Os botafoguenses tem toda a razão de estarem orgulhosos e delirantes. É a primeira vez que o clube consegue um real destaque na Libertadores, praticamente garantindo seu lugar na final de 2024 após uma goleada histórica sobre o Peñarol.
Times pequenos como o São Caetano e o Bragantino chegaram na final da Libertadores, era estranho que o Botafogo nunca tivesse realizado o feito. E ao mesmo tempo era também demonstração da incrível derrocada do clube e que simbolizava, em determinado grau, a minoração pela qual passou o futebol carioca após os anos 1980.
Depois de sua era de ouro, o clube teve alguns bons momentos, mas que não passavam de ''voos de galinha'' sem base sólida que sinalizasse um futuro melhor. Foi assim com o dinheiro investido pelo bicheiro Emil Pinheiro, entre 1989 e 1992. O time da estrela solitária foi bicampeão carioca, título ainda muito relevante na época, rompendo um jejum de mais de vinte anos, e ainda chegou à final do Brasileiro de 1992.
Um padrão similar se repetiu sob a gestão de Carlos Augusto Montenegro -- empresário bem sucedido que fez do Ibope referência de instituto de pesquisa e que soube se aproveitar bem da quase paridade entre real e dólar no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. O clube produziu ídolos históricos, como Túlio Maravilha e Vágner, foi campeão brasileiro em 1995, Carioca em 1997, e chegou à decisão da Copa do Brasil 1999.
Mas eram voos curtos e insatisfatórios e o Botafogo se apequenava a olhos vistos ano após ano. As tentativas de reverter o quadro pouco repercutiam no âmbito nacional. O clube virou chacota dos demais membros do ''G-12" e sua própria presença entre os grandes passou a ser contestada, e com bons argumentos, diante da ascensão do Athletico PR, muito mais bem sucedido que o alvinegro carioca neste século. A torcida do alvinegro enfrentava um processo rápido de ''desnacionalização''.
Antes de ser vendido a Textor, o destino do Botafogo parecia ser a irrelevância. Rebaixamentos se sucediam, a dívida era impagável, e os atletas preferiam jogar em clubes regionais e ascendentes do interior de Sao Paulo, do Sul e do Nordeste. A SAF oxigenou momentaneamente o clube. Quer dizer, isso se Textor não for o Emil Pinheiro desta nova geração, algo que ainda não está claro. Até lá, os botafoguenses curtem o momento, que parecia ser um sonho inexequível há três anos.
Pro Rio de Janeiro é, obviamente, uma ótima notícia. Podemos nos isolar como a cidade brasileira com o maior número de clubes campeões continentais -- dividimos a primeira posição com os paulistanos desde o ano passado. A liderança continua com Buenos Aires, que tem cinco clubes campeões da Libertadores. Mas dentro do país, o Rio está prestes a ostentar uma marca quase impossível de ser alcançada.
Nada mal para uma geração que ouviu algumas vezes que "o futebol carioca acabou". Ainda não, ainda não...
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