DO RANKING
O atual ranking nasceu de
uma brincadeira e é um entretenimento de um apaixonado por futebol. Mas o lado
lúdico não impede a objetividade dos critérios que adotei e que
vou expor rapidamente. Antes, porém, é necessário esclarecer aquilo que a lista
abaixo não pretende nem foi planejada para ser.
Em primeiro lugar, ela
não é uma hierarquia entre os clubes brasileiros. Não visa demonstrar que um clubes é maior do que o outro. As instituições listadas são multi-esportivas.
Clubes como São Paulo, Vasco da Gama e Flamengo se orgulham de sua história no
Remo, no Basquete, na Natação, no Atletismo, na Ginástica Olímpica, no Judô, no
Futebol de Salão, no Voleibol etc. O futebol é o esporte mais importante, mas
ainda assim só um recorte do que essas instituições representam no esporte
brasileiro.
Além disso, é impossível
reduzir esse mundo particular que é o futebol a um conjunto de taças empilhadas
em salas de memória. Cada um dos clubes listados teve esquadrões e ídolos cuja
magnitude e relevância histórica e desportiva transcendem em muito os
resultados. Como “medir” o orgulho botafoguense ou palmeirense por
contemplarem, anos a fio, as estripulias de Garrincha na ponta direita ou os
passes milimétricos de Ademir da Guia? Qual o peso dos elásticos de um Rivelino
no auge em Fla-Flus disputados em um Maracanã, ainda maior estádio do mundo,
com públicos que excediam os números de habitantes da maioria esmagadora dos
municípios brasileiros? Ou ainda o orgulho de ter sido base para seleções
brasileiras vitoriosas em um tempo em que o vínculo entre o torcedor brasileiro
e a equipe canarinho era profundo e visceral?
Há mágicas sem as quais o
futebol não teria a vitalidade que conhecemos, e que não podem ser captadas no
placar de um jogo ou na classificação final de uma tabela.
Poucas coisas são tão
difíceis de mensurar quanto a grandeza de um clube que é objeto de paixão e de
senso de identidade de milhões de fãs. Não se trata de retórica vã ou de uma
postura politicamente correta, mas do humilde reconhecimento de que a palavra
final sobre uma agremiação está em sua capacidade de causar emoções nas massas.
A lista abaixo, portanto,
é apenas um comparativo possível entre salas de troféus do futebol. Não uma
abordagem do significado e do tamanho das instituições que estão em posse
dessas conquistas.
DOS CRITÉRIOS GERAIS
O desenvolvimento do futebol foi complexo em nosso país, que tem dimensões continentais e cuja infraestrutura só permitiu conexões e comunicações rápidas entre seus principais centros após o processo de industrialização entre os anos 1940 e 1970.
Houve um
tempo em que os campeonatos carioca e paulista eram tudo ou quase tudo. Nos
últimos quarenta anos, no entanto, esses dois colossos históricos foram
gradualmente desconstruídos em prol da afirmação de campeonatos nacionais em um
vínculo cada vez mais estreito com a televisão, que finalmente chegava à
maioria dos lares brasileiros no fim da década de 1980.
Não faltam polêmicas nessa trajetória, dificultando sobremaneira a comparação de torneios de épocas tão distintas. Um Carioca nos anos 1950 tinha um peso completamente diferente do atual. Que dirá comparar ao longo do tempo torneios de natureza e abrangência diversa, alguns deles já extintos.
O Brasil tem quatro grandes centros de ponta do futebol – Rio de Janeiro,
São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre –e outros cuja força intermediária
foram se afirmando aos poucos. Qualquer mudança mínima de posicionamento nas polêmicas e quanto ao peso devido a cada torneio pode ser suficiente para alterar
substancialmente um ranking como o proposto.
E, no entanto, é necessário
se posicionar para que a brincadeira siga adiante. A primeira decisão que tomei é fazer do campeonato brasileiro
criado em 1971 a principal referência para o sistema de classificação. Ele será
pontuado com 100 pontos.
Dizer que o campeonato
brasileiro foi criado em 1971, e não em 1967 ou 1959, já se trata de outra tomada de posição de
enorme relevância para uma lista deste tipo. Os demais torneios nacionais serão
pontuados tendo por referência sua relação com o Brasileiro: se são Copas ou
campeonatos nacionais de clubes, se fizeram ou não parte do processo de
elaboração do Brasileirão, ou se são meros torneios nacionais complementares e
de dimensão bem menor.
A pontuação de um torneio
está associada a: 1) seu peso técnico; 2) prestígio; 3) abrangência geográfica;
4) importância histórica; 5) repercussão nacional. Todos estes cinco fatores
foram pesados na hora de conferir número de pontos a uma competição. Por
exemplo: alguns deles tinham acentuada dificuldade técnica quanto prestamos atenção aos clubes participantes, mas prestígio menor, o que levava as equipes a disputá-los de modo secundário, ou como
formas de preparação para outros torneios mais desejados.
Contexto histórico é tudo, portanto.
Os vice-campeonatos
recebem pontuação para valorizar as equipes que sempre estão presentes nas
decisões, sinal de que realizam grandes campanhas com consistência. Mas o vice
vale um décimo do valor do troféu. Se a conquista do Brasileiro representa 100
pontos, o vice recebe 10. Quando for necessário para escapar de decimais, a
pontuação do vice será arredondada para cima [mas há exceções a essa regra]. Nem todo torneio recebe pontuação
para o vice campeonato, caso dos títulos decididos em uma única partida.
O rebaixamento para
divisões inferiores do campeonato nacional de clubes é despontuado. Trata-se de
uma forma de retratar o desapontamento e o desprestígio que um clube acaba por
sofrer ao passar pelo descenso. Para ressaltar ainda mais a importância do
Brasileiro, pontuei a participação do clube em cada edição da divisão principal.
Para a maior parte dos clubes, fazer parte da elite do Brasileiro é
um privilégio, uma oportunidade rara e um imenso motivo de orgulho.
DO PROBLEMA DOS ESTADUAIS
Os estaduais foram divididos em quatro grupos.
O primeiro deles é o de maior peso, e inclui os
campeonatos carioca e paulista. Foram nesses dois centros que o futebol se
desenvolveu primeiro no Brasil. Foram neles também que as massas foram
conquistadas e que se deu o processo de profissionalização do esporte. Os
campeonatos carioca e paulista só perderam prestígio e relevância técnica a
partir dos anos 1990, quando a nacionalização das principais competições,
processo associado à exploração do mercado aberto pelo televisionamento e pelo
consumo das faixas de renda B e C, se tornou irrefreável.
Para dar conta da ascensão, auge e queda desses estaduais, alterei a pontuação de acordo com o período histórico.
Até 1936, foi atribuído ao campeão paulista 20 pontos e ao
carioca 15. A data se justifica como marco da profissionalização e da superação
dos cismas dos grandes clubes, que até então se dividiam constantemente em
Ligas diferentes. Assumir a profissionalização foi também assumir que era
necessário dinheiro e proximidade com o público nos estádios. E assim as
principais equipes tinham de jogar umas contra as outras, criando uma
dependência mútua.
Nesse primeiro período, o
Paulista recebe mais pontos que o Carioca, o que pode surpreender a muitos. Mas
nos anos 1910 e durante boa parte dos anos 1920 era consenso que o nível dos
times paulistas era superior ao do Distrito Federal, e a diferença de pontos tenta
dar conta dessa realidade histórica.
Mas a profissionalização fez com que o futebol do Rio de Janeiro assumisse a dianteira. O então Distrito
Federal era a maior cidade do país, a rigor a única metrópole brasileira, e
tinha mais condições de explorar o público urbano que lotava São Januário e
depois o Maracanã. Além disso, a centralidade da grande mídia no Rio tornou o
Carioca o primeiro torneio de repercussão nacional. As rádios veiculavam as
notícias e os jogos das equipes do Rio para todo o país, inclusive para São
Paulo, criando torcidas nacionalizadas. Sampa só sofreria processo parecido
a partir dos anos 1990, em outro contexto e com outra mídia, a TV.
O nível técnico do Carioca também se tornou superior ao do
Paulista. Nos anos 1940, o campeonato de São Paulo se tornou cenário de
jogadores “aposentados” no Rio, caso de Leônidas, Domingos da Guia e Zizinho.
Assim, entre 1936 e 1960, o campeão carioca passa a receber 40 pontos, enquanto
o paulista recebe 30.
A industrialização e o
crescimento demográfico de São Paulo logo fez com que a cidade desbancasse o
Rio de Janeiro como metrópole mais populosa. No censo de 1960, o Rio
perdia o posto de maior cidade brasileira, que ostentava há um século. Logo depois,
também perderia a posição de Distrito Federal. No cenário do futebol, o nível
técnico das equipes paulistas voltou a se equiparar às cariocas na segunda
metade dos anos 1950. Essa paridade técnica duraria até o fim dos anos 1980,
embora a visibilidade e a repercussão nacional do Carioca continuasse maior que a do Paulista durante todo o período. Entre 1961 e 1970, tanto o
Paulista quanto o Carioca recebem 40 pontos.
Em 1971 se inaugura o
Campeonato Brasileiro, o primeiro nacional de clubes independente das
classificações dos estaduais. Foi também a primeira competição na história a
desbancar o Carioca e o Paulista da posição de torneios mais desejados pelos
próprios grandes das respectivas metrópoles. Foi a primeira minoração
vivida pelos dois torneios estaduais modelo, que agora dividiam o ano com o
Brasileiro, cujo status suplantou até mesmo o do Carioca no imaginário do torcedor. Mas ainda estava
distante o tempo em que esses dois torneios entrariam em declínio. Entre 1971 e
1991, os campeões carioca e paulista recebem 30 pontos.
Em 1992, o fechamento
provisório do Maracanã escancarou a diferença de estrutura e capacidade
financeira entre o estadual de São Paulo e o do Rio de Janeiro. Sampa era uma
metrópole com população 80% maior que a fluminense, o que justificou sua
classificação pelo IBGE como “Grande Metrópole Nacional”, passando o Rio ao
status de Metrópole Nacional ao lado de Brasília. A TV, que entrou nos lares
das classes populares de todo o país ao longo dos anos 1980, levou o campeonato
paulista para todos cantos do país, iniciando de modo rápido a nacionalização
das torcidas do estado. Houve também uma defasagem técnica entre as competições
dos dois centros, com um esvaziamento considerável dos clubes pequenos cariocas
quando comparados à vitalidade do interior paulista.
Outro torneio nacional
foi criado, a Copa do Brasil, e junto com o Campeonato Brasileiro,
impulsionados cada vez mais pelas cotas de TV, geravam muito mais
dividendos que os antigos estaduais, que entravam num processo de decadência do
qual nunca mais escaparam. Entre 1992 e 2002, o Paulista leva 25 pontos, o
Carioca fica com 20.
O Campeonato Brasileiro
passou a ser disputado em pontos corridos a partir de 2003. A competição se estendeu por cerca de 8 meses do ano, diminuindo consideravelmente o tempo de disputa
dos estaduais. O Paulista leva 20 pontos entre 2003 e 2011, e o campeão do Rio
leva 15.
O segundo grupo de estaduais inclui Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A profissionalização e a capacidade de mercado de Porto Alegre e Belo Horizonte se consolidaram depois de Rio e Sampa, e nunca foram suficientes para sustentar o mesmo número de clubes de sucesso no cenário nacional. Até 1960, os estaduais gaúcho e mineiro recebem 10 pontos.
Com a criação dos primeiros torneios nacionais e o sucesso de
Cruzeiro, Atlético Mineiro e, em um primeiro momento, do Internacional, a
visibilidade desses centros se amplia. Em 1966, pela primeira vez a
seleção brasileira deixa de ser um combinado entre os clubes de Rio e de São
Paulo. Entre 1961 e 1991, estes estaduais recebem 15 pontos. Na década de
1992/2002, afetados pelo mesmo processo de esvaziamento e perda de relevância
em comparação com as competições nacionais, eles voltam a receber 10 pontos. E
após 2003, o campeão de RS e MG recebe 8 pontos.
O terceiro grupo é
composto por centros de futebol historicamente secundários, mas que sempre
foram capazes de colocar representantes nos torneios nacionais: os campeonatos
de Paraná, Goiás, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Pernambuco recebem 5 pontos.
No grupo seguinte, os demais estaduais recebem 3 pontos.
Desse modo penso ter
enfrentado a questão da diferença de peso entre os principais centros do
futebol brasileiro bem como a alteração da importância dos próprios estaduais
ao longo do tempo.
Os casos especiais
continuam, no entanto, oferecendo desafios que não me dispus ainda a enfrentar.
Essas dificuldades podem ser exemplificadas com a Taça Guanabara, torneio
criado no Rio de Janeiro em 1965 e que era um dos maiores objetos de desejo dos clubes da cidade. A
Taça Guanabara era considerada quase que como um estadual à parte, e sua
conquista gerava comemorações efusivas na cidade até o fim dos anos 1990.
Desconsiderar o caso da
Taça Guanabara é um desserviço histórico, mas sua excepcionalidade é também um
nó difícil de desatar. Ela teria de ser comparada com outros Troféus secundários disputados
nos demais centros, gerando uma celeuma enorme. Fica para um ranking futuro.
TORNEIOS ESTADUAIS
1. CARIOCA E PAULISTA
1.1 Até 1936: Carioca 15 p / Paulista 20 p
1.2 1937 a 1960: Carioca 40 p / Paulista 30 p
1.3 1961 a 1970: Carioca 40 p / Paulista 40 p
1.4 1971 a 1991: Carioca 30 p / Paulista 30 p
1.5 1992 a 2002: Carioca 20 p / Paulista 25 p
1.6 2003/2011: Carioca 15 p / Paulista 20 p
1.7 2012 em diante: Carioca 10 p / Paulista 12 p
2. MINAS GERAIS E RIO GRANDE DO SUL
2.1 Até 1960: 10 p
2.2 1961 a 1991: 15 p
2.3 1991 a 2002: 10 p
2.4 2003 em diante: 8 p
3. PR, SC, BA, PE, CE, GO
5 p
4. DEMAIS ESTADUAIS
3 p
Nenhum comentário:
Postar um comentário