sábado, 27 de janeiro de 2024

O Problema Sinótico e a Hipótese Q


Muitos cristãos são pouco familiarizados até com as linhas mais gerais das pesquisas sobre as origens do cânone bíblico ou, de modo mais específico, dos Evangelhos. Existe uma extensa literatura que debate sobre a formação dos livros, sua autoria, as fontes usadas e questões correlatas.


Os Evangelhos foram escritos mesmo por testemunhas oculares? Quais seus verdadeiros autores? Em que fontes eles se apoiaram para construir o texto? Os autores dos diferentes Evangelhos conheceram os textos uns dos outros? Qual a data em que os Evangelhos foram escritos? O que é exatamente o Problema Sinótico, e por que alguns falam tanto de uma ''fonte Q"? São problemas importantes não só para nosso conhecimento sobre o Novo Testamento mas também para todo um campo de pesquisas denominado ''Jesus Histórico".


Recentemente, parei para assistir alguns vídeos do professor da UFRJ André Chevitarese depois de descobrir que ele criou um canal no Youtube durante a pandemia a fim de divulgar suas pesquisas e cursos sobre o Jesus Histórico. O canal tem um bom público, e aqui e ali é citado como referência por pessoas interessadas nestas questões.


Fiquei decepcionado ao perceber que o modo de argumentação de Chevitarese pouco mudou nos últimos vinte anos. Ele continua apresentando hipóteses e especulações como se fossem ''conhecimento consolidado'' e criando espantalhos constrangedores quando contestado.


Nos vídeos, Chevitarese zomba de quem adverte que a fonte Q é só hipotética, dizendo que ''existem mais de 15 mil trabalhos, artigos e livros'' dedicados a ela, e que proposta remonta a ''teólogos alemães do início do século XIX".


Bom, e daí? Q continua uma hipótese. Não há nenhum sinal concreto de sua existência. Nenhum fragmento, nenhuma menção em obra ou autor da Antiguidade. Existem hipóteses ainda mais antigas, como por exemplo a dos dois evangelhos. Além disso, nem todas as questões levantadas pelas comparações entre os evangelhos são resolvidas por Q.


Pior ainda, diferente do que o pesquisador diz nos vídeos, o status de Q nos estudos do Jesus Histórico caiu muito nas décadas mais recentes. Vinte e cinco anos atrás, quando Chevitarese passou a se dedicar a esse tema, a hipótese das duas fontes era praticamente um consenso historiográfico. Q era uma tese tão hegemônica que o ''problema sinótico'' era praticamente dado como resolvido.




Mas desde que Mark Goodacre publicou Case Against Q, em 2002, o panorama mudou. Ano após ano, a confiança da Academia em torno da hipótese foi diminuindo. Hoje em dia, ela continua sendo a solução mais forte, mas está muito longe de ser incontroversa, muito menos conclusiva. O status quaestionis é de que o problema sinótico persiste.


Surpreende as afirmações de Chevitarese de que temos ''dois documentos'' com uma teologia prístina sobre Jesus: a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, em que Cristo é apresentado com um status divino, cuja paixão e ressurreição nos redime dos pecados, e que teria constituído Doze Apóstolos para espalhar a Boa Nova; e Q, ''em que Cristo não tem Apóstolos, e sim seguidores [tanto homens quanto mulheres], e em que não Ressuscitou".


Não temos dois documentos. Temos um só, a carta de São Paulo. O outro é pura especulação de Chevitarese, não só porque Q é hipotético, mas também porque não há segurança sobre seu conteúdo. Ninguém sabe ao certo a inteireza e o teor de Q, caso tenha existido. Existem tentativas, mais ou menos fortes, de elaborar como essa fonte seria. Mas essas reconstruções são ainda mais hipotéticas do que a própria existência de Q, por motivos óbvios.


Mas o professor Chevitarese grava os vídeos cravando que Q existiu, que dada reconstrução dessa fonte hipotética é líquida e certa, e que ela permite assegurar o que seria o cristianismo primitivo de judeus helenizados da Galileia dos anos 40 e 50 do primeiro século. E ainda joga ''anátemas acadêmicos'' e dá carteiradas em quem ousa levantar dúvidas.


Uma lástima completa.


Bom, o que significa Q? Por que essa hipótese foi hegemônica e agora perdeu força? Que problema visa solucionar?

Vamos entender primeiro no que consiste o Problema Sinótico.

Dos quatro evangelhos canônicos, três são bastante similares: Mateus, Marcos e Lucas. Eles tem uma estrutura narrativa parecida, se referem a um número imenso de episódios comuns, e muitas vezes se utilizam das mesmas frases para contar esses eventos.

Para se ter noção do nível de concordância: mais de 95% do evangelho de Marcos está contido em Mateus. 80% de Marcos está em Lucas. E dois terços do texto de Lucas coincide com o de Mateus em algum grau [70% de Mateus está em Lucas]. O conjunto de passagens comuns a a esses três Evangelhos é chamado às vezes de ''tripla tradição''.

[Notem que um quinto do Evangelho de Mateus não se encontra em nenhum dos outros dois. O mesmo acontece com um terço do evangelho de Lucas.]

Alguns creem que as similaridades se devem à existência de um mesmo autor espiritual, uma forma de inspiração divina mecânica, que faz com que esses textos usem as mesmas palavras, quase como se estivessem sendo ''ditadas'' por um mesmo espírito. Mas essa posição, além de reproduzir uma visão um tanto polêmica do que seria a inspiração divina, não dá conta de explicar as diferenças, que também são importantes, entre estes três evangelhos.

No campo da pesquisa histórica, as semelhanças entre os evangelhos sinóticos [Mateus, Marcos e Lucas] levou a um conjunto de pretensas soluções. Uma delas seria imaginar a existência de fortes tradições orais capazes de se manter quando da redação dos três textos.


Ninguém duvida que as perícopes, histórias e 'ditos' de Jesus Cristo corriam à solta em forma oral nas primeiras comunidades cristãs. Mas essas tradições primevas provavelmente eram em aramaico, língua comum da Palestina do primeiro século, enquanto os evangelhos canônicos se encontram em grego. Ora, supor que esta tradição oral ficasse incólume ao ser vertida para o grego a ponto de reproduzir frases inteiras com a mesma sequência de palavras e até o uso dos mesmos verbos seria tão incrível quanto a hipótese da ''psicografia'' que mencionei aí em cima.


De modo que resta supor que as semelhanças existem porque os redatores dos três evangelhos tinham alguma dependência um do outro ou porque usavam fontes LITERÁRIAS comuns. E aí vem a questão de saber quem depende de quem ou que fontes literárias comuns seriam essas. Lucas já tinha lido Mateus? Marcos conhecia o texto de Lucas? Qual deles escreveu primeiro?


Percebam que nada aí atenta contra a fé cristã ou a inspiração dos textos. Desses três evangelistas, só um era supostamente uma testemunha ocular dos eventos: Mateus. Segundo a Tradição, Marcos era discípulo de São Pedro em Roma. E Lucas era companheiro de viagem de São Paulo. Aliás, o próprio São Lucas afirma no início de seu Evangelho que existiam outros textos sobre Jesus circulando, e que ele estava construindo uma composição baseado em uma investigação que dependia do testemunho de terceiros.


Pois bem, a hipótese Q, mais pomposamente chamada e ''teoria das duas fontes'', é uma das formas encontradas de se responder a este enigma. Ela foi elaborada, inicialmente, por teólogos alemães [protestantes] em meados do século XIX; e no último terço do século XX se tornou hegemônica, quase definitiva, nos estudos do Jesus Histórico.


Esta hipótese se fundamenta nas evidências internas dos textos e em princípios de razoabilidade e probabilidade. Isso significa também que ela não dá a mínima para as evidências externas, ou seja, os testemunhos fornecidos por obras e autores da Antiguidade, como os Padres da Igreja -- que tinham suas próprias visões sobre como estes evangelhos foram escritos. A restrição a elementos internos dos evangelhos é uma força ou uma fraqueza da teoria, a depender do ponto de vista.


Resumindo bastante o assunto, a hipótese parte de dois pilares:


i. Marcos teria sido escrito primeiro que os demais. Segundo os defensores da hipótese, a precedência de Marcos decorre de ser um texto mais curto, com teologia menos elaborada, gramática muito menos rebuscada, e pelo fato de estar contido quase inteiro em Mateus e Lucas. Para eles, seria estranho que Marcos fosse escrito depois e tivesse ''cortado'' vários episódios presentes nos dois outros sinóticos.


ii. Mateus e Lucas seriam completamente independentes, ou seja, Lucas não conhecia o texto de Mateus e vice-versa. Eles não consideram crível que houvesse dependência recíproca e ainda assim esses dois textos apresentassem discrepâncias tão sensíveis quanto a genealogia e o nascimento de Jesus. Mateus fala de Reis Magos e do massacre de inocentes em Belém a mando de Herodes [e a consequente fuga de José e sua família para o Egito]. Por que Lucas deixaria isso fora de seu texto? Além disso, Lucas dá informações importantes, como a de que João Batista [o Precursor] era parente de Jesus Cristo. Por que Mateus se calaria sobre isto?



Se os dois pontos acima estão corretos, é fácil imaginar que tanto Lucas quanto Mateus tenham sido redigidos tendo Marcos em mãos. Pronto, isso explica porque metade de Mateus e 40% de Lucas convergem com Marcos. Aí vem o outro 'porém' necessário para entender a totalidade da hipótese: 1/4 de Mateus e Lucas coincidem mas não estão presentes em Marcos. Quer dizer, 1/4 dos episódios em Mateus estão em Lucas [e vice-versa] com sequências de palavras e até verbos e frases iguais. Mas esses episódios não estão em Marcos -- chamamos a isto de dupla tradição, pra diferenciar da tripla tradição, a saber, os episódios que constam em todos os três sinóticos --, o que leva a supor que Mateus e Lucas escreviam não só com Marcos em mãos, mas com um segundo documento literário, uma segunda fonte, que foi batizada de Q [do termo ''quelle'', que significa 'fonte'].


E assim se resolve, segundo os apoiadores dessa tese, o problema sinótico. As concordâncias entre os redatores independentes Mateus e Lucas se devem ao fato de ambos usarem duas fontes em comum, os textos mais antigos de Marcos e de Q. O terço do Evangelho de Lucas que está só em Lucas, e em nenhum outro evangelho, assim como o quinto de Mateus que só se encontra em Mateus e mais ninguém, dizem respeito a tradições independentes usadas por cada um destes redatores. [Daí que a tese original das duas fontes pode se desdobrar facilmente em quatro fontes originais: Marcos e Q, e talvez M e L -- de Mateus e Lucas --, sejam estas duas últimas múltiplas ou não, tradições orais ou escritas].


Alguns foram ainda mais longe, tentando reconstruir o que seria Q a partir das convergências em Lucas e Mateus que são atribuídas a este documento. Dentre os defensores, passou a ser forte a opinião de que Q não teria uma estrutura narrativa, seria um ''evangelho de ditos''. Ou seja, de parábolas, aforismos, frases atribuídas a Cristo, mas sem contar uma história.


Daí o furor quando o Evangelho de Tomé foi encontrado no Egito em 1945, pois ele se trata de um texto apenas de ''ditos''. Os defensores de Q tiveram a certeza de que estavam na pista certa, e a tese se tornou hegemônica durante o restante do século XX, e quase que incontestada a partir dos anos 1970, quando a tradução de Tomé foi publicada. A existência de Tomé provava que os primitivos cristãos tinham coletâneas escritas de ditos de Jesus, o que tornava a hipótese Q ainda mais crível.


[O Evangelho de Tomé é uma história à parte. Sua existência já era conhecida por escritos de Padres da Igreja do início do século III, como São Hipólito de Roma e Orígenes. A cópia encontrada em Nag Hammadi é de meados do século IV, mas ela permitiu identificar fragmentos da segunda metade do século II e primeira metade do século III como passagens deste evangelho. Alguns pesquisadores entusiasmados chegam a datar o 'original' na primeira metade do século I, o que o tornaria uma dos documentos mais antigos sobre Jesus. Mas hoje essa posição é minoritária, e a Academia tende a considerá-lo um texto do segundo terço do século II. De todo modo, as camadas de tradição oral no Evangelho de Tomé são bem antigas: 80% dos ditos contidos ali tem paralelos nos Evangelhos canônicos. O restante é provável adição gnóstica -- a cópia foi encontrada junto a um conjunto de textos gnósticos. Outra questão é saber qual é a dependência de Tomé em relação aos canônicos. Os redatores de Tomé conheciam e usaram Mateus, Marcos, Lucas e João? Não se sabe, mas muitos consideram possível.]


Problema resolvido? Longe disso. A tese das duas fontes começou a perder fôlego na Academia a partir do início dos anos 2000. Ela já não é incontroversa, nem incontestável, nem a única no ''mercado intelectual''. O primeiro grande obstáculo para sua aceitação é que, se levarmos em consideração todos os argumentos para Q [prioridade de Marcos, independência completa entre Lucas e Mateus, evangelho de ditos, desprezo pelas evidências externas etc.] ainda assim a hipótese não resolve todas as questões dos sinóticos. A mais constrangedora dela são as ''concordâncias menores" entre Lucas e Mateus.


Como assim?


É que Mateus e Lucas não ''copiam e colam'' de Marcos. Eles redigem em cima da fonte Marcos. Eles pegam o texto e o reescrevem. Nessa reescrita, temos o uso de frases ou sequências de palavras inteiras em comum, mas é sempre uma ''reedição'', não uma cópia pura e simples. Os textos de Mateus e Lucas que supostamente usam Marcos como fonte tem estilo próprio e podem divergir de Marcos em detalhes, acrescentando ou retirando algumas palavras, usando um grego mais rebuscado etc. Ou seja, na redação existiriam ''desvios'' e pequenas mudanças em relação ao ''original'' [Marcos]. Nenhum mistério até aqui.


O problema é quando a redação de Mateus se desvia da de Marcos em um mesmo trecho em que a redação de Lucas se desvia também, e no entanto os dois desvios coincidem um com o outro. Ou seja, Mateus e Lucas, fazendo suas redações em cima de Marcos, e supostamente sem conhecerem o texto um do outro, fazem mudanças no original [retirando palavras, acrescentando palavras, dando esse ou aquele nuance] de maneira simplesmente...idêntica! Isso não acontece apenas um ou duas vezes. Mas dezenas de vezes.


Óbvio que se trata de um problema acachapante e aparentemente insolúvel pela hipótese das duas fontes. Será que Q também inclui estruturas narrativas que coincidem com Marcos e que são usadas por Mateus e Lucas nesses trechos? Será que é a tradição oral? Como resolver?


Até que alguns pesquisadores notaram, finalmente, que o problema das ''concordâncias menores'' em Mateus e Lucas poderia ser solucionado derrubando um dos pilares da hipótese das duas fontes: basta que Lucas tivesse acesso a Mateus [ou vice-versa] para explicar a dupla tradição. Se Lucas usa não só Marcos mas também Mateus como fonte [ou se Mateus usa Marcos e Lucas], então não só a tripla mas também a dupla tradição estão solucionadas.


Só que isso também torna a hipótese Q totalmente irrelevante, resolvendo também outro pretenso ''mistério'': por que não se encontra nenhum fragmento desse importante documento, e por que ele não é citado por nenhum autor da Antiguidade, seja ele Padre ou não da Igreja? Bom, talvez porque ele nunca tenha existido.


As alternativas para a hipótese das duas fontes podem ser multiplicadas, mas acho que as linhas principais são essas. Cabe acrescentar dois tópicos: nem mesmo a prioridade de Marcos é incontroversa. É verdade que ela é aceita pela maioria dos estudiosos do problema sinótico, mas tudo se baseia em argumentos de razoabilidade construídos em cima de evidências internas dos próprios textos. Portanto, nada disso é conclusivo.


Nada implica que Marcos não possa ser uma versão mais curta dos outros dois Evangelhos. Que se fundamente principalmente na pregação [kerigma] de São Pedro [e portanto seja econômico em sua estrutura narrativa]. O texto deste Evangelho de fato apresenta um padrão de construção mais próximo à oralidade, similar a um discurso longo, uma ''pregação'', e traz também ''latinismos''. Por uma análise crítica, é bastante razoável supor que tenha origem de fato na Itália.


Pode acontecer também de Marcos ser uma transição entre Mateus e Lucas [em vez de anterior ou posterior a ambos]. Nenhuma dessas opções pode ser decisivamente excluída só com base em evidências internas aos textos. Pode-se, no máximo, argumentar sobre o que seria mais ou menos provável.


Este é um ponto importante porque todo debate acima se dá minimizando o peso do que foi dito pelos próprios Padres do segundo e terceiro séculos. Alguns deles trataram da origem dos Evangelhos. O testemunho mais antigo é o de São Papias, que por volta do ano 100, e portanto ainda mergulhado na era apostólica, afirmou que Mateus tinha escrito primeiro uma versão em ''estilo hebraico'', mais tarde traduzida para outras línguas, e que depois Marcos, em Roma, colocou por escrito as pregações de São Pedro.


São Clemente de Alexandria e Santo Irineu de Lyon, também escrevendo no segundo século, concordam com Papias quanto a prioridade de Mateus. [A hipótese atual mais forte que mantém a prioridade mateana é a de Griesbach -- chamada também de ''teoria dos dois evangelhos'' por supor a prioridade de Mateus e Lucas].



Finalizando, chamo atenção para o que diz a Santa Tradição, que não entra nessas querelas acadêmicas: o primeiro Evangelho é o do Glorioso São Mateus, que o escreveu em hebraico ainda nos anos 40 e depois o verteu para o grego; São Marcos escreveu seu Evangelho em cima da pregação de São Pedro, quando em Roma; São Lucas escreveu seu Evangelho quando em missões ao lado de São Paulo; e, por fim, São João escreveu seu texto por último, já depois da destruição do Templo.


ps.: Os primeiros documentos que temos sobre Jesus não são os Evangelhos, e sim as cartas de São Paulo, algumas datadas da virada dos anos 40 para os 50. O que inclui as alegações na primeira carta aos coríntios, capítulo 15 ["eu vos transmiti primeiro o que eu mesmo havia recebido...''], evidenciando que a Ressurreição é, indiscutivelmente um dos ensinamentos mais prístinos na história do cristianismo.

pps.: o Evangelho de São João Teólogo é considerado uma tradição independente dos sinóticos. Os historiadores datam sua redação final da última década do primeiro século. Ele é marcado por um retorno à polêmica com os judeus, em um contexto em que os cristãos já estavam completamente apartados das sinagogas, além de uma resposta aos ebionitas [que negavam a divindade de Cristo].


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