domingo, 27 de outubro de 2024

O que há de bom na Astrologia?, ou: os Padres da Igreja eram olavetes e ocultistas?

 "A capacidade de unir os Reinos do Céu e da Terra permaneceu a chave para o mistério teológico dos ícones e permitiu-lhes resistir às mais severas tempestades teológicas, psicológicas e emocionais."


Padre Andreas Andrepoulos





Estes dias, eu disse no Twitter [hoje chamado X] que a "Astrologia como técnica ''preditiva'' de eventos e, pior de tudo, de ações humanas, não passa de piada de salão. O sentido desta ciência é estabelecer um mapa do cosmos baseado em certas premissas hierofânicas e analógicas que regem a interdependência entre os planos da realidade. A astrologia é uma das formas possíveis de conhecer um universo que é todo ele símbolo e espelho. Como tal, ela se apóia em uma cosmologia fundamentada em um abordagem holista das noções de relação e causalidade. São ciências típicas do que se convencionou chamar de ''mistérios menores''.


Minha declaração sobre a astrologia causou estupor -- sincero ou fingido, não sei -- em algumas pessoas, que a vincularam à figura do Olavo de Carvalho e a práticas ocultistas. Este tipo de reação escandalizada vinda de certas figuras envolvidas direta ou indiretamente com a política não é nada incomum, e surgem de ímpeto polemista misturado com um conjunto de preconceitos contra religiosos e espiritualistas em geral. O ímpeto polemista está em vincular tudo o que não se gosta a um rótulo que serve de 'xingamento' e 'demonização' do interlocutor: Assim, a esquerda chama de fascista tudo que não é espelho; a direita chama de comunista tudo a que ela se opõe; russófilos duginistas se veem em uma guerra santa contra o olavetismo; e há olavetes que imaginam o Brasil invadido e dominado por Alexandr Dugin. Este tipo de rotulação maniqueísta se dá em um campo erístico sem qualquer seriedade, e assim eu não preciso me ocupar dele. As críticas que fiz a Olavo de Carvalho nos últimos quinze anos falam por si só.


Já o conjunto de preconceitos bebe de fontes materialistas e seculares, e carrega sua própria dose de alienação e hipocrisia, já que os movimentos seculares em geral foram impulsionados por sujeitos mergulhados em crenças e práticas espiritualistas, algumas delas ligadas ao que se convencionou chamar de ''ocultismo''. Como apontou Jason A. Josephson-Storm, em "Myth of Disenchantment. Magic, Modernity and the birth of Human Sciences", longe de varridas da vida pública, as crenças e práticas espirituais continuam norma entre governantes, empresários, cientistas e populações do mundo contemporâneo. Apesar do discurso 'oficial', o mundo continua encantado pra maioria esmagadora da civilização que se abraçou fanaticamente ao secularismo. Da Enciclopédia dos Iluministas, que considerava a Magia uma ciência, passando por revolucionários que conspiravam em lojas Maçônicas, e até mesmo a filósofos como Adorno, a elite política e intelectual do Ocidente se abraça à ideia similares ao ''sobrenatural".


A minha postagem também pode causar ojeriza em determinada sensibilidade religiosa. Mas nesse caso se trata do choque entre espiritualidades que se consideram mutuamente exclusivas. Quando um religioso condena como superstição a espiritualidade X ou Y, ele não pretende que suas próprias práticas religiosas caiam sob o mesmo epíteto. Superstição, evidentemente, é a religião do outro, e esse tipo de embate é perfeitamente natural e compreensível. Mas tampouco podem ser consideradas reflexões sérias caso não superem o nível do ''estranhamento'' puro e simples.


Isto posto, vou esmiuçar um pouco mais a postagem que fiz no X e mostrar porque o suposto escândalo não passa de ignorância e/ou hipocrisia. O texto não visa debater a ciência contemporânea, assunto que me interessa de forma bem marginal. Tenho uma abordagem instrumentalista da ciência contemporânea: a considero a melhor que existe para o que se propõe. Mas aquilo a que ela se propõe me parece bastante insuficiente para o coração humano.


A imagem no início deste texto traz Cristo no centro do Zodíaco. A representação se encontra no Mosteiro Dekoulou, na Grécia. As condenações dos Padres da Igreja a certas ciências e artes da Antiguidade [como a matemática ou o teatro] se baseavam em alguns critérios, se ligam a um dado contexto. No caso da Astrologia, há condenação explícita ao culto pagão que acompanhava a consulta divinatória e à própria noção que acompanhava a tentativa de predição, a saber, que as ações humanas eram governadas e determinadas pela natureza.


É uma crítica que os Padres fariam a qualquer determinismo, seja ele qual for. Serviria para boa parte das hipóteses da ciência atual, inclusive. Se aplicaria, com perfeição a todo o universo mecanicista divulgado pelos pensadores iluministas, que derribariam no século XVIII a cosmologia pré-moderna e consolidariam uma interpretação cientificista [no sentido oitocentista] do universo, do homem e da sociedade.


Muitos religiosos criticam a astrologia pelos motivos errados, mobilizando até argumentos de pensadores cientificistas contemporâneos sem entender que o ponto fulcral da condenação dos Padres é o culto idolátrico a forças naturais e a abolição da liberdade humana em nome de um determinismo cósmico, dois aspectos que foram reforçados pelo discurso secular que eclipsou o cristianismo no Ocidente. Voltarei a esse ponto depois já que o discurso científico atual pode ser usado também como um tipo novo de técnica divinatória, característica que levou à condenação da astrologia pelos Santos Padres.


Se o culto idolátrico e o determinismo são erros da astrologia, qual verdade pode existir por trás dela? Ora, todo cristão que lê as Escrituras Sagradas ou frequenta uma igreja será bombardeado por imagens que retratam o mundo pelas mesmas lentes da cosmologia que fundamentava a prática astrológica, e não as da prática científica contemporânea. Nas Escrituras e na Igreja, as águas de cima foram separadas das de baixo. Os Céus se ligam à Terra pela escada de Jacó. Cristo desce ao Hades para libertar Adão e todos os Justos, e depois ascende aos Céus à vista de todos. E um dia voltará à Terra nas nuvens do céus, também à vista de todos, para o Juízo Final.


A Cruz no meio dos quatro rios do Paraíso, a esfera celeste acima.


Os mesmos Padres que condenaram a astrologia diziam, repetindo São João Damasceno, que os céus tinham 'sete esferas' ou 'zonas' de 'natureza mais sutil', formando uma hierarquia. Cada uma dessas esferas hierárquicas era governada por um astro na seguinte ordem segundo sua distância para a terra, que está no centro do universo: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua. São João Damasceno também menciona os doze signos do Zodíaco, cada um deles formado por um conjunto de estrelas visitado pelo sol e pela lua em suas jornadas celestes.

Tudo isso pode ser lido em "A Fé Ortodoxa'', obra de imenso prestígio na Igreja. Nela se resume à perfeição, no Livro II, a relação precisa entre os Padres da Igreja e a astrologia:

"Estes são, então, os nomes dos doze signos e seus respectivos meses:

Áries, que recebe o sol no dia 21 de março.
Touro, no dia 23 de Abril.
Gêmeos, no dia 24 de maio.
Câncer, no dia 24 de Junho.
Virgem, no dia 25 de Julho.
Libra, no dia 25 de Setembro.
Escorpião, no dia 25 de Outubro.
Sagitário, no dia 25 de Novembro.
Capricórnio, no dia 25 de dezembro.
Aquário, no dia 25 de janeiro.
Peixes, no dia 24 de Fevereiro.

[...]

Ora, os gregos declaram que todos os nossos assuntos são controlados pelo nascer, pelo pôr e pela colisão destas estrelas, isto é, o Sol e a Lua: pois é com estes assuntos que a astrologia tem que lidar. Sustentamos, no entanto, que recebemos dos signos sinais de chuva e seca, frio e calor, umidade e secura, e dos vários ventos, e assim por diante, mas nenhum sinal de qualquer espécie quanto às nossas ações. Pois fomos criados com livre arbítrio pelo nosso Criador e somos mestres de nossas próprias ações. Na verdade, se nossas ações dependem do curso das estrelas, fazemos tudo por necessidade: e a necessidade exclui a virtude ou o vício. Mas se não possuímos virtude nem vício, não merecemos louvor ou punição, e Deus também se revelará injusto, pois dá coisas boas a alguns e aflige outros. Não, Ele não continuará mais a guiar ou prover Suas próprias criaturas se todas as coisas forem carregadas e arrastadas pelas garras da necessidade. E a faculdade da razão será supérflua para nós: pois se não somos senhores de nenhuma de nossas ações, a deliberação é bastante supérflua. A razão, na verdade, nos é concedida apenas para que possamos nos aconselhar e, portanto, toda razão implica liberdade de vontade.

Sustentamos assim que as estrelas não são as causas nem a origem dos eventos nem da destruição do que é perecível. São antes sinais de chuvas e mudanças de ar. Mas, talvez, alguém possa dizer que, embora não sejam as causas das guerras, são sinais delas. E, na verdade, a qualidade do ar produzido pelo sol, pela lua e pelas estrelas produz de várias maneiras diferentes temperamentos, hábitos e disposições. Mas os hábitos estão entre as coisas que temos em nossas mãos, pois é a razão que os governa, dirige e muda."

Desse modo, não é o ''mapa dos cosmos'' fornecido pelos astrólogos/astrônomos -- e nesse ponto da conversa convém lembrar que a distinção entre astrologia e astronomia não existia nos tempos pré-modernos -- que é criticado pela Igreja. Não é sequer a ideia de que há influência dessas esferas celestes nos eventos e atos humanos [como guerras]. São João Damasceno aceita esta visão com uma postura que escandalizaria quem se indignou com minha postagem. Ele apenas ressalta que esta influência não pode implicar em determinismo, destino, necessidade natural. Nem em ''culto idolátrico'', pois os astros são inanimados [não são deuses] e estão sob governo da Vontade Divina.


Seria São João Damasceno um Olavo de Carvalho da Antiguidade? Seria ele um ocultista em pleno século VII e VIII? Não me parece crível. Com pequenas variações, considerações similares podem ser encontradas em São Dionísio Areopagita, São João Crisóstomo, São Máximo Confessor etc. Este último vai até além ao ensinar que a Divina Liturgia [que os ocidentais chamam de Santa Missa] é uma cosmologia em ação, uma Mistagogia -- é desnecessário lembrar que a própria arquitetura das Igrejas é projetada para refletir o cosmos e a história sagradas. Segundo São Máximo, todos os seres existentes são unificados pelo Logos Divino, e a própria Natureza era uma forma de encarnação do Logos. O homem é a imagem acabada desta cosmologia: "Não é o homem que é parte do Cosmos, mas todas as partes do Cosmos são partes do homem. O homem não é um microcosmo em um Macrocosmo, e tampouco é moldado no interior de um macrocosmo, mas ele é o verdadeiro cosmos, já que ele dá unidade e sentido completo a todas as partes da criação."

Esta cosmografia perdurou na Cristandade Latina e é crucial para entender o cristianismo no todo e em partes, como a magnífica obra de Dante Alighieri pode servir de exemplo acabado. Etienne Gilson e Philotheus Boehner descrevem assim parte da filosofia de Santo Anselmo da Cantuária:

"Como a própria palavra 'mundus', derivada de 'motus' (explicação etimológica!), dá a entender, o mundo está em perpétuo movimento. É redondo como uma bola e comparável a um ovo. Na beirada externa há uma casca, o céu, que envolve o mundo inteiro. Debaixo dela situa-se, à semelhança da clara do ovo, o éter puro, que serve de envoltório para o ar em movimento, exatamente como a clara encerra a gema. Na parte mais central, correspondente ao germe, está a Terra. No centro da terra situa-se o Inferno. Repleto de fogo e enxofre, sua forma dilata-se na parte inferior e estreita-se na superior. A região mais central chama-se Érebo, e é habitada por dragões e serpentes que vomitam fogo. Há lugares que exalam vapores nauseabundos; são conhecidas sob o nome geral de Aqueronte. [...] Todas essas descrições eram entendidas muito realisticamente; representam o primeiro esboço do plano do inferno elaborado por Dante. [...] O fogo é o mais nobre dos elementos. Dentro dele se escalonam as esferas dos sete planetas. Os nomes destes provêm dos movimentos irregulares a que estão sujeitos. O firmamento arrasta-os com enorme velocidade de Leste a Oeste, em sentido contrário, portanto, ao seu curso natural. [...]A revolução das sete esferas dá origem a sons maviosíssimos, cuja harmoniosa consonância produz a mais admirável das melodias. Contudo, esta harmonia das esferas não chega aos nossos ouvidos, por originar-se para além do ar, que é o único meio em que nós percebemos os sons. Ademais, ela é demasiadamente forte para ser percebida pelo ouvido humano. A escala da música celeste vai da Terra ao Firmamento, e supõe-se que nossa escala foi inventada a exemplo dela. Entre a Terra e o Firmamento há sete tons, assim distribuídos: um tom inteiro da Terra à Lua; meio tom da Lua a Mercúrio; meio tom de Mercúrio a Vênus; três tons de Vênus ao Sol; um tom inteiro do Sol a Marte; meio tom de Marte a Júpiter; meio tom de Júpiter a Saturno; e três meios tons de Saturno ao Círculo do Zodíaco. [...] Da Terra ao Céu, pois, sete tons e mais nove ''consonâncias''; a estas correspondem as nove musas dos filósofos. As "consonâncias" são inatas na própria natureza humana. Acima do fogo encontra-se a oitava esfera, o Céu, que dista 109.375 milhas da Terra. [...] O Céu superior chama-se Firmamento, em razão da firmeza de sua estrutura, situada no meio das águas [....] Como se vê dentro desse esboço, o universo medieval caracteriza-se por sua continuidade, sua coesão singular e seu simbolismo religioso. É um imenso globo material com dois pólos espirituais: a matéria superior vai até o céu dos espíritos bem-aventurados, e a inferior até o inferno dos espíritos condenados. Às nove penas do inferno correspondem as nove bem-aventuranças do céu. Nós, homens, ocupamos um posto intermediário entre estes dois pólos, até que a separação final dos bons e dos maus venha incorporar-nos definitivamente a um ou outro."

É possível dizer, como fazem teólogos católico-romanos, que a Revelação Divina não versa prioritariamente sobre o mundo natural. Que estas descrições são símbolos cujo cerne é uma mensagem espiritual. O que implica, no fim das contas, que a imagem de mundo ofertada pelos padrões científicos atuais é verdadeira em seu próprio âmbito. E eu não disse, em lugar algum, que não é, ou que ela não cumpra seus objetivos, e que não ofereça um ''mapa" adequado ao propósito do empreendimento científico atual, que é o de prever fenômenos com precisão matemática e o de gerar tecnologias de controle do mundo perceptível.


Possível representação do Cosmos de Dante Alighieri



A capacidade de predição de fenômenos segundo uma causalidade natural precisa e matematizável está no coração da ciência contemporânea. "Deus não joga dados", na crítica que Einstein fez a certas interpretações da Quântica. Einstein expressava assim o determinismo férreo e 'naturalista' da ciência usada para demolir aquilo que podemos chamar de cosmovisão tradicional. Um determinismo naturalista que seria condenado segundo os critérios usados pelos Padres para denunciar a prática astrológica [mas não a influência das esferas celestes, dos elementos, dos ventos, dos demônios e anjos].


A questão não é discutir inocuamente se a descrição de mundo realizada pelos métodos científicos atuais é ou não verdadeira em seu próprio âmbito. E sim entender que as imagens fornecidas pela Igreja, pelas Escrituras Sagradas, pela Tradição cristã vem de outra cosmologia, que reflete uma metafísica e uma antropologia bem distintas. E só segundo estas últimas faz sentido falar dos anjos em pé sobre os quatro cantos da terra, ou dos Doze Apóstolos enviados para os confins do mundo. A imaginação, a narrativa, a escatologia e a prática cristãs estão todas permeadas por esse ''mapa do universo'' e pela relação entre seus componentes. Como diz Hilário Franco Júnior:

"Naquele mundo no qual todas as coisas eram passíveis de ser vistas como hierofanias, isto é, como algo a mais do que pareciam à primeira vista, uma cosmologia simbólica impunha-se com naturalidade. O universo era interpretado como um imenso conjunto de símbolos. Sabe-se que na origem o termo grego symbolon designava cada uma das metades de um objeto que fora dividido pra que sua junção funcionasse como uma senha, daí o sentido literal de ''sinal que faz reconhecer". Logo, não pode ser confundido com o signo, que é apenas um substituto ou representação de algo, sem ter semelhança estrutural com a coisa que representa. Da mesma forma que o signo, a alegoria também é uma convenção. O símbolo, pelo contrário, é um produto psíquico espontâneo, que exprime algo que não poderia se formulado com precisão nem compreendido de outra maneira. Portanto, "a função do símbolo é religar o alto e o baixo, criar entre o divino e o humano uma comunicação tal que eles se unam um ao outro" [Davy, 1997]. É o encontro de duas realidades numa só, ou melhor, expressão da única realidade sob outra forma. O símbolo é inferior à realidade simbolizada, mas por intermédio daquele o homem se aproxima desta, restabelecendo a unidade primordial. [...] Há uma lógica simbólica que fornece a chave para o entendimento da mensagem, sem anular o significado potencialmente diverso de cada símbolo: a mentalidade simbólica persegue a unidade do múltiplo. O papel do símbolo é projetar o indivíduo no Além, romper os limites de tempo e lugar, fundir o microcosmo (homem) e (universo). Daí o símbolo ser uma hierofania, revelar uma realidade sagrada para quem tiver sensibilidade para decodificá-lo. Não se requer para tanto uma operação consciente, intelectual, mas automática, inconsciente. Nas palavras do pseudo Dioniso Areopagita (quer dizer, atribuídas a este discípulo de São Paulo, mas na verdade escritas na Síria por volta do ano 500), cuja obra exerceu grande influência ao longo da Idade Média, "o sensível é reflexo do inteligível". [...] De acordo com esta visão simbólica do universo, o próprio homem é um símbolo. A relação do homem com a natureza não é de sujeito e objeto, porque ele se encontra integrado no mundo exterior; para a Idade Média ''não existem fronteiras nítidas entre o indivíduo e o mundo" [Gurevitch, 1990]. Segundo a concepção vinda da Antiguidade e aceita por quase toda a Idade Média, o homem é um microcosmo, não apenas um fragmento do Todo, mas uma réplica dele em ponto menor: sua carne é feita de terra, seu sangue de água, seu fôlego de ar, seu calor de fogo, ou seja, nele se encontram os quatro elementos constitutivos do mundo. Mais ainda, cada parte de seu corpo corresponde a uma parte do universo: a cabeça ao céu, o peito ao ar, o ventre ao mar, as pernas à terra, os ossos às pedras, as veias aos galhos de árvores, os cabelos às ervas, os sentidos aos animais. As etapas de sua vida são seis, como os dias da Criação: infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice, decrepitude. Em suma, pela mentalidade simbólica, "o homem não se sente um fragmento impermeável, mas um cosmos vivo abeto a todos os outros cosmos vivos que o rodeiam, [por isso] não se reduz à existência fragmentada e alienada do homem civilizado do nosso tempo" [Eliade]."


Anselmo da Cantuária tinha uma explicação cosmológica para as Musas, associando-as ao movimento harmônico das esferas celestes


Enfim, os cristãos citados aqui, todos eles figuras de extrema relevância nessa religião, criticavam a astrologia no que ela tem de determinista e de técnica preditiva. Mas aceitavam sua cosmologia subjacente, a estrutura que rege a relação entre os diferentes seres e elementos do cosmos, e a associavam diretamente a uma dada antropologia e psicologia. Obviamente, eles nunca ouviram falar de Olavo de Carvalho ou do Ocultismo contemporâneo, que causam um Grande Medo em alguns temperamentos. Eram apenas estudiosos das ciências e ideias pré-modernas, que se refletem nas Escrituras Sagradas, nos ritos, imagens, e ensinamentos do Cristianismo.


Alguns podem achar um tédio ou desperdício de tempo se ater a abstrações deste tipo. Afinal, os jornais não providenciam apenas ''horóscopos'', eles entretém o público com as informações do dia no campo político, econômico, esportivo, gastronômico, internacional, cultural etc. Mas eu avisei na postagem do X: não é um assunto para todo mundo. É chamado de ''mistérios menores", diz respeito a um nicho de pessoas com um tipo especifico de disposição. Aparentemente, Deus não é um progressista: ele distribuiu vocações e dons de maneira muito desigual entre os homens.



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