sábado, 13 de julho de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Ponteiros/Atacantes: Sávio, o "Anjo Loiro da Gávea"; e Gabriel Barbosa, o "Gabigol", o "Predestinado"

 Sávio deu continuidade ao slogan "Craque, o Flamengo faz em casa" em uma época de mudanças profundas do modelo dos anos 1970/80: Kleber Leite colocava fim definitivo à era de domínio da Frente Ampla pelo Flamengo [FAF], de Márcio Braga e George Helal. O "Anjo Loiro" foi o último suspiro na expectativa rubro-negra de ''criar um novo Zico'' nas divisões de base do clube. Já Gabriel Barbosa, o Predestinado, o Gabigol, é o maior símbolo da era de profissionalismo e gigantismo do Flamengo do século XXI, em que O Mais Querido almeja consolidar seu predomínio no continente e se tornar o primeiro sul-americano a fazer frente aos orçamentos das super-equipes europeias. Gabigol é o novo Leônidas da Silva.


8 ) SÁVIO, O “ANJO LOIRO DA GÁVEA” [1992/97; 2006]




Os problemas financeiros que estouraram o clube no início dos anos 1990 fizeram o Flamengo “queimar” no mercado uma das mais talentosas gerações já formadas no clube. Djalminha, Marcelinho “Carioca”, Paulo Nunes, Júnior Baiano e outros saíram da Gávea a preço de banana e sem conquistarem tudo o que podiam. Tornaram-se grandes ídolos de outras equipes.

O capixaba Sávio foi a primeira grande revelação das categorias de base depois do desperdício do primeiro terço da década e, como tal, foi tratado como um jóia rara. Ele se tornou o foco do sonho flamenguista de ''fazer'' um novo Zico em suas divisões de base. Chegou no clube pré-adolescente, morou no Morro da Viúva junto com outros juvenis, e se destacou desde o início. Atuou alguns minutos na final do Brasileiro de 1992, e em algumas partidas no ano seguinte.



Mas em 1994 a Magnética foi apresentada de vez ao seu futebol de dribles em alta velocidade, muita habilidade e faro de gol. Sávio conquistou imediatamente as arquibancadas no Carioca, sob a batuta do técnico Júnior. O Flamengo não conquistou a taça, mas ganhou um ídolo.

No Brasileiro, o “Anjo Loiro” liderou uma frágil e jovem equipe em vitórias tão importantes quanto surpreendentes, como a goleada de 5 a 2 imposta ao Corinthians no Maracanã e a quebra da invencibilidade do Palmeiras de Luxemburgo -- atuação de gala na vitória por 2 a 0 sobre o alviverde.



O "novo Zico" ganhou a camisa 10 em jogada de marketing do Presidente Kleber Leite quando da contratação de Romário. Apesar da crise em que se tornou o ano do Centenário, seu futebol se encaixou perfeitamente com o do Baixinho, e o jovem de 20 anos iniciou de vez a transição para a função de Atacante total que era necessária naquela época em que ponteiros faziam cada vez menos sentido.

Sávio chegou à seleção brasileira como grande esperança para as Olimpíadas de Atlanta. Embora tenha perdido a posição de titular para Ronaldo “Fenômeno”, teve participação crucial em toda a preparação da equipe, que terminou com a medalha de bronze.



1996 foi o auge de seu futebol no Flamengo e também das contusões que se tornariam crônicas tamanho o número de bordoadas que tomou ao longo da carreira pelo “crime” de apostar sempre no drible vertical, hábil e veloz rumo à linha de fundo ou à área adversária.

Depois da decepção com os vice-campeonatos do Torneio Rio São Paulo e da Copa do Brasil, em 1997, e muito bem sucedido em uma excursão à Espanha em que impressionou os europeus com sua atuação contra o Real Madri, o “Anjo Loiro” foi negociado com o maior clube da Espanha naquela que era a maior transferência da história do Flamengo. Bem diferente, portanto, da “geração [quase] perdida”.



Sávio ainda retornou ao clube em 2006, já com 32 anos de idade. Mas, com problemas crônicos nos tornozelos, rendeu pouco. A magia havia acabado. Mas não a gratidão da Magnética por seu futebol: É o 26º maior artilheiro da nossa história, com 95 gols; e o segundo maior goleador rubro-negro da década de 1990, atrás apenas de Romário.

No Flamengo, Sávio conquistou as Taças Guanabara de 1995/96; o Carioca [invicto] de 1996; o Brasileiro de 1992; e a Copa Conmebol em 1996.





9) GABRIEL, O “GABIGOL”, O "PREDESTINADO" [2019/ATÉ O PRESENTE]




Eu costumava dizer que Gabriel Barbosa, o “Gabigol”, era o novo Leônidas da Silva. Muitos se espantavam, imaginando que se trata de uma comparação técnica entre os jogadores. O Diamente Negro era considerado uma sumidade, que misturava eficiência e plasticidade. Além disso, era um ‘bom malandro’, tanto na vida quanto no tratamento do público e dos dirigentes. Nesse aspecto, a similaridade é muito maior com Romário, e vou tratar disso quando chegarmos à seção de centroavantes.

Mas Gabigol é o novo Leônidas por causa do projeto em cima dele. Assim como nos anos 1930 o clube passou por uma reformulação com o objetivo de atingir novo nível de profissionalismo e , condizente não só com o domínio do Brasil como com a projeção continental e internacional que o coloque em “outro patamar”.



Esse projeto inclui um esforço não só de manutenção mas de ampliação da popularidade e do status de Mais Querido do Brasil, que vinha sendo desafiado por um plano desenvolvido em torno da hegemonia econômica, demográfica e midiática do Estado de São Paulo.

Nos anos 1930, o Flamengo enfrentou desafios semelhantes, embora em outro contexto: estava ficando pra trás no fim dos anos 1920, era de profissionalização e construção das torcidas, em que o futebol deixava seu caráter elitista e se massificava. Naquela década, o Presidente José Bastos Padilha vinculou a imagem do rubro-negro carioca ao do nacionalismo popular. E para isso, foi muito importante a contratação de diversos atletas mestiços de imenso apelo para o povão. O Diamante Negro foi o maior representante da turma, não só por seu talento incomensurável, mas por seu carisma esfuziante.



No Flamengo de hoje, o principal nome do projeto do clube é Gabriel Barbosa. Sua popularidade entre as gerações mais jovens de rubro-negros é assombrosa, chega mesmo às raias do absurdo. O temperamento de Gabriel parece bem distante daquele de Leônidas. Não é um “malandro”, não tem ares pouco profissionais, não é “caôzeiro”. Mas atende perfeitamente outra face da Magnética: a marra, o deboche, o desejo incontido de não levar desaforo para casa. Aliada à imensa raça e aos resultados em campo, a combinação se torna apaixonadamente explosiva. Nessa linha de raciocínio, Gabigol está mais para Renato Gaúcho, e tem também características do Baixinho.

Mas Gabriel não é só uma síntese de velhos ídolos, ele é um fenômeno novo, e daí sua capacidade de angariar simpatias das crianças e adolescentes. Sua persona midiática oferece entretenimento e emoção à flor da pele. O gesto do muque é um dos gestos mais icônicos da era gloriosa iniciada em 2019, bem como o apelido de ''Predestinado'', ou o slogan ''Hoje tem gol do Gabigol!"



Em campo, ele tem limitações técnicas visíveis. Não é exímio finalizador, só usa uma perna, é fraco no jogo aéreo. Mas esses “defeitos” são compensados por uma aptidão extrema para abrir espaços e se movimentar pelos lados do campo. É um jogador que teria muita dificuldade nos tempos dos ponteiros e dos centroavantes, e isso explica seu pouco sucesso na passagem pela Europa.

Não à toa o desempenho de Gabigol mudou de nível com a chegada de Jorge Jesus. O mais curioso na dominância impressionante do Flamengo de 2019 é que ela foi construída no desenho tático comum às equipes do país nos anos 1990 e 2000: o 4-4-2, com dois meias nos corredores, e dois pontas de lança [Atacantes] modernos entrando em facão na área, correndo em diagonal e mudando de lado constantemente um com o outro.



[Claro que existiam muitas diferenças no sistema de marcação, intensidade, execução de simetria etc. no modelo de Jorge Jesus, mas falo aqui do desenho tático.]

Erra quem pensa que Gabriel Barbosa é centroavante no sentido estrito do termo, ou que tenha aptidão para jogar na ponta. Ele é Atacante no sentido explicado no início dessa seção, um dos exemplos mais poderosos da persistência deste tipo de Atleta no futebol brasileiro, e da especialização de alguns jogadores para a posição.



Os números estratosféricos estão sendo sempre atualizados. Até o momento desta postagem, são mas de 150 gols em quase 280 partidas defendendo o Manto Sagrado. É o sexto maior goleador da História rubro-negra, com média de 0,55 gol por partida. Seu cartel de títulos é impressionante, bem como sua capacidade decisiva: Marcou em três finais de Libertadores, decidindo os títulos de 2019 e 2022, e se tornou o maior artilheiro brasileiro na competição, com mais de 30 tentos. [No ranking geral, está no top 5 entre os maiores artilheiros do torneio continental, e tem idade para chegar à segunda posição.]

2024 pode ser o término desse bonito conto de amor entre Gabriel Barbosa, o Gabigol, e o Flamengo, uma relação desgastada por polêmicas em torno de seu comportamento dentro e fora das quatro linhas, queda de desempenho e polemismo em redes sociais. Não muito diferente da ruptura entre o Flamengo e Leônidas, também muito traumática. Mas Gabriel está marcado para sempre como um dos maiores e mais apaixonantes ídolos da Magnética, e um dos campeões mais marcantes d'O Mais Querido do Brasil. De fato, é o Leônidas da Silva de toda uma geração de flamenguistas.

Até a data dessa postagem, ele ostenta os títulos do Campeonatos Carioca de 2019/20/21 e 24; as Supercopas do Brasil de 2019/20; a Copa do Brasil de 2022; os Campeonatos Brasileiros de 2019 e 2022; a Recopa Sul-Americana de 2020; e as Libertadores da América de 2019 e 2022.



Ponteiros/Atacantes:





Meia-Atacantes:








Meia-Armadores:









Volantes:





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