domingo, 21 de abril de 2024

OS MAIORES DA HISTÓRIA DO FLAMENGO -- Zagueiros 4 e 5

Nova postagem sobre os maiores jogadores de futebol do Flamengo. Nessa altura da série estou falando dos ídolos da zaga rubro-negra. Lembro que os nomes são apresentados em ordem cronológica. Cliquem nos links abaixo para acessar os textos anteriores:


Zagueiros:

i. Píndaro de Carvalho, Domingos da Guia e Jadir

Goleiros:

i. Amado Begnino e Yustric [David Knipel]

ii. Sinforíano García, Antônio Luís Cantareli e Raul Plassmann;

iii. Gilmar Rinaldi, Júlio César e Outros.


4) REYES (1967/1973)




Quando comecei a acompanhar o Flamengo, no início dos anos 1980, Francisco Reyes ea figura líquida e certa nas ''seleções de todos os tempos'' d'O Mais Querido do Brasil. O índio guarani deu continuidade à majestosa tradição de atletas e técnicos do Paraguai na Gávea. Depois de marcar a história no Olímpia e chegar à seleção de seu país, o então meia-armador teve passagem apagada pelo Atlético de Madri. Mas chamou a atenção de dirigentes do Flamengo que se encontravam na Espanha com a intenção de repatriar o atacante Silva, ''o Batuta".

O clube passava por um momento difícil na segunda metade dos anos 1960, e Reyes teve problemas de adaptação. Protagonizou também episódios de indisciplina quando Aymoré Moreira tentou escalá-lo como zagueiro. Virou carta fora do baralho e foi emprestado pro Campo Grande em 1969. Numa excursão com juniores, no entanto, jogou na quarta zaga e se destacou. O veterano treinador Yustrich, de quem falei nos tópicos sobre goleiros, o convenceu a se fixar na posição já que não tinha mais nada a perder.




E daí se deu a transformação. A partir de 1970, o guarani dominou a zaga rubro-negra com um misto de raça e categoria. No Robertão daquele ano, ganhou a Bola de Prata da Placar com aquela que é, até hoje, a maior pontuação média de um jogador [8,13]. Teria conquistado a Bola de Ouro se ela já existisse na época. Reyes personificou a ressurreição d'O Mais Querido no alvorecer dos anos 1970.

Foi fundamental na conquista do Torneio do Povo de 1972; das Taças Guanabara de 1970, 1972/73; e do campeonato carioca de 1972. Sofreu séria contusão em 1973, e ganhou do clube um jogo de despedida no início de 1974, já como um dos grandes ídolos da massa rubro-negra. Pensou em se naturalizar brasileiro, mas decidiu voltar ao Olímpia pra encerrar a carreira, ainda com a esperança de retornar para a seleção paraguaia, o que acabou não acontecendo. Francisco Reyes faleceu de leucemia em 1976 com apenas 35 anos de idade.



Foram quase 200 partidas defendendo o Manto Sagrado e uma imagem imorredoura no coração da torcida. Jogou com ídolos do porte de Liminha, Carlinhos, Doval, Rodrigues Neto, Paulo César Caju e outros.



5) RONDINELLI, O ''DEUS DA RAÇA'' [1971/1981]




O paulista Antônio José Rondinelli mudou decisivamente os rumos do futebol mundial. Não é exagero. De certa maneira, ele é a origem da Era de Ouro do Flamengo. Mais do que Zico, Júnior, Tita e Adílio, ele representa o ''Marco Zero'' de um dos maiores times de futebol já vistos.

Rondinelli se profissionalizou na Gávea em 1971, um dos primeiros de grupos ininterruptos de atletas formadas na casa e que levariam O Mais Querido aos píncaros da glória. Jogador muito forte e de imensa disposição, ganhou de uma torcida organizada [a Raça Rubro Negra] o epíteto de ''deus da raça'', com o qual passou a ser conhecido por todos a partir de meados da década de 1970.




Era parte da equipe de jovens que surpreendeu a todos ao se sagrar campeão carioca de 1974 e rivalizar contra a Máquina Tricolor de Rivelino nos anos seguintes. Lances lendários cercavam seu nome desde essa época. Zico conta que Rondinelli foi o único jogador a dividir uma bola usando a cabeça, que foi assim que ele tirou a pelota dos pés de Rivelino em certa ocasião. Esse era o tamanho de sua bravura.

Só que aquela talentosa equipe de jovens que subiu para o profissional não era ainda vitoriosa. Pelo contrário, ameaçava fica pelo caminho, como uma promessa nunca realizada. O Fluminense foi bicampeão carioca em 1975/76. E depois surgiu o experiente, técnico e catimbeiro time do Vasco comandado por Leão, Marco Antônio, Roberto Dinamite, Zanata, Zé Mário, Abel Ferreira, Alcir, com uma das defesas mais sólidas já vistas.




O Flamengo perdeu duas Taças Guanabara seguidas nos penais, e o Gigante da Colina levou o título carioca de 1977. Quando o último jogo da decisão de 1978 chegou, já se contavam cinco jogos sem marcar gol no grande rival, de modo que o zagueiro Abel Braga declarou que preferia jogar a final contra o Flamengo.

O empate dava o título ao Vasco, até que o gol histórico de Rondinelli redimiu toda uma geração aos 41 minutos do segundo tempo. É bem possível que sem aquela cabeçada certeira após escanteio batido por Zico, o time ganhasse definitivamente a pecha de perdedor e fosse desmontado.




O gol de cabeça de Rondinelli era a trombeta mística anunciando a Era de Ouro. O time saiu campeão do Maracanã, experimentou a glória, e emendou 52 jogos sem derrota, recorde até hoje no nosso futebol. Vencemos oito turnos do Carioca consecutivos. Conquistamos o pentacampeonato da Taça Guanabara. Nos consolidamos como o melhor time do país ao levantarmos 3 de 4 campeonatos brasileiros. E daí para o continente, para o mundo, para o âmbito inalcançável do puro MITO em sua acepção superior.

Rondinelli ainda acumularia outras grandes histórias, como a do maxilar quebrado pela violência dos jogadores do Atlético Mineiro no primeiro jogo da decisão do Brasileiro de 1980. Saiu d'O Mais Querido em 1981, e, com problemas crônicos no joelho, teve passagens apagadas por outros clubes até encerrar a carreira em 1987.

O

'Deus da Raça' é o 18º jogador com mais partidas com o Manto Sagrado: 407 jogos em campo pelo Flamengo, o segundo zagueiro com mais participações, atrás apenas de Jadir. Levantou as Taças Guanabara de 1973, 78/79/80/81; os Campeonatos Cariocas de 1974, 1978/79/79 especial e 1981; o Campeonato Brasileiro de 1980; a Taça Libertadores da América em 1981; o Campeonato Mundial Interclubes em 1981. Teve passagem discreta pela Seleção Brasileira e fez parte do elenco que disputou a Copa América de 1979.

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