Alguns brasileiros acreditam a sério que o nosso país é uma sociedade intrinsecamente corrupta, e que nosso povo ou, na versão mais amena, nossos políticos são uma gangue com a alma mergulhada na desonestidade.
Esses detratores completam a ideologia vira-lata compondo
uma imagem idílica do surgimento dos Estados Unidos da América como uma terra
da liberdade, acolhedora, protetora das diferenças, religiosa e moralmente
sólida.
Mas boa parte dos colonos que fugiram da Europa rumo a
América eram pobres deserdados dos campos e que inundavam as cidades inglesas.
Companhias de comércio que visavam lucro imediato
realizavam tráfico de órfãos e de mulheres, que eram vendidas como ''esposas''
para os colonos. A mão de obra do escravo africano só passou a predominar de
vez no fim do século XVII. Antes disso, era comum a servidão branca, muitas
vezes involuntária, e que não deixava de fazer uso abundante do sequestro de
crianças na Europa.
Um dos mitos mais fortes que os americanos acalentam
sobre as próprias origens diz respeito aos ''pais peregrinos'' associados à
fundação de Massachussets. Seriam gente muito boa fugindo da opressão religiosa
no Velho Mundo, fundadores de uma ''Nova Inglaterra'', que imaginavam como uma
Nova Canaã, depois de desembarcarem do Mayflower e promoverem uma
confraternização com os povos nativos -- festa que deu início à comemoração d'O
Dia de Ação de Graças.
Esquecem de contar que esses mesmos sujeitos eram
fanáticos calvinistas marcados pela adesão estrita a uma moral coletiva
fortemente puritana e histérica, cujos resultados foram a caça às bruxas de
Salém e à batalha e destruição dos indígenas na ''Guerra do Rei Felipe''.
É o ''mito nacional'' dessa gente pobre de espírito que o
vira-latismo de políticos e movimentos locais pensa que serve de modelo para
nós, que somos herdeiros de civilizações gloriosas e de um processo histórico
fecundo.
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