quarta-feira, 7 de agosto de 2019

A doença da americanofilia e o abraço ao mito nacional de formação dos EUA



Alguns brasileiros acreditam a sério que o nosso país é uma sociedade intrinsecamente corrupta, e que nosso povo ou, na versão mais amena, nossos políticos são uma gangue com a alma mergulhada na desonestidade.


Esses detratores completam a ideologia vira-lata compondo uma imagem idílica do surgimento dos Estados Unidos da América como uma terra da liberdade, acolhedora, protetora das diferenças, religiosa e moralmente sólida.


Mas boa parte dos colonos que fugiram da Europa rumo a América eram pobres deserdados dos campos e que inundavam as cidades inglesas.


Companhias de comércio que visavam lucro imediato realizavam tráfico de órfãos e de mulheres, que eram vendidas como ''esposas'' para os colonos. A mão de obra do escravo africano só passou a predominar de vez no fim do século XVII. Antes disso, era comum a servidão branca, muitas vezes involuntária, e que não deixava de fazer uso abundante do sequestro de crianças na Europa.



Um dos mitos mais fortes que os americanos acalentam sobre as próprias origens diz respeito aos ''pais peregrinos'' associados à fundação de Massachussets. Seriam gente muito boa fugindo da opressão religiosa no Velho Mundo, fundadores de uma ''Nova Inglaterra'', que imaginavam como uma Nova Canaã, depois de desembarcarem do Mayflower e promoverem uma confraternização com os povos nativos -- festa que deu início à comemoração d'O Dia de Ação de Graças.



Esquecem de contar que esses mesmos sujeitos eram fanáticos calvinistas marcados pela adesão estrita a uma moral coletiva fortemente puritana e histérica, cujos resultados foram a caça às bruxas de Salém e à batalha e destruição dos indígenas na ''Guerra do Rei Felipe''.


É o ''mito nacional'' dessa gente pobre de espírito que o vira-latismo de políticos e movimentos locais pensa que serve de modelo para nós, que somos herdeiros de civilizações gloriosas e de um processo histórico fecundo.

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