 de novembro de 1930

Uma moça coloca em Getúlio um lenço vermelho em sua passagem pelas terras paranaenses rumo à divisa com São Paulo, para a cidade de Itararé, local em que as trocas revolucionárias preparavam uma batalha decisiva contra a resistência dos legalistas. O gesto tem grande significado: o lenço vermelho estava ligado aos maragatos contra quem se debateram durante décadas os chimangos de cujas fileiras saíra Getúlio. A aceitação do presente por Vargas expressa magnificamente a união de todas as correntes políticas gaúchas em torno do líder da Revolução.


Em 3 de outubro de 1930 ocorreu o processo político mais importante da História da República , a Revolução comandada por Getúlio Vargas colocando fim ao período doravante gravado na memória de todos como ''República Velha''.


O nome do país deixava claro o modelo que as oligarquias que derrubaram o Império desejavam implementar para se manter no topo das hierarquias sociais de Pindorama.


Os ''Estados Unidos do Brasil'' eram dominados por uma ideologia liberal que, trespassada por um ferrenho racismo, integrava o Brasil na divisão internacional do trabalho e da produção como um exportador de produtos primários.


O governo federal era presa da poderosa elite paulista, centro da cafeicultura nacional desde as duas últimas décadas do século XIX. Em um amplo federalismo, os arranjos políticos e econômicos do país foram desenhados para manter essa fração de grandes fazendeiros no ápice da pirâmide social.


Era um tempo em que se desejava imitar a todo custo a civilização ocidental, transformando a capital do país, uma cidade com extremas marcas lusitanas e africanas, em um exemplo perfeito de metrópole europeia, que depois deveria ser copiada do Oiapoque ao Chuí.


Para isso era necessário expulsar o povo daquele pedaço de Paris nos trópicos. Essa gente mestiça, de batuques e encantamentos, que carregava no lombo as marcas da escravidão, da resistência e da sobrevivência. E que teimava em criar espaços para fazer de seu aquilo que as elites diziam ser dessa tal de civilização.


Getúlio acabou com todos esses sonhos apátridas. Quando chegou ao poder em uma avalanche popular, vencendo uma rápida guerra civil, muitos imaginavam ser mais do mesmo. A oligarquia gaúcha, diziam, cansou de ficar de fora da festa. São Paulo tinha de deixar os outros brincarem um pouco também.


Ledo engano. Gegê não estava brincando e promoveu uma reviravolta sem igual no regime, na organização do Estado, na matriz econômica, nas relações sociais, na política e no sentido mesmo de país. O nome durou décadas ainda, mas em 3 de outubro foi desfechado um tiro no coração d'Os Estados Unidos do Brasil.


Em seu lugar, emergia a nação do Estado Novo, industrial, popular, cujo principal protagonista era o trabalhador munido da CLT e de uma visão grandiosa de país, protegido pelo Cristo de braços abertos na Baía de Guanabara, por Forças Armadas que se queriam modernas e bem equipadas, por estatais estratégicas que se tornariam orgulho da capacidade tecnológica da Pátria.


A capital, já conhecida por sua beleza, passou a ser cantada por sua cultura popular. A gente brasileira entrou no cenário, para horror de todos que nos queriam de penetras na Luzes.


3 de outubro de 1930 foi o dia em que um brasileiro, que era gaúcho, deu início a um projeto que permitiu que o Brasil finalmente olhasse com coragem para si próprio, e, mais do que isso, gostasse e acreditasse no que via.


É impossível demover esse dia, por mais que os inimigos de Vargas queiram apagá-lo da memória coletiva, dizimar seu legado, vilipendiar seu significado, trucidar seus herdeiros. A força que foi despertada pela Revolução de 1930 nunca mais será contida, não enquanto ainda existir uma ideia de Brasil.


Por mais que cantem vitórias momentâneas, o destino dos inimigos da Revolução foi vaticinado por Getúlio em seu Diário, quando já havia tomado posse. Assim como foi então, será de novo e de novo até o fim.




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