terça-feira, 30 de abril de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Laterais: os 'Médios' Jayme de Almeida e Biguá

Diferente de goleiros e zagueiros, o lateral é uma posição que se consolidou somente com os desenvolvimentos táticos dos anos do profissionalismo. Não é hora de entrar nesses aspectos agora, vou deixar pra esmiuçá-los quando falarmos dos grandes treinadores da história do Flamengo.




Mas a modernização tática do futebol brasileiro foi uma revolução também ocorrida na Gávea com a contratação do treinador húngaro Dori Kurschner [''Krushner''], que nos levou do 2-3-5 tradicional para o WM; e com Flávio Costa, que a partir do WM europeu inventou a Diagonal brasileira, uma ponte para o 4-2-4 [também consolidado no Brasil em uma nova revolução tática implementada por treinadores como Fleitas Solich].


O impacto do português Jorge Jesus no Brasil não é exatamente uma novidade. Historicamente, o Flamengo esteve mais de uma vez na vanguarda das transformações do nosso futebol.

Depois dessa introdução, vamos àqueles que considero os principais laterais da história rubro-negra, em ordem cronológica. Serão agrupados aqui tantos os que atuaram pelo lado direito quanto pelo lado esquerdo.



1) JAYME DE ALMEIDA [1941-1950]




Mineiro revelado pelo Atlético MG, Jayme chegou na Gávea aos 20 anos de idade para disputar posição com o argentino Volante [de quem falaremos em outra ocasião]. Não podendo barrar o titular, mas com técnica apurada e quase imbatível, foi escalado como ''médio-esquerdo'', a posição que na Diagonal [o WB à brasileira] corresponderia ao desenvolvimento da lateral-esquerda.

Foram mais de 340 partidas defendendo o Manto Sagrado e títulos em profusão. Jayme foi o grande capitão do famoso time rubro-negro tricampeão carioca em 1942/43/44. Com atuações primorosas e liderança, chegou à seleção brasileira, da qual foi titular incontestável entre 1942 e 1946, período em que disputou três Sul-Americanos [a antiga Copa América] e conquistou as tradicionais Copa Roca e Taça Rio Branco. Por causa da Segunda Guerra Mundial, não teve a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo.




Jogador leal, foi o primeiro contemplado com o prêmio Belfort Duarte, criado pelo Conselho Nacional de Desportos para celebrar atletas que atuassem por 10 anos ou 200 jogos sem expulsões do campo.




Jayme se tornou técnico depois de deixar os gramados. Treinou o Flamengo no início dos anos 1950 [e também na lendária goleada que aplicamos no Boca Juniors em ''La Bombonera'', em 1958], mas sua carreira só engrenou de fato no Peru. Teve imenso papel no desenvolvimento do futebol no país vizinho, onde ganhou o título de 'Don', se sagrando campeão nacional por três vezes à frente do Allianza durante os anos 1960 e profissionalizando ninguém menos que o genial Cubillas.



Pra completar, é pai do zagueiro e depois técnico Jaime de Almeida, que conquistou de vez a posição de titular do Flamengo em 1973, mesmo ano em que o pai faleceu em Lima.



2) BIGUÁ, O ÍNDIO [1941/53]




Moacir Cordeiro foi um dos maiores ídolos da torcida e um dos atletas que mais garra demonstraram com o Manto Sagrado. Começou na base do Athletico Paranaense, mas foi profissionalizado no Savoia, clube fundado pela colônia italiana.

[que mais tarde mudou de nome para Água Verde, depois Pinheiros, e mais tarde se fundiria ao Colorado para formar o atual Paraná Clube.]

Como era cabra de pele escura no meio de filhos de europeus, ganhou o apelido de Biguá, pássaro de penugem escura, e de Índio ou Bugre. O apelido apesar da passagem curta pelo Savoia: Biguá chegou à Gávea com apenas 20 anos de idade. Desde então, nunca mais vestiu camisa de qualquer outro clube. O preto e encarnado virou sua segunda pele meio século antes da expressão se tornar slogan de Júnior Capacete.




Com apenas 1,60 m de altura, o 'Índio' era um marcador leal e ao mesmo tempo implacável, de imenso fôlego, elasticidade e capacidade de recuperação. Seus confrontos contra o ponta-esquerda Chico, do Vasco da Gama, entraram para a história do futebol da cidade. Tamanha sua dedicação que não raras vezes era aplaudido até pela torcida adversária.

O tamanho de sua identificação com a torcida pode ser compreendido quando Domingos da Guia, já em fim de carreira, foi jogar no Corinthians. Em meados dos anos 1940, o ''Mestre Divino'' recomendou que o clube paulista contratasse o lateral. A resposta negativa de Biguá foi acompanhada de uma pergunta que, da perspectiva de seu amor pelo Mais Querido, era insolúvel: ''E o que eu vou fazer quando o Corinthians jogar contra o Flamengo?"




Biguá chegou à seleção brasileira e era titular no Sul-Americano [Copa América] de 1945. O Brasil perdeu a final para a Argentina, mas ele parou Felix Lostau, lendário ponta do River Plate, que declarou que o lateral do Flamengo foi seu melhor marcador. Saiu da seleção no ano seguinte por causa de uma contusão que lhe deixou seis meses fora dos campos e nunca mais recuperou a posição.


Assim como seu companheiro Jayme, Biguá fez parte da criação da posição de lateral no futebol brasileiro. Na numeração do antigo 2-3-5 era um dos jogadores da linha média, à frente da zaga, mais especificamente o médio-direito [assim como Jayme seria o médio-esquerdo]. Mas na Diagonal, o WM à brasileira implantado por Flávio Costa no Flamengo a partir do que aprendeu com o trabalho do húngaro Doris Kurschner na Gávea, era na verdade o que chamamos depois de lateral direito no 4-2-4.



Não fossem as contusões, Biguá seria o único remanescente do primeiro tricampeonato a fazer parte d'O Rolo Compressor dos anos 1950. Mas rompeu os ligamentos do joelho no início dos anos 1950, e foi para a reserva. Se aposentou depois da vitória do Flamengo no campeonato de 1953, fazendo uma emocionada despedida contra o Botafogo. No ritual de ''entrega de chuteiras'', se mostrou um grande pé quente. Quem recebeu as chuteiras de Biguá foi um garoto de nome Carlinhos, de quem falaremos mais tarde.

Os mais importantes títulos de Biguá com o Flamengo são os cariocas de 1942/43/44 e 1953. Começou jogando com Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Volante e Zizinho, terminou a carreira atuando ao lado de Rubens, Dequinha, Zagallo, Evaristo de Macedo.


Clique nos links abaixo para ler as postagens anteriores da série:


Zagueiros:






Goleiros:



quinta-feira, 25 de abril de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Zagueiros: Parte final

9 ) RONALDO ANGELIM, O "MAGRO DE AÇO" (2006/11)

♬Bonita foi a festa do Hexa com o Imperador,
o gol do Angelim no escanteio que o Pet cobrou♫




Nem só de craques de apurada técnica e vitoriosos na seleção vive um grande clube. Ídolos se constroem em dedicação ao time, identificação com a torcida e heroísmo. E poucos zagueiros demonstraram tantas vezes isso pelo Flamengo quanto esse cearense vindo de Cariri e das proximidades da mística Juzeiro do Norte, terra do Padim Ciço.

Angelim já estava imortalizado no coração do torcedor do Fortaleza quando chegou ao Flamengo em 2006. Teve dificuldades pra se consolidar como titular, mas se acertou definitivamente com a vinda de Fábio Luciano pra companheiro da zaga. Angelim continuou em sua toada mesmo após a aposentadoria do parceiro, dando solidez à defesa que veio a se tornar campeã brasileira em 2009.




Esse título é um dos mais especiais da história rubro-negra. Colocou fim a uma era de trevas em que O Mais Querido ficou distante da disputa pelos principais títulos nacionais. Já eram dezessete anos sem vencer a principal competição brasileira. Ainda que não tenha dado origem a uma nova Era de Ouro, como Rondinelli em 1978, o cabeceio de Angelim na rodada final contra o Grêmio, em um Maracanã lotado, redimiu toda uma geração de rubro-negros, que naqueles tempos só escutavam dos mais velhos o famoso ''Meninos, eu vi...''

Angelim os fez ver também. No dia seguinte à conquista, um jornalista de veículo famoso perguntava, ''como um clube desse tamanho fica 17 anos sem ganhar o Brasileiro?" Não era pra ficar, não pode ficar.




Profissional dedicado, sério, exemplar, Angelim deixou o clube em fevereiro de 2011. Mas está pra sempre marcado no coração de todo torcedor. O nome dele, aliás, é Ronaldo. E naqueles tempos nos acostumamos a dizer com todo orgulho: só há um único e verdadeiro Ronaldo. O Angelim.

Seus principais títulos n'O Mais Querido do Brasil: campeão carioca em 07/08/09 e 2011; Copa do Brasil 2006; Campeonato Brasileiro em 2009.






10) RODRIGO CAIO [2019/23]




É sempre uma temeridade eleger como um dos principais ídolos de um grande clube um jogador relativamente jovem. A montanha russa de paixões do futebol transforma heróis em vilões em questão de lances e com as voltas que a terra plana dá. Mas se um meteoro colocasse fim à vida amanhã, Rodrigo Caio teria seu lugar garantido com um dos mais marcantes beques que já passaram pela Gávea.




Formado pelas divisões de base do São Paulo, o zagueiro viveu relação de amor e ódio com a torcida do tricolor paulista. Acabou responsabilizado pela perda de peso do clube nas disputas nacionais e internacionais, e pelo jejum de títulos que se abateu sobre o Morumbi. Foi negociado com o Flamengo sob grande desconfiança, mesmo sendo atleta vez em quando convocado para seleção brasileira e que foi cotado para a Copa de 2018.

Mas no Flamengo seu futebol floresceu como nunca. Formou uma das mais lendárias duplas de zaga já vistas n'O Mais Querido, junto ao espanhol Pablo Marí. E mesmo quando a parceria se rompeu, se manteve como o líder incontestável da defesa de um dos elencos mais dominantes já montados na Gávea. Infelizmente, a gravidade dos problemas físicos comprometeu não só sua carreira na seleção como sua continuidade no clube. Já não conseguia atuar em alto nível em 2023, sua derradeira temporada com o Manto Sagrado.



Principais títulos: tricampeonato carioca 2019/20/21; Supercopa do Brasil 2020/21; Recopa Sul-Americana 2020; Campeonato Brasileiro 2019/20; Copa do Brasil de 2022; Libertadores da América em 2019 e em 2022.



11) OUTROS

Depois de escolher a prateleira superior com os principais beques do clube, vamos a um grupo que está colado no principal, e que só não teve lugar por critérios desse que vos escreve.

I) EMMANUEL NERY [1912/19]

Assim como seu companheiro Píndaro de Carvalho, esse carioca fez parte do grupo de jogadores que, brigados com o Fluminense, buscaram refúgio na Gávea. Esteve no primeiro jogo da história do Flamengo, participou da primeira dupla de zaga, e também foi titular na primeira partida da história da seleção brasileira. Seus principais títulos pelo Flamengo são o bicampeonato carioca 1914/15.



II) NEWTON CANEGAL [1939/1952]

Também carioca, chegou no clube para fazer parceria com Domingos da Guia e permaneceu depois do parceiro sair da Gávea. Atuou no clube por 13 temporadas. Levantou 16 taças, sendo as principais os cariocas de 1939, 42/43/44, além do Rio São Paulo de 1940 [não reconhecido pela CBF]. Foi técnico das divisões de base e auxiliar técnico depois da aposentadoria.



III) PAVÃO [1951/1960]

''♬O mais querido tem Rubens, Dequinha e Pavão.
Eu já rezei pra São Jorge pro Mengão ser campeão.♫''

Imortalizado no samba de Wilson Batista, Marcos Cortez, paulista revelado na Portuguesa Santista, era titular absoluto do Rolo Compressor, equipe do Flamengo que dominou o Rio durante a maior parte dos anos 1950. Foi tricampeão carioca em 53/54/55. No fim da carreira, voltou pra cidade natal e jogou pelo Santos de Pelé.




IV) JAYME DE ALMEIDA [1972/77]

Filho de uma lenda da Gávea [Jaime, de quem falarei em breve], foi profissionalizado pelo Flamengo no início dos anos 1970. Tinha grande técnica, e ajudou o clube a levantar os estaduais de 1972 e 1974, além do bicampeonato da Taça Guanabara em 1972/73. Vendido para o São Paulo, ganhou o paulistão mas sofreu contusão séria que o prejudicaria até o fim da carreira. Vestiu a camisa da seleção brasileira em torneios em 1976. Depois da aposentadoria, se tornou técnico, com três passagens pelo Flamengo, se sagrando campeão carioca em 2017 e campeão da Copa do Brasil em 2013.




V) JÚNIOR BAIANO [1989/1993; 1996/1998; 2004/05]

Revelado pelo Flamengo em uma era de imensa rivalidade com os jogadores formados nas categorias de base do Vasco, foi um dos principais beques brazucas dos anos 1990, conhecido pela técnica apurada que se misturava com surtos de loucura e violência. Tem uma das carreiras mais vitoriosas de nosso futebol. No Flamengo, venceu, dentre outros títulos, o campeonato carioca de 1991 e 2004, a Copa do Brasil de 1990, a Copa Conmebol em 1996 e o Campeonato Brasileiro de 1992. Foi campeão da seleção brasileira na conquista da Copa das Confederações em 1997 e no vice da Copa de 1998.



VI) FÁBIO LUCIANO [2007/09]

Chegou consagrado ao Flamengo para encerrar a carreira de forma digna, e formou uma das mais memoráveis duplas de zaga do clube, com Ronaldo Angelim, responsável pelo tricampeonato carioca 2007/08/09 em cima do Botafogo. Se tivesse adiado um pouco a aposentadoria, terminaria campeão brasileiro pelo clube.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Zagueiros 6, 7 e 8

 Continuação da série de maiores jogadores do Flamengo, citados por posição e em ordem cronológica. Abaixo, três grandes atletas formados n'O Mais Querido e que ganharam o mundo e marcaram a seleção brasileira. 

Clique para ler as postagens anteriores:


Zagueiros:

ii. Francisco Reyes e Antonio Rondinelli

i. Píndaro de Carvalho, Domingos da Guia e Jadir


Goleiros:

iii. Gilmar Rinaldi, Júlio César e Outros.

ii. Sinforíano García, Antonio Cantareli e Raul Plassmann

i. Amado Begnino e Yustrich [Amado Begnino]



6) MOZER, ''A MURALHA'' [1980/87]




Carlos era um menino pobre de Bangu, famoso em peladas nas quadras [que hoje chegaram ao fim] da Praça Primeiro de Maio. E se tornou destaque e um dos símbolos daquelas que podem ter sido as duas maiores gerações de zagueiros já produzidas no futebol brasileiro, as de 1980 e 1990. Naqueles anos, tivemos não só Mozer, mas também Ricardo Gomes, Ricardo Rocha, Aldair, Mauro Galvão, Edinho e outros.

Curiosamente, Mozer foi desprezado nas categorias de base do Botafogo. Mas no Flamengo, pelo contrário, se tornou ídolo. Júnior dizia que o time titular gostava de chegar mais cedo no Maracanã pra ver a atuação do junior [hoje diriam ''sub-20''] nas preliminares. O garoto era a síntese entre a raça de Rondinelli e a categoria de Domingos da Guia. E se transformou em excepcional batedor de faltas.

Sua contribuição para a Era de Ouro do Flamengo é indiscutível. Já disputava a posição no time principal desde o primeiro ano como profissional. Foi por causa dele que os dirigentes se sentiram seguros para vender o passe de Rondinelli. Foi também crucial nas vitórias na Libertadores da América sobre o Atlético Mineiro, em 1982, e sobre o Santos, em 1984.




Mozer não foi unanimidade apenas no Flamengo. Se transformou em um dos maiores ídolos da história do Benfica em duas passagens vitoriosas, no fim dos anos 1980 e no início dos anos 1990. E um dos grandes ídolos da história do Olympique de Marselha, o clube mais popular da França. E assim levantou campeonatos nacionais em três países diferentes: Brasil, Portugal e França.




Sua história com a seleção é um pouco mais complicada. Era consenso para a Copa de 1986, mas foi cortado por contusão pouco antes da competição. Começou como titular em 1990, mas perdeu a posição no time por divergências com o treinador sobre qual seria o papel do líbero. Estava no banco no jogo da eliminação para a Argentina. Mais ainda, se envolveu nas brigas da equipe com a comissão técnica e a diretoria da CBF, se queimando com Ricardo Teixeira, presidente da organização. Acabou cortado de maneira nebulosa da Copa de 1994. Oficialmente, um exame demonstrou que ele estaria com hepatite. O atleta realizou exames fora da seleção e no Benfica, clube que defendia então, e mostrou que a alegação era uma fraude. O destino quis que Aldair, que o substituiu quando saiu do Flamengo em 1987, ocupasse seu lugar no elenco que conquistaria o Mundial nos EUA.




No Flamengo, conquistou as Taças Guanabara de 1980/81/82 e 1984; os Campeonatos Cariocas de 1981 e 1986; os Campeonatos Brasileiros de 1980, 1982/83; a Libertadores da América de 1981; o Mundial Interclubes em 1981. Jogou com gênios como Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Tita, Aldair, Carpegiani e outros.



7) ALDAIR [1985/89]




O baiano Aldair era Flamengo mas tinha um pai fanático pelo Vasco. Por isso começou nas divisões de base do arqui-rival. Não se adaptou, foi embora, e mentiu para o 'véio', dizendo que havia sido dispensado.

Ledo engano. Aldair era um jogador forte, alto, rápido e tecnicamente exuberante como poucos vistos nos anos 1980 e 1990. Chegou à Gávea em 1982 ainda atuando como atacante, e foi recuado para a quarta zaga por Carlinhos, ex-ídolo do clube e que então trabalhava nas divisões de base [mais tarde, seria técnico vencedor na equipe profissional].




Testemunhas dizem que o destro Aldair aprendeu a usar a perna esquerda só para jogar na quarta zaga. E ele não apenas a usava, mas lecionava. Contribuiu para a conquista do campeonato carioca de 1986 e do Campeonato Brasileiro de 1987. Mas só se firmou como titular depois que Edinho, contratado para substituir Mozer, deixou o clube. Emendou duas Taças Guanabara antes de ser vendido por uma ninharia para o Benfica em meados dos anos 1989: Curiosamente, o clube português o levou também para substituir Mozer, que partia para o Olympique de Marselha.




Não ficou muito tempo no Benfica. Os dirigentes do Roma ficaram admirados com suas atuações, inclusive um lendário desempenho contra o Milan de Gullit, Van Basten e Rjikaard, e o contrataram para a temporada seguinte. Tornou-se ídolo incontestável da equipe italiana, atuando como titular por doze temporadas. O clube aposentou a camisa 6 quando Aldair foi embora.




Também tem rica história na seleção brasileira. Foi titular na conquista da Copa América de 1989, rompendo o jejum de quarenta anos na competição. Venceu o torneio sul-americano também em 1997, mesmo ano em que levantou a Copa das Confederações. Ajudou à seleção olímpica a conquistar a medalha de bronze em 1996. Fez parte do elenco da Copa de 1990, mas não foi aproveitado em nenhum jogo. Depois do corte de Mozer em 1994, se tornou titular e um dos líderes técnicos da equipe tetracampeã do mundo. Foi titular em mais um Mundial, em 1998, atuando ao lado de Júnior Baiano, seu conterrâneo e zagueiro também formado na Gávea. Naquela ocasião, a seleção terminou com o vice-campeonato.

Aldair ainda está na ativa, dessa vez no futevôlei, esporte em que defende os veteranos do Flamengo. É indiscutivelmente um dos maiores zagueiros do futebol pátrio.




8 ) JUAN (1999/2002; 2016/19)




O garoto carioca do Humaitá era rubro-negro fanático e craque do futsal quando chegou nas categorias de base da Gávea, ainda como meio campo. Depois de recuado para a zaga, se tornou ídolo do clube nos juvenis. Torcedores como eu já o acompanhavam com orgulho quando Juan acumulava taças ainda como junior.




Juan se fixou na equipe principal na campanha que levou ao título da Mercosul de 1999, conquistada em cima do Palmeiras no Parque Antártica. O zagueiro, que ganharia também fama de artilheiro, marcou um gol naquela decisão. Atleta fundamental nos dois últimos títulos do lendário tricampeonato 99/00/01, contra o Vasco, Juan também se destacou na conquista da Copa dos Campeões 2001 contra o São Paulo.

Depois seguiu caminho semelhante ao de Mozer e Aldair. Passe vendido ao Benfica e depois ao Roma, onde se consolidou como um dos grandes zagueiros da primeira década do século.




Na seleção, foi titular absoluto por sete anos consecutivos. Levantou a Copa América de 2004 e 2007, e a Copa das Confederações de 2005 e 2009. Participou de duas Copas do Mundo, em 2006 e 2010, terminando ambas em quinto lugar.

Retornou ao Brasil em 2012, e depois de 3 anos de Internacional, deu um sprint final na carreira no clube de seu coração. Sua ajuda foi imprescindível para que o Flamengo voltasse a disputar as primeiras posições do Campeonato Brasileiro, a partir de 2016. Em 2018, empatou os 33 gols de Júnior Baiano, se tornando, junto com o antecessor, o maior zagueiro artilheiro do clube.



A contusão de Juan no fim de 2018 foi um dos fatores que impediu que o Flamengo fosse campeão nacional naquele ano. Ficou seis meses fora da equipe, e retornou para se despedir, primeiro no estadual, e depois na estreia do time no Campeonato Brasileiro de 2019. O suficiente para fazer parte da campanha do título daquele ano. Juan continua contribuindo pr'O Mais Querido, dessa vez como gerente de futebol.

Seus principais títulos pelo Flamengo: Campeonato Carioca de 2000/01, 2017 e 2019. Copa dos Campeões de 2001. Mercosul de 1999. Campeonato Brasileiro de 2019.



domingo, 21 de abril de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Zagueiros 4 e 5

Nova postagem sobre os maiores jogadores de futebol do Flamengo. Nessa altura da série estou falando dos ídolos da zaga rubro-negra. Lembro que os nomes são apresentados em ordem cronológica. Cliquem nos links abaixo para acessar os textos anteriores:


Zagueiros:

i. Píndaro de Carvalho, Domingos da Guia e Jadir

Goleiros:

i. Amado Begnino e Yustric [David Knipel]

ii. Sinforíano García, Antônio Luís Cantareli e Raul Plassmann;

iii. Gilmar Rinaldi, Júlio César e Outros.


4) REYES (1967/1973)




Quando comecei a acompanhar o Flamengo, no início dos anos 1980, Francisco Reyes ea figura líquida e certa nas ''seleções de todos os tempos'' d'O Mais Querido do Brasil. O índio guarani deu continuidade à majestosa tradição de atletas e técnicos do Paraguai na Gávea. Depois de marcar a história no Olímpia e chegar à seleção de seu país, o então meia-armador teve passagem apagada pelo Atlético de Madri. Mas chamou a atenção de dirigentes do Flamengo que se encontravam na Espanha com a intenção de repatriar o atacante Silva, ''o Batuta".

O clube passava por um momento difícil na segunda metade dos anos 1960, e Reyes teve problemas de adaptação. Protagonizou também episódios de indisciplina quando Aymoré Moreira tentou escalá-lo como zagueiro. Virou carta fora do baralho e foi emprestado pro Campo Grande em 1969. Numa excursão com juniores, no entanto, jogou na quarta zaga e se destacou. O veterano treinador Yustrich, de quem falei nos tópicos sobre goleiros, o convenceu a se fixar na posição já que não tinha mais nada a perder.




E daí se deu a transformação. A partir de 1970, o guarani dominou a zaga rubro-negra com um misto de raça e categoria. No Robertão daquele ano, ganhou a Bola de Prata da Placar com aquela que é, até hoje, a maior pontuação média de um jogador [8,13]. Teria conquistado a Bola de Ouro se ela já existisse na época. Reyes personificou a ressurreição d'O Mais Querido no alvorecer dos anos 1970.

Foi fundamental na conquista do Torneio do Povo de 1972; das Taças Guanabara de 1970, 1972/73; e do campeonato carioca de 1972. Sofreu séria contusão em 1973, e ganhou do clube um jogo de despedida no início de 1974, já como um dos grandes ídolos da massa rubro-negra. Pensou em se naturalizar brasileiro, mas decidiu voltar ao Olímpia pra encerrar a carreira, ainda com a esperança de retornar para a seleção paraguaia, o que acabou não acontecendo. Francisco Reyes faleceu de leucemia em 1976 com apenas 35 anos de idade.



Foram quase 200 partidas defendendo o Manto Sagrado e uma imagem imorredoura no coração da torcida. Jogou com ídolos do porte de Liminha, Carlinhos, Doval, Rodrigues Neto, Paulo César Caju e outros.



5) RONDINELLI, O ''DEUS DA RAÇA'' [1971/1981]




O paulista Antônio José Rondinelli mudou decisivamente os rumos do futebol mundial. Não é exagero. De certa maneira, ele é a origem da Era de Ouro do Flamengo. Mais do que Zico, Júnior, Tita e Adílio, ele representa o ''Marco Zero'' de um dos maiores times de futebol já vistos.

Rondinelli se profissionalizou na Gávea em 1971, um dos primeiros de grupos ininterruptos de atletas formadas na casa e que levariam O Mais Querido aos píncaros da glória. Jogador muito forte e de imensa disposição, ganhou de uma torcida organizada [a Raça Rubro Negra] o epíteto de ''deus da raça'', com o qual passou a ser conhecido por todos a partir de meados da década de 1970.




Era parte da equipe de jovens que surpreendeu a todos ao se sagrar campeão carioca de 1974 e rivalizar contra a Máquina Tricolor de Rivelino nos anos seguintes. Lances lendários cercavam seu nome desde essa época. Zico conta que Rondinelli foi o único jogador a dividir uma bola usando a cabeça, que foi assim que ele tirou a pelota dos pés de Rivelino em certa ocasião. Esse era o tamanho de sua bravura.

Só que aquela talentosa equipe de jovens que subiu para o profissional não era ainda vitoriosa. Pelo contrário, ameaçava fica pelo caminho, como uma promessa nunca realizada. O Fluminense foi bicampeão carioca em 1975/76. E depois surgiu o experiente, técnico e catimbeiro time do Vasco comandado por Leão, Marco Antônio, Roberto Dinamite, Zanata, Zé Mário, Abel Ferreira, Alcir, com uma das defesas mais sólidas já vistas.




O Flamengo perdeu duas Taças Guanabara seguidas nos penais, e o Gigante da Colina levou o título carioca de 1977. Quando o último jogo da decisão de 1978 chegou, já se contavam cinco jogos sem marcar gol no grande rival, de modo que o zagueiro Abel Braga declarou que preferia jogar a final contra o Flamengo.

O empate dava o título ao Vasco, até que o gol histórico de Rondinelli redimiu toda uma geração aos 41 minutos do segundo tempo. É bem possível que sem aquela cabeçada certeira após escanteio batido por Zico, o time ganhasse definitivamente a pecha de perdedor e fosse desmontado.




O gol de cabeça de Rondinelli era a trombeta mística anunciando a Era de Ouro. O time saiu campeão do Maracanã, experimentou a glória, e emendou 52 jogos sem derrota, recorde até hoje no nosso futebol. Vencemos oito turnos do Carioca consecutivos. Conquistamos o pentacampeonato da Taça Guanabara. Nos consolidamos como o melhor time do país ao levantarmos 3 de 4 campeonatos brasileiros. E daí para o continente, para o mundo, para o âmbito inalcançável do puro MITO em sua acepção superior.

Rondinelli ainda acumularia outras grandes histórias, como a do maxilar quebrado pela violência dos jogadores do Atlético Mineiro no primeiro jogo da decisão do Brasileiro de 1980. Saiu d'O Mais Querido em 1981, e, com problemas crônicos no joelho, teve passagens apagadas por outros clubes até encerrar a carreira em 1987.

O

'Deus da Raça' é o 18º jogador com mais partidas com o Manto Sagrado: 407 jogos em campo pelo Flamengo, o segundo zagueiro com mais participações, atrás apenas de Jadir. Levantou as Taças Guanabara de 1973, 78/79/80/81; os Campeonatos Cariocas de 1974, 1978/79/79 especial e 1981; o Campeonato Brasileiro de 1980; a Taça Libertadores da América em 1981; o Campeonato Mundial Interclubes em 1981. Teve passagem discreta pela Seleção Brasileira e fez parte do elenco que disputou a Copa América de 1979.