quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

RANKING -- Parte II: O problema dos torneios regionais, nacionais e internacionais

 








DO PROBLEMA DOS REGIONAIS

 


O Regional modelo foi sem dúvida o Torneio Rio-São Paulo. Quando da profissionalização do esporte, os grandes clubes de Rio e de Sampa buscaram atrair o público criando o máximo de competições atrativas. Mas o Rio-SP demorou a pegar. Das três primeiras edições, só uma chegou ao fim a contento. A de 1940 até hoje gera celeuma quanto ao vencedor – os participantes concordaram em conferir o título a Flamengo e Fluminense, mas a CBF nunca referendou.

Somente com a Era Maracanã o Regional ganhou consistência e atraiu atenções. A ascensão técnica do futebol paulista contribuiu para isso, e a partir da segunda metade dos anos 1950 os cariocas se empenharam na competição. Mas ela nunca foi capaz de fazer frente realmente aos estaduais, que continuaram como a principal estrela da temporada.

Por falta de datas e de interesses dos principais clubes, o Rio-SP chegou a um fim inglório em 1966, substituído por uma ampliação que tinha a intenção de servir de semente para a criação do primeiro nacional de clubes.

Nos anos 1990, os clubes cariocas e paulistas buscaram reeditar a competição. Ela teve algum sucesso, mas não perdeu o ar de “preparatório para a temporada”. Durou algumas edições e foi abandonada, aparentemente de forma definitiva.

Os Rio-SP anteriores a 1950 [início da Era Maracanã] receberam 20 pontos. Os dos anos 1950 e 1960 receberam 40. Os posteriores voltaram a receber 20 pontos. Não é pontuação pequena e confere a devida dimensão histórica ao torneio, que foi o primeiro a colocar, de forma bem sucedida, as principais equipes dos grandes centros na disputa por um mesmo troféu, além de servir de base para a criação do campeonato brasileiro através da fase intermediária do “Robertão”.

Todos os demais torneios regionais, sejam do norte, nordeste, centro-Oeste, Copas Sul-Minas etc. receberam 15 pontos, independente de seu sucesso. Alguns naufragaram, outros foram coroados de sucesso – caso da atual Copa do Nordeste.

 


TORNEIOS REGIONAIS


1. Torneio Rio-São Paulo

1.1 Antes de 1950:   20 p

1.2 De 1950 a 1966: 40 p

1.3 Depois de 1966: 20 p


2. Demais regionais: 15 p





DO PROBLEMA DOS NACIONAIS

 


Eis uma das questões mais espinhosas dos últimos dez anos, dada a decisão da CBF de unificar os títulos da Taça Brasil e do “Robertão” com o Campeonato Brasileiro criado em 1971. Dada a centralidade do Brasileiro nesse ranking, é justo que nos detenhamos em alguns detalhes do tema.

Até a década de 1950, Campeonato Brasileiro significava o enfrentamento tradicional e muito popular entre as seleções dos diversos estados, e que costumava ser decidido entre a seleção carioca e a paulista. No universo dos clubes, os campeonatos paulista e carioca eram praticamente tudo que importava, e mesmo o Rio-SP só engrenou com a necessidade de manter o Maracanã cheio.

Com a industrialização e a modernização da infra-estrutura brasileira, o sucesso da seleção, e o desenvolvimento e profissionalização do futebol em outros centros urbanos que se tornavam metrópoles [principalmente Belo Horizonte e Porto Alegre], o esporte bretão entrou em nova fase no nosso país. Um grande motivador foi a criação de campeonatos continentais e mundiais de clubes pela Conmebol e pela UEFA. Era necessário definir um representante brasileiro a partir de algum torneio nacional.

A primeira tentativa bem sucedida foi a Taça Brasil, uma Copa que ainda estava vinculada à classificação das equipes nos campeonatos estaduais – modelo próximo à Copa do Brasil, criada em 1989, e à extinta Copa dos Campeões, disputada entre 2000 e 2002. A Taça Brasil contava com representantes de dezenas de federações estaduais e seu campeão representava o país na Taça Libertadores da América.

Mas havia a consciência de que a Taça Brasil não era um campeonato nacional de clubes. Sua lógica, como explicado, funcionava a partir da classificação em campeonatos estaduais. Ela tampouco foi capaz de suplantar o prestígio dos estaduais do Rio e de São Paulo.

O grande objetivo da CBD era, assim, o de criar um Nacional de Clubes que demonstrasse a maior integração que o país tinha entre seus territórios e fizesse frente à realidade já existente há décadas nas principais potências do futebol mundial. O fracasso da seleção brasileira em 1966 amplificou a necessidade de modernizar o futebol do país.

O protótipo de criação de um Nacional de Clubes não foi, porém, a Taça Brasil, e sim o Torneio Rio São Paulo [cujo nome oficial era Torneio Roberto Gomes Pedrosa]. Os grandes do Rio e de Sampa decidiram ampliar a competição em 1967, incluindo equipes de ponta do Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Para tornar viável a viagem dos cariocas e paulistas para o Sul, foram incluídos também times do Paraná. 

Nos anos subsequentes, o “Robertão” admitiu equipes de outras UFs, até que em 1971, depois de ter sua rentabilidade testada e aprovada, seu modelo foi reconhecido oficialmente pela CBD – e pelo regime civil-militar que comandava o país então – como o primeiro campeonato nacional de cubes disputado no país. Nascia o Campeonato Brasileiro, cujo status aumentaria rapidamente e, pela primeira vez na história, suplantaria o prestígio do carioca e do paulista, se afirmando como a principal competição do calendário.

O processo histórico descrito é fartamente documentado. Por isso, no ranking atual, o “Robertão” é considerado como o que efetivamente foi à época: uma ampliação do Rio SP com vistas à criação do primeiro nacional de clubes. Se atribuí 100 pontos ao Campeonato Brasileiro, o “Robertão” levou 80, duas vezes o peso de um carioca ou paulista da mesma época.

A Taça Brasil é considerada como a primeira Copa Nacional criada, e assim uma precursora da atual Copa do Brasil, torneio nacional criado em 1989, inicialmente considerado caça-níqueis, mas logo vista como caminho mais fácil para a Libertadores da América em uma época em que os clubes brasileiros ainda tinham poucas vagas na principal competição do continente. 

A Copa do Brasil, segundo torneio nacional de maior sucesso em nossa história, recebe 50 pontos – metade da pontuação do Brasileiro. A Taça Brasil, como sua precursora legítima, recebe 40 pontos – o mesmo valor de um carioca ou paulista, ou ainda de um Rio-SP [protótipo do protótipo do Brasileiro] nos anos 1960.

A Copa dos Campeões, torneio nacional entre 2000-2002, também reproduzia modelo semelhante ao da Taça Brasil, incluindo aí a vaga para a Libertadores. Mas dava maior ênfase aos campeões regionais. A competição recebeu 30 pontos. A atual Supercopa do Brasil, jogo único oficial mas também festivo que coloca frente a frente o Campeão do Campeonato Brasileiro e o Campeão da Copa do Brasil, recebe apenas 10 pontos por ser partida única que não dá vaga para nenhuma competição ulterior.

Na história do nosso futebol existiram outras competições de âmbito inter-regional ou nacional, mas com poucas edições, ou ainda de caráter amistoso. Foram bem sucedidas em sua época, representaram enfrentamentos de gigantes do nosso esporte, mas recebem aqui apenas uma pontuação simbólica a fim de registrar sua ocorrência. O Torneio dos Campeões da CBD, a Copa dos Campeões Estaduais e outras competições do gênero recebem apenas 5 pontos.

Para valorizar o Brasileiro, a participação anual na primeira divisão recebe 5 pontos. A participação na segunda divisão recebe 1 ponto. O rebaixamento da primeira para a segunda divisão representa a perda de 20 pontos. O rebaixamento da segunda para a terceira divisão representa a perda de 30 pontos.  Também são atribuídos 10 pontos ao título da segunda divisão.

A grande polêmica nesse terreno se dá quanto à Copa União de 1987. Esse ranking considerou tanto Sport quanto Flamengo campeões brasileiros, decidindo não punir nenhuma das duas torcidas pelas confusões causadas pelas brigas políticas fora das quatro linhas, cujos meandros e detalhes jamais serão temas de consenso. No caso do Sport, o reconhecimento do título se consolidou com a decisão judicial em instâncias superiores. No caso do Flamengo, o reconhecimento veio das principais instâncias esportivas que promoveram o campeonato e que existiam no país: O Clube dos 13, o Conselho Nacional de Desporto, e a própria CBF [que já manifestou diversas vezes que só não considera o Flamengo como campeão brasileiro de 1987 porque impedida pela Justiça]. As decisões judiciais não foram suficientes para reverter esse quadro de reconhecimento, e algumas delas inclusive caíram em desuso com o tempo -- como a esdrúxula proibição de que os veículos de mídia considerassem ou divulgassem o título do Flamengo em 1987. Para quem vivenciou e testemunhou as disputas em campo naquele ano, não pode existir dúvida razoável de que o Flamengo conquistou, levantou e celebrou o título de Campeão Brasileiro. A decisão de pontuar a Copa União de 1987 como um Brasileiro está em consonância também com o Ranking da Folha de SP e o Ranking da Placar, dois dos mais tradicionais do país.





TORNEIOS NACIONAIS


1. Campeonato Brasileiro [desde 1971]:    100 p

2. Copa do Brasil:                                         50 p

3. "Robertão" [1967/1970]                        80 p

4. Taça Brasil [1959/1968]                            40 p

5. Copa dos Campeões [2000/2002]:            30 p

6. Supercopa do Brasil                                    10 p

7. Casos Especiais.

7.1 Torneio dos Campeões Estaduais; Copa dos Campeões da CBD; Copa dos Campeões da Copa do Brasil; Torneio dos Campões [1982]; Torneio do Povo:  5p

7.2 Título da Série B:                                        10 p

7.3 Participação anual na Série A:                      5 p

7.4 Participação anual na Série B:                      1 p

8. Rebaixamento

8.1 para a Série B:                                               -20 p

8.2 para a Série C:                                               -40 p






DO PROBLEMA DOS INTERNACIONAIS

 

A competição internacional mais representativa e tradicional do nosso continente é a Libertadores da América. Ela nasceu como passo indispensável à disputa do título de campeão mundial, organizada pela Conmebol e pela UEFA. Mas no período posterior a 1965, o Mundial perdeu apelo entre os europeus, que continuaram valorizando, no entanto, o título de Campeão do Velho Mundo como o mais importante do calendário.

Entre os sul-americanos não foi assim. O título de campeão mundial interclubes continuou com elevado prestígio, embora o torneio internacional mais difícil fosse, sem qualquer sombra de dúvida, a Libertadores.

A partir dos anos 1990, a decisão de um campeão mundial por meio do confronto entre os campeões da Conmebol e da UEFA perdeu o sentido. Outros centros se desenvolveram e se profissionalizaram. A realidade vigente nos anos 1960 e 1970, e parcialmente na década de 1980, em que o universo dos clubes profissionais se restringia à América do Sul e à Europa Ocidental, se alterou radicalmente. O futebol árabe se semi-profissionalizou nos anos 1980. O México ascendeu gradualmente a um status de ponta dentro da CONCACAF. Zico foi o grande símbolo do desenvolvimento do futebol japonês, no início dos anos 1990, que logo atingiu também as Coréias. 

No fim dos anos 1990, o futebol de clubes já era uma realidade também no Norte da África. Na década seguinte, a China entrou no jogo. Por fim, os EUA fazem uma nova tentativa de criar uma liga masculina sustentável, dessa vez com chances bem maiores dado o imenso público latino-americano que se formou no interior do país com a migração dos últimos 40 anos.

Enfim, o futebol de clubes chegou a outros continentes, o que justifica inteiramente que a FIFA tenha tomado as rédeas do Mundial Interclubes, abrindo-o para representantes de outras confederações. Desnecessário dizer que essas condições eram inexistentes entre o fim dos anos 1950 e o início dos anos 1990, e a antiga competição da Conmebol e da UEFA era de fato o Mundial possível até então, não menos legítimo só porque o mundo da bola era menor e mais restrito do que hoje em dia. Para diferenciar o Mundial da FIFA, criado em 2000 e disputado anualmente a partir de 2005, foi conferida pontuação ao vice-campeão, diferente da competição vigente até 2004.

A Conmebol teve também uma série de competições continentais secundárias, e cada um delas recebeu 50 pontos por sua abrangência e peso técnico. As exceções são a Copa Sul-Americana, a Taça Suruga e a Recopa Sul-Americana. A primeira recebe 30 pontos, por ter adquirido uma feição de “torneio de segunda divisão continental”, disputado por clubes que não estão na Libertadores. As outras são decididas em torneios de tiro muito curto e que guardam também ares festivos.

Há muitos casos especiais importantes na forma de torneios oficiais ou amistosos que foram pioneiros na proposta de confronto entre potências de países distintos. Os casos mais notórios são os da Copa Rio – para a qual o Palmeiras, e em menor medida o Fluminense, reivindica o status de campeonato mundial – e o Sul-Americano de 1948, vencido pelo Vasco, a primeira grande conquista continental de uma equipe brasileira. Mas há outros, como a Recopa Intercontinental vencida pelo Santos em 1968, e o Torneio Hexagonal do Peru, conquistado pelo Flamengo em 1959. Estes torneios receberam pontuações conforme seu status, prestígio, peso técnico e importância histórica. 





TORNEIOS INTERNACIONAIS


1. Mundial Interclubes:                150 p

2. Libertadores da América:         150 p

3. Torneios Continentais [Supercopa da Libertadores; Copa Mercosul; Copa Oro; Copa Conmebol; Copa Masters etc.]      50 p

4. Copa Sul-Americana                   30 p

5. Recopa Sul-Americana                20 p

6. Casos especiais

6.1 Copa Rio [1951 e 1952]              50 p

6.2 Sul-Americano de 1948               50 p

6.3 Recopa Intercontinental 1968      50 p

6.4 Taça Suruga                                  15 p

6.5 Torneio Hexagonal do Peru          10 p

6.6 Participação na Libertadores        10 p




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