Os dados de religião do Censo 2022 começaram a ser divulgados essa semana, revelando algumas surpresas. É verdade que os números são diferentes daqueles 'vazados' por Gerson Camarotti na Globonews há pouco mais de um mês. É possível que o jornalista tivesse em mãos o dado de um recorte populacionais [as informações dele batem exatamente com a proporção de católico-romanos e evangélicos na população de cor/raça branca], e não do quadro populacionais geral. Apesar disso, o Censo também frustrou algumas das principais projeções que vigoraram entre especialistas sobre o campo religioso do nosso país.
sábado, 7 de junho de 2025
O BRASIL QUE NÃO SERÁ EVANGÉLICO
Os dados de religião do Censo 2022 começaram a ser divulgados essa semana, revelando algumas surpresas. É verdade que os números são diferentes daqueles 'vazados' por Gerson Camarotti na Globonews há pouco mais de um mês. É possível que o jornalista tivesse em mãos o dado de um recorte populacionais [as informações dele batem exatamente com a proporção de católico-romanos e evangélicos na população de cor/raça branca], e não do quadro populacionais geral. Apesar disso, o Censo também frustrou algumas das principais projeções que vigoraram entre especialistas sobre o campo religioso do nosso país.
sábado, 11 de janeiro de 2025
Dugin, o novo Olavo?, ou: O Ocidente como salvação da Quarta Teoria Política
"O ontem do Ocidente preparou o hoje do Ocidente como um Ocidente Global. Os valores ocidentais de ontem, incluindo o cristianismo ocidental, prepararam os valores hipermodernos de hoje. Pode-se rejeitar esse último passo, mas o passo precedente, que vai na mesma direção, não pode ser considerado uma alternativa séria."
Dugin, "Os EUA e a Nova Ordem Mundial, um debate entre Alexander Dugin e Olavo de Carvalho"
Há anos Alexander Dugin tem mitigado suas teses para adequá-las ao trumpismo e à ascensão chinesa. As reticências em relação à nova superpotência e a preferência por um polo geopolítico extremo-oriental centrado no Japão tiveram de ser deixadas de lado por causa da dependência cada vez maior da Rússia em relação a Xi Jinping.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
AINDA ESTOU AQUI [2024]
Em novembro passado, escrevi no meu Facebook sobre "Ainda estou aqui", filme que proporcionou à Fernanda Torres o Globo de Ouro de melhor de atriz. Recupero o texto.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Nosferatu [2024] e A Bruxa [2015], o terror sobrenatural de Eggers contra a fragilidade do racionalismo
No fim de 2023, escrevi no meu Facebook sobre o filme 'A Bruxa' [The Witch], a estreia de Robert Eggers em 2015. [Reproduzo o texto no fim dessa postagem.] O intuito era apontar a incapacidade de muitos críticos de perceberem que o filme era sobre...bruxaria! Preferiam psicologizar os temas, tratá-los como alegorias contra uma sociedade patriarcal, misógina, repressora e supersticiosa.
Ainda que o filme tangencie isso tudo, a pegada é terror sobrenatural. A feiticeira está mesmo lá na floresta, ela de fato sequestra o bebê e o mata em um ritual para reforçar seus poderes mágicos, a protagonista verdadeiramente estava em um processo de pacto com o cramulhão. As viseiras ideológicas não permitiam, no entanto, que estas pessoas notassem o minucioso trabalho de reconstrução histórica de Eggers e seu talento para nos transportar para um mundo em que bruxas existem.
Pois bem, assisti ontem 'Nosferatu' [2024], do mesmo diretor, que já disse alhures que seu sonho de infância era fazer um remake do clássico imortal de Murnau, lançado no auge do cinema mudo, ainda em 2022. [E que gerou outro filmaço no fim dos anos 1970, dessa vez dirigido por Herzog, e protagonizado por Klaus Kinske e Isabelle Adjani]. O tamanho do desafio tinha tudo para fazer o sonho se tornar um pesadelo. Eggers conseguiu, no entanto, transformar o clássico em um filme seu, e um filme seu em uma síntese do terror gótico e das crenças medievais e modernas no vampirismo, antes das idealizações juvenis do século XX.
Mais ainda, ele aproveita para criticar explicitamente a mentalidade modernosa, iluminista e cientificista que aliena o ocidental do sagrado, das forças psíquicas e espirituais, e o torna presa fácil de um mundo cuja existência ele se recusa a admitir. O diretor mira justamente nas pessoas que assistem um filme sobre bruxaria sem conseguir ver a bruxa que é assunto principal da trama. Nas palavra de Von Franz [William Defoe vivendo o 'Van Helsing' da vez], a ciência tanto nos iluminou quanto nos cegou para estas forças cósmicas. Aliásd, o personagem que tipifica o racionalismo da Europa oitocentista é punido pela perda de toda sua família.
Tenho um texto sobre o assunto nesse blog [leia Sobre o Vampirismo] e recomendo a leitura para aqueles que desejam vislumbrar os fundamentos da história [re]contada por Eggers. O diretor se focou no 'folclore' das populações do período e complementou tudo com leitura esotérica e ocultista o suficiente para realizar seu sonho de criança. De todas as versões de Nosferatu/Drácula, esta é disparada a que melhor capta o esqueleto que sustenta o famoso conto de um entidade atraída dos confins de uma Europa distante temporal e geograficamente do Ocidente nascente.
Afinal, os ''oceanos de tempo'' atravessados pelo nosferatu, citados por Coppola em seu 'Drácula, de Bram Stoker' [1992], não passam, no fundo, de uma viagem do interior da Romênia para alguma cidade portuária alemã. Diferente de Coppola, no entanto, o vampiro não tem qualquer laço afetivo e emocional por Ellen Hutter [nossa 'Mina', vivida por Lily-Rose Depp]. O próprio Conde Orlok afirma a certa altura que ''não passa de um apetite'' invocado pela força psíquica de uma adolescente que, sem conseguir lidar com seus dons preternaturais, sofrendo com a distância do pai, e com o erotismo à flor da pele, se envolve com um íncubo. O tema da possessão demoníaca permeia o filme, e a atuação de Depp impressiona na fisicalidade e nas transformações ocasionadas pelos ataques sobrenaturais e histéricos, pelos transes, pela epilepsia e pelas neuroses. Longe de ser uma vítima, ela é antes a 'feiticeira' que invocou um gigante até então preso no Hades.
De modo similar, os costumes e ritos de ciganos e de religiosos romenos são retratados com fidedignidade capaz de gerar assombro no espectador. E também as práticas ocultistas de uma burguesia em busca de imortalidade, tipificadas aqui pelo bizarro Herr Knock [vivido por Simon McBurney]. Sigilos e círculos esotéricos, o envolvimento com feitiçaria que leva à transformação em vampiro após a morte, o papel de virgens no processo de caça ao monstro, o misticismo cristão-ortodoxo, e a ideia de pacto satânico [com ecos também de bruxaria. Está tudo lá.
E Bill Skargard constrói o Orlok/Drácula mais terrífico já visto. Tudo nele remete a algo profano, corrupto e demoníaco, formados pela conjunção de uma voz aberrante, vinda de algum lugar do inferno, entrecortada com soluços e uma respiração difícil, e o corpanzil de dois metros se movimentando com dificuldade em uma figura montada em muita pesquisa sobre os nobres romenos do século XV. De resto, a experiência imersiva de mundos históricos apresentados de forma impressionante, e com sutilezas, como o castelo tcheco usado no filme de Herzog. Os aspectos técnicos são um dos pontos altos, principalmente a cinematografia e o ritmo. Aliás, a tensão não cai em momento algum, o espectador está sempre desconfortável diante do conto de horror.
Vai ter gente reclamando que o filme não dialoga com as pessoas do nosso tempo. O que não passa de mais uma bobagem iluminista. Por trás da máscara de racionalização, todos nós continuamos, ao fim e ao cabo, com medo do escuro.
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Abaixo, texto de novembro de 2023.