Duas semanas atrás, publiquei um texto resumindo, de forma bem simplificada e didática, as divergências que René Guénon e Fritjof Schuon tinham a respeito do Cristianismo.
Houve quem me perguntasse a opinião de Julius Evola. Fiel a sua perspectiva sobre a tradição iniciática, que pode ser melhor compreendida a partir da obra "A Tradição Hermética", Evola resumia toda essa pendenga de forma bem simples:
"Na minha opinião, o que pode existir de iniciático no Cristianismo não é cristão, e o que é cristão não pode ser iniciático." [O Arco e a Clava, 1968]
Assim, Evola não nega a possibilidade de ritos e fluxos iniciáticos na história cristã, nem sua continuidade através dos tempos. Ele cita sinais nos Padres da Antiguidade, em São Simeão o Novo Teólogo, no conceito de theosis e no hesicasmo na Ortodoxia, nas ordens de cavalaria na Idade Média, nos ciclos arturianos, e até em certas ambiências protestantes.
Mas ele considerava que o esoterismo e o poder iniciático que porventura existissem no cristianismo não eram propriamente cristãos. O Cristianismo, por natureza, seria uma doutrina divorciada desses princípios tradicionais, sacerdotal por definição, e devocional demais para que pudesse ser incluída no âmbito do qual Evola falava.
Por isso também, ele achava que os movimentos cristãos mais próximos de uma real compreensão esotérica eram os heréticos, especialmente os gnósticos da Antiguidade.
Se o cristianismo podia ou não ser base para uma restauração tradicional no Ocidente é outra questão, para a qual Evola deu resposta negativa durante quase toda sua vida, ainda que no final já tivesse uma resposta mais ambígua e até favorável, em algum grau, ao Cristianismo.
Enfim, a abordagem de Evola é uma terceira via, uma alternativa tradicionalista, em relação a de Guénon e Schuon. O primeiro pensava o cristianismo como inicialmente esotérico, mas descendo para o nível do exoterismo por Providência Divina a fim de evitar momentaneamente a derrocada civilizacional que se prenunciava na Antiguidade. O segundo considerava os ritos cristãos propriamente iniciáticos nos "três ramos" dessa religião: catolicismo-romano, ortodoxia e luteranismo.
Evola diz que é possível sim que exista, tanto em sua origem, quanto em seus desdobramentos históricos, iniciações no cristianismo. Mas elas não surgem NO cristianismo. São como um ''corpo acrescentado'', quase que estranho, a uma forma de espiritualidade [o cristianismo] que é por natureza profana.
Evidente que nenhuma dessas três abordagens pode satisfazer plenamente um cristão, apontando para a dificuldade que é encaixar esta religião na narrativa Tradicionalista.
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