"Que chorem e chorem muito, que as lágrimas rolem como no samba, que as lágrimas desçam da face abaixo, como torrente….Chorem muito, chorem demais, chorem como um bezerro desmamado, Mas chorem, meus amigos, que o pranto é livre”
José Lins do Rêgo mandando recado para os adversários do Flamengo e popularizando o bordão: O choro é livre
O Flamengo foi fundado no dia 17 de novembro, mas os jovens de elite que ergueram o clube decidiram que doravante comemorariam o aniversário da instituição sempre no dia 15, para cair junto ao feriado da República. Mal sabiam eles que o Flamengo se tornaria mais popular e apaixonante que a própria República.
Nascido no topo da pirâmide econômica, os flamengos logo se associaram ao sentimento de nacionalidade que, na população carioca, trazia um tanto de lusofobia. A polarização com o Vasco da Gama, clube de imigrantes, foi quase que imediata no futebol, consolidada com famosos clássicos ainda nos anos 1920.
Se já trazia o gérmen da juventude e da brasilidade que lhe levaria a conquistar a Taça Salutaris, conferida ao clube eleito como O Mais Querido do Brasil, a potência rubro-negra só revelaria todo o seu potencial por meio do nacionalismo popular hegemônico na Era Vargas. O gênio publicitário de José Bastos Padilha vinculou o Flamengo aos valores do Trabalhismo nascente e ao Mestiço, legitimado nas obras de Gilberto Freyre, e que a partir de então se associou para sempre à identidade do brasileiro.
A partir dos anos 1930, o Flamengo de Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Fausto, Zizinho etc. se entendia como um clube nacional, representante do povo. Não à toa se abriu para fãs do Oiapoque ao Chuí, construindo torcida em todas as regiões do Brasil, como já atestavam os jornalistas dos anos 1940. A Construção do Maracanã acentuou essa popularidade, transformando a "Magnética" em dona do estádio que era um dos orgulhos e um dos símbolos da identidade nacional.
Nem os problemas financeiros dos anos 1960, nem a ascensão do Santos de Pelé e do Botafogo de Garrincha foram capazes de obstaculizar a marcha do Império do Povo, que culminou na apoteoso da Era Zico, cujas vitórias não se limitaram apenas ao futebol, mas que estabeleceu o clube como um poder poli-esportivo sem paralelo no país.
Depois da Era do Galinho de Quintino, a mídia se mudou para Sampa, a Globo nacionalizou as torcidas do trio de ferro paulista, a Federação de São Paulo realizou o sonho de conquistar a CBF, e o Flamengo mergulhou em dívidas por quase trinta anos, perdendo protagonismo esportivo. Mas nada deteve o contínuo crescimento de seus torcedores, um fenômeno cultural cujo dinamismo permanece e se reatualiza pelo simples fato de sermos uma Nação. E que permitiu ao clube recuperar sua capacidade de investimento, ressuscitando os temores dos adversários, alguns dos quais confessam sua incapacidade de competirem a médio e longo prazo com um Império que se fundamenta, como quase nenhum outro, no amor da população de um país que é um continente.
Isso indica que tudo o que se viu nesses 129 anos de existência é pouco diante do que está por vir. Todas as glórias e conquistas e ídolos são uma mera fagulha do incêndio que o Império do Povo há de colocar no Brasil e na América Latina em sua sede incessante por vence, vencer e vencer.
Parabéns ao Clube de Regatas do Flamengo e a cada um de seus mais e 40 milhões de torcedores.
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