quinta-feira, 8 de agosto de 2019

VINA GUERRERO E O ASSASSINATO DA DINASTIA DOS BOZÓS

''Isto é: Ainda acha que o presidente deveria ser fuzilado?
Bolsonaro: Eu não errei em falar isso naquele local, naquela oportunidade e naquele momento. E acho que tenho o direito de falar. Eu não xinguei o presidente, nem disse que ele não conhece o pai dele. Acho que o fuzilamento é uma coisa até honrosa para certas pessoas.''


Entrevista à Revista ''Isto é Gente'', publicada em maior de 2000



O jornalista Vina Guerrero defendeu a Revolução ou o Impeachment como meios de parar a barbárie de Bolsonaro. Mas o jornalista cometeu um excesso retórico contra a família do governante.


Uma grande polêmica se instaurou ontem, primeiro em redes sociais, depois na grande mídia, e finalmente no PDT e no próprio governo Bolsonaro. O jornalista Vina Guerrero publicou em seu canal no Youtube vídeo em que criticava em tons fortes o atual governo, suas políticas e as declarações recentes do Presidente da República.


Em certo trecho, Guerrero perde a calma, e diz que os brasileiros não poderiam mais suportar um Presidente como Jair, que merecia ser assassinado ao lado de seus filhos.


Sejamos claros: o excesso de Guerrero foi um erro. Por mais que Jair Bozó propague o ódio e tenha instigado, ele próprio, a violência moral e física, ponto a que voltarei mais adiante, não nos cabe defender agressões contra as autoridades públicas. Tampouco contra um Presidente eleito segundo as regras de um jogo que a sociedade aceita como a melhor forma de resolução de conflitos, e que está formalizado na nossa Constituição e códigos legais.


O equívoco de Guerrero, no entanto, não passa de um arroubo retórico levado a termo por emoção. Acompanho seus vídeos há alguns meses. O histórico de seu canal evidencia que se trata de pessoa que preza pelo debate, pelas disputas eleitorais e pela democracia. Quem conhece seu trabalho de base testemunha seu esforço para ajudar a população mais pobre, ouvir suas demandas e levá-las a órgãos de participação política competentes. É um patriota exercendo sua cidadania.


Já as reações ao vídeo devem ser objeto de muito maior preocupação. Um desabafo em um canal cujo alcance não passa de poucos milhares de pessoas, e cujos vídeos tem, em média, apenas centenas de visualizações, foi reproduzido fora de contexto por milícias virtuais em redes sociais. Tornou-se um dos assuntos mais comentados em um dia em que uma juíza lava-jatista tentou transferir Lula de Curitiba para um presídio em São Paulo em reação às informações da imprensa que dão provas do projeto de poder e das ilegalidades por trás de toda a operação. Tornou-se escândalo no mesmo dia em que se descobriu que a força-tarefa da República de Curitiba usava senadores da República como laranjas para investirem contra Ministros do Supremo Tribunal Federal.


Sérgio Moro, que a essa altura todos sabemos ser o verdadeiro chefe da Lava-Jato, não perdeu tempo e abriu uma investigação contra o youtuber, ameaçando de enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional. O mesmo Ministro da Justiça que não consegue explicar as irregularidades cometidas quando magistrado; que publicou uma portaria inconstitucional que permitia rito sumário para expulsão de estrangeiros e que se suspeita ter como alvo um jornalista que o incomoda; que teve acesso a informações sigilosas de inquéritos da Polícia Federal e as utilizou, como um mafioso, para oferecer uma forma de “proteção” a autoridades públicas.

 
Sérgio Moro e Bolsonaro pretendem criar bodes expiatórios e perigos imaginários como meio de justificar o desapreço de ambos pelo devido processo legal

Não devemos esquecer que o Presidente da República está obcecado para encontrar uma “conspiração” comunista por trás da facada que recebeu de Adélio, um indivíduo que sofre de transtornos mentais segundo avaliação psiquiátrica. A tal conspiração nunca foi encontrada pela Polícia Federal, o que não impediu Bolsonaro de atacar a OAB por ter defendido o advogado de Adélio de uma tentativa de investigação de seu celular. Segundo ele, a OAB não quer que se solucione o atentado contra sua vida.


É nesse contexto de teorias conspiratórias e procura por bodes expiatórios que o atual governo, que prefiro chamar de Reino dos Bozós, não pensou duas vezes em atacar um jornalista que perdeu a calma e cometeu uma falha em um canal de Youtube a que pouquíssimos tem acesso e que, bem avaliado, não passa de uma mistura de exagero, desabafo e fanfarronice, ainda que um tanto irresponsável.


O cenário acima ajuda também a compreender o que leva um cidadão comum e defensor do ordenamento legal a esse tipo de lapso retórico. Vina Guerrero reagiu emotivamente a um Presidente que tem um longo histórico de pregação da violência como método de atuação política. É de conhecimento geral que Bolsonaro defendeu o fuzilamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso no fim da década de 1990.


Nesse caso, não se tratava de uma resposta irrefletida. O então deputado defendeu repetidas vezes que FHC deveria ser assassinado. Afirmou com convicção em entrevistas ao vivo, em cerimônias na presença de oficiais militares, em conversas com parlamentares. O motivo seriam as privatizações que o governo do PSDB havia conduzido, muito parecidas com aquelas hoje defendidas apaixonadamente por Paulo Guedes e que contam com o apoio da família Bolsonaro.


O Congresso tentou abrir um processo disciplinar contra o tresloucado parlamentar, mas isso não o demoveu da ideia. Em entrevista para uma revista no ano 2000 ele voltou a dizer que não considerava que havia errado e que o fuzilamento era até uma honra "pra determinado tipo d pessoa". Chegou a descrever a forma como alguém poderia assassinar o Presidente, dando detalhes de como ele próprio poderia, se quisesse, levar a efeito uma “missão suicida”. Anos depois, no Programa de entrevistas de Jô Soares, Bolsonaro repetiu que sua fala era uma reação às privatizações, citando a Vale do Rio Doce, a CSN e outras medidas que considerava como “crimes”.Bozó nunca pediu desculpas.


Sua última justificativa é a de que o “fuzilamento” era uma “força de expressão”. Mas Fernando Henrique foi só uma das polêmicas mais famosas de seu currículo. O atual Presidente já disse defender a tortura. Acha um absurdo que se fale tanto sobre o assassinato da vereadora Marielle. Tem Brilhante Ustra, um araponga e torturador de porões, como leitura de cabeceira. Seu símbolo de campanha era fazer “arminhas” com as mãos, fingindo disparar contra adversários políticos. Declarou que o grande erro do regime militar foi não ter matado uns trinta mil indivíduos. Depois do primeiro turno nas eleições do ano passado, avisou para uma multidão na Avenida Paulista que baniria do país os “marginais vermelhos”. Em diferentes ocasiões mencionou que iria “fuzilar a petralhada”, sendo um exemplo sua campanha no Acre alguns meses atrás.


Bolsonaro se sentia protegido pela imunidade parlamentar e a justificava: “tenho o direito de falar”. Óbvio que ele se refere não ao princípio da liberdade de expressão, mas à proteção que o sistema legal supostamente lhe daria para defender os maiores absurdos, pra pregar o extermínio, o homicídio, estimular a violência policial e o conflito social. É necessário enfatizar que esse mesmo senhor justifica o regime militar e toda sua brutalidade de Estado por pensar que do outro lado havia o perigo comunista, que ameaçava tragar o país para o abismo. Por todos os exemplos que forneci acima, é razoável pensar que Bozó continua pensando exatamente da mesma maneira, o que torna ainda mais inquietante sua reação ao jornalista Vina Guerrero.

Bolsonaro tem um longo histórico de pregação de ódio, defendendo a tortura, o fuzilamento de adversários políticos e o fuzilamento de Presidentes da República


O bolsonarismo e seu governo, o Reino dos Bozós, é o verdadeiro perigo à segurança do país e de nosso povo. Foi ele que tornou possível que deputados defendessem que aqueles que “gostam de índio” devem se mudar para a Bolívia. Possibilitou que governadores de Estado sobrevoassem a população em helicópteros que executavam supostos criminosos sem apreço algum ao devido processo legal. O Reino dos Bozós depende da criação de bodes expiatórios cubanos, venezuelanos, soviéticos, russos, comunistas, petistas, esquerdistas para impor a barbárie. Devemos todos encarar a verdade de que se trata de um monstro que cresceu debaixo dos nossos narizes, e que agora não sabemos ao certo como pará-lo.


Embora eu não concorde com o conteúdo do exagero retórico do jornalista Vina Guerrero, compreendo seu sentimento. Em meio à sua emoção, havia uma frase cuja verdade é cristalina, irrefutável. Não podemos mais suportar que um “bosta” como Bolsonaro permaneça na Presidência da República. E é hora de termos coragem para fazermos o que já deveria ter sido feito há décadas, segundo o devido processo legal, esse mesmo que é ultrajado a cada instante por nossos atuais governantes.

Um comentário:

  1. É correta a reação que vem da alma. Vina é um cara que fala oq pensa e sente. Palavras mais duras devem serem ditas quando no poder temos um autoritário que agora ataca o Brasil legal. Brasil real continua piorando e em vez de reagir exigimos o que? Uma nova reação bovina. Posição de herói ao nosso VINA.

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