Nesse ano, a "Era Aberta'' do tennis completa cinquenta aniversários. Assim como na maior parte dos grandes esportes, a ascensão do profissionalismo gerou uma imensa polêmica e sofreu resistência daqueles que imaginavam as competições como duelos entre gentlemen e gostariam de evitar que o espírito do lucro e o aburguesamento tomasse de vez as quadras. A Federação Internacional de Tennis de Grama [ILTF] proibiu que jogadores que recebessem vencimentos por suas exibições e confrontos participassem dos principais torneios, particularmente os Grand Slams e a Copa Davis.
Pouco a pouco, tenistas de grande expressão eram seduzidos por promotores profissionais e decidiam viver dos dividendos pagos por suas partidas, assumindo o custo de abandonarem as competições mais tradicionais. Esse processo se intensificou em meados dos anos 1950, época do crescimento de empresas de eventos tais como a National Tennis League [NTL] e a World Championship Tennis [WCT]. Nos anos 1960, o incipiente circuito profissional já possuía os maiores ídolos do ''esporte branco''. Havia, inclusive, um série de pro-majors que visavam o impossível, substituir os Grand Slams para os 'banidos' pela ILTF.
Tudo isso mudou em março de 1968, quando a Federação Internacional decidiu admitir a presença de profissionais em seus torneios. O primeiro major a contar com eles foi Roland Garros, conquistado pelo lendário australiano Ken Rosewall. O tennis nunca mais foi o mesmo, e a via para a fundação da Associação de Tenistas Profissionais [ATP] e para a massificação e disseminação do esporte estava definitivamente aberta. Mas essa é outra história, diferente daquela que vou contar aqui.
Em comemoração à data, vários sites, jornalistas e revistas especializados tem criado listas com os maiores ou melhores jogadores que disputaram a Era Aberta. A mais recente delas, dentre as mais famosas, foi feita por Steve Tignor na Tennis Magazine. Meio que inspirado nessa publicação, entro na brincadeira e faço eu também minha lista.
Adoto como principal o mesmo critério norteador escolhido por Tignor: Levo em conta a carreira inteira dos jogadores que conquistaram pelo menos um Grand Slam na Era Aberta. Ou seja, os gênios que se limitaram a vencer somente no tempo amador do ''esporte dos reis'' não vão entrar na minha série. Afinal se trata aqui de comemorar o aniversário da Open Era, um período determinado da história que modificou profundamente o tennis e o modo como ele é disputado. Importa frisar, no entanto, que não limito a análise apenas aos resultados obtidos depois de 1968, o que seria de todo injusto. Está valendo a integralidade da carreira de simples. dos campeões da ''Idade dos Profissionais''.
Os títulos de duplas também entram na conta, mas de modo extremamente secundário. Aumento o peso deles quando trato dos jogadores cujo auge se deu entre os anos 1960 e meados da década de 1980, quando praticamente todos os maiores nomes das quadras disputavam as modalidades de duplas. Depois disso, a exigência física do jogo de simples cresceu de modo tal que acabou por afastar os principais tenistas de outras categorias de disputa, cada vez mais concentrados que ficaram no que realmente dava dinheiro e prestígio. De todo modo, os resultados de duplas só vão ser usados para comparações pontuais, 'desempates' e situações similares.
A carreira de um jogador pode ser avaliada de diferentes maneiras, e no tennis a principal medida será sempre a dos majors. O Grand Slam é o ápice desse esporte; se não é tudo, é quase tudo no ''planeta raquete''. Mas a consolidação da Era Aberta trouxe outros parâmetros que não puderam mais ser deixados de lado, o principal deles o ranking da ATP, cuja criação se deu em agosto de 1973. Ter sido número 1 do mundo é uma das maiores glórias para um tenista. Centenas e centenas podem bater no peito reivindicando reconhecimento por serem campeões de Grand Slam. Mas somente 26 em toda a história carregam a honra do número 1. E se alcançar esse posto é pra poucos, mais difícil ainda é se manter nele. O número de semanas na liderança do ranking ou o número de temporadas terminadas como líder do circuito são sinais inequívocos de grandeza, sinalizam o quanto o jogador foi superior aos demais de sua geração. A conquista de majors indica o nível de qualidade máximo que um tenista pode alcançar em uma competição, já a história do ranking revela a ''qualidade média'' que ele é capaz de manter durante o ano, sua consistência ao longo do tempo.
O inesquecível Pete Sampras declarou em sua autobiografia ['Mente de Campeão'] que um jogador de ponta tem de ser avaliado também pela capacidade de predominar sobre sua época, não apenas demonstrando maior consistência no ranking, mas também no confronto direto ['homem a homem'] contra seus principais rivais. Concordando com o mestre, também levo o head to head em consideração nos momentos em que esses vislumbres se tornam necessários.
Por fim, não pretendo resumir toda e qualquer análise a uma mera confrontação de números. A quantidade de torneios conquistados ou os diferentes aspectos associados ao ranking tem de ser contextualizados. Houve tempo em que os grandes jogadores preferiam pular o Australian Open, ou então Roland Garros. Houve tempo em que a maior parte dos majors era na grama [hoje, apenas Wimbledon permanece na superfície original do esporte]. Há gerações mais fracas e outras mais fortes. A política do esporte influenciou o valor dos majors em certas temporadas, e há um ou outro que sofreram boicotes por diferentes razões. Além disso, seria tolo pretender fazer uma lista dos maiores sem pretender levar em conta os elementos qualitativos de um jogador. O domínio dos golpes, a adaptação a diferentes superfícies, a capacidade de improvisar, a performance em momentos decisivos, as novidades que trouxe para o jogo e sua importância para o desenvolvimento do tennis.
Alguns poderiam considerar esses itens como ''subjetivos'', pretendendo com isso diminuí-los. Permitam-me discordar: eles são plenamente objetivos -- afinal, o que é a objetividade senão intersubjetividade? --, e podem ser discernidos por aqueles que amam, acompanham e conhecem o tennis. Não podem, por certo, serem reduzidos à frieza dos números ou da mera quantidade, mas isso não é nenhum pecado: o mais importante, significativo, aquilo que é verdadeiramente decisivo e determinante, tanto na vida quanto no jogo, também não o pode.
Começo na próxima postagem a minha lista dos 30 maiores tenistas masculinos da Era Aberta.
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