domingo, 9 de junho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Meia-armadores: Renato Abreu; Éverton Ribeiro; Gérson; e Outros

 Parte final da posição de meia-armador, apresentada em ordem cronológica. Nesse texto, três jogadores simbólicos da transição que levou ao Flamengo atual: Renato Abreu, que foi identificado pela torcida com o próprio totem do clube; Éverton Ribeiro, um dos principais capitães dos "Curingas"; e o próprio "Curinga" em pessoa, Gérson "Vapo", que criou o símbolo de dominância do time 'corta-cabeças' de 2019. Além disso, a 'segunda prateleira', com meias que chegaram próximo ou que poderiam estar incluídos entre no Olimpo d'O Mais Querido do Brasil. Na próxima postagem os meia-atacantes ou Pontas-de-Lança que marcaram época no Flamengo. Clique nos links no fim deste texto para ler as postagens anteriores.



8) RENATO ABREU, "O URUBU-REI" [2005/07; 2010/13]




O ''Canhão da Gávea'' simboliza uma importante transição. Ele chegou n'O Mais Querido em um dos momentos mais conturbado e desafiadores já vistos na Gávea. Ao longo de suas passagens, no entanto, o Flamengo se tornou capaz de disputar títulos nacionais mais uma vez. Curiosamente, sua jornada acaba também por causa da segunda etapa da transição, que recuperaria inteiramente o clube mais popular do país.

Renato já era jogador maduro, com 27 anos de idade, quando decidiu trocar o vitorioso Corinthians, em que era coadjuvante, por um Flamengo de estrutura e finanças destruídas, que mal conseguia se segurar na primeira divisão do campeonato brasileiro. Parecia um mau passo na carreira, mas foi ela que lhe garantiu imortalidade.



A excelência técnica não é a única via para a imortalidade. Na verdade, ela raramente é suficiente. Renato Abreu estava longe de ser brilhante nesse quesito. Mas sua identificação com a torcida e seus feitos no clube lhe garantiram a presença nessa lista ao lado de jogadores de muito mais refinamento e recurso.

Profissional dedicado, ganhou da torcida o apelido do animal símbolo do clube. Se tornou especialista nas bolas paradas. Chegou a marcar dois gols de falta numa mesma partida, contra o Campinense, nas fases iniciais da Copa do Brasil de 2013. Até Gabigol superar sua marca, era o maior artilheiro do Flamengo no século XXI, com 73 gols marcados.



Campeão da Copa do Brasil em 2006 e do Carioca em 2007, Abreu teve passagem de sucesso pelo futebol árabe, antes de retornar ao Flamengo em 2010, já aos 32 anos. O clube era agora campeão brasileiro, e logo contrataria Ronaldinho Gaúcho. Achou seu lugar ainda assim, e participou da conquista do título invicto do Carioca 2011.

O fim de sua trajetória na Gávea foi uma das mais fortes sinalizações dadas por Eduardo Bandeira de Mello no seu primeiro ano como Presidente d'O Mais Querido. O contrato do ''Urubu Rei" foi rescindido de modo unilateral em meados de 2013. Ele tinha o salário mais alto da equipe, que escolheu o caminho da contenção financeira e da reestruturação, que possibilitou a "mudança de patamar'' dentro do Brasil e da América Latina.



Ainda assim, o "Canhão da Gávea'' tem de ser considerado campeão também da Copa do Brasil daquele ano, já que participou, e foi decisivo inclusive, das três primeiras fases da competição que culminaria com o título rubro-negro no fim da temporada.

Renato Abreu defendeu o Manto Sagrado em mais de 270 partidas. Seus principais títulos no Flamengo são os Cariocas de 2007 e 2011, e as Copas do Brasil de 2006 e 2013.





9) ÉVERTON RIBEIRO, "O MITEIRO" [201/2023]


Ás do drible e do ritmo de jogo, o "Miteiro" foi um dos mais vitoriosos atletas brasileiros da última década. Paulista revelado pelo Corinthians e com passagem de grande sucesso no Coritiba e no Cruzeiro, chegou ao Flamengo aos 27 anos de idade e participou ativamente da construção de equipes que marcou história no futebol sul-americano tanto em termos técnicos quanto táticos.



A importância de Everton para o novo período de dominância rubro-negra não pode ser subestimada. Era liderança técnica e moral dentro dos “Curingas”, como era conhecida a espinha dorsal do elenco. Profissional dedicado, sem estrelismos fora de campo, nunca fez questão de procurar holofotes só para si. Apesar de toda habilidade com a pelota, sempre foi atleta de grupo, cuja voz se fazia ouvir de modo mais forte no vestiário, e cuja influência se exercia de modo mais decisivo pelo exemplo. Não à toa, foi capitão do time em um dos períodos mais estrelados d'O Mais Querido do Brasil.



Campeão carioca em 2019/20/21, Supercopa do Brasil 2020/21; Recopa Sul-Americana em 2020; Copa do Brasil 2022; Campeonato Brasileiro em 2019/20; Libertadores da América em 2019 e em 2022. Suas atuações o levaram de volta à Seleção e lhe possibilitaram realizar o sonho de disputar uma Copa do Mundo, no fim de 2022.



Éverton não renovou o contrato com o Flamengo para a temporada de 2024, e aceitou a proposta do Bahia, SAF gerida pelo Grupo City. Seu dia a dia no clube e o modo respeitoso com que saiu à busca de novos desafios estão entre os modelos a serem replicados por todos os ídolos.



Foram 398 partidas pelo Flamengo, o que faz dele o 19º atleta que mais vestiu o Manto Sagrado. Nesse período, marcou 46 gols e deu cerca de 60 assistências.



10) GÉRSON "CURINGA", "O VAPO" [2019/21; 2023/ATÉ O PRESENTE]



É sempre arriscado colocar um jogador jovem em uma lista dessas. Mas Gérson é uma daquelas exceções às regras. Ninguém contesta sua importância na formação de uma das equipes mais dominantes já surgidas em nosso futebol, raiz de uma revolução, ou antes aprimoramento tático que sacudiu o esporte brasileiro.

É bem provável que no futuro esse time seja conhecido como o Flamengo de Gabigol. E que jogadores como Bruno Henrique sejam considerados bem mais decisivos. Que a fama de Filipe Luís como cérebro dentro de campo se consolide definitivamente. Mas a “liga” da famosa equipe de Jorge Jesus, a “alma” por trás da supremacia, tem a cara do “Curinga”, apelido dado pelo técnico português e que depois foi estendido para todo o grupo. [Internamente, os líderes eram “os Curingas”.]



Do mesmo modo, o gesto que define o Flamengo de 2019 não é tanto os muques de Gabigol, mas o “Vapo”, revelado por Gérson à torcida em seu terceiro jogo, ao marcar um gol no clássico contra o Botafogo. Aquele time era matador, impiedoso: cortava as cabeças dos adversários.

O “Curinga” nasceu em Belford Roxo, no Grande Rio, e foi um dos muitos jovens revelados pelo Fluminense em Xerém. E também seguiu o mesmo caminho da maioria deles, negociado com o exterior com apenas 18 anos de idade. Gérson não encontrou espaço no futebol italiano. A Roma o emprestou para a Fiorentina, e o atleta parecia encostado.



Parecia, porque a diretoria do Flamengo tinha um sonho antigo no jogador, anterior mesmo à chegada do técnico Jorge Jesus, monitorava a situação e chegou a fazer proposta por ele no início de 2019. A negociação, uma das mais caras da história do futebol brasileiro, só se concretizou no meio do ano, e se mostrou um dos maiores acertos das últimas décadas.

Gérson sempre foi rubro-negro, e sempre fez questão de demonstrar seu amor pela camisa. Começou sendo usado nas meias direita ou esquerda, mas depois que Cuellar foi embora para a Arábia e Jorge Jesus adotou como sistema principal o 4-4-2, se tornou o segundo homem do meio campo, responsável pela imposição física na segunda bola, pelo ritmo do time, e pela distribuição de jogo.



Seu futebol encantou os analistas. Para eles, Gérson se tornou quase que sinônimo do caráter diferenciado do Flamengo. Sua presença na seleção brasileira passou a ser pedida, depois exigida. Em meio a tudo isso, o “Curinga” empilhou taças, decidiu títulos [vide a Recopa, contra o Independiente del Valle], e conquistou a admiração irrestrita tanto da Magnética quanto das torcidas adversárias.

Logo, logo chamou a atenção da Europa que o havia rejeitado e voltou para o Velho Mundo pra atuar no time de maior torcida do ascendente campeonato francês, o Olympique de Marselha. Sua história não tinha terminado no Flamengo. O clube se esforçou para trazê-lo de volta para a disputa do Mundial de Clubes de 2022, disputado no início de 2023. Foi no entanto uma experiência decepcionante, assim como o restante da temporada. O "Curinga", ainda que um dos melhores da equipe, não rendeu tudo o que se esperava dele, e ainda se envolveu em acontecimentos polêmicos dentro e fora do campo, como a expulsão na semifinal do Mundial e os socos trocados em um treino com o lateral Varela.



Mas 2024 já trouxe de volta os bons ares. Gérson se consolida como um meia ponta armador pela direita. O bom futebol voltou, e também os títulos. Com apenas 27 anos de idade, a confiança da diretoria e da comissão técnica da equipe, a paixão que demonstra pelo Manto Sagrado, e uma incontestável liderança no grupo, o "Curinga" tem a oportunidade de se consagrar como um dos mais vitoriosos e idolatrados meias que já passaram pelo Mais Querido do Brasil.

Até aqui, conquistou pelo Flamengo os Cariocas de 2020/21 e 2024, a Supercopa do Brasil 2020/21, os Brasileiros de 2019/20; a Recopa Sul-Americana de 2020, a Libertadores da América de 2019.





OUTROS

Para terminar a lista dos meias, cito alguns que não entraram na prateleira principal por causa de critérios meus, mas que estiveram próximos, ou que poderiam entrar caso algum critério fosse alterado.

I) GÉRSON “CANHOTINHA DE OURO” [1959/63]




Muitos rubro-negros desprezariam a inclusão de Gérson na lista. Ele saiu do Flamengo brigado, era tricolor de coração e alcançou muito mais projeção quando jogou pelo Botafogo e pelo São Paulo [time em que atuava quando foi campeão em 1970, Copa de que saiu como o segundo melhor jogador]. Mas a verdade é que Gérson fez bela figura n’O Mais Querido. Começou jogando bola nas areias da praia de Icaraí, em Niteroi, e foi descoberto no Canto do Rio por Modesto Bría, de quem já falamos na seção sobre Volantes. Profissionalizado pelo Flamengo em 1959, com apenas 18 anos de idade, roubou gradualmente a posição de Moacir, que havia sido campeão do mundo pela seleção. Já era dono da camisa quando vencemos o Torneio Rio SP de 1961 e foi fundamental na conquista do Carioca de 1963.


II) CARPEGIANI [1977/81]




É um daqueles meia-armadores que ficaram conhecidos como “segundo volante”, embora fossem bem mais úteis na distribuição de jogo e passe longo do que no combate direto à frente da área. Chegou na Gávea aos 28 anos de idade, já consagrado e vindo de um vitorioso Internacional. Trazia também problemas físicos e uma operação no menisco, o terror daquela época. Seu papel na construção do time da Era de Ouro é inestimável, inclusive fora de campo, já que se tornou treinador d’O Mais Querido após pendurar as chuteiras. Conquistou as Taças Guanabara de 1978/79, o tricampeonato estadual de 1978/79/79 especial, e o Brasileiro de 1980.


III) DJALMINHA [1990/93]




Nascido em Santos e formado nas categorias de base da Gávea, é mais um atleta cuja inclusão na lista seria polêmica. Mas a verdade é que era ídolo dos rubro-negros desde o título da Copinha em 1990. Profissionalizado no mesmo ano, teve participação ativa no elenco campeão da Copa do Brasil de 1990, do Carioca de 1991 e do Brasileiro de 1992, atuando em muitas partidas, ora como meia esquerda ou mais centralizado. Nunca conseguiu se firmar como titular por um motivo bem simples: a presença de Júnior no time principal. Foi praticamente expulso da Gávea depois de briga em campo com Renato Gaúcho, mas era uma desculpa da desastrosa gestão de Luiz Veloso para vender jogadores e pagar salários atrasados. Depois de aposentado, fez parte da equipe rubro-negra de Showbol, pela qual foi campeão brasileiro.



IV) NÉLIO "MARRECO'' [1990/94; 96/97; 98]




No famoso time de juniores que ganhou a Copinha em São Paulo, em 1990, Nélio jogava como centroavante. Era companheiro de uma trupe de amigos que marcaria a década seguinte: Djalminha, Marcelinho [depois chamado de 'Carioca'], Paulo Nunes, Júnior Baiano etc. Logo que estreou no time principal, mudou para atacante 'genérico'/ponta de lança [falarei sobre essas transformações táticas mais pra frente], decidindo um jogo contra o Vasco da Gama em 1990, com apenas 19 anos de idade. O genial Carlinhos transformou o futebol daquele atacante franzino e habilidoso, que demonstrava dribles curtos de futebol de salão mas não tinha grande poder de finalização. Na montagem do time campeão carioca de 1991 e Brasileiro de 1992, Nélio ganhou funções defensivas, atuando pelos corredores e chegando de trás como um meia armador. Foi o auge do futebol do ''Marreco'', quando apresentava não só grande qualidade técnica, mas fôlego pra correr cobrir o campo de intermediária à intermediária. Chegou à seleção pré-olímpica e conquistou a Bola de Prata da Placar pelo desempenho no Brasileiro de 1992. Infelizmente, teve problemas sérios nos joelhos, um no início da carreira, e outro na final do Brasileiro de 1992. As cirurgias permitiram que voltasse bem ao futebol, mas já não conseguia mais cumprir com desenvoltura todos os papéis que o consagraram. Ainda assim permaneceu peça importante do elenco da Gávea. Sua entrada no time foi crucial, por exemplo, para a campanha do título invicto do Carioca de 1996, vencendo os dois turnos mais uma vez em cima do Vasco. O ''Marreco'' ainda era um dos jogadores que faziam de tudo pra jogar no clube do coração. Mesmo quando emprestado ao Guarani no ano do Centenário, fez de tudo para voltar pra casa. Infelizmente, o gol da vitória do Grêmio na final da Copa do Brasil de 1997 saiu pelo seu lado. Ele cansou e não acompanhou a subida do lateral adversário. A falha colocou fim a seus tempos de Flamengo, mas não arranhou nem um pouco sua importância histórica. Nélio defendeu o Manto Sagrado em mais de 300 partidas. Conquistou a Taça Guanabara de 1996, os Cariocas de 1991 e 1996, a Copa do Brasil de 1990, e o Campeonato Brasileiro de 1992. Depois que saiu da Gávea se tornou um cigano, encerrando a carreira no Flamengo do Piauí, em 2010, com 39 anos de idade. Aposentado, entrou para a equipe Master e de showbol d'O Mais Querido.


IV) BETO “CACHAÇA” [1998/2000;2001/02]




Nascido em Cuiabá, foi formado nas divisões de base do Botafogo. Fez muito sucesso no clube da estrela solitária, conquistando o Campeonato Brasileiro de 1995 e chegando à seleção brasileira. Vendido ao Napoli, não fez sucesso na Europa. Chegou ao Flamengo em 1998, sendo peça fundamental do tricampeonato carioca de 1999/2000/2001, em cima do Vasco; da Copa dos Campeões de 2001, em cima do São Paulo; e da Copa Mercosul 1999, em cima do Palmeiras. Pela seleção, foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de 1996 e campeão da Copa América em 1999.


V) DIEGO RIBAS [2016/2022]




Considerado um menino de ouro no Santos no início dos anos 2000, se tornou ídolo do Werder Bremen, na Alemanha. Foi o primeiro grande jogador a acreditar no projeto do atual Flamengo, chegando no clube com 31 anos de idade, em 2016. Os fracassos do clube nas primeiras temporadas o deixaram marcado com parte da torcida, mas jamais abalaram seu status com a maioria. Sua importância no elenco se tornou fundamental, mesmo depois de perder a titularidade incontestável. Campeão Carioca em 2017, 2019/20/21, Supercopa do Brasil 2020/21; Copa do Brasil em 2022; Brasileiro em 2019/20; Recopa Sul-Americana em 2020; Libertadores da América em 2019 e 2022. O tempo demonstrou que a importância de sua liderança no vestiário e a dignidade e competência com que exerceu o papel de Camisa 10 da Gávea. Tem medalha de bronze nas Olimpíadas de 2008 e conquistou a Copa América de 2004 e 2007.


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