domingo, 5 de maio de 2019

Série Grandes Temporadas da Era Aberta XIV: Steffi Graf, em 1988


Fraulein Forehand

Já são trinta anos desde a mágica temporada de Graf em 1988. A espantosa performance da alemã não pode ser traduzida em frases simples. Ela já havia chegado à final de 3 majors no ano anterior, vencido Roland Garros e desbancado Navratilova do posto de número um do mundo, dando início às 186 semanas consecutivas na liderança do circuito [que Serena Williams igualou em 2016] e ao recorde de 377 semanas totais como primeira do ranking. Mas quando 1988 começou, Graf era ainda uma mortal. No fim de setembro, havia se convertido em uma deusa capaz de milagres.

1988 se tornou a segunda das oito temporadas em que Graf terminaria como número um da WTA, e a primeira das cinco em que liderou o ranking de ponta a ponta. Fica no meio de uma sequência de treze finais consecutivas de majors entre os Abertos da França de 1987 e 1990 [para efeitos de comparação, Federer é o recordista entre os homens, com dez seguidas]. 

Mas nem todos concordam que tenha sido o ano em que ‘’Fraulein Forehand’’ jogou o seu melhor. De fato, em 1989 ela venceu um número maior de títulos -- 14, incluindo 3 majors e o Tour Finals, o equivalente a Master Cup da ATP--, e alcançou o aproveitamento de 97,73%, com 86 vitórias e apenas 2 derrotas. Campanha muito similar à de Navratilova em 1983, com apenas uma derrota a mais. 


No entanto, essa ‘’derrota a mais’’ é justamente a razão porque 1989 exerce fascínio menor do que 1988. Ela se deu na final de Roland Garros para Arantxa Sanchez depois que Steffi sacou para o jogo em 5-3 no terceiro set, acabando com a possibilidade do Calendar Slam.


O Golden Slam

O “annus mirabilis” teve início com a conquista do primeiro Australian Open disputado em hard court, sem perder nenhum set e passando por Chris Evert na final. Graf tampouco deixou sets em Roland Garros, e na partida decisiva aplicou uma bicicleta em Natasha Zvereva em rápidos 32 minutos de partida, a maior demolição já realizada contra uma rival na final de um torneio dessa magnitude.

O passo seguinte foi completado em julho: Embora já contasse com 31 anos de idade, Navratilova permanecia Rainha inconteste de Wimbledon, com oito títulos em oito finais, e já havia superado Graf em dois majors. Na final, Martina levou o primeiro set – o primeiro que Graf perdeu em GS naquele ano -- e abriu uma quebra de vantagem no segundo, mas foi derrotada nas últimas duas parciais por 6-2 e 6-1. 


Na entrevista que se seguiu, a tcheca declarou que ‘’um capítulo havia se fechado’’ e que se sentia ‘’passando uma tocha adiante’’. Depois disso, o Calendar Slam veio quase que naturalmente em Nova York, em cima da argentina Gabriele Sabatini, amiga e parceira de duplas de Graf -- uma amostra que a nova geração chegava de fato para substituir a anterior.

O quadro pintado pela alemã não ficaria tão especial sem as Olimpíadas, realizadas logo depois do US Open. Ela já havia vencido o torneio teste em Los Angeles 1984, disputado só com tenistas abaixo de 21 anos, e viajou para a Coréia com o objetivo de se tornar a primeira campeã olímpica de tennis em mais de sessenta anos. Quando Steffi conquistou a medalha de ouro, mais uma vez derrotando Sabatini na final, o mundo percebeu que estava diante de um fato talvez único, nunca antes imaginado. Os jornalistas criaram rapidamente um epíteto para a façanha: “Golden Grand Slam”.

E em um raciocínio circular, típico de quando se tenta explicar de forma racional o sentimento provocado por uma grande obra de arte, é possível dizer que 1988 deslumbra os fãs do esporte porque é o ano do “Golden Slam”, e “Golden Slam’’ é o nome que o mundo teve de criar pra se referir àquilo que Graf realizou em 1988.


A Tenista Completa

Steffi criou um novo parâmetro a partir do qual todas as demais performances seriam avaliadas. Sua movimentação e ‘’footwork’’ superaram a dicotomia entre a linha de base e o jogo de rede que havia imperado durante a rivalidade entre Evert e Navratilova, sintetizando-os, segundo a própria Chrissie, em um estilo apropriado para todas as quadras. 


A magnífica campanha de 1988 foi coroada com 11 títulos e 72 vitórias em 75 jogos, um aproveitamento de 96% [o terceiro maior da carreira de Graf e o sétimo maior da história], e a conquista de Grand Slams em três diferentes superfícies [hard, saibro e grama] – façanha que Navratilova havia realizado em 1984, que Rafael Nadal realizaria em 2010, e que Graf repetiria em três outras temporadas

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