Vem à tona um plano para assassinar Lula e Alckmin, com prisão de um General de Brigada, três oficiais superiores do Exército e um policial federal. A rede de ''segurança'' garantidora da Nova República mira agora escalões mais altos e aposta no recrudescimento do aparato autoritário da Nova República.
Temos de levar sempre em conta a presunção de inocência, mas a prisão hoje de quatro oficiais superiores do Exército e um policial federal parecem confirmar a existência um plano golpista maluco articulado por núcleos duros em torno de Bolsonaro, conforme análise que fiz no calor dos acontecimentos de janeiro de 2023 e que pode ser lida aqui [clique para ler] . E parecem confirmar também que este núcleo nunca teve aval do Alto Comando do Exército, o que, por si só, condena ao fracasso qualquer tentativa real de golpe de Estado.
Os militares presos são da reserva, mas exerciam postos de comando até bem recentemente. Há um General de Brigada entre eles, três tenentes-coronéis. Não há notícias, portanto, de envolvimento de Generais de Divisão e Generais de Exército. Os militares passaram imediatamente à reserva quando a investigação foi aberta em janeiro de 2023, e a prisão deles teve acompanhamento das Forças Armadas. Ou seja, tudo indica que não conseguiram atrair apoio da mais alta esfera de decisão militar.
O General Mauro Fernando, por exemplo, era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência, e foi assessor do hoje deputado federal Eduardo Pazzuelo, também General e ex-Ministro da Saúde cuja família tem uma interessante e escabrosa história de atuação na Amazônia. Já Rafel Martins trocava mensagens direto com Mauro Cid, e em uma delas pedia a quantia de R$ 100 mil reais. Não se trata, portanto, de gente desimportante, as conexões são diversas, óbvias, e tangenciam as lealdades pessoais do governo Bolsonaro.
Se a acusação estiver correta, os sujeitos planejavam matar Lula e Alckmin na operação "Punhal Verde e Amarelo", o que seria bastante sui generis em nossa história política. Tentativas descaradas de matar Presidentes não são comuns no Brasil, muito menos partindo de oficiais militares. O exemplo que mais se aproxima seria o do atentado contra Prudente de Moraes, em novembro de 1897, quando saíamos de uma Guerra Civil. De todo modo, o caso ocorreu no fim do século XIX. No Brasil, homicídios em uma esfera tão elevada de governo, se ocorrem, costumam ser muito mais sutis, de modo a deixar todos com a pulga atrás da orelha.
Não sabemos qual a abrangência da trama nem a intenção real de executar o suposto plano. É um fio que só será puxado a partir de agora. É provável, no entanto, que muito mais gente esteja envolvida, um negócio desses exige articulações amplas, ainda que discretas, e uma logística complexa. O fácil acesso que os vândalos do 8 de janeiro tiveram ao STF fortalece essa suspeita.
As prisões dessa semana, ocorridas em pleno G20 e poucos dias depois que um homem-bomba se suicidou em frente ao STF, aponta também a existência de uma rede de 'segurança' comandada por Alexandre de Moraes para passar a limpo a República ''em nome da Democracia". Não há dúvidas que o Ministro lidera, nesse momento, quase que um governo paralelo, que tem carta branca para investigar e prender envolvidos na trama de janeiro do ano passado. A biografia de Moraes tem de ser averiguada para que tenhamos um retrato mais apurado de suas antigas e novas conexões políticas, tanto dentro quanto possivelmente fora do país. Não se trata de conspiracionismo, é apenas razoável pensar que ele não tenha caído de paraquedas na função que está exercendo.
Moraes começou mirando a arraia miúda que participou do quebra-quebra em Brasília, mas agora subiu muitos degraus na hierarquia do Estado. Ter ocorrido logo depois de retumbante derrota de Lula e do PT nas eleições municipais reforça a impressão do poder acumulado pelo juiz. Não custa lembrar que ele não tem mandato político, não precisa dar satisfações ao eleitorado ou a financiadores de campanha. A essa altura, talvez não precise dar satisfações nem a seus próprios pares. O poder de Moraes talvez se fundamente em âmbitos maiores até que o raio de ação mais seguro do próprio PT e de Lula, que podem muito bem ser peças descartáveis na equação. É necessário ter em mente que o atual Presidente foi libertado com a missão descarada de derrotar Bolsonaro nas urnas.
Essas breves observações reforçam a avaliação de que a derrota de Biden exigiria da Nova República o estabelecimento de um autoritarismo ainda mais explícito a fim de conter a debaclé do regime: "Com pouco apoio popular interno e confrontada pelo que acontece no plano internacional, os grupos de pressão que mantém a Nova República só conseguirão manter as instituições atuais se partirem pra uma autoritarismo ainda mais explícito, o que não parece nada viável sem apoio norte-americano." [clique para ler: Trump foi aclamado Imperador]. Os braços longos de Alexandre de Moraes, alcançando até Generais de Brigada e a cadeia de comando das forças especiais do Exército, podem ser o preâmbulo do que está por vir. Se quiser ter chances concretas de vencer as próximas eleições, a Nova República precisa cassar gente graúda, ou pelo menos criar mecanismos de chantagem mais eficazes do que aqueles que tem usado contra a família Bolsonaro e seu entorno.
Uma crise de legitimidade que torne necessária uma ampliação tão forte da repressão às forças que se encontram no poder tem tudo para acabar mal, principalmente em contexto internacional desfavorável. Moraes, no entanto, tem evitado confrontar de modo acentuado os poderes econômicos por trás da suposta articulação golpista, ou seja, por trás da contestação da Nova República. Até agora não chegamos aos empresários, na narrativa oficial tudo não passava de uma conspiração palaciana. Uma narrativa cômoda, mas que não reflete a realidade, e que portanto aponta para seus próprios limites.
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