Fraulein Forehand
Já são trinta anos desde a mágica temporada de Graf em 1988. A
espantosa performance da alemã não pode ser traduzida em frases simples. Ela já
havia chegado à final de 3 majors no ano anterior, vencido Roland Garros e desbancado
Navratilova do posto de número um do mundo, dando início às 186 semanas
consecutivas na liderança do circuito [que Serena Williams igualou em 2016] e
ao recorde de 377 semanas totais como primeira do ranking. Mas quando 1988
começou, Graf era ainda uma mortal. No fim de setembro, havia se convertido em
uma deusa capaz de milagres.
1988 se tornou a segunda das oito temporadas em que Graf
terminaria como número um da WTA, e a primeira das cinco em que liderou o
ranking de ponta a ponta. Fica no meio de uma sequência de treze finais
consecutivas de majors entre os Abertos da França de 1987 e 1990 [para efeitos
de comparação, Federer é o recordista entre os homens, com dez seguidas].
Mas nem todos concordam que tenha sido o ano em que ‘’Fraulein Forehand’’
jogou o seu melhor. De fato, em 1989 ela venceu um número maior de títulos --
14, incluindo 3 majors e o Tour Finals, o equivalente a Master Cup da ATP--, e
alcançou o aproveitamento de 97,73%, com 86 vitórias e apenas 2 derrotas.
Campanha muito similar à de Navratilova em 1983, com apenas uma derrota a mais.
No entanto, essa ‘’derrota a mais’’ é justamente a razão porque 1989 exerce fascínio menor
do que 1988. Ela se deu na final de Roland Garros para Arantxa Sanchez depois
que Steffi sacou para o jogo em 5-3 no terceiro set, acabando com a
possibilidade do Calendar Slam.
O Golden Slam
O “annus mirabilis” teve início com a conquista do primeiro
Australian Open disputado em hard court, sem perder nenhum set e passando por
Chris Evert na final. Graf tampouco deixou sets em Roland Garros, e na partida
decisiva aplicou uma bicicleta em Natasha Zvereva em rápidos 32 minutos de
partida, a maior demolição já realizada contra uma rival na final de um torneio
dessa magnitude.
O passo seguinte foi completado em julho: Embora já contasse com
31 anos de idade, Navratilova permanecia Rainha inconteste de Wimbledon, com
oito títulos em oito finais, e já havia superado Graf em dois majors.
Na final, Martina levou o primeiro set – o primeiro que Graf perdeu em GS
naquele ano -- e abriu uma quebra de vantagem no segundo, mas foi derrotada nas
últimas duas parciais por 6-2 e 6-1.
Na entrevista que se seguiu, a tcheca
declarou que ‘’um capítulo havia se fechado’’ e que se sentia ‘’passando uma
tocha adiante’’. Depois disso, o Calendar Slam veio quase que naturalmente em
Nova York, em cima da argentina Gabriele Sabatini, amiga e parceira de duplas
de Graf -- uma amostra que a nova geração chegava de fato para substituir a
anterior.
O quadro pintado pela alemã não ficaria tão especial sem as
Olimpíadas, realizadas logo depois do US Open. Ela já havia vencido o torneio
teste em Los Angeles 1984, disputado só com tenistas abaixo de 21 anos, e
viajou para a Coréia com o objetivo de se tornar a primeira campeã olímpica de
tennis em mais de sessenta anos. Quando Steffi conquistou a medalha de ouro,
mais uma vez derrotando Sabatini na final, o mundo percebeu que estava diante de um
fato talvez único, nunca antes imaginado. Os jornalistas criaram rapidamente um
epíteto para a façanha: “Golden Grand Slam”.
E em um raciocínio circular, típico de quando se tenta explicar
de forma racional o sentimento provocado por uma grande obra de arte, é
possível dizer que 1988 deslumbra os fãs do esporte porque é o ano do “Golden
Slam”, e “Golden Slam’’ é o nome que o mundo teve de criar pra se referir
àquilo que Graf realizou em 1988.
A Tenista Completa
Steffi criou um novo
parâmetro a partir do qual todas as demais performances seriam avaliadas. Sua
movimentação e ‘’footwork’’ superaram a dicotomia entre a linha de base e o
jogo de rede que havia imperado durante a rivalidade entre Evert e Navratilova,
sintetizando-os, segundo a própria Chrissie, em um estilo apropriado para todas
as quadras.
A magnífica campanha de 1988 foi coroada com 11 títulos e 72
vitórias em 75 jogos, um aproveitamento de 96% [o terceiro maior da carreira de
Graf e o sétimo maior da história], e a conquista de Grand Slams em três
diferentes superfícies [hard, saibro e grama] – façanha que Navratilova havia
realizado em 1984, que Rafael Nadal realizaria em 2010, e que Graf repetiria em
três outras temporadas
Nenhum comentário:
Postar um comentário